segunda-feira, 23 de junho de 2008

Mucho work, minus play

Esta é mais uma daquelas semanas críticas, em que tenho que estar em dois ou três lugares ao mesmo tempo - fim de semestre na faculdade, semana de provas, intermináveis trabalhos em grupo, e mais as responsabilidades diárias do escritório, sem direito a colher de chá. Como quem sai perdendo é sempre o lado mais fraco, nada de blog até a tormenta passar. Minha listagem de posts tem 12 tópicos esperando para serem desenvolvidos, mas sou incapaz de escrever um texto "nas coxas" só para não ficar um espaço muito grande no blog (isso provavelmente é um defeito meu, mas c'est la vie).

Enquanto eu não volto, distraiam-se com esse cafuçu du bão, mostrando uma das sungas do desfile da Rosa Chá na SPFW, que apresentou algumas peças bem bacanas e desejáveis (aliás, estava demorando para a marca do Amir Slama abraçar o beachwear masculino: taí um segmento que andava bastante carente de opções diferenciadas). Dêem um giro pelos meus links. E venham me contar os babados depois...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Rapidinhas quase congeladas

::: Pelo visto o frio chegou chegando! Brrrrrr!!! Ontem à noite, os termômetros da Paulista marcavam 8 graus. Meus queridos amigos cariocas que mudaram para cá devem estar sofrendo, mas já sei como confortá-los. O Guia da Folha anunciou que o restaurante Marcel está fazendo um festival de suflês: um suflê grande, mais sopa de cebola para começar e frutas como sobremesa, por honestos R$38. Suflês caem superbem no inverno e os do Marcel são os melhores da cidade desde 1955. Quero ver meu amigão Xande resistir ao Maison, que leva camarão, queijo e champignon!

::: E mesmo com todo esse frio, a sorveteria carioca Mil Frutas está fazendo o maior sucesso em seu début oficial em São Paulo, no novo Shopping Cidade Jardim (antes disso a marca já mantinha uma geladeira dentro da filial da também carioca Torta & Cia. no Itaim, mas pouca gente sabia). Sou fã da Mil Frutas e espero que surjam outras lojas pela cidade. A escolha desse endereço para a estréia me pareceu bem acertada: num ponto em evidência, a rede não corre o risco de repetir o fiasco dos conterrâneos Gula Gula e Doce Delícia, que não souberam se fazer notar por aqui e tiveram que fechar as portas bem antes do que esperavam.

::: Falando no Shopping Cidade Jardim, será que eu fui o único que achou completamente desnecessária essa propaganda com a Sarah Jessica Parker? Precisamos mesmo do aval da atriz de um seriado americano, que nem sequer veio gravar o comercial aqui, para valorizar o que é nosso? Fiquei surpreso com o quanto muitos se deslumbraram - talvez porque eu não seja um iniciado em Sex And The City. Aliás, tenho reparado que as únicas resenhas positivas do filme vieram dos fanáticos pela série. Vocês me aconselham a devorar toda a temporada em DVD antes de correr para o cinema?

::: Será que fui eu que comecei a freqüentar ambientes diferentes, ou as festas juninas andam mesmo em baixa por aqui? Antigamente, era comum ir a duas, três, quatro quermesses no mês. Algumas delas, como as dos clubes mais tradicionais, eram tão badaladas quanto os melhores carnavais de salão. Hoje em dia, não vejo ninguém mais se mobilizar, nem comentar a respeito. Será que São Paulo deixou essa tradição para trás e virou a página?

::: Inverno também é tempo de escolher uma pousada bem aconchegante e se mandar de São Paulo no fim de semana. A maioria prefere destinos de serra, mas quem porventura escolher o Litoral Norte pode espantar o frio com uma excelente noitada eletrônica no sábado (21/6). O Sirena, em Maresias, vai receber o japonês Satoshi Tomiie [eu ia escrever 'top DJ', mas tô começando a achar essa forma de tratamento tão cafona...], que constrói sets de extremo bom gosto, passeando por diversas vertentes da house (era mais focado no progressive, mas agora também mescla electro, minimal etc.). Não poderia haver melhor forma de comemorar o centenário da imigração japonesa!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Te dou um espelho em casa?

