quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Saída à francesa antes do Carnaval

Enquanto os assuntos da semana nas rodinhas das bilus são a pool party da Rosane Amaral em São Paulo e as apostas para o próximo Carnaval (Rio ou Floripa, Rio ou Floripa ?), este blogueiro se afasta de tais assuntos e sai à francesa para merecidas férias de duas semanas. Vou me jogar em duas capitais brasileiras que, diga-se de passagem, são opções de Carnaval gay interessantes e freqüentemente subestimadas - muita gente nem sequer as considera, seja por falta de informação, seja por preconceito. Estou falando de Salvador e Recife.

São destinos que combinam boas praias (urbanas ou não), história, arquitetura, gastronomia e um fervo muito peculiar, que tem seus personagens próprios, mas também um pouco daquilo que se costuma buscar em Ipanema ou na Praia Mole: corpos bronzeados e dispostos a pecar !

Salvador eu já conheço, Recife não. De qualquer maneira, são duas apostas que eu faria para sair um pouco do lugar-comum nesse Carnaval. Mas não ficarei no Nordeste até lá - volto em 12 de fevereiro, a tempo de dividir com vocês as minhas impressões soteropolitanas e recifenses, e responder afinal à pergunta que não quer calar: Rio ou Floripa ?

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

O sobe-e-desce do réveillon carioca 2006

Estamos em cinco de janeiro e ainda há muita água para rolar aqui na Guanabara. Mas, com a passagem do réveillon, já dá pra ter uma idéia de alguns hypes e bolas fora e fazer um termômetro do verão carioca 2007, ainda que essa seja apenas uma prévia parcial. Então aqui vai um pouco do que está por cima e por baixo por estas bandas...

UAU:

ROSANE AMARAL. A produtora deve estar exausta, mas rindo sozinha até agora. Todas as suas festas foram sucesso absoluto de público, alavancadas pela venda do esperto pacote promocional para as três datas - R.Evolution do Cais do Porto (30/12), R.Evolution do Sky Lounge (31/12) e Pool Party (1°/01). A produção das locações foi apenas OK - nem a esperada Pool Party conseguiu repetir o impacto das mágicas edições de 2006 na Estação do Corpo - e os DJs em geral não surpreenderam (exceção feita para o colírio chipriota Angelos Styliano, que pesou legal e acertou a mão na segunda metade de seu set no dia 30), mas a verdade é que todo mundo prestigiou os eventos dessa mulher. Inclusive o público fiel da X-Demente.

SHOPPING LEBLON. O novo centro de compras da Zona Sul já chegou arrebentando e com toda vocação para ser o hit deste verão. Os trunfos: uma boa oferta de lojas de alto padrão, para pisar no calo do Fashion Mall (Armani Exchange, Jeans Hall, pencas e pencas de óticas de luxo), uma Livraria da Travessa ci-ne-ma-to-grá-fi-ca (com direito inclusive a um Bazzar Café no mezanino, recriando o clima Sex And The City da livraria de Ipanema), oferta de gastronomia enxuta mas selecionada (do carioquíssima Bibi ao paulistaníssimo Ráscal - o primeiro do Rio - passando pelo sempre bem recebido Outback Steakhouse), cinemas by Kinoplex e, para dar o arremate final, uma praça de alimentação emoldurada por nada menos que a vista da Lagoa Rodrigo de Freitas. Tá???

GRINGOS LINDOS. Como em outros verões, a gringolândia desceu em peso, mas desta vez com muito mais qualidade. Esqueça aquelas tias velhas sem senso de ridículo com fio-dental verde-limão: o que se vê pelas ruas e cafés de Ipanema são belíssimos exemplares de macho, que parecem ter saído ora das capas da Men's Health, ora dos catálogos da Abercrombie & Fitch. Não há dúvidas de que o nível das beldades (que andava meio bagaceiro, diga-se) aumentou muito (para a alegria das caçadoras especializadas, que já são parte do folclore carioca). E as procedências são as mais variadas: ainda tem muito americano, mas cada vez mais gente de outras paragens, como Escandinávia, Austrália, África do Sul e Leste Europeu. Até os argentinos estão bonitos!

00. O bar-restaurante-clube da Gávea, já mais do que consagrado entre os descolados da cidade, está vivendo uma temporada de glória, com noites sistematicamente lotadas (e um verdadeiro caos na hora de pagar a comanda), e se firmou mais uma vez como o destino certo para encontrar as pessoas mais bonitas possíveis, com todos os sotaques imagináveis. O lounge ao ar livre recebeu um bom trato no visu, a ovulante pistinha está com ar condicionado bombando, o sushi bar despacha enrolados sem demora - e, para quem ainda se lembra da tal cozinha contemporânea que dá nome ao lugar, vale conferir os "belisquetes" (acho tão fofo esse carioquismo!) e a releitura que eles fazem do cachorro quente - aqui, com lingüicinha temperada, queijo gruyère derretido e um punhado de onion rings. O 00 está com tudo e não está prosa.

CAFEÍNA E DEVASSA DA FARME. O Cafeína da Farme já vinha se superando em quantidade de público desde o meio do ano, e recebendo uma freqüência cada vez mais gay - a essas alturas, as outrora simplórias atendentes da casa já estão todas familiarizadas com os fervos e gongos do mundinho. E a novíssima filial do Devassa (bar de grife que vai bem inclusive em São Paulo), na esquina com a Prudente, vive com sua varanda apinhada de gente interessante, beneficiada pelo aporte de gringos da alta que se hospedam no Ipanema Plaza, do outro lado da rua, e pelo fluxo natural de banhistas saídos da praia. Cada um com sua proposta, esses dois endereços são as vitrines do momento em Ipanema.

