sábado, 31 de outubro de 2009

Pré-verão

De repente já estamos em novembro, e daqui pra frente o ano vai escoar cada vez mais rápido. Este feriado será divinamente ensolarado em boa parte do Brasil - um prenúncio do verão que a gente sempre espera e adora. Tem Parada no Rio, tem festas em Floripa, Salvador... não faltarão opções para quem quiser sair da toca e se jogar. Quando vocês estiverem lendo este post, provavelmente estarei dourando o corpinho nas areias de Natal ou Pipa. Quem sabe eu não encontro uns cafuçus como os dessa foto [tirada do novíssimo livro de Mario Testino, MaRio de Janeiro Testino] para passar filtro solar nas minhas costas? Bom feriado a todos, e obrigado pelos 200 mil acessos no blog!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"CPF na nota?"

Quem mora em São Paulo já se acostumou a ouvir essa pergunta antes de fazer uma compra ou mesmo pagar o almoço no quilo do dia-a-dia. Para os que não são daqui, uma rápida explicação: para aumentar a arrecadação de ICMS, o governo daqui criou o Programa Nota Paulista, que neste mês está fazendo dois anos. Ao fazer uma compra, o cidadão informa seu CPF e pede a nota fiscal ao estabelecimento; do ICMS que é recolhido, a Secretaria da Fazenda restitui uma parte (30%) ao consumidor. Trocando em miúdos, o cidadão assume o papel de fiscal e o governo lhe oferece uma fatia do ganho como recompensa.

Todo mundo sabe que exigir nota fiscal e combater a sonegação é uma questão de cidadania - afinal, o imposto recolhido pelo governo, EM TESE, beneficia toda a população. Ao mesmo tempo, é uma postura que nunca fez parte da rotina da maioria, e até mesmo para estimular a criação do hábito é que a recompensa se torna importante. Pelo programa, o consumidor pode escolher a forma de receber os créditos (em dinheiro na conta, na poupança, em abatimento do IPVA), e ainda concorre a pequenos prêmios em dinheiro.

O problema é que o site que receberia as notas fiscais teve falhas operacionais nos três meses iniciais do programa, não creditando os valores, e por conta disso muita gente concluiu que o sistema era furado e o sacrifício de juntar quilos de notas fiscais não valia a pena. Além disso, existe por parte do cidadão comum, que enxerga o Fisco como um predador, o receio de ter seus gastos bisbilhotados e monitorados pelo governo. Resultado: a propaganda negativa se multiplicou, fazendo com que mais pessoas se desinteressassem pela ideia.

Confesso que eu mesmo não aderi ao sistema, por pura inabilidade para guardar quilos de notas fiscais, e influenciado pela tal propaganda negativa. Mas fiquei tentado a vencer a preguiça e rever minha posição quando soube que meu chefe já acumulou cerca de mil reais em pouco mais de um ano. Tudo bem que ele é bem mais disciplinado do que eu jamais conseguirei ser (ele pede nota paulista até de cafezinho, e chega a boicotar estabelecimentos que não fazem o crédito), mas pelo menos isso mostra que o sistema realmente funciona. O único senão: o governo está ampliando as hipóteses de substituição tributária para cada vez mais produtos. Com isso, o ICMS passará a ser pago pela indústria, não mais pelo varejo, e o consumidor que pedir a nota paulista acabará não recebendo nenhum crédito.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O grande desafio

O mundo precisa de novas ideias. Uma pauta genial, tipo "como é que ninguém pensou nisso antes?", que renda uma reportagem incrível, alavanque a imagem de uma revista e justifique sua existência. Um novo seriado de TV, que desponte na programação e chame a atenção das pessoas, conquiste fãs e vire mania. Uma solução arquitetônica criativa para otimizar o espaço dos apartamentos cada vez menores. Uma estratégia de marketing que consiga convencer os consumidores de Coca-Cola de que a Pepsi é uma bebida saborosa e desejável. Uma nova batida musical - ou mesmo uma nova combinação dos velhos elementos - com um resultado diferente, contagiante, que faça as pessoas correrem para a pista, gritarem e levantarem os braços. Uma cura para o vírus HIV, o diabetes e o mau humor de segunda-feira. Um jeito gostoso de comer legumes. Uma lufada de ar fresco. Um novo olhar sobre a vida. O pulo do gato.

