segunda-feira, 30 de abril de 2007

Comilança e o lado bom dos dias nublados

Depois de duas semanas de ralação nonstop, que terminaram em uma sexta-feira cruelmente paulistana, com direito a banho de chuva e ventania em plena Paulista, 15 graus nos termômetros e eu numa camisa levinha de manga curta tremendo de frio, resolvi fugir da depressiva São Paulo e matar as saudades do bom e velho Rio de Janeiro. Num passe de mágica, eu já estava de regata, bermuda e Havaianas, flanando alegremente por Ipanema, curtindo os corpos e a nonchalance carioca.

Como, apesar do solzinho eventual, não estava rolando uma PRAIA (para os gringos que vão à praia de toalha até estava, mas para mim aquilo era puro desperdício de filtro solar), resolvi me jogar na gastronomia carioca. Eu não queria suportar espera, nem carão de hostess despreparada (indo a um Gula Gula da vida), então me mandei logo para os quilos "premium" da cidade, que são garantia de comida boa e descomplicada. Sábado almocei no Fellini e ontem, no Ataulfo.

Ainda está para chegar o dia em que eu vou conhecer um quilo que eu curta mais do que o Fellini. Como dizem por aqui, sou "amarradão". Peguei o prato e, usando minha técnica adquirida em anos de alimentação a quilo, fiz caber o mundo ali. Eu faço sempre combinações de dois-a-dois: uma carne e um acompanhamento em cada canto do prato, deixando sempre as guarnições no meio, como uma "divisória" entre as carnes, que não devem ter contato. Sou bem cricri: nada pior do que o molho de uma massa ou carne escorrer e misturar com a da outra, que tinha outro molho (ou, pior, não era pra ter molho nenhum). Coisas de taurino sistemático...

Meu prato do Fellini começou com um peito de frango caramelizado com mel, mostarda e gergelim, delicioso, que acompanhei com um arroz diferente, que tinha um suave perfume de laranja e curry. Depois, coloquei uma posta de tilápia (peixe macio que os paulistanos chamam de "saint-pierre") com molhinho de champignon e amêndoas, e ao lado pus um crepe de alho-poró e cream cheese para lhe fazer companhia. Servi, ainda, uma colherada pequena de duas massas (uns delicados raviolis de cogumelo com molho pomodoro, e o infalível penne com creme de funghi seco) e arrematei com dois philadelphia hot rolls, que são especialidade da casa e ficam maravilhosos com um pouco de molho teriyaki por cima.

Mas isso foi só o primeiro round: a parte de doces do Fellini é ainda mais tentadora. Fiz, como sempre, um mix das três melhores delícias da casa: a crème brulée, levinha e com muito gosto de baunilha; a torta alemã, a melhor que eu já comi, que fica divina com uma conchinha extra da cobertura de chocolate perfeita deles; e o brownie caseiro, bem molhadinho. Claro que tive que voltar andando do Leblon até Copacabana para fazer a digestão, mas tudo bem.

Domingo foi a vez de voltar ao Ataulfo, que serve bufê na mesma linha do Fellini e ontem estava imbatível. Fiz três combinações sublimes. Servi uns pedacinhos de uma picanha suína ultramacia, feita na manteiga de ervas, com um rondelli de ricotta, pera e nozes; umas iscas de filé mignon ao molho poivre, que casaram maravilhosamente com a famosa quiche de cebola da casa; e um camarão ao curry com lascas de coco... hummmmm... que eu comi de joelhos de tão bom, junto com um risotinho bem cremoso de presunto de Parma, rúcula e queijo Brie. Uma conta de R$37 que valeria seguramente o dobro !

É claro que eu jamais teria coragem de sair dessa orgia e pisar nas areias de Ipanema, onde é preciso ter 5% de gordura corporal para se sentir bem e, no meu caso, a crítica seria implacável. Mas dias nublados têm essa vantagem: a praia deixa de ser uma obrigação e dá pra abusar da gula sem culpa. Afinal, o verão ainda vai levar mais de seis meses para chegar... e eu vou chegar bonito no verão, acreditem (se puderem!).

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Depois do Skol Beats é que começa a festa

Você também achou que as atrações do Skol Beats estão fracas este ano? Preferia mil vezes estar em Buenos Aires para ir ao Southfest ver o Steve Lawler? Ou deu de ombros e resolveu que vai passar o fim de semana hibernando e não sai de casa por nada desse mundo? Se você respondeu sim a essas perguntas, meu caro, pode ir se animando: seus problemas acabaram e seus planos vão mudar!

