quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Maçã podre

Quando escrevi aquele polêmico post "do contra" (que bateu recorde de comentários) eu disse que havia me arrependido de ter comprado um iPhode. Aos que pensaram que falei mal do gadget da Apple só para chamar a atenção, devo admitir: aquelas poucas palavras não fizeram justiça com ele. Mas agora chegou a hora de compensar meu erro, e escrever um post decente que esteja realmente à altura do que o aparelhinho realmente é. A maior fonte de desgosto e aborrecimentos que um consumidor desavisado pode ter desde que a LG começou a vender suas porcarias descartáveis no Brasil (desbancando a antiga campeã CCE).

A primeira crítica que fiz foi quanto ao fato de que é preciso depender do iTunes para tudo: para acessar o conteúdo, importar músicas ou criar listas de reprodução, o bom e velho Windows Explorer não serve. Mas o programa, bastante pesado, foi criado para atrapalhar o usuário. Para começar, as músicas que você tem no seu disco rígido não ficam imediatamente disponíveis: você precisa importar tudo manualmente para o acervo do iTunes. Na medida em que baixar mais do eMule, terá que se lembrar de repetir essa operação "artesanal", ou você nem visualizará as músicas.

Detalhe: para usufruir das benesses de acessar o conteúdo por artista, álbum, gênero etc., você terá que preencher todos esses campos manualmente, música por música, já que em boa parte das faixas baixadas o artista e o nome da música vêm misturados no mesmo campo. E ai de você se resolver dar uma organizada no seu Explorer e mudar algumas músicas de lugar - o iTunes não as localizará mais. Você terá que apagar os 'links' do programa, reimportar cada música novamente, preencher os campos todos de novo. Pra que simplificar se é possível complicar, não é?

Escrevi que o som do iPhode era baixo. É baixo mesmo - ando com o volume perto do máximo o tempo todo, e olha que não sou daqueles fritos-sem-noção que dançam com os ouvidos colados na caixa de som. Depois, fui descobrir que os iPods vendidos no mercado europeu (o meu, eu trouxe de Barcelona) são baixos mesmo, para proteger os ouvidos dos consumidores. Ou seja, eles decidem por você em que volume você deve escutar a sua música. Se você der o azar de pegar MP3 que já são mais baixos (qualidade menor, o que é comum em músicas mais raras), terá que pedir silêncio a quem estiver conversando ao seu lado, ou pedir para o motorista do ônibus descer a avenida em ponto-morto, para fazer menos barulho.

Antes que me avisem, já mexi naquela função de 'limitador de volume' do menu. E já tentei baixar os tais softwares que prometem 'destravar' o limite europeu, mas eles reprogramam de tal maneira seu iPhode que o computador não consegue mais reconhecê-lo. Para conseguir usá-lo novamente, você precisa formatá-lo (voltar à configuração de fábrica), o que restituirá o bloqueio do volume - e eliminará todas as músicas que você tiver nele.

Mas tudo isso é fichinha, café pequeno. Se esses fossem os únicos inconvenientes do iPhode, eu acho que nem me daria o trabalho de escrever este post. Mas eis que vivi o auge da minha traumática experiência iPhodística, o clímax do desgosto, o tiro de misericórdia no último ato da ópera. Meu computador deu pau (fiquei dez dias sem postar nada, viram?) e perdi a minha MP3teca querida, suada e sofrida. Ora, não há motivos para desespero se você passou as faixas para o seu iPhode, certo? Afinal, é como se você tivesse ali um backup dos seus arquivos; depois é só arrastar as músicas pro computador novo, y ya está. Certo? ERRADO! Essa maravilha tecnológica da Apple só se relaciona com um computador, aquele pelo qual foi configurada.

O que isso significa, respeitável público? Que não dá para ter de volta no computador as músicas que estão no iPod, já que este não reconhece a nova máquina. Para que o iPod possa interagir com o novo computador, será preciso reformatá-lo (voltando às configurações iniciais de fábrica), o que, por sua vez, me obrigará a perder tudo o que está armazenado dele, eliminando definitivamente o backup de músicas que qualquer outro player do mundo recuperaria. Que tal isso? Estou com minhas músicas presas no iPhode, sem poder gravá-las em CD ou tocá-las no computador, e meu iPhode preso nessas músicas, já que, para alimentá-lo com novos dados eu teria que reformatá-lo e perder todo o seu conteúdo.