É fato que continuarão existindo seriados de tevê. E revistas. E propagandas de Omo, Apracur, Tintas Suvinil e Gleid Sachê. E coleções de roupas. E novelas. E hinos de axé music e house tribal. Até segunda ordem, as referências do passado, as fórmulas já testadas, tudo aquilo que deu certo terá que continuar servindo, quebrando o galho e dando conta do recado. As pessoas continuarão se vestindo, comendo e satisfazendo suas necessidades básicas de qualquer maneira. Difícil mesmo é bolar coisas novas - ou que não sejam tão novas assim, mas ostentem frescor, despertem desejo, provoquem as pessoas. Rompam a inércia, o marasmo, a letargia, e façam o mundo sair do piloto automático e dar um passo à frente. Existem riscos, claro - mas deles dependem o consumo, o lazer, a economia, nossa felicidade, tudo. Inovar é o desafio do mundo.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Menos Bonner e mais William

Foi contratado pela Globo e ganhou exposição diária no horário nobre. Conquistou uma legião de fãs; passou a receber ainda mais carinho e assédio depois que abriu uma conta no Twitter, onde fala de igual para igual com seu público - dia desses, causou sensação ao dividir sua receita de brigadeiro. Tudo isso seria banal se estivéssemos falando de um ator de novelas. Mas a história se torna no mínimo curiosa quando se trata de um apresentador de telejornal - aliás, o editor-chefe do noticiário de maior audiência do país (o Jornal Nacional, da Rede Globo).

William Bonner está cada vez mais pop. Na tal conta no Twitter, onde já tem quase 160 mil seguidores, brinca com os interlocutores e retransmite os twits mais engraçadinhos a seu respeito. Aliás, ele mesmo parece bem mais soltinho ali do que o JN lhe permite. Entrevistado por Marília Gabriela na última edição de seu programa, que foi ao ar no dia 18/10 no canal GNT, ele explicou que quer mostrar que é "uma pessoa normal" e está adorando esse contato mais próximo com os fãs. Falou também sobre o casamento com Fátima Bernardes (como Tarcísio Meira faria com Glória Menezes, ou Alexandre Borges com Júlia Lemmertz) e, no final, deu uma palhinha dos seus dotes como cantor, entoando alguns versos do clássico "New York, New York", de Frank Sinatra.

Tudo isso me parece bastante inusitado. Mesmo sabendo que apresentadores sérios e sisudos no ar não precisam ser assim na intimidade, fiquei surpreso com essa "revelação" de que Bonner é um cara boa-praça, espontâneo e brincalhão. Ele sempre me passou a imagem de alguém meio arrogante (até mesmo pela posição de destaque que ocupa, e também quando comparou seu telespectador médio ao Homer Simpson) e que se leva a sério demais. Além disso, sua imagem se confunde com a imagem da própria emissora, com todos os juízos de valor e implicações ideológicas que possam estar contidos nisso, o que torna ainda mais complicado "isolar" o William do William Bonner. Cada um tem suas próprias convicções mas, convenhamos, não há como se ficar neutro diante do que a Rede Globo representa para o país.

Mas a reflexão que eu lanço aqui é de outra natureza. O que realmente me intrigou foi ver um apresentador de telejornal tendo com seus fãs o tipo de relação que se esperaria de um Cauã Reymond ou uma Ivete Sangalo. Em relação a artistas, é muito mais natural que exista esse tipo de troca - com admiração, assédio e até cumplicidade. Não estou dizendo que isso é "errado", ou que Bonner deveria se manter dentro da mesma redoma de sobriedade e distância que seus colegas de profissão. Mas o "novo status pop" do apresentador do JN não deixa de ser um bom exemplo da grande avidez voyeurística que os brasileiros nutrem pelas pessoas que aparecem na televisão, de quem desejam se aproximar a todo custo. Em que outro país o âncora do telejornal sofreria tamanha tietagem?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Furor uterino


Que furor uterino esse em torno de Do Começo ao Fim, né? Vários amigos meus não veem a hora de o filme entrar logo em cartaz e, a julgar por tamanha expectativa, provavelmente temos pela frente um sucesso de bilheteria, pelo menos dentro da nossa bolha gay. Mesmo fora do mundinho, este é um filme que dificilmente vai passar em branco: tem dois protagonistas lindos, atores globais no elenco e, mais importante, um tema central bem delicado (mas que parece ter sido tratado com sobriedade). Promete uma acalorada repercussão em diversos níveis e searas.