O blog Te Dou Um Dado? chegou de mansinho, tornou-se cult entre meia dúzia e, em pouco tempo, já era hit absoluto na blogosfera. Sua especialidade é explorar e satirizar o lado mais grotesco das celebridades, semicelebridades e pseudocelebridades (quanto mais "segunda classe", melhor). Não é tarefa difícil: em geral, essas "pessoas públicas" praticamente gongam a si mesmas o tempo todo, sempre errando em suas aparições na mídia. Os meninos do TDUD?, por sua vez, não perdoam nada: uma roupa infeliz, um pneuzinho saltado, uma declaração infame, um vexame público, tudo vira piada no blog, em comentários ferinos que vão direto ao ponto, com a precisão de um bom corte de sashimi. Quando acertam a mão (o que nem sempre acontece, é verdade), só não conseguem ser mais engraçados que o saudoso Papel Pobre.

Na semana passada, os autores do blog, Didi e Polly, foram convidados pelo site da Erika Palomino para ferver no Fashion Rio. Lá dentro, eles se engraçaram com Helen Pomposelli, consultora de moda do site Ego e, na brincadeira, os três analisaram seus looks reciprocamente. A foto dos blogueiros saiu na coluna de Helen e - surprise, surprise - a imagem real deles é beeeem diferente do que sugerem as maquiadas fotos que ilustram o rodapé do TDUD?. Didi e Polly, sempre tão implacáveis com as imperfeições e escorregões alheios, são bastante... "gongáveis", para dizer o mínimo (acessem os links e tirem suas próprias conclusões).

A reação do público foi imediata: em apenas 24 horas, a coluna de Helen recebeu 152 comentários (e fechou o espaço para novas mensagens). A maioria caiu de pau em cima dos dois, mostrando-se supresa e desiludida e afirmando que eles não tinham autoridade nenhuma para chochar quem quer que fosse. Mas também não faltaram fãs incondicionais que defenderam os blogueiros, sustentando que sua inteligência, talento e bom humor são mais importantes e independem da aparência deles.

Todos sabem que o mundo virtual dá espaço para cada um ser e parecer o que quiser. Vem daí o apelo do Second Life (aquele passatempo de nerd que está fazendo tão pouco barulho quanto eu esperava). Entre os blogueiros, alguns não resistem à tentação de vender o próprio peixe, projetando em suas personas virtuais atributos que não possuem na vida real. Vem à minha memória um antigo blogueiro que sempre fez questão de posar de descolado, übercool e comedor (insegurança?), mas que na real não tem nenhum predicado que o faça se sobressair na multidão. Ou o fenômeno Barbie Baiana, que gerou furor e tititi, expôs podres e destruiu reputações de beeshas pheenas e poderousas - ela nunca teve sua identidade confirmada, mas, se for quem as pessoas apontam à boca miúda, só rindo para não chorar mesmo.

Voltando ao bafo do TDUD?, o blog pode não ser brilhante, mas verdade seja dita: boa parte dos comentários que gongaram Polly e Didi reproduziu o mesmo estilo ácido e mordaz que eles dispensam às suas vítimas, numa incontestável prova do poder de influência dois dois. Sinal de que o blog deles deixou sua marca e fez escola, criando uma legião de seguidores e imitadores virtuais.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

20 notas soltas e picadas sobre Porto Alegre

::: Nos bairros mais nobres, Porto Alegre é bem parecida com Curitiba: Montserrat feels like Bigorrilho, Três Figueiras e Barigüi devem ter sido separados no nascimento e a hypada Rua Padre Chagas poderia muito bem fazer esquina com a Alameda Dom Pedro.