Só me resta concluir que toda unanimidade é mesmo burra e duvidar ainda mais do que a maioria elege como hype. Como prêmio de consolação, tenho a reportagem de capa da última revista EXAME, que conta que o Sr. Steve Jobs, fundador da Apple, foi abatido por uma grave e misteriosa doença, e teve que se afastar do comando da empresa. Querido Jojó, no que depender da força das minhas "mentalizações positivas" para seu pronto restabelecimento, você e seu pâncreas terão o mesmo destino de todas as músicas que garimpei com afinco, cataloguei com critério e organizei com carinho no meu iPod: vão virar farelo.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O duelo dos hambúrgueres

No finzinho de 2008, o Guia da Folha fez uma enquete pedindo que os leitores escolhessem as melhores comidinhas do ano em diversas categorias. Entre os hambúrgueres, venceu o The Fifties, com 29% e larga vantagem sobre os demais colocados. O que só confirma que a voz do povo está cada vez mais longe da voz de Deus: a rede vem ganhando novos endereços, mas a qualidade da comida despencou ladeira abaixo. Carro-chefe do menu, o pic burger está seco e massudo (num dia bom, o Burger King faz melhor) e as batatas fritas estão intragáveis - impossível não deixar no prato.

Triste é lembrar que eu já considerei o TF o melhor hambúrguer de São Paulo, quando a casa abriu as portas, no embalo de outras hamburguerias "temáticas" (as finadas Uncle Bob e Rock Dreams, que deixam saudades, e a medíocre Rockets, que esqueceram de fechar). Depois, vieram o General Prime Burger e a Lanchonete da Cidade: os hambúrgueres do GPB e os milk shakes da LC viraram meus favoritos. Mas o General, que sempre teve o rei na barriga, começou a dar umas derrapadas sérias e acabou ficando caro demais. O Joe & Leo's daqui não manteve o mesmo nível da matriz carioca. O Ritz até faz bons burgers, mas não tenho coragem de ir lá e não pedir o linguini com camarão e abobrinha ou os pratos do dia de que tanto gosto. Resultado: desde o final de 2007, meu hambúrguer preferido vinha sendo o cheese salada do AChapa da Alameda Santos, malpassado do jeito que eu gosto.

Fui descobrir meu novo eleito por acaso, fugindo do trânsito da Brigadeiro por uma rua que não costumo usar. Numa esquina do pedaço mais calmo do Jardim Paulista (Batataes com Joaquim Eugênio de Lima), um lugarzinho simpático me chamou a atenção e logo voltei para conferir. É o St. Louis. O ambiente fofo e intimista conquista logo de cara: um pequeno salão retangular, com paredes verdes decoradas com penduricalhos norte-americanos de época, cuidadosamente dispostos em prateleiras. Nas mesas, toalhas quadriculadas vermelhas e longos bancos de madeira dão um toque autenticamente caseiro e interiorano.

Mas o que interessa é a comida, e ela me surpreendeu. Suculentos, os hambúrgueres feitos no char broiler ainda têm aquele sabor artesanal que as redes perderam. O que eu pedi, Champ Burger, levava cogumelos salteados e queijo suíço derretido - simples e delicioso. Para acompanhar, batatas fritas sequinhas e crocantes à perfeição, e um potinho de cole slaw mais do que digno. O cardápio também tinha hot dogs vistosos e grelhados bem interessantes, a preços bastante justos para a região. Na parte de bebidas, os milk shakes prometiam, mas apostei na berries lemonade, com frutas vermelhas esmagadas, refrescante e bem melhor do que aquelas limonadas cor-de-rosa que eles fazem nos Estados Unidos. Segurei a onda e não pedi a torta de maçã, que tem boa fama.

