segunda-feira, 20 de março de 2006

Vi a morte de perto, mas ela não sorriu pra mim

Não nos damos conta do quanto nossa vida é frágil e passageira, até que ela nos mostre que tudo aqui pode mudar a qualquer momento.

Ontem fui atropelado em Copacabana.

Onze e dez da noite, eu estava indo em direção ao trecho onde iria esperar um táxi para a rodovíária. Fui atravessar a rua, não havia ninguém nela, mas pela transversal veio um carro em alta velocidade, querendo entrar à esquerda na rua que eu estava atravessando. O motorista olhou para a direita, viu que não tinha nenhum carro vindo, e nem reduziu. Não lhe ocorreu a idéia de olhar também para a esquerda, onde havia um pedestre atravessando com sua mochila nas costas.

Foi tudo muito rápido, fui atirado longe e no momento seguinte estava estirado no asfalto de Copacabana, quinze pessoas em volta. Tive dificuldade em levantar, eu tremia e meu corpo inteiro doía. O sujeito me colocou no carro e perguntou se eu não queria ir para algum pronto-socorro, mas ele mesmo não sabia chegar a nenhum hospital público (e meu plano de saúde, da antiga companhia energética de SP, não tinha cobertura automática lá); eu estava me atrasando para pegar o ônibus, tinha que estar em São Paulo para trabalhar a qualquer custo... como eu não tinha batido a cabeça, nem estava com sintomas mais sérios, achei melhor pedir pra ele me deixar na rodoviária mesmo, e em SP eu veria o que tinha acontecido comigo.

Passei a manhã no hospital fazendo exames. Não tive fraturas, apenas traumas musculares e uma tendiopatia no ombro. Não consigo mexer o braço direito, e ando mancando da perna esquerda, por causa do joelho (felizmente, a rótula está inteirinha). Mas com remédios e gelo a dor deve ir melhorando aos poucos, e nos próximos 15 dias terei que ficar sem atividadeas físicas. Escapei da morte, não era a minha hora ainda.

Tudo isso me mostrou como nós somos frágeis e pequeninos, movidos pela vida ao sabor de uma força maior. Achamos que podemos prever tudo, mas na verdade não sabemos nada. Uma hora você está lá, e no minuto seguinte pode não estar mais. É muito chocante. Não sei o que pensar direito, ainda estou atordoado, mas percebo que precisamos mesmo viver cada dia em sua plenutide, e aproveitar ao máximo nosso contato com as pessoas. Ao dobrar a esquina, não sabemos o que vamos encontrar, e nada mais pode estar lá.

domingo, 12 de março de 2006

Pós-coito

Aí você separou suas verdinhas, se matou na academia pra despachar as sobrinhas, comprou roupa nova e chegou sedento ao balneário. Circulou de rodinha em rodinha nas areias da praia, viu as bandas passarem, trocou alguns beijos na dispersão. Garantiu o sustento dos dealers e colocou mais algumas letras em seu alfabeto de sensações. Viu DJ fulano, DJ beltrana e DJ sicrano. Comparou as festas, viu e foi visto, fez uma coleção de fotos do fervo.

E aí, como tudo que era ou parecia doce, acabou.

Você pode voltar para sua cidade natal e continuar engrenado no chica-chica-bum, e não se dar ao luxo de parar e analisar tudo isso. Mas pode ser que pare - nem que seja porque em algum momento, acabou ficando doente de tanto que se excedeu. E aí, em algum momento vai perguntar: o que sobrou disso tudo, o que eu tirei de bom pra mim ?

A noite, as festas, o oba-oba, tudo isso tem seu valor e sua validade; é muito importante ter uma válvula de escape, uma janela aberta para que o ar fresco invada o mofo da sua rotina. Mas é perigoso deixar que esse mundo de fantasia ofusque aqueles que deveriam ser nossos reais objetivos na vida. Jogação não é ponto de partida para lugar algum - no máximo, é uma parada na beira da estrada para um gole de água antes de seguir adiante.

Não me desencaminhei, não fiz nada de que me arrependesse, estou aqui inteirinho para contar história. Mas aos poucos, começo a questionar sobre o que vai acontecer comigo, se esse mundinho vai perder a graça e, caso a resposta seja afirmativa, o que terá graça no lugar disso. Não quero antecipar outras questões que acho que ainda é cedo para enfrentar, mas não deixo de me preocupar em olhar além, e por enquanto esse olhar além não enxerga muita coisa lá na frente.

Hora de mudar o foco.