Não vou me deter em maiores especulações depois de ter visto apenas o trailer, mas confesso que eu também estou curiosíssimo. O filme só vai estrear no circuito em 27/11, mas algumas pessoas poderão vê-lo antes disso. O Mix Brasil fará uma exibição fechada para convidados em 12/11, na abertura do festival de cinema em SP, e seguidores do filme no Twitter e Facebook também serão agraciados com sessões exclusivas. Enquanto isso, que tal participar da (difícil) escolha do cartaz oficial? Saiba mais detalhes entrando aqui.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Faroeste sem caboclos

Gostei da maioria dos filmes de Quentin Tarantino que vi, mas não lembro de ter saído do cinema tão satisfeito quanto ontem. Bastardos Inglórios é excelente. O filme reescreve a história da Segunda Guerra Mundial de uma forma muito peculiar: com uma inusitada revanche dos judeus. Brad Pitt lidera um grupo de soldados norte-americanos (os Bastardos Inglórios do título) que decide contra-atacar o III Reich. Eles formam uma espécie de "tropa de elite judia" que sai pela França exterminando nazistas, sempre com requintes de crueldade. É a deixa perfeita para o diretor dar o show de violência estilizada que é sua marca pessoal.

Não que o filme seja pesado. Divididas em capítulos, as produções de Tarantino têm algo de games ou histórias em quadrinhos: acompanhamos a saga dos heróis, torcemos por eles, mas sabemos que coisas horríveis virão pela frente, e gostamos disso. Existe um clima de tensão constante, já que reviravoltas sanguinolentas podem acontecer a qualquer momento (a seqüência do jogo de cartas na taverna é um bom exemplo). Além disso, boa parte do público acaba tendo uma certa empatia com o desejo de vingança dos judeus sanguinários, e vibra ao ver os nazistas se dando mal, com o crânio estraçalhado por um taco de beisebol e o couro cabeludo arrancado. O fã de Tarantino ama muito tudo isso, e sabe que dele não poderia esperar outra coisa. No fundo, a violência do cineasta não agride porque é de mentirinha, exala fantasia, é puro cinema. E vem recheada de bom humor. Bastardos Inglórios é um faroeste do século 21.

As cenas são longas, colocando à prova todo o talento do elenco. O material de divulgação do filme dá a entender que Brad Pitt é a estrela, mas não é. O galã e chamariz de bilheteria está correto como o caricato líder dos Bastardos (com direito a um sotaque sulista que fica entre o engraçado e o irritante), mas quem dá um show é o austríaco Christoph Waltz. Ele arrasa como o coronel nazista Hanz Landa - um vilão astuto, cínico e muito erudito (fluente em quatro idiomas!), que extrai um profundo prazer da própria perversidade. Com sutileza e muita personalidade, Waltz já garfou o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes e, se bobear, acaba levando um Oscar.

Como se não bastasse, o filme tem pelo menos dois colírios. Mélanie Laurent é uma francesa linda de doer, tipo bonequinha - é como se a Carla Camurati rejuvenescesse quinze anos e pegasse emprestado o cabelo da Uma Thurman. Já o troféu Delícia Cremosa vai para Till Schweiger, que interpreta um dos Bastardos caçadores de nazistas. Pense em um Val Kilmer germânico, loiro e viril, com olhos azuis muito ameaçadores, quase um psicopata. Já me imaginei em um calabouço qualquer de Berlim, levando uma boa dura dele e achando tudo lindo. Pena que ele morre na metade da história.

Com fotografia, som, figurino e direção de arte impecáveis, Bastardos Inglórios consegue a proeza de se sobressair em meio a tantos outros filmes notáveis da carreira de Quentin Tarantino. Um programão que agrada desde o cinéfilo mais atento até o freqüentador dos Cinemarks da vida, que está apenas em busca de um pouco de entretenimento. Até mesmo porque ele é cheio de referências cinematográficas subliminares, mas o espectador não precisa entender nenhuma delas para se divertir.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Entre tapas e beliscos

Quando fui conhecer o Venga!, primeiro bar de tapas do Rio de Janeiro, aberto recentemente, a pergunta que fiz foi: "Como é que ninguém aqui pensou nisso antes?" Afinal, esse delicioso hábito espanhol - encher uma mesa com pequenas porções de petiscos variados, e passar uma tarde preguiçosa de verão beliscando e jogando conversa fora - tem tudo a ver com a terra dos Jobis e Bracarenses, que traz a cultura de botequim em seu DNA.

Mas estamos na Dias Ferreira, corredor gastronômico do Leblon onde paparazzi se engalfinham para fotografar celebridades globais, e um prato de salada chega a custar o equivalente a US$45 por quilo (no Celeiro, provavelmente o quilo mais caro do país). Assim, não bastaria que o Venga! fosse mais um pé-sujo despojado e com bons acepipes, como tantos outros da cidade. A casa soube criar um ambiente vistoso e aconchegante (apesar de apertado, algo inevitável numa região onde o espaço é tão caro), com umas poucas mesas altas na parte da frente e mais algumas cadeiras ao longo de um balcão.