O lugar é super low profile: pára no meio da tarde, fecha cedo (23h), não abre às segundas e tem apenas dez mesas. A impressão é que não querem crescer para continuar servindo com capricho. Um desses lugares de bairro que, sem fazer muito alarde, tornam-se cultuados por poucos, como um segredo bem guardado. O antídoto perfeito para o espírito de junk fast food que tomou conta do The Fifties.

domingo, 25 de janeiro de 2009

A São Paulo de cada um

"Olha o Rique ali. Pode encostar". Paramos o carro na Faria Lima e nosso amigo carioca, um estilista que despontou no penúltimo Fashion Rio, se juntou a nós, animado. "São Paulo é glamourosa pra c****lho, né?". Olhei para ele com cara de interrogação. "É?" Não era a primeira nem a quinta vez que Rique estava em São Paulo, muito menos no Iguatemi. Marquinhos, também carioca, estava ao volante e aderiu ao discurso, dizendo que a Paulista era um lugar sem similares no Brasil inteiro. "No Rio tem a Presidente Vargas e a Rio Branco, mas é diferente, não tem uma avenida que cumpra esse papel de reunir as pessoas... A Paulista é o centro das atenções, tudo acontece ali, as pessoas sempre estão se encontrando ali, fazendo alguma coisa ali, é uma energia diferente".

Como paulistano da gema que sou (nasci aqui e moro no mesmo lugar até hoje, 30 anos depois), a Paulista sempre foi um cenário recorrente na minha vida. Papai trabalhava lá, meus avós moravam ali perto e eu sempre imaginava que, no futuro, meu destino como "gente grande" seria aquele. Mas nunca consegui enxergar nela o que tanto atrai e fascina os forasteiros. É uma avenida reta, com calçadas largas e cheia de prédios comerciais, que ficam ociosos no fim de semana, nada mais. No entanto, pela descrição entusiasmada que os cariocas faziam a caminho do restaurante, a Paulista ganhava o magnetismo e a efervescência de uma Times Square.

Pensei melhor e lembrei que já tinha visto essa empolgação em muitos outros amigos de fora que vinham se jogar aqui, especialmente na época da Parada Gay. Aos olhos deles, São Paulo é a verdadeira "Nova York brasileira", sem sombra de dúvida. Fico pasmo com a quantidade de passeios e atividades que eles conseguem espremer em tão poucos dias. Eles viram os Jardins do avesso, dão pinta em todos os cafés, fazem maratonas de compras, pulam em ziguezague da Pinacoteca pro Ibira pra Benedito pro Cidade Jardim, encontram energia para dar mais pinta nos Mestiços e Spots da vida (não importa o tamanho da fila) e terminam a noite fervendo nas boates até o sol raiar, sem dó nem cansaço. Tudo aqui é festa, tudo aqui é excitante.

Quando estou na companhia deles, tenho a oportunidade de ver São Paulo com olhos de turista, e é como se eu redescobrisse minha cidade. Vejo como a rotina e as preocupações do dia-a-dia nos absorvem e nos tiram a atenção do nosso próprio cenário. São Paulo tem uma grandiosidade de que não nos damos conta. O dinheiro e a ambição do homem construíram obras e fortalezas de uma megalomania ímpar, que não podia estar em nenhum outro lugar. O Shopping Cidade Jardim e a Ponte Estaiada são os mais novos símbolos dessa mania de grandeza, mas ela já estava presente em muitos outros lugares. Em bares e restaurantes de pé-direito altíssimo e porte mastodôntico, feitos para abrigar e encantar as multidões que circulam ávidas em busca de diversão. Ou mesmo na The Week, um superclube que ainda arranca ah!s e oh!s dos visitantes (mas que, para nós, é apenas a balada de todo sábado).

O paulistano se orgulha desses ícones, que colocam São Paulo no panteão das grandes metrópoles cosmopolitas do mundo. E acha que é com eles que conquistará a admiração dos visitantes gringos. Mas não percebe que eles são o que a cidade tem de menos interessante para um nova-iorquino ou um londrino - afinal, avenidas com arranha-céus e centros de compras com grifes internacionais não representam nenhuma novidade, não são nada diferente do que eles já encontram em casa. Em matéria publicada na Folha de hoje (cotidiano, pág. C-16), um DJ inglês garante que legal mesmo não é mostrar o shopping Iguatemi e o parque do Ibirapuera, mas os bares bem brasileiros da Vila Madalena, a arquitetura de Higienópolis, o parque do Trianon ("com aquela vegetação exuberante, nem parece que é do lado da Paulista") e até a Rua 25 de Março e a Galeria do Rock. Lugares que contem a história da cidade, bairros típicos - e não aqueles que poderiam estar em qualquer parte do mundo, tipo a SP de Ensaio Sobre a Cegueira.