::: Por outro lado, enquanto a capital do Paraná é toda limpinha, certinha e planejada, Porto Alegre é mais suja e tem um traçado dificílimo, quase ininteligível. As avenidas são quase tão tortas e confusas quanto as de Salvador. Depois de quatro dias, eu, que tenho um ótimo senso espacial, continuava absolutamente perdido, sem a menor idéia de qual direção tomar (ainda bem que as distâncias são pequenas e o táxi é barato).

::: Para compensar a comparação, os gaúchos são mil vezes mais receptivos, amigáveis e simpáticos do que os curitibanos, cuja frieza é reconhecida Brasil afora [é claro que há exceções, como a Dana, o Leo, o Raul, o Dani e o Pupo, os curitibanos mais fofos do mundo]. Gaúchos são muito educados, conversam com gosto se você der trela (ou seja, não são invasivos) e atendem muito bem. Ah, e em geral detestam qualquer tipo de comparação com Curitiba ou os curitibanos.

::: O clima ali é mais do que temperado: é temperamental. O verão gaúcho é muito mais quente do que o do Rio de Janeiro, quase não dá para sair na rua nos dias de sol. Já no inverno, não é raro ter geadas e até neve no interior. Eu, por exemplo, fui recebido por São Pedro com um temporal e ventos de até 100km/h, que tal?

::: Porto Alegre é banhada a oeste pelo Rio Guaíba. E é sobre ele que o sol se põe, no que é considerado um dos mais bonitos sunsets do Brasil. Há vários lugares de onde é possível admirar esse espetáculo: do calçadão que percorre a beira do rio, da Usina do Gasômetro, do terraço da Casa de Cultura Mário Quintana ou de uma das janelas da Fundação Iberê Camargo.

::: Aliás, a Casa de Cultura Mário Quintana (Rua dos Andradas, 736, Centro) é um dos espaços culturais mais importantes da cidade. E a nova sede da Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2000), com sua arquitetura arrojada, premiada na Bienal de Veneza, tem tudo para se tornar o novo símbolo de Porto Alegre, como um "Guggenheim gaúcho" - guardadas as proporções devidas, é claro. Por enquanto, só há obras do próprio Iberê, mas o acervo também deve receber trabalhos de outros artistas.

::: O bairro bacanudo da cidade é o Moinhos de Vento, que faz as vezes de Jardins local, com lojas multimarcas descoladas, bares e restaurantes, concentrados sobretudo nas ruas Padre Chagas e Fernando Gomes (que recebeu a alcunha de "Calçada da Fama", num arroubo de pretensão descarada, já que são apenas dois minúsculos quarteirões, com pouquíssimos estabelecimentos). Há ainda um parque bem-cuidado para as finas desfilarem (o Parque Moinhos de Vento, ou "Parcão"). Morar lá é para poucos: um apartamento de dois quartos bem modesto custa R$ 350 mil, mais do que um similar nos Jardins ou em Ipanema.

::: Por falar em Ipanema, não é que Porto Alegre também tem uma Praia de Ipanema? É sério, com direito a calçadão e tudo o mais. Fica no caminho para a Zona Sul, meio afastado do burburinho central. O visual não é lá essas coisas, vale dizer. E minhas fontes gaúchas me disseram que nem no verão a coisa ferve por lá.

::: E já que o assunto é fervo, Porto Alegre também tem sua versão da feira da Benedito Calixto: é o Brique da Redenção, que rola aos domingos, entre 9h e 18h, no Parque Farroupilha. As bees marcam presença e costumam chegar do meio da tarde em diante, depois de terem acordado tarde da balada de sábado.

::: Se o trânsito de São Paulo é infestado pelos motoboys, nas ruas de Porto Alegre quem dá o tom são as carroças. Sim, aqueles veículos de madeira toscos e improvisados, que carregam papelão e são puxados por carroceiros. Há milhares delas, disputando espaço com os carros e até ultrapassando umas às outras. Elas são até emplacadas pela Prefeitura, tamanho o reconhecimento de que gozam, vejam só.