Vamos às tapas, então. As porções são pequenas, justamente para que se possam provar vários tipos de iguaria. As croquetas são vendidas por unidade - a camarão é boa, mas é a de jamón serrano e queijo emmenthal que rouba a cena. Aliás, para quem é adorador dos presuntos espanhóis, o menu inclui o célebre Pata Negra, tido como o melhor do mundo (a um preço correspondente). Eu e meu amigo pedimos também uma porção de calamari (finos aros de lula empanados), um par de bombas (bolinhos de batata recheados de filé picante), uma porção de patatas bravas (levemente condimentadas, com um dip de maionese) e um par de pintxos (primos espanhóis das bruschettas) de presunto cru com queijo manchego (de leite de ovelha).

O que gostamos de verdade foi dos pintxos e das croquetas de jamón. Achamos as patatas bravas meio sem graça, e as tais bombas dá para encontrar em qualquer padaria que tenha uma boa estufa de salgadinhos. Mas vimos outras tapas que pareciam interessantes, como pintxos de tartar de salmão e uma porção de pulpos (pedacinhos de polvo temperados) que a mesa ao lado comia com gosto. Só não provamos porque a conta já estava ficando salgada.

Aliás, o lado inconveniente da história está justamente na dinâmica das pequenas quantidades. Como os preços individuais não chegam a assustar, uma porção puxa a outra, e perde-se facilmente a noção da conta. Nossa brincadeira espanhola acabou saindo por uns R$90, sem bebidas alcóolicas - e ficou uma certa sensação de que gastamos o dinheiro de um jantar apenas para comer um punhado de salgadinhos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Mochilando no Rio

O Rio de Janeiro sempre foi o primeiro cartão de visitas do Brasil para o mundo. Essa visibilidade internacional é muito bem-vinda, mas tem um efeito colateral: os preços da hospedagem, feitos para gringos, são salgados para bolsos brasileiros. A impressão que dá é que os hotéis da Zona Sul formaram um cartel para segurar as diárias lá em cima, e qualquer intruso que tente furar o cerco é banido. O grupo francês Accor, dono das competitivas bandeiras Ibis e Formule 1, teve que instalar seus hotéis bem longe dali: perto do Santos Dumont e na Praça Tiradentes, no Centro. Lugares bons para quem vem trabalhar, mas não para passear.

Para quem tem amigos na cidade, muitas vezes um sofá-cama ou colchonete básico pode resolver o problema. Mas ficar na casa dos outros exige tato e sensibilidade. Por um lado, é preciso não ocupar espaço demais e respeitar a liberdade dos donos da casa; por outro, não dá para ser aquele hóspede que fica tão solto e à vontade que mal dá as caras e só aparece para dormir. Além disso, a disponibilidade dos anfitriões pode não coincidir com a data em que você decidiu viajar; dizer/ouvir um 'não' faz parte e não pode ser constrangedor para nenhuma das partes.

A dois dias da minha última escapada carioca (que terminou ontem), a amiga que iria me receber avisou que tinha resolvido viajar, e meus outros amigos já tinham hóspedes. Como eu já tinha comprado as passagens, o jeito era procurar um hotel. Mas quatro fatores tornavam a ideia ainda mais cara. Eu estava indo sozinho; num feriado; reservando em cima da hora; e a lufada de autoestima do Rio 2016 parecia ter gerado uma espécie de ágio pré-olímpico nos preços. Acabei resolvendo ficar num albergue.

Quem anda distraidamente pelo Rio não imagina que a cidade tenha tantos hostels. Só entre Copacabana e Ipanema, são quase quarenta (tem uma ótima lista aqui). A maioria funciona em sobrados adaptados, muitos deles dentro de vilas, o que os torna ainda mais discretos (só na Barão da Torre, por exemplo, uma única vila tem nada menos que seis albergues). Existe também a opção de ficar em outros bairros, como Botafogo e Santa Teresa. Como eu já estava economizando no conforto, investi na localização e escolhi Ipanema. Todos os outros bairros têm seus prós e contras, mas Ipanema ainda é o mais gostoso e conveniente para o turista, que pode fazer praticamente tudo a pé.

A opção mais barata para o viajante é pegar uma cama em um dormitório coletivo. Conforme o lugar, dormem de 4 a 10 pessoas no mesmo quarto. Nesse esquema, gasta-se cerca de R$40 por dia (com café da manhã e roupa de cama incluídos; as toalhas costumam ser cobradas à parte). Para quem viaja acompanhado, compensa pegar um quarto duplo, com diárias entre R$120 e R$150: você tem a privacidade de um hotel, pela metade do preço. O que não impede que você também socialize com os outros hóspedes do albergue (aliás, um dos baratos da experiência é justamente a chance de conhecer gente nova, de vários lugares do mundo e de meios diferentes do seu).

