A trilha sonora do meu mês de janeiro foi O Que Você Quer Saber de Verdade, último disco da Marisa Monte. Nunca fui um fã incondicional dela: detesto a fase Tribalistas, e tenho certa preguiça de artistas que agem como estrelas o tempo todo, como a imprensa dá a entender que é o caso dela. Mas amo o disco Memórias, Crônicas e Declarações de Amor (2000), que tem uma delicadeza ímpar, e me soa como a tradução de uma tarde perfeita de outono entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o Leblon.
Pois bem: O Que Você Quer Saber... é a continuação de Memórias. Todas as faixas poderiam estar naquele disco: "Descalço no Parque", "Amar Alguém", "Verdade, Uma Ilusão" e "Bem Aqui" são irmãs mais novas de "Abololô", "Gotas de Luar" e "Sou Seu Sabiá". Se ainda estivéssemos na época dos compactos, a melancólica "Depois" seria o lado B perfeito para "O Que Me Importa". Há uma diferença, e ela já se nota na faixa de abertura, que dá nome ao álbum: os arranjos estão bem mais sofisticados, o que só realça as qualidades vocais de Marisa. "Era Óbvio" é uma das faixas mais bonitas da carreira dela, sem dúvida.
Para tudo ficar ainda mais gostoso, ela deixou de lado aqueles sambinhas insossos e focou no que sabe fazer de melhor: baladinhas com um pé na MPB e outro no pop. "Ainda Bem", "Aquela Velha Canção" e "Era Óbvio" grudam rápido no ouvido. "O Que Se Quer", minha favorita do disco, tem uma segunda voz idêntica a Tom Jobim (é Rodrigo Amarante). As letras mantêm a qualidade habitual, com destaque para "Depois", que retrata o fim de um relacionamento com uma sensibilidade arrepiante, e para o quase-forró "Hoje Eu Não Saio Não".
O disco é apaixonante e ganha mais corpo e unidade a cada nova audição. Não tem uma única faixa piorzinha que mereça um skip para a seguinte. OK, sou obrigado a reconhecer que, do ponto de vista artístico, não houve um pingo de ousadia: Marisa se manteve em território seguro, fez mais do mesmo, repetiu uma receita testada e aprovada, palatável para as rádios e trilhas de novela. Mas ela está cada vez melhor naquilo a que se propõe. Talvez eu me enjoe se ela lançar um terceiro disco igual aos anteriores. Desta vez, porém, ela soube entregar tudo o que eu queria ouvir de verdade.
2 comentários:
Você e o Tony tiveram opiniões parecidas. Sinto-me tentado a me dar ao trabalho de baixar e ouvir.
É bem verdade que a minha paciência para ouvir um álbum inteiro de cabo a rabo esvaiu-se nos últimos 10 anos. Ultimamente só faço isso quando programo o ipod/iphone pra ir ouvindo no trânsito pro trabalho.
Aliás, dê uma passada no meu blog que eu comentei de um álbum totalmente obscuro que também não merece um skip sequer. Pena que só tem importado.
"Pena que só tem importado" = "amigo é pr'essas coisas". Né, Daniel? :-)
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