sábado, 21 de outubro de 2017

Instituto Moreira Salles (o do Rio) e um rolê pela Gávea


Paulistano que se preza vai para o Rio e não larga o osso: vive a praia ao máximo e sofre um bocado quando o tempo amanhece fechado e frustra seus planos. Na minha última visita [a de número 99 na minha vida! preciso pensar em algo grandioso para a próxima, a centésima!], no feriado de 12 de outubro, diante de um domingo chuvoso, apostei na Gávea para passar um dia diferente. E foi um tiro certeiro!


Primeiro, aproveitei para visitar a sede do Instituto Moreira Salles. O IMS carioca não podia ser mais diferente da unidade inaugurada no mês passado em São Paulo: enquanto o daqui é um prédio de arquitetura arrojada, com escadas rolantes que conduzem o visitante diretamente para a recepção no quinto andar e um vão livre que se debruça para a avenida Paulista, o do Rio é a espetacular casa que um dia foi a residência da própria família Moreira Salles.


Uma joia da arquitetura modernista, com direito a belos jardins, parede de cobogós, piscina e um diálogo com a natureza exuberante ao redor que lembra um pouco o Inhotim de Minas Gerais.


Só o passeio pela casa já valeria o rolê, mas as salas de exposições também têm uma programação cultural bem interessante (e toda grátis). Peguei uma mostra do Chichico Alkmim, um fotógrafo autodidata que fez uns registros muito interessantes da vida cotidiana de Minas Gerais nas primeiras décadas do século passado (as fotos dos velórios infantis são preciosas), e uma exposição sen-sa-cio-nal de cartuns do J. Carlos.


Além do traço inconfundível, que foi muito usado por periódicos e revistas em um tempo em que as ilustrações cumpriam o papel de fotografias, o trabalho dele também vale como uma crônica dos costumes da época. A relação com as mulheres, imortalizada em suas clássicas matronas, soa mais divertida do que a forma sempre inferiorizada como os negros eram retratados.


O programa fica ainda mais redondo com uma visita à filial que o Empório Jardim acaba de abrir dentro do próprio IMS. A casa, com matriz no Jardim Botânico, serve um dos brunches mais espertos da cidade, em esquema à la carte.


Itens como ovos Benedict com salmão, tapiocas, iogurtes e bolos caseiros, além de pratos quentes, drinks e aquela tacinha de espumante, podem ser pedidos a qualquer hora do dia - perfeito para quem acorda tardão e, mesmo com o horário desregrado, não abre mão de um bom café da manhã. Torça para encontrar o bolo de mirtilo (também conhecida como blueberry) com limão-siciliano, que uma das sócias inventou há três meses e só serve de vez em quando!


Além do IMS, a Gávea ainda guarda outras surpresas. Escondidinho num canto tranquilo nos fundos da zona sul carioca, entre a Rocinha, a Floresta da Tijuca e o Jardim Botânico, o bairro tem muito verde, uma pegada meio desacelerada e um clima mais fresquinho, mesmo se no vizinho Leblon estiver aquele calorão.


Dá para esticar o passeio até o Parque da Cidade, que é incrivelmente sossegado. Ali fica o Museu Histórico da Cidade (fechado, mas com um pequeno anexo em funcionamento, com registros do Rio de dois séculos atrás) e também acessos a trilhas que levam a vários pontos turísticos da Floresta da Tijuca, como a Vista Chinesa.


O trajeto até o parque passa por uma das entradas da Rocinha, no início da Estrada da Gávea, mas é seguro e policiado. (Infelizmente não posso recomendar com a mesma segurança essas trilhas que levam até a Vista Chinesa; o lugar é de uma beleza estonteante, mas do ano passado para cá os assaltos a turistas voltaram a crescer).


O bairro tem outras opções gastronômicas para abrir ou fechar o passeio. A rede Delírio Tropical tem ali um de seus pontos mais agradáveis, com o mesmo bufê informal e descomplicado de sempre (pena que a qualidade da comida não seja a mesma de dez anos atrás). Para algo mais elaborado, o Shopping da Gávea se sai surpreendentemente bem, com vários restaurantes charmosos e acolhedores. Mesmo se o jantar estiver programado para outro lugar, vale percorrer os corredores de pedras portuguesas, sentir o nostálgico ar de anos 80 que toma conta do lugar, e tomar um copinho do melhor sorvete da cidade na Momo.