Para escolher entre tantos hostels, o jeito é visitar as páginas na internet e fazer uma peneira. Fiquei no Rio Hostel Ipanema, um sobrado de vila na rua Caning. A casa não é muito grande, mas soube aproveitar o espaço, com soluções criativas. A laje foi transformada num agradável terraço, com redes, almofadas e um lounge praiano improvisado; ali, é servido um honesto café da manhã, com pães e frios (havia uma sanduicheira à disposição), frutas, sucos e bolo. O banho era ótimo (aliás, chuveiro a gás é uma das coisas de que mais gosto no Rio!). Os hóspedes tinham entre 20 e trinta e poucos anos e eram umas graças: simpáticos e falantes, mas ao mesmo tempo sabiam respeitar o sossego alheio.

Minha escolha se revelou ainda mais acertada quando, por curiosidade, fui visitar um outro albergue, o Terrasse Hostel. A localização era privilegiada (Farme com Prudente, em frente ao Devassa e ao lado do Cafeína e Colher de Pau), mas as instalações... quanta diferença! Os aposentos eram escuros e apertados. Um deles tinha cheiro de mofo; outro, todo forrado de madeira, com teto baixo e oito camas, era a perfeita tradução de um navio negreiro; e um terceiro não tinha sequer janelas. A cara dos hóspedes também não apetecia. Enfim, um muquifo.

Moral da história: é preciso ter olho crítico para separar o joio do trigo e fugir das roubadas. Se o site der muito mais destaque para as belezas da cidade do que para o próprio albergue, desconfie: é mau sinal. Com um pouco de paciência, porém, dá para garimpar tesouros como o jeitosinho Bamboo, que fica numa travessa tranqüila da Rua Santa Clara (Copa), ao pé de uma montanha, e o Ipanema Beach House, que tem uma área externa com piscina, algo raro no bairro. Duas alternativas para se hospedar de forma independente sem sucumbir aos preços dos grandes hotéis.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Conclusões

Diante da surpreendente repercussão do post anterior, resolvi me manifestar novamente, até para dar um fecho a toda essa discussão. Assim, passo a fazer minhas últimas considerações e, com elas, dou o assunto por encerrado. Este post anterior e o anterior não receberão mais comentários: os 101 deixados já são mais do que suficientes. Obrigado a todos pelo interesse e até a próxima.

1) Fiquei surpreso com a comoção de algumas pessoas próximas ao Duda, que se mostraram chocadas com as minhas palavras – porque ele é novato, bem-intencionado e tal. De repente, eu virei o algoz que pegou pesado com o rapaz, e ainda fui responsabilizado por comentários que outras pessoas fizeram (!).Ora, tudo o que fiz foi relatar o que vi e vivi na porta da festa, da forma mais honesta possível, sem um pingo de má fé, nem ataques gratuitos. E outra: que melindre é esse, o menino não pode ser criticado?! Quem se relaciona com o público (produtores, artistas e até blogueiros) vai receber críticas sempre. Se o Duda for esperto, não vai levar isso pro lado pessoal e ainda vai tirar do episódio algo de válido, para aprimorar o seu trabalho. Não torço contra ninguém, e faço votos para que o Café Com Vodka contorne as falhas e dê conta do sucesso repentino.

2) Eu sei muito bem que dar tratamento diferenciado a algumas pessoas – e a entrada facilitada se insere nesse tipo de cortesia – é uma prática comum no mundo inteiro, e não tenho nenhum problema com isso. (O Vítor, por exemplo, ilustrou seu comentário com exemplos bastante coerentes). Ninguém da fila vai morrer porque meia dúzia de pessoas entrou na frente. O grande problema do Café Com Vodka foi que eles deixavam entrar levas de cinco, oito, doze pessoas, sucessivamente, enquanto a fila ficava completamente abandonada, à deriva, sem jamais dar um passo à frente, em uma situação que se prolongou indefinidamente. Isso não é atitude de lugar sério e profissional, sorry.

3) Aos adeptos do discurso de que “no Exterior também é assim”, vale lembrar que no Berghain-Panorama – um dos clubes mais concorridos do mundo, que fica em Berlim – todos sem exceção esperam pacientemente pela sua vez na fila, ainda que isso possa levar bem mais de uma hora. E os que se acham espertos e tentam furar a fila são barrados na porta e exemplarmente expulsos, na frente de todo mundo.

4) O que muitos leitores não puderam ou não quiseram ver é que o episódio do Sonique era um gancho para uma reflexão muito maior – que pelo visto foi bastante incômoda para alguns, dado o número de respostas agressivas e desaforadas que recebi. No mínimo, essas pessoas se olharam no espelho, não gostaram do que viram e prefeririam que ninguém tivesse parado para pensar nessas questões, não é mesmo?