Longe de mim decretar que o melhor de São Paulo é isso ou aquilo. Eu tenho meus cantinhos preferidos, lugares manjados e desconhecidos onde eu acho que a beleza da cidade está condensada. Lugares que fazem parte da minha história pessoal, das minhas raízes, da minha identidade. Cada morador, nativo ou não, tem os seus. São Paulo é grande e plural demais para ser uma só; ela é uma cidade diferente aos olhos de cada um. E cada um tem suas razões para amá-la. As minhas, eu listei em uma série de dez posts no aniversário de 2005, quando este blog ainda era desconhecido (quem quiser ler, siga este link). De todas elas, acho que a que mais me encanta é a gastronomia. Não conheci nenhum lugar do mundo onde eu comesse tão bem (Buenos Aires chega perto; as incensadas Paris e Nova York, na minha humilde opinião, não). E também gosto muito das pessoas. Talvez eu não more aqui para sempre, mas sempre me lembrarei com carinho das pessoas que eu conheci aqui. Parabéns, São Paulo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Minutos de sabedoria cafajeste

Hétero pode dar conselho amoroso para gay? Diz a lenda que amigo gay é item de primeira necessidade para toda mulher moderna: além de parceirão na hora das compras, é um ombro fiel e ótimo conselheiro. Para o homem, o olhar sensível de um amigo do babado poderia ajudá-lo a entender a ‘alma feminina' de sua namorada. Mas e a via oposta: os héteros têm coisas a nos ensinar sobre relacionamentos? Muitos de nós acham que não: que construímos nossas relações dentro de valores muito peculiares e não temos nada a ver com "os caretas". Os militantes de plantão já têm até o discurso pronto: os homossexuais precisam parar de tentar se encaixar nos padrões sociais e morais da tal "sociedade heteronormativizada" e assumir que são diferentes.

Eu já vejo a coisa de outro modo. Acho que nós, homens gays, temos um pouco do homem e da mulher. Somos machos no melhor sentido da palavra: competimos entre si e exercitamos a conquista como machos, cortejando, cercando e abatendo nossas presas. Temos um tesão igualmente visual (só que torcemos nossos pescoços por braços fortes e braguilhas volumosas, não por seios e bumbuns roliços). E nossa necessidade de sexo nos leva a traçar, dispensar e rodar – igual a todos os homens. Por outro lado, também temos ideais românticos, fazemos projeções e criamos expectativas; queremos nos entregar nos braços de um macho que nos dê estabilidade emocional, e dirigimos a ele uma série de cobranças – como fazem as mulheres. Claro que nosso universo é permeado pelas referências da tal 'cultura gay' (que está cada vez mais pop; tem até personagem da Turma da Mônica falando pajubá!), mas ainda acho que, no fim das contas, as diferenças não são maiores do que as semelhanças. Como carregamos dentro de nós essa ambivalência, podemos nos identificar com eles e com elas.

Esse intróito nos leva a um blog que venho visitando já há algum tempo e vou recomendar hoje. Com dois anos de blogosfera, o Manual do Cafajeste é escrito por um rapaz hétero paulistano (não se sabe a idade dele, que preserva muito a própria identidade) e dirigido às mulheres. Ele se propõe a “ajudar as leitoras a compreender o universo masculino e ter mais sorte em futuros relacionamentos”, a partir de relatos de suas experiências pessoais (mas sem a pretensão de ser um guru). Com o crescente interesse das leitoras, surgiu a coluna “Pergunte ao Cafa”, que fornece matéria-prima para novos posts. Nada ali é voltado a nós – as poucas menções que ele faz aos gays não chegam a ser homofóbicas, mas demonstram que ele tem uma visão estereotipada do nosso universo e se basta com ela, não faz a menor questão de ir além.