A filial paulistana do clube Pacha vai fazer uma série de day parties em parceria com a We Love Sundays, a famosa domingueira da Space de Ibiza que é a festa mais incrível da ilha. A estréia do projeto vai ser no dia 6 de maio, não por acaso logo após o Skol Beats - tanto que está sendo chamada de "o after hours oficial do SB".

A festa começará às 8h00, terá 15 horas de duração e será feita numa área externa do Pacha, com capacidade para 7 mil pessoas. E a atração principal será ninguém menos do que o próprio Steve Lawler. Ele embarca para São Paulo logo após sua apresentação no Southfest, e deve assumir as pickups do Pacha às 17h00.

Além de Lawler, a maratona do Pacha terá vários outros nomes nessa mesma linha, como o uruguaio Southmen e o húngaro Add 2 Basket. Para quem curte progressive house, vai ser a glória. Os ingressos antecipados saem a R$60; na hora, o preço será R$80. Metade do preço do Skol Beats, com um som bem mais legal e muito mais conforto, sem aquelas típicas baixarias de festival, e o melhor: sem comprometer o sono da noite! Mais informações aqui.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Abduzido pela correria

Com mil bombas caindo ao mesmo tempo sobre a minha cabeça no trabalho e duas semanas pauleira de provas na faculdade, não estou conseguindo dar as caras por aqui. E olha que várias coisinhas andam acontecendo: a Nair Bello bateu com as botas, a dupla Sandy & Junior anunciou a separação, os publicitários retardados criaram mais uma campanha monga de cerveja: depois do "nã nã nã nã", agora é a vez da "Zeca-feira" (e depois ainda tem gente que quer criar o "dia do orgulho hétero"... tsc tsc tsc).

O fato é que, entre coisas importantes e irrelevantes, assunto é o que não falta para tagarelar aqui: eu teria pauta para mais pelo menos quatro posts. Mas sei que, se eu resolver sentar e escrever, as horas vão passar e eu vou me complicar. Então, melhor deixar o vício de lado.

Amanhã é meu aniversário, momento de reflexões, balanços e introspecção... numa dessas viagens, talvez eu acabe sentando aqui de novo, para um post mais pessoal do que os últimos. Se eu demorar a voltar, bom fim de semana para todos !

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Enfim, tribal bom de verdade

Quem me conhece já sabe que não sou muito fã de house tribal. Até porque o que o meio gay começou a chamar de "tribal" é uma mistura de várias coisas diferentes jogadas no mesmo caldeirão - desde a hard house instrumental que se tocava na Level no final da noite até os remixes xaroposos de cantoras que alguém teve a coragem de chamar de "divas" (hoje em dia qualquer uma vira "diva" no meio gay...), feitos por gente da laia de Tony Moran, Offer Nissin e afins. Acho tudo pobre, repetitivo, e nada me irrita mais do que estar dançando embalado, tentando fazer a parada bater, e de repente o DJ parar a batida e emendar um longo a cappella da "diva" da vez. Minha onda vai embora na hora. Acho que vocal em música eletrônica não pode passar de um certo limite - pista não é concurso de dublagem.

Nesse meu desgosto por tribal, entre as poucas exceções que eu abro estão o inglês Steve Lawler - que faz um mix espertíssimo de tribal com house progressivo: sexy, animado, dark em alguns momentos e ótimo para a colocação sempre - e a dupla espanhola Chus & Ceballos, que tem ótimos CDs gravados, detona lá fora e faz um som que seria o ideal para toda boa pista gay (há quem chame de iberican house, mas esse rótulo também passou a ser usado impropriamente, para designar qualquer coisa feita na Espanha, o que não explica muita coisa).

Infelizmente, a cena gay brasileira é míope, ela só enxerga os mesmos DJs gringos de sempre (Tony Moran, Abel, Manny Lehmann), quando tem um monte de outros nomes do tribal que arrasam lá fora e poderiam acertar em cheio aqui também (Aldo Haydar, Ismael Rivas e a própria dupla Chus & Ceballos). Na verdade já trouxeram o C&C pra cá, mas foi só um dos dois (não lembro qual deles, acho que o Chus) e puseram o cara pra tocar no Ultralounge, e ainda por cima no meio da semana. Um desperdício.