5) Se minha intenção era saber dos leitores se furar fila se tornou uma prática aceitável, a verdade é que o post cumpriu seu papel, já que os comentários acabaram respondendo às minhas indagações. E uma grande parte endossou essa prática, considerando-a adequada em qualquer situação. Para essas pessoas, eu tinha mais é que passar na frente dos outros mesmo. Como não fiz isso, eu me tornei culpado pelo que passei ali (!) e, mais ainda, fiz o papel de “otário”. O que nos leva a uma conclusão interessante: educação, civilidade e respeito ao próximo são tidos como valores de otário. Anotaram? (O negócio é cada um por si: se o balcão do bar estiver cheio, é só dar um chute na canela de alguma bicha – a mais franzina, evidentemente – que o problema logo se resolve).

6) Aos eventuais desavisados, esclareço que eu deixei de furar a fila por opção – não por “falta de opção”. Não se trata de mágoa-de-cabocla ou chororô de quem “adoraria ser VIP, mas não é e não se conforma com isso”. Eu tinha meios para passar a perna nos demais e poderia ter lançado mão deles, mas não me acho melhor (nem pior!) do que as outras pessoas que estavam esperando por sua vez. E para falar com o Duda ali mesmo, na hora (o que muitos disseram que teria sido o correto), eu seria obrigado a furar a fila primeiro, já que ele obviamente não estava na calçada do clube.

7) Falando em melhor ou pior, é curioso como existem pessoas que se realmente consideram melhores do que as outras. Alguns anônimos (sempre eles) tiveram a capacidade de escrever coisas tão surreais que não dá nem para levar a sério (eu me absterei de transcrevê-las, para não dar um ibope que eles não merecem). Essas bichas iludidas juram mesmo que são diferenciadas, de uma casta superior – e não é todo mundo que pode ou merece freqüentar os mesmos espaços que elas. Só queria saber quem foi que colocou isso nessas cabecinhas ocas – que provavelmente não têm berço algum, a julgar pela péssima educação que tiveram. Aliás, um recado para o dono do Palio 95: você veio anunciar no lugar errado. É que todas aqui são riquíssimas, poderosíssimas, bem-relacionadas e lindíssimas, ou seja, “muita areia” para o seu carrinho. Mas cuidado: se bobear, alguma delas vai comprar seu Palio na surdina, e ainda pagar com um cheque sem fundos...

8) No fim das contas, eu agi conforme minha consciência e não me arrependo. Foi até bom saber que ninguém leva isso a sério: quando eu me deparar com uma grande fila, e por alguma razão importante eu não puder esperar, não me sentirei o último dos seres se alguém facilitar minha entrada. Mas ainda prefiro não fazer isso e, no caso de noites problemáticas (como o próprio Café Com Vodka), chegar cedíssimo e encontrar a festa vazia ainda é um mal menor. Acima de tudo, o que sei é que não pretendo viver esse episódio nunca mais. Acho que 20 minutos de fila é um limite razoável. Mais do que isso, você acaba perdendo o bom humor e estragando uma noite que poderia ser melhor passada em outro lugar.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Leite com manga e óleo de peroba

O fim de semana estava sendo tranqüilo e revigorante, até que eu resolvi terminá-lo no Café com Vodka, a domingayra quinzenal do Sonique que tem sido freqüentada pelos caras mais bonitinhos de SP. Das outras vezes, eu havia me divertido um bocado; dessa vez, não passei da porta, e o efeito do "café com vodka" esteve mais para leite com manga. Com direito a um dilema moral (que eu vim dividir com vocês e na verdade é o que mais importa neste texto).

As domingueiras do Sonique começam, em tese, às 17h. Nas minhas idas anteriores, eu chegava sempre às 18h30 e me arrependia, porque a casa só começava a encher depois das 20h. Dessa vez, segui o conselho de um amigo e cheguei às 20h30. Não foi uma boa ideia - tinha uma fila enorme na porta. Não desanimei, porém: fui para o último lugar e esperei pela minha vez. Pelo tamanho da fila, seria razoável esperar, digamos, vinte minutos. Meia hora, vá lá.