::: Quem é de fora tem uma certa dificuldade em assimilar o papel que o chimarrão tem na vida dos gaúchos. É algo que está tão enraizado na cultura deles que eles nem se dão conta do absurdo que é estar sentado numa praia em Floripa, em pleno verão escaldante, tomando mate quente (OK, isso é absurdo para um paulista como eu). Como era de se esperar, em Porto as pessoas levam sua cuia pra cima e para baixo, como se fosse um iPod ou um bicho de estimação: no supermercado, na fila do banco, lá está o fiel companheiro. [Para saber mais, leia os 10 mandamentos do chimarrão aqui].

::: Porto Alegre tem uma gastronomia bem interessante. Alguns destaques são o Koh Pee Pee, considerado o melhor restaurante tailandês do Brasil, o Tutto Riso, que serve 24 tipos de risoto, o japa-contemporâneo Hashi, a churrascaria top Na Brasa, os bistrôs Sanduíche Voador e Le Bistrot, os pães especiais da Barbarella Bakery (uma delícia o sanduíche de iscas de filé, queijo gruyère e cebola caramelada) e a famosa torta de sorvete com calda quente da (adivinhe) Torta de Sorvete.

::: Mas a experiência gastronômica transcendental da minha viagem, aquela que mereceria um post de no mínimo seis parágrafos (que eu não vou escrever, fiquem tranqüilos) é a Usina de Massas, possivelmente a melhor casa de pasta que eu já conheci até hoje. As massas vêm à mesa em panelinhas de ferro, para uma ou duas pessoas. O gnocchi com molho de carne de panela cremoso é simplesmente *indescritível*, *inigualável*, *inesquecível* - fui obrigado a voltar lá e comê-lo mais uma vez antes de ir embora. Outra boa pedida é o fettucine ao molho quatro queijos com iscas de filé, muito saboroso e equilibrado (sem gosto de gorgonzola). Já estou com saudade.

::: Já quem quer ver e ser visto tem como destino certo o Press Café da Hilário Ribeiro, no coração do Moinhos de Vento. O lugar serve tanto para um café no meio da tarde quanto para aquele jantar-balada com os amigos, ou mesmo os primeiros drinks antes da noite. O ambiente é lindo e acaba funcionando como um "Spot de Porto Alegre", onde as finas vão dar pinta.

::: Eu já fui fofo com a cidade e agora vou mandar a real: as baladas são um pavor! O Ocidente, ponto de encontro das sextas, é tipo uma festa na laje dentro de uma construção inacabada (mas todo mundo vai lá; eu mesmo cheguei sozinho e encontrei três rodinhas amigas). O Cine Theatro Ypiranga (ou "CTI") é uma Danger retangular, ainda mais escura e com um povo bem varzeano (e é the place to be aos sábados, g-zuiz!). O Refugius (atenção para o nome cafona) parece uma mistura de Bubu com um daqueles bufês de festa do subúrbio. Do tradicional bar Venezianos eu não tenho coragem de falar mal, porque o staff foi muito fofo comigo e a comida é superboa, mas... é um sobrado escurinho com uma pistinha micro embaixo e quatro mesas apertadas em cima. E só. Amanhã será a inauguração de um tal Espaço Closed, com a DJ Ana Paula como convidada; tomara que ele consiga dar um up na cena. (Só falei das baladas gays, mas fui informado de que até o endereço eletrônico/under da cidade - o Neo - também é caído e freqüentado basicamente por emos).

::: Ri melhor quem ri por último: Porto Alegre tem uma noite medonha, mas os gaúchos podem ir à forra se jogando em Buenos Aires. E é justamente isso que fazem: afinal, para eles o passeio sai a módicos 200 reais. Convenhamos, a dobradinha Pacha + Caix coloca no chinelo qualquer clubinho de bate-cabelo cafona com queijinho central na pista. Outro destino de que eles são habitués é o Uruguai - não só Punta del Este, mas também outros balneários de que nunca ouvimos falar, onde eles vão passear desde moleques (enquanto a gente se contentava com o Guarujá).