Eis que hoje cedo descobri que Chus & Ceballos estão de viagem marcada pra cá. Mas não para tocar na The Week (que insiste pela enésima vez em Offer Nissin, afffe!), e sim em um clube hétero, o Sirena - que eu adoro e sempre considerei o melhor do Brasil. O Sirena recria vários fundamentos dos clubes de Ibiza e tem alguns dos homens mais lindos do pedaço (aliás, aquele meu post sobre héteros que parecem gays se encaixa perfeitamente no público de lá). A apresentação deles será no dia 19 de maio, e tenho certeza de que será uma noite bem bacana. Para quem entende que tribal não é só bate-cabelo, tá aí uma ótima chance de dançar um som de qualidade e mudar de ares um pouco. Estarei lá!

terça-feira, 10 de abril de 2007

Rio de Janeiro, nós vamos invadir sua mesa

Tenho observado que está rolando um intercâmbio gastronômico bastante intenso entre São Paulo e Rio de Janeiro - mais precisamente, de restaurantes paulistanos inaugurando endereços em solo carioca. Os pioneiros dessa leva foram a chef Carla Pernambuco, que montou um Carlota na charmosa Rua Dias Ferreira, no Leblon, e o restauranteur Rogério Fasano, que abriu em Ipanema dois endereços badalados, o classudo Gero e a moderninha Forneria - ambos repetindo o bom desempenho das casas-mãe em São Paulo.

Mais recentemente, três outras casas que são sucesso de bilheteria em Sampa resolveram abrir seus braços sobre a Cidade Maravilhosa. O Ráscal, cria chique da rede Viena, levou seu ravioli Ráscal e sua deliciosa mesa de saladas e antepastos para o novo Shopping Leblon. O japa ocidentalizado Nakombi abriu uma filial cheia de bossa no Jardim Botânico, na Rua Maria Angélica (o corredor gastronômico do momento, com o badalado chinês Mr. Lam, a venerada pizzaria Capricciosa e o eterno hit Gula Gula). E amanhã, no mesmo quarteirão do Nakombi, será parido o primeiro filho carioca da rede de pizzarias Bráz.

A julgar pela calorosa acolhida que os outros visitantes de fora tiveram, a Bráz tem tudo para ser sucesso. O Nakombi está sempre movimentado; no Ráscal, é praticamente impossível comer nos fins de semana, tamanha a fila de espera que se forma. Com todo esse novo fervo em torno do Jardim Botânico, a Bráz não tem como errar - basta não esquecer de comprar alguns vidros de catchup, para os cariocas salpicarem por cima das redondas... (desculpem, não resisti!)

Se os pratos de São Paulo estão "causando" no Rio, é curioso lembrar que a contrapartida normalmente não acontece. Pesos-pesados da gastronomia carioca deram as caras por aqui e foram recebidos com indiferença, fechando as portas em pouco tempo.

O melhor exemplo disso é o Gula Gula, verdadeira instituição do Rio, famoso por suas saladas estilo salpicão, tortas e grelhados. Nem tendo escolhido a badalada Rua Amauri para abrir seu ponto, a casa conseguiu vingar. O Doce Delícia, outro queridinho dos cariocas e responsável pelos melhores bolos da cidade, saiu do Morumbi Shopping da mesma forma que chegou: com uma mão na frente e a outra atrás. Mesmo o Joe & Leo's, eleito o melhor hambúrguer do Rio de Janeiro por vários anos consecutivos, ainda sobrevive por aqui, mas não despertou a curiosidade dos paladares paulistanos. A única exceção de sucesso recente nesse mundo de bolas fora foi o bar Devassa, que abriu na Alameda Lorena e vai muito bem, obrigado - consagrou-se como uma das melhores happy hours dos Jardins.

Por que os paulistanos fazem sucesso tão fácil no Rio e os cariocas têm mais dificuldade de emplacar em São Paulo ? Explicações bairristas ("paulista entende de comida, carioca não sabe comer") não satisfazem: a verdade é que as duas cidades têm características e vivem momentos diferentes. Na Zona Sul carioca, os lugares "objeto de desejo" estão concentrados estrategicamente, em poucas ruas - vide Ipanema, onde a pé você consegue ir a todos os lugares que importam no bairro. E a cidade parece viver um momento de euforia, está ávida por novidades, lugares novos não param de pipocar. Já São Paulo tem uma cena gastronômica tão gigantesca e tão dispersa que é preciso chegar com estardalhaço e ser simplesmente espetacular para chamar a atenção do paulistano - tão exigente, tão acostumado ao melhor e, por isso mesmo, tão blasé.

domingo, 8 de abril de 2007

Onde soprar velinhas em São Paulo ?

Como taurino do primeiro dia que sou, já começo a pensar no que farei neste ano para comemorar meu aniversário, que se aproxima. E, como nos anos passados, tenho sempre a mesma dificuldade em bolar algo que me agrade. São Paulo parece não ter muitas opções boas de lugares para juntar os amigos e comemorar.