Mas a meia hora virou quarenta minutos,uma hora, uma hora e vinte... e nada da fila andar. Aí comecei a perceber que, enquanto eu e o pequeno exército de manés enfeitávamos a calçada e dávamos prestígio ao lugar, grupinhos de três, cinco, oito (!) pessoas despontavam do nada, perfumadas e saltitantes, furavam a muvuca e entravam na casa, com a maior tranqüilidade. Bastava um aceno ou um telefonema mágico, e logo a segurança abria a comporta e deixava os fofos entrarem. Estava explicado por que não saíamos do lugar: os amiguinhos tinham prioridade sobre os demais mortais. Só que não eram uns gatos-pingados eventuais: eram hordas de amiguinhos! Com certeza, o número de furões eles botaram para dentro foi muito maior do que o de pessoas em pé na calçada – o que significa que a fila inteira teria cabido no lugar, não fosse a má fé generalizada que reinou ali.

Fazia tempo que eu não me sentia tão desrespeitado, ultrajado, insultado. Mas ir embora naquele momento significaria tornar inútil toda a espera que eu já tinha passado, e insisti. Foi aí que vários amigos meus que estavam dentro da casa começaram a sair. Perguntei a um deles como estava a situação lá dentro, e ele me garantiu que a casa não estava mais tão cheia. Mas a fila do lado de fora continuava! Ou seja: além de preterir alguns em favor de outros, o Sonique fazia questão de continuar usando os burros da fila como enfeite para a sua fachada. Essa foi a gota d’água: finalmente dei as costas e evaporei dali. Àquela altura, eu já estava tão amargo que não conseguiria mais me divertir, e a última coisa que queria naquele momento era dar o meu dinheiro para eles. Na boa, isso estragou o meu fim de semana.

Sempre achei deplorável a atitude dessas pessoas que chegam a um clube, jogam a franja pro lado, empinam o nariz e furam a fila, na maior cara-de-pau. Penso que a vileza de caráter desse tipo de gente é a mesma dos velhacos que posam de bons moços para o eleitor, assumem cargos políticos e colocam dinheiro público no bolso. Nem mais, nem menos. Afinal, o fundamento é idêntico: a tal Lei de Gérson, pela qual o sujeito se dá o direito de garantir a própria vantagem às custas de quem quer que seja, e todos os demais que se fodam. O mais incrível é que, no fim do dia, esse tipo de gente repousa a cabeça tranquilamente no travesseiro. Ninguém acha que está errado, ou prefere não enxergar. As pheenas do Sonique que o digam.

Infelizmente, a noite paulistana está cada vez mais dominada por esse tipo de comportamento, que antigamente eu só via no Rio de Janeiro. O triste episódio de ontem me mostrou que, se quiser usufruir da “domingueira mais bombada da cidade”, serei obrigado a chegar cedíssimo, quando a casa ainda estiver às moscas, ou então me render à mesma atitude que eu considero abominável.

Qual seria minha solução instintiva para o dilema? Abandonar o Sonique, é claro. Não acho que o hype da casa mereça que eu passe por cima dos meus valores e me submeta a esse tipo de papelão, que me daria vergonha (um amigo de boa vontade até se ofereceu para caçar o produtor da festa e pedir para ele me botar para dentro, eu é que não quis). É bem mais fácil descartar aquilo e deixar que outros se descabelem no meu lugar. Por outro lado, essa é uma falsa solução, que não resolve o problema. Deixando de ir ao Sonique, não só serei indelicado com um amigo que me espera no seu aniversário na próxima edição do Café com Vodka, como fatalmente vou me deparar com a mesma palhaçada em outros lugares – o 00, para onde penso em ir na minha próxima ida ao Rio, é um forte candidato a repetir a mesma história.

A solução então é partir para um boicote geral aos lugares mais disputados, por uma questão de princípios? Será justo que eu me coloque à margem e me prive dos prazeres da vida, ao passo que os demais se divertem? Enquanto meus amigos que entraram no Sonique aparentemente tiveram uma noite ótima (alguns na base do óleo de peroba, como um conhecido ex-blogueiro que chegou às 21h40, me cumprimentou na fila e logo em seguida cavou seu acesso rápido), eu paguei o pato pelas minhas convicções, tive um enorme desgosto e voltei para casa amuado.

Estou sendo radical e levando a vida a sério demais? Sou um sujeito antiquado, que vive no século passado? Furar fila e passar os outros pra trás é um fundamento da modernidade, e só eu ainda não captei isso? O fato de que todas as pheenas fazem, com a conivência do próprio Sonique, me legitima a também fazer da próxima vez? Tudo o que “os outros” fazem se torna, por si só, correto – é essa a regra? Devo deixar de ser besta e adotar uma postura com a qual não concordo, por uma simples questão de sobrevivência? O que vocês me dizem?

sábado, 3 de outubro de 2009

Rapidinhas com um pouco de tudo

SORVETE NA TESTA 2.0 Zapeando os canais anteontem, acabei caindo no VMB 2009, a premiação anual da MTV (que um dia já foi bacana, lembram?). Duas palavras definem: vergonha alheia. Foi constrangedor. A pergunta que não quer calar: qual a idade mental do público-alvo com quem eles tentam se comunicar: oito anos? Alguém realmente acha graça nas palhaçadas da emissora? Fazer discurso de agradecimento berrando, e dizer que algo é "muito foda", por acaso é... muito foda? atitude, véi? Premiar o "Twitter do ano", êta falta do que fazer, hein!? E o Marcos Mion ainda existe? Devo ter virado um velho anacrônico, só pode ser. A única coisa que prestou foi ver a cara de bunda da Mallu Magalhães e do Nando Reis quando a banda Fresno foi anunciada como artista do ano.