::: Quando os gaúchos resolvem ser bonitos, eles arrasam. Isso vale para homens e mulheres. E falo aqui de beleza verdadeira, a de nascença, não aquelas transformações paliativas que se conseguem com academia, bronzeamento, escovas, tinturas, bombas. Infelizmente, porém, os gays bonitos vivem escondidos em suas tocas e não saem de jeito nenhum. O máximo que fazem é reunir meia dúzia em festinhas private reservadíssimas. Dar pinta por aí, só em Floripa, Buenos Aires, São Paulo ou no Rio. Nos clubes, a situação é tão desoladora que você reza para ninguém tirar a camisa. No CTI, as duas descamisadas que vi na pista mais pareciam o Dengue e o Praga do Xou da Xuxa.

::: O gauchês tem várias expressões curiosas ou engraçadas. "Telentrega" é a resposta local, genuinamente brazuca, ao afetado delivery do eixo Rio-SP. "Bicha fazida", ao contrário do que o nome sugere, não é aquela que faz, mas a que não faz, e fica só no carão a noite toda (mas na hora da xepa pega o primeiro bagulho que aparecer). Diante do trânsito carregado, os gaúchos exclamam: "bem capaz, está tudo trancado!". E não falam "se joga!", mas "te atira!". À mesa, enquanto nós perguntamos "está servido?" antes de comer ("quer provar da minha comida?"), eles falam isso depois de acabarem, com o sentido de "está satisfeito, posso retirar seu prato?". Mas o mais impagável foi ver uma senhora se dirigir ao padeiro do hipermercado Zaffari: "Me dá três cacetinhos!", para em seguida completar, convicta: "E bem morenos!".

::: Podem dizer que o roto está falando do rasgado, mas a falta de segurança é uma das maiores queixas dos porto-alegrenses. Pelo que meus amigos explicaram, a cidade não conseguiu oferecer oportunidades suficientes para o grande contingente de migrantes. Os gaúchos dirigem com vidros fechados e furam as "sinaleiras" vermelhas, como em São Paulo. A expressão mais comum dessa violência são os seqüestros-relâmpago, que andam bastante em voga por lá.

::: Em resumo: Porto Alegre não tem os predicados turísticos de um Rio de Janeiro, não segura sozinha um pacote de sete dias, mas tem atrações suficientes para preencher um bom fim-de-semana. A cidade é pequena; no Moinhos de Vento, por exemplo, é gostoso passear, mas há pouca coisa para se ver. Se você tiver amigos locais, melhor: eles te apresentam a outros gaúchos (com sorte, aqueles filés que não saem na noite), e vocês ainda podem pegar o carro e ir até Gramado, que está a apenas 133 km de distância.

Para terminar, deixo aqui meu agradecimento e meu carinho para os novos e velhos amigos gaúchos que tornaram minha estadia muito mais legal: Vanessa, Rodrigo 1, Rodrigo 2, Júlio, os vizinhos fofos da cobertura da frente, Nanda Pomba, Mau, José, Rodrigo 3, Dan, Valter e Marco. Vocês são a melhor razão que eu tenho para voltar!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Pesadelo gaúcho

Minha convivência com meus amigos de Porto Alegre sempre foi muito esporádica. Gosto muito deles e isso já valeria uma viagem, mas faltava alguma coisa que desempatasse a questão e me fizesse cumprir minha dívida de visitá-los (nossos encontros eram sempre em SP). O pretexto foi uma dessas promoções-relâmpago das companhias aéreas - consegui comprar cada trecho a apenas R$48 pela TAM. Em 48 horinhas, eu iria rever meus amigos e aproveitar as atrações da