Depois que a The Week começou a funcionar, muitas pessoas passaram a resolver o problema simplesmente indo dançar e convocando todos os amigos a aparecer lá. Vai quem quer, e se quiser. Mas, se essa é uma solução prática e barata (cada um paga a sua própria despesa e ninguém complica a vida de ninguém), por outro lado acaba sendo uma comemoração bastante impessoal. Na muvuca de uma boate, todo mundo se dispersa rapidamente e o aniversariante acaba não curtindo ninguém direito. Não há clima nem espaço para isso.

No outro extremo, muitos optam por reservar uma mesa grande em algum restaurante friendly, e fazer uma comemoração mais, digamos, comportada. A pizzaria Piola era a campeã absoluta da categoria (os garçons ficavam até cansados de tanto ter que sorrir e cantar parabéns), até que o bar-restaurante L'Open abriu as portas e arrebanhou uma boa fatia do público gay. Um dos ambientes da casa, uma espécie de terraço com teto retrátil, virou ponto cativo de mesas de aniversário. E, sendo um lugar do babado, dá pra ficar de mão dada, dar beijinho e até sentar no colo. Bem ao gosto dos casais - sobretudo das sapas.

Mas a comemoração em restaurante, por mais fervido que ele seja, é cheia de limitações. Para começar, não dá pra fazer uma lista muito grande. É preciso ter uma idéia mais ou menos certa de quantas pessoas virão, para poder reservar uma mesa de acordo. Em casas como o Mestiço, é uma tarefa dramática conseguir uma mesa com mais de seis lugares. E, no final, todo mundo acaba conversando só com quem está ao lado na mesa - o que nem sempre dá muito certo, se o anfitrião não tiver o cuidado de distribuir os convidados dentro de uma certa ordem geopolítica.

A solução ideal, portanto, seria um lugar híbrido: nem tão quadradinho como um restaurante, nem tão bombado como uma boate. Um espaço que tivesse um lounge, onde os convidados pudessem sentar, beber, conversar e circular, mas que também oferecesse a chance de dançar ou, pelo menos, tocasse um som animado para embalar a noite. Mas a cidade é carente em lugares assim - a menos que você resolva se render ao circuito mainstream da Vila Olímpia e afins, onde os rapazes da mesa ao lado cantam alto o hino do Tricolor e as garotas balançam suas madeixas alisadas ao som de Lasgo.

São Paulo tem alguns lugares que já foram bacanas, mas hoje não dão mais conta do recado. O Bar 8 é um espaço versátil, com bar, pistinha e lounge, mas está caidaço há um bom tempo. O Tostex tem um lounge envidraçado com pufes e um mezanino no fundo que podem ser reservados - mas neles cabe tão pouca gente, que às vezes é melhor negócio fazer a festa em casa. Aliás, festa em casa parece ser a melhor opção - desde que você tenha um espaço legal na sua sala e uma boa graninha sobrando, para as muitas garrafas de prosecco que terá de servir. E quem disse que a vida era fácil ?

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Ainda bem que existe a Colors

Anteontem rolou a primeira edição da Colors no novo clube Clash. Pra quem não sabe, a Colors é uma festa de house music - uma das poucas iniciativas efetivamente dedicadas a esse gênero que ainda existem em São Paulo (as sextas Freak Chic no D-Edge não contam, porque nelas se tocam apenas aqueles cruzamentos pra lá de impuros de house com electro e rock).

A Colors é itinerante - já ocupou os mais diversos espaços possíveis - e tem um espírito autenticamente underground e desencanado. O público é variadíssimo, jovem e divertido, e os residentes Wander A e Wagner J sempre trazem bons convidados. Dessa vez, a atração foi o top Mau Mau, que tem uma sólida trajetória tocando techno e tech house, mas preparou um set especial de house para a ocasião. Mau Mau estava endiabrado - ele entrou às 3h30 no som e, às 5h00, a casa inteira ainda pulava com os braços pra cima. Ótima vibe.

Pra completar, o Clash é um espaço bem bacana. O clube, um galpão com pé direito alto, tem um bar e um pequeno lounge moderninho na parte da frente, a ampla pista de dança na parte central e, no fundo, um corredor leva a um pequeno quintal aberto, com outro bar, onde dá pra dar um tempo das baforadas de cigarro e respirar um ar mais puro. O preço do valet é salgado (R$ 14), mas nem pensar em deixar o carro na rua, já que a casa está incrustada no pedaço mais trevas da Barra Funda.

A noite foi excelente. A Colors continua sendo garantia de boa música e diversão descompromissada, e o Clash mostrou que tem cacife para concorrer com os bons clubes de eletrônica de São Paulo. Tomara que a próxima edição da Colors também seja feita lá.