UÓ:

GUERRA DAS MILÍCIAS. OK, este blogueiro sabe bem que o Rio não é tão perigoso como parece e os fuzuês são bem sazonais. Mas não tem jeito: quando acontece uma barbárie como esse ataque ao ônibus da Itapemirim na Av. Brasil, com 18 turistas mortos carbonizados, não dá pra não ficar perplexo e pensar que o Rio de Janeiro infelizmente não tem força suficiente diante do poder paralelo. O que mais me apavora é pensar que, diferentemente das mortes que costumam acontecer em lugares perdidos como o Complexo da Maré, nesse caso poderia ter sido comigo - eu vivo voltando de ônibus pra São Paulo e, com um bom Dramin na cabeça para viajar sonhando com os anjos, eu provavelmente não conseguiria ter escapado da morte no incêndio.

SÃO PEDRO DE MAL DO RIO. Em termos de metereologia, esse foi um dos piores réveillons de todos os tempos. Desta vez não é só aquela trovoada de fim de tarde, e sim dias e dias a fio de céu fechado e tempo chuvoso. Só peguei praia um único dia desde que cheguei, e depois de amanhã já volto pra casa, provavelmente ainda branquelo e com aquela baita cara de derrotado de quem teve a praia micada. Pior ainda é a situação dos estrangeiros, que desembolsaram uma boa grana pra vir pra cá e constataram o que nós paulistanos já sabíamos faz tempo: quando o tempo fecha, no Rio realmente não tem nada pra se fazer. Pelo menos eu estou aproveitando para escrever um post no blog, coisa que em outras condições eu jamais estaria fazendo, em plena Visconde de Pirajá...

RÉVEILLON EM IPANEMA. A virada na praia prometia, com dois grandes eventos de massa - um da Nokia, estrelado pelo show do Black Eyed Peas (que em português quer dizer "feijão fradinho", sabiam ?), e outro patrocinado pelo Guaraná Antarctica, com uma salada eletrônica de ingredientes bem contrastantes, como Infected Mushrooms e Patricinha Tribal (!). A realidade é que Ipanema acabou sendo o pior destino possível na noite do dia 31: a babel de tipos variados que desembarcou por lá viveu cenas de pura selvageria, com muito empurra-empurra, brigas a rodo, os inevitáveis roubos e furtos e uma chuvinha pentelha que insistia em castigar quem teimasse em não fugir dali correndo, na esperança de que depois a festa melhorasse.

SUNGAS ESTAMPADAS. A partir de 2002/2003, a conhecida "moda praia alternativa" de Ipanema começou a soltar sungas irreverentes e coloridíssimas, com as estampas mais diversas, do camuflado-militar ao op-art. Depois de anos de caretice, em que tudo o que existia eram as monótonas listas laterais da Blue Man, a novidade foi muito bem recebida - e os camelôs da Farme venderam que nem água. Mas a idéia já deu o que tinha que dar, virou cafona, e o que era um diferencial bacanudo passou a cansar visualmente, deixando o banhista com aquele ar de 'bissinha da Farme'. Agora, menos é mais - que venham as sungas lisas, vermelhas (salva-vidas é um eterno fetiche !), pretas, azuis e, se a morenice permitir, brancas. E as estampadas da Aussiebum ? Sim, são cafonas também - a marca foi hypada de um jeito tão rápido e tão errado que em questão de semanas já virou carne-de-vaca e brega - quem não comprou pela internet ganhou de brinde, em ações mal-direcionadas promovidas pelo marketing da marca australiana no Brasil.

FÁBIO MONTEIRO. Quem diria, a dinastia X-Demente parece mesmo ter sido posta a nocaute. Depois de anos e anos vivendo da fama de suas festas (merecidamente conquistada, é verdade) e deitando e rolando em cima do público, investindo o mínimo e lucrando o máximo, o antigo sultão da noite carioca perdeu feio a briga para Rosane Amaral. E olha que nesse fim de ano o som dele estava bem melhor do que o dela: o americano Eddie X caprichou no caldeirão, e o terraço só tinha pérolas da finesse brazuca - Mr. Spacely, Pareto, Breno Ung. Ainda assim, o público resolveu deixar Fábio de castigo, e mesmo seus freqüentadores mais assíduos escolheram a R.Evolution. Nem tudo está perdido para ele: o cara tem know how de sobra, e o nome da X ainda ecoa pelo mundo afora. Mas ele precisa reconquistar a confiança e o respeito de uma parcela grande do público, que não tem rabo preso nem ganha vip, e migrou para a concorrência em busca de um tratamento melhor (entrada sem filas, seguranças não truculentos, banheiros em condições mínimas de uso, bar com água suficiente para a noite toda) e, especialmente, de novidades. Como dar a volta por cima ? Voltando a investir em produção e decoração, erradicando os problemas apontados (que são velhos conhecidos de todos !) e, especialmente, caprichando mais no line up. OK, há quem enxergue qualidade na residente Ana Paula, mas os gringos convidados têm sido sempre da vertente mais pobre e manjada do tribal americano. Fábio tem que se empenhar mais - e para isso nem precisa bookar gente caríssima tipo Peter Rauhofer. Tem um monte de DJs fodões, talentosos e renomados lá fora, como o argentino Aldo Haydar (Caix/Buenos Aires) e o espanhol Ismael Rivas (Space of Sound/Madrid), que tocam uma house muito mais rica e agradam em cheio ao público gay de seus países - inclusive as barbies colocadas que Fábio Monteiro tanto corteja. Um bom começo seria trazer de volta o DJ espanhol Oliver, que fez um set sensacional na Marina da Glória no carnaval do ano passado, a única bola dentro que a X-Demente deu em anos. Ficam aí as minhas dicas para ele (a X merece voltar a brilhar e, na boa, a concorrência nem está tão boa assim).