Isso não significa que o universo do Cafa não tenha nada a nos oferecer. Os textos do blog são afiados, objetivos, diretos e, às vezes, bastante reveladores. Algumas histórias descrevem manias, creicices e vacilos tipicamente femininos (quando uma mulher resolve ser sem-noção, ninguém tira o troféu dela!), mas outras tratam de questões que são universais e também nos cercam. O eterno dilema entre se valorizar e se jogar no colo do outro. Maneiras sutis de sinalizar interesse sem ser over – ou dispensar o outro sem fazer sujeira. Os subterfúgios masculinos para conseguir sexo (e os femininos para conseguir atenção). O real significado de frases como “eu te ligo” e suas mensagens subliminares. Como se soltar na primeira transa, com alguém com quem você ainda não tem intimidade. Subsídios para ajudar a definir uma situação (sem ter que perguntar). O peso da química sexual e da afinidade no desenrolar de uma história. Como interpretar um sumiço, mesmo se a foda foi boa. A maneira como uma pessoa é remanejada no ranking pessoal da outra, conforme as oscilações da safra. A ansiedade que cria atitudes de cobrança e sabota as chances de dar certo. E por aí vai.

O grande trunfo do Cafa é falar sem rodeios ou hipocrisia. Muito franco, ele não tem papas na língua – afinal, a proposta é mostrar, sem disfarces, como os homens realmente pensam e agem. “Se a mulher é linda e inteligente, vira lanchinho (com possibilidade de virar namorada); se é linda e burra, vira piriguete; se é feia e inteligente, vira amiga; e se é feia e burra, melhor sumir”. Ficou perdido com os conceitos de lanchinho e piriguete? “A primeira é aquela pizza gostosa que você saboreia na hora e depois coloca na geladeira para quebrar seu galho nos outros dias, a segunda é uma batata frita do McDonald’s, tem que ser comida na hora, do contrário fica chocha e intragável”. Mais claro, impossível.

Como era de se esperar, os textos sinceros do Cafa provocam tudo, menos indiferença. É comum que um post receba mais de 200 comentários. Algumas leitoras se revoltam com o jeito "machista" como a mulher é retratada, mas a maioria aprova e saboreia o blog, porque enxerga nele a mais pura realidade, com bom humor. A explicação pode estar numa frase de Clarice Lispector citada pelo próprio blogueiro: "O que obviamente não presta sempre me interessou muito". Além de franco, o Cafa é politicamente incorreto e é isso que deixa seus posts mais saborosos. O sucesso é tanto que o Manual acaba de receber o prêmio Best Blogs Brazil nas categorias Universo Masculino e Sexo.

A leitura do Manual tem sido divertida e proveitosa para mim. Não sou adepto de fórmulas prontas, mas confesso que tive alguns insights que jogaram luz e deram novo sentido a situações que vivi no passado. Algumas das 'lições' são até bastante simples, o que mostra que às vezes acertar é bem mais fácil do que a gente pensa (é questão de bom senso, afinal). Mas o que eu achei mais positivo no blog foi a maneira como ele desconstrói o mito maniqueísta que a própria figura do cafajeste representa. O cafajeste não é uma pessoa má, mas um sujeito prático, que tem objetivos bem claros e os persegue em suas relações. Se é odiado por algumas pessoas que cruzam seu caminho, isso não acontece porque ele foi um mau caráter (esse é o canalha, não o cafajeste), mas porque não correspondeu às expectativas nele depositadas: de que o sexo tivesse uma continuidade, evoluísse para um namoro, enfim, virasse "história de amor". O cafajeste é uma projeção nossa; quando entendemos que somos nós que colocamos nele esse manto de vilão, podemos desmistificá-lo e passamos a nos ver livres da condição de vítimas.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Vicky, Cristina y el verano del amor*

Qual a melhor maneira de gerenciar a vida afetiva e conduzir as escolhas que aparecem pela frente: com a razão ou com a emoção? Para descobrir qual é o homem certo para nós, precisamos sair com os errados? Antes de casar e "sossegar o facho", é importante ter vivido uma certa cota de experiências, que lhe permitam se conhecer bem? Uma pulada de cerca é sempre inofensiva se for bem-feita, ou pode colocar tudo a perder, mesmo sem ser descoberta? Vale a pena correr o risco? Vale a pena não correr o risco? Quem sou eu e o que quero de um homem, afinal?