SEGURE COM AS DUAS MÃOS Tenho mais uma larica superluxo para dividir com vocês. Desta vez, o destaque gastronômico não poderia ter um nome mais fuleiro: Zé do Hamburger. Quando me indicaram, logo pensei em uma Kombi estacionada em frente a um desses terminais de ônibus da periferia. Nada disso: é uma lanchonete apertada, mas charmosa, na rua Caiubi, em Perdizes. A carne do hambúrguer de picanha é suculenta, mesmo tendo quase dois dedos de espessura. E o Diner Burger - que leva alface, tomate, pedacinhos de bacon, molho de queijo, um toque de barbecue e finíssimas onion rings - é simplesmente arrebatador. O reinado do St. Louis como melhor hambúrguer de SP corre perigo.

JOGA PEDRA NA GENI O Don Diego tem sido um dos meus blogs gays preferidos ultimamente. Longe da superficialidade que domina tantos outros espaços, o rapaz propõe reflexões lúcidas e muito bem articuladas sobre comportamento, sexualidade e outros temas do nosso cotidiano - mas sem ser chato. Dia desses, ele me mandou o link deste post de um blog americano, comentando a repercussão do assassinato de um homem dentro de um parque em Atlanta, às 2 da manhã, em junho passado. Na opinião pública, houve um senso comum (latente, não escancarado) de que ele teve o que merecia, afinal estava ali fazendo pegação. O mais curioso é que muitos dos que endossaram tal discurso também eram gays - o que mostra como esse assunto ainda é tratado com recalque e hipocrisia até mesmo dentro do meio.

BRAINWASH CATÓLICA, NÃO "Você é favorável ao ensino religioso facultativo nas escolas públicas?" Essa pergunta é objeto de uma enquete que o Senado brasileiro está fazendo em seu site. Por trás disso, está um acordo que o Brasil assinou com a Santa-Sé e que é uma violação ao Estado laico. Por um simples motivo: não se trata de um ensino pluralista, que contemple as religiões em geral, mas tão somente a doutrina católica, que seria imposta goela abaixo nas escolas públicas. O próprio Vaticano já confirmou isso, e a Igreja Católica brasileira, como não poderia deixar de ser, está fazendo a maior propaganda para os fiéis votarem a favor. Se você não concorda com mais essa ingerência e acha que religião deve ser uma escolha pessoal, clique aqui e vote contra. A enquete está no canto direito inferior da página.

MALANDRO É O GATO E falando em religião, fiquei passado na manteiga de cacau com a entrevista com um ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus que foi publicada pela revista Época, há coisa de duas semanas. A ovelha desgarrada, Gustavo Alves da Rocha, explica com detalhes como Edir Macedo forma seus pastores e os ensina a arrancar dinheiro dos fiéis. Lógico que temos de deixar a ingenuidade de lado, ler nas entrelinhas e lembrar que as motivações por trás de uma reportagem como essa não são necessariamente nobres - nem as do ex-pastor, que Edir deixou na miséria, nem as da Globo, que se sente acuada pelo avanço da Record. Ainda assim, a matéria vale o confere. Leia aqui.

A VITÓRIA É SÓ O COMEÇO Claro que fiquei superfeliz com a notícia de que nosso querido Rio de Janeiro vai sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Simbolicamente, isso nos traz um reconhecimento e uma visibilidade que são muito bem-vindos (ainda que isso custe ao país um preço que certamente será cobrado). Comemoremos, então, pois temos todo o direito. Mas não deixemos que o ufanismo canarinho nos distraia e nos imbecilize, como já fez em tantos outros carnavais. O Rio - e o Brasil - têm muita lição de casa para fazer. Até a Copa e os Jogos, não dá pra virar Primeiro Mundo, mas dá pra promover melhorias drásticas em diversos aspectos, dos mais localizados (o transporte urbano) aos mais conjunturais (sobretudo a segurança). Não vamos desperdiçar essa chance de arrumar a casa - para os convidados e para nós mesmos. Se esse empurrão não servir, então o que servirá?