quarta-feira, 15 de junho de 2005

Lições do exílio forçado

E ficar doente faz parte. Quer dizer, nunca faz parte do script, sempre atrapalha, mas até que é bom sair um pouco de cena e ver a vidinha de fora. Ah sim, e se entupir de doces e cookies vendo TV a cabo na cama da mamma, depois de padecer com o "consomê de cabo de guarda-chuva" servido por três dias consecutivos no hospital.

Confesso que eu me desiludi um pouco com os meus amigos. E digo isso de forma geral, não dirigida a ninguém em especial. E falo aqui porque sei que enquanto o meu fotolog gera até alguma repercussão, este blog ninguêm lê mesmo - e eu não quero que meus amigos levem a mal e se ofendam com o que vou dizer.

No fundo, eu sei que tenho bons amigos. Sou um cara bastante sensível e sinto quem gosta de mim de verdade - e, com o tempo, saco também quem são os falsos que falam coisas legais e depois me gongam pelas costas. Não posso reclamar, não sou o Mr. Popular - nem quero e nem tenho vocação para isso - mas sou um cara querido. E isso me basta.

E daí que quando eu fiquei doente, eu imaginei que fosse receber várias visitas, imaginei o sofá do hospital e depois as poltronas de casa cheias de gente sentada, me visitando, me alegrando, me passando algum carinho...

...e praticamente ninguém veio me ver.

Recebi vários telefonemas e comentários solidários no fotolog - gostei muito e prezo cada um desses gestos, que creio serem de preocupação ecarinho legítimos. Mas quando eu fico doente, fico super fragilizado, carente, choro com qualquer coisa, e nessa hora tudo que eu mais preciso é de carinho físico, não virtual. Colo mesmo. Como uma espécie de compensação pelo fato de eu estar ali, doente, prostrado, sem poder fazer nada.

E os dias passaram, eu pensava que hoje ninguém teve tempo mas amanhã alguém virá, e depois fui vendo que ninguém iria me ver mesmo.

Tá, fiquei frustrado mas sobrevivi, estou praticamente restabelecido, e não pretendo fazer drama em cima disso. Mas saquei que cometi mais uma vez o erro que me levou a me magoar muitas vezes com a spessoas: eu projetei o meu prisma de valores nos outros.

Explico. Se algum amigo que eu realmente prezo estivesse doente, no hospital, assim que eu soubesse eu daria um jeito de ir lá visitar. Pegaria meia horinha do meu dia (não mais do que isso porque visitas longas muitas vezes cansam o doente) e daria um pulo lá, daria um abraço, traria simpatia, calor humano, energias positivas. Mostraria que aquela pessoa era querida e eu estava preocupado com ela (por mais que a recuperação fosse tida como certa).

Se fosse um amigo mais íntimo, eu faria até mais do que isso. Acho que faria mais visitas, conforme o tempo de recuperação da pessoa. Iria ao hospital e depois, sabendo que o repouso em casa seria longo, faria uma visita demorada quando ele(a) já estivesse em casa. Domingo foi feito pra isso. Domingo é dia de visita. Até no Carandiru era assim. Presos e doentes merecem essa atenção.

Só que esses são os MEUS valores. Eu sou assim porque me importo, é assim que eu sei ser amigo, essa é a minha maneira de mostrar meu amor.

Claro que os outros não têm a obrigação de se pautar pelos mesmos valores - e não se pautam mesmo, como mostram episódios como esse. Mas mesmo assim, sabendo disso tudo, eu criei expectativas e me frustrei.

No fundo, volto a dizer, eu sei que meus amigos gostam de mim, que são bons amigos, alguns muito especiais. E são amigos do jeito que sabem ser. O que nesse caso não inclui visitas quando se está doente. Acho que preferem só me ver numa boa, dando risada, comendo coisas gostosas, gastando dinheiro, fazendo turismo, tirando fotos, me jogando na pista. Tudo menos ficar deitado de moletom na cama sem achar posição e esperando o dia passar. Sei lá.

E com isso eu vou voltando devagar à ativa, mas confesso que sem a mesma vontade de procurar as pessoas que eu tinha antes. Não é rancor, e não vou deixar isso contaminar as minhas relações. Quando for o caso, eu continuarei sendo o amigo fofo e atencioso que eu acho que sou, e farei as coisas que eu sempre fiz espontaneamente - porque elas vêm de dentro, sem eu esperar algo em troca por isso.

Por outro lado, se aquilo não vier de dentro... se eu não estiver com vontade... não vou mais me sacrificar por ninguém. Vou ser fiel à minha vontade. Pensar em mim. Não foi isso que todo mundo fez ? As pessoas não fazem só o que querem, o que é agradável pra elas ? Então, pronto. Se "ninguém é obrigado", acho que eu fui o último a descobrir. Mas descobri. E estou me "desobrigando" a partir deste exato momento. Fui.

sexta-feira, 3 de junho de 2005

Reflexões sobre o chica-chica-bum de domingo


Muitos criticam a Parada. Dizem que virou comércio, que só atende aos interesses da indústria de produtos GLS e dos operadores de turismo. Que não se fala em política, e que as bichas estão cagando para seus direitos. Que só querem fazer putaria no meio da rua, e que com essa postura elas nunca vão conquistar o respeito à sociedade. Que a Parada virou um zoológico de tipos bizarros e que os heteros vêm lá é para rir dos gays, não para simpatizar e transmitir apoio.

Acho essas críticas radicais demais. Concordo em parte com tudo isso, mas é inegável que dois milhões de pessoas mostrando seu orgulho na avenida mais importante da cidade mais importante do Brasil têm um significado enorme.

É uma conquista de visibilidade.

É a amostra de que, sim, hoje existe mais espaço para que as pessoas exerçam a sua cidadania, que obviamente inclui o livre e sadio exercício da própria sexualidade.

É o sinal de que, aos poucos, gays e lésbicas estão deixando de ser um tabu e passando a ser enxergados como pessoas, além dos estereótipos da mídia.

É uma manifestação de força de um grupo enorme de pessoas que se aceitam e são bem-resolvidas, cansaram de ser varridas para baixo do tapete, e agora vêm reivindicar não mais do que um tratamento signo, justo e igualitário.

Pode até ser que no final das contas tudo não passe de mais um Carnaval. De qualquer forma, só temos que comemorar o fato de que, hoje, existe espaço para esse tipo de Carnaval, que seria impensável há dez anos atrás.