É incrível quantos questionamentos dá para extrair de um filme tão leve quanto Vicky Cristina Barcelona, que está em cartaz há um bom tempo, mas só consegui ver ontem. O longa conta a história de duas amigas americanas que vão passar o verão na capital catalã. A certinha Vicky está prestes a se casar e vai a Barcelona para concluir os estudos para seu mestrado. Cristina é o oposto: descompromissada, impulsiva, faz o estilo deixa a vida me levar enquanto tenta descobrir quem é e o que curte. Quem está naturalmente aberta a viver aventuras é ela, mas a tentação também cruzará o caminho de Vicky, para quem a viagem terá um significado inesperado.

Ágil e divertido, Vicky Cristina Barcelona tem roteiro inteligente e bem amarrado, com direito a algumas reviravoltas - não é uma daquelas fitas em que, na metade, você já sabe qual será o final. O filme aproveita ao máximo a beleza de Barcelona e extrai cada gota do carisma de Scarlett Johansson, Penélope Cruz e especialmente Javier Bardem, o casanova irresistível que traça todo o elenco feminino do filme. O melhor de tudo: quem assina Vicky Cristina Barcelona é Woody Allen, mas ele não dá as caras o filme inteiro, poupando-nos de suas atuações irritantes. Teria sido muito bem colocado no meu ranking de melhores de 2008, se eu tivesse conseguido vê-lo apenas alguns dias antes...

(*) O título faz referência à música "La Revolución Sexual", do grupo catalão La Casa Azul, que eu descobri lendo o blog do Toot-sie e não consigo parar de ouvir... é tudo de bom e mais um pouco! Adorei a dica, já é a trilha oficial do meu verão!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Suicídios, pausas e recomeços

Último dia útil do ano, cidade deserta. Em meio a algumas dessas pendências menores que a gente sempre deixa para quando tiver tempo, resolvi dar uma atualizada nos links do meu blog. Na correria da minha rotina, acabo tendo pouco tempo para postar, e menos ainda para ler os blogs dos meus amigos e outros de que eu gosto. Se eu resolvesse lê-los todos os dias, não me sobraria tempo para trabalhar, nem estudar, nem fazer mais nada (o fato de a palavra "tempo" aparecer três vezes num parágrafo tolo como este não deixa dúvidas de que esse é um dos bens mais preciosos e raros da nossa vida moderna).

Nessa última ronda, o reencontro com os outros blogs me reservou algumas novidades. Depois de anos e anos de textos curtos e ácidos que todos pensávamos que seriam eternos, Sedotec resolveu pôr fim à sua existência blogueira. Leleo também escolheu a morte - totalmente pego de surpresa, só pude me despedir em um comentário póstumo. Jayminho entrou em crise: viu que só estava mostrando um lado de si e que talvez não fosse mais isso o que ele quisesse passar. Cris é outro que resolveu dar um tempo, que já dura quase dois meses (num namoro, um "tempo" desse tamanho sinaliza uma situação bastante preocupante). Tootsie não chegou a parar, mas, com a morte da mãe, também andou repensando sua relação com uma série de coisas. Entressafras...

Não dá para generalizar o que os blogs representam na vida de cada um. Cada blogueiro tem uma relação peculiar com seu espaço e cada blog desempenha um papel diferente. Para alguns, é uma distração bem descompromissada, com direito a nonsense, bobagens e fechação. Outros usam o blog como diário ou criam uma espécie de divã virtual, onde desabafam seus sonhos, anseios e neuroses. Tem quem escreva ensaios críticos, textos jornalísticos ou, diante das próprias limitações, se contente em fazer "clippings" pinçando o que foi escrito por outras pessoas em outros lugares.

Da mesma forma, cada um decide o quanto vai expor de si. Tem os que enxergam no blog uma plataforma de projeção pessoal, que agregue contatos reais ao seu círculo de amizades, abra oportunidades e promova a inserção num determinado ambiente social. Outros não mostram o rosto indiscriminadamente, mas não deixam de ser autênticos naquilo que escrevem, e acabam se expondo também: apenas filtram mais as pessoas de quem se aproximam. No outro extremo, estão os que criam uma persona blogueira, prendem-se a ela e não têm a menor pretensão de sair do virtual. Essa persona pode ser uma versão 'levemente botocada' do autor de carne e osso, ou uma verdadeira criação de laboratório, com tudo aquilo que o blogueiro quiser projetar nela. O que às vezes fica claro - a Lindinalva é uma personagem escancarada - e outras não.

O lance é que os leitores vão se relacionar com aquele que lhes for apresentado, seja real ou irreal. E, com a freqüência das visitas, tal como quem segue uma novela, não é raro que acabem se afeiçoando com o blogueiro. Mesmo sem nunca tê-lo visto, depois de ler tantos posts, de partilhar tantas coisas daquele universo ali colocado, eles têm a impressão de que já o conhecem. Identificam-se com ele, torcem por ele, querem saber mais, chegam a sentir falta do contato. É uma espécie de cumplicidade silenciosa. E que não deixa de ser um vínculo afetivo, ainda que unilateral.

No entanto, quando a persona é fabricada, mantê-la por muito tempo torna-se cansativo, incômodo, desconfortável. Toda encenação perde a graça. E, com a vontade cada vez maior dos leitores mais curiosos de se aproximar, o cerco pode ir se fechando para o blogueiro. Até que chega o dia em que ele resolve colocar fim à brincadeira. Para ele, simples personagem, nada mais fácil do que dizer: fim. Para quem está do outro lado, no entanto, essa morte pode não ser tão indolor. Guardadas as proporções devidas, é uma perda, com direito a sentimento de luto. Eu vivi isso recentemente, com o suicídio de um dos blogs que eu seguia, e que me deixou triste. Depois, alguns colegas blogueiros me cantaram a bola: aquele provavelmente era um blog fake. Acho que nunca saberei a verdade. Mas ficou algo para pensar: a ambigüidade do espaço virtual, que consegue criar sentimentos tão reais e, ao mesmo tempo, pode se desfazer com um simples clique no mouse.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Destaques do réveillon carioca 2008

Hoje começa mais um ano de batente (ainda que nosso inconsciente considere que o início oficial é só depois do Carnaval). Muitos ainda estão se recuperando do pé-na-jaca que foi o réveillon. Quem apostou no Rio de Janeiro teve que se dar por satisfeito com o famoso "sol-entre-nuvens" definido pelo Climatempo, mas desfrutou a presença maciça de machos di catiguria, que deram sopa pelas ruas da cidade e nas festas. E quanta jogação! Se eu (que só cheguei no dia primeiro) estou exausto, imagino quem chegou logo depois do Natal e engatou nove dias de cha cha cha...

Como para frente é que se anda - e, no fundo, tudo o que rolou não deixa de ser uma repetição do que já conhecemos muito bem, com mínimas variações - vou destacar apenas aquilo que considerei melhor. Coberturas mais detalhadas vocês encontram nos blogs amigos (que, pelo que andei presenciando, terão muito o que contar). Let 2009 begin!

A PRAIA: COQUEIRÃO. O êxodo começou tímido, há dois ou três anos atrás, quando uma discreta parcela de bees cansou do gueto da Farme e foi atrás de novos ares. Neste verão, o que era um hype entre poucos atingiu um público bem maior, e a presença gay no trecho em frente ao tal Coqueirão tornou-se muito mais visível, com direito a mãos dadas e beijo na boca. E os héteros do pedaço parecem estar levando tudo na boa. Claro que a Farme continua líder quando o assunto é quantidade (e os gringos em geral continuam indo lá); já no quesito beleza humana, ela já era bastante irregular e agora sofreu um duro golpe, porque as bunitas estão todas apostando no Coqueirão. Que é novidade, não tem favelização na areia e, de quebra, tem também um monte de hétero bonito para se olhar.

A LARICA: LÍQUIDO. Enquanto alguns (como eu) são capazes de cruzar a cidade atrás do que querem comer, muita gente prefere andar o mínimo possível para matar a fome pós-praia. Com o deslocamento para o Coqueirão, os preguiçosos podem aposentar os manjadíssimos New Natural, Cafeína e Frontera e descobrir novos lugares. Meu novo queridinho é o Líquido, na Barão da Torre 398, entre Joana Angélica e Maria Quitéria (ou seja, exatamente na altura do Coqueirão). Moderno, com cadeiras coloridas dispostas em um deck agradável, o lugar investe em culinária saudável e serve sucos deliciosos, saladas, sanduíches e alguns pratos mais elaborados. Destaco os excelentes dosas, crepes indianos feitos com farinha de arroz integral e recheios como frango ao curry com espinafre e passas, mais um molhinho esperto para acompanhar (há vários tipos de chutney a escolher). O cardápio é criativo o suficiente para você ir várias vezes sem enjoar e os preços são bastante justos para Ipanema.

A FESTA: POOL PARTY @ ESTAÇÃO DO CORPO. Para quem pagou R$120 de entrada, é inadmissível que os banheiros (químicos) sejam tão poucos e tão nauseabundos (às 19h, já estavam sem condições de uso, e a festa só foi acabar às 3h). Também não dá para aceitar um serviço de bar tão despreparado, sem um mínimo de treinamento e cortesia, que não atende quem chegou primeiro, faz tudo de cara feia e não sabe o que é Red Bull (tive que refazer o pedido: "um energético"). Mas esses defeitos não conseguiram estragar o brilho da festa, que se deve principalmente à escolha acertada da locação. A Estação do Corpo é maravilhosa e quem esteve lá pôde entender por quê as famosas pool parties de 2006 ficaram na memória (afinal, até a decoração era a mesma). Nenhuma festa da temporada teve um astral tão incrível e Rosane Amaral tem todas as razões para comemorar o sucesso. Pena que ela leve o ditado "em time que está ganhando, não se mexe" tão ao pé da letra.

O DJ: RAFA ARIZA. Não costumo falar daquilo que não conheço (muito menos elogiar). Mas, entre todos os amigos que consultei - gente que tem senso crítico e presta atenção no som que escuta - o espanhol Rafa Ariza foi uma unanimidade. Pertencente ao clã da Matinée Group, o DJ foi trazido pela The Week e tocou nos dias 29 e 31, quando arrancou mais elogios do que o próprio Peter Rauhofer, atração principal da noite da virada. Entre os DJs que vi e ouvi, a vertente sonora das festas da Rosane não é do meu gosto pessoal (o que foi o momento fogos de artifício com "Amigos Para Siempre"?!), mas achei o Flávio Lima bem honesto. E tenho que elogiar o set do João Neto na noite do dia 3, na The Week. Mais instrumental do que vocal, foi pesado na medida certa para bombar uma pista que mal conseguia se mexer, tamanha a lotação da casa.

A SURPRESA: TÔ NEM AÍ. Por melhores que sejam os clubes e as festas, é ótimo ter lugares em que você não paga nada e pode conhecer gente e se divertir, indo e vindo de forma descompromissada, justamente porque não existe a barreira do ingresso. As praias cumprem esse papel; na falta delas, em São Paulo temos a Praça Benedito Calixto. No Rio, o Bofetada foi por muitos anos um ponto de encontro certo; depois, decaiu até o completo esquecimento (só no Carnaval é que lembram dele). Neste verão, o povo que não quis se montar para ir ao Felice passou a se reunir na frente do Tô Nem Aí. Na última sexta, sem grandes festas e com a Combo e o Galeria absolutamente inviáveis, fiquei boquiaberto com a quantidade de homens bonitos muvucando a esquina da Farme com a Visconde até altas horas da madrugada. Tô Nem Aí is the new Bofetada, só que muito melhor.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Transas transeuntes

Indecente, ousada e profana
Irreverente, despudorada e sacana
Inconfundível pela vibração que emana
Assim é a nossa Copacabana.
De olhos abertos e antenas em pé
Todo mundo mostra logo o que quer
Na babel desordenada da Nossa Senhora
Surge uma vontade que possui e devora
Uma fome que não passa e que toma conta
E precisa ser saciada sem muita demora.

Olhares marotos e contatos furtivos
Buscando um mesmo e único objetivo
Uma aventura fugaz num conjugado barato
Com alguém que saiba o que é dar um bom trato.
A porta pantográfica dá num corredor estreito
Roupas pelo chão e peito contra peito
Os corpos se entendem no balé mais vulgar
Sabendo que em breve tudo irá acabar
Sem olhar para trás ou pensar no que virá
Desaparecendo pela Francisco Sá.

Foi inesperado, mas não é surpresa
Que num bairro nascido para a safadeza
Você entre inocente e saia devasso
E logo encare tudo com desembaraço.
Não se engane, estão todos à espreita
Pois aqui é sempre tempo de colheita
Afinal, em se plantando, tudo dá
E em se conversando, todos dão
Não importa o que você queira buscar
Sexo, amor ou só um pouco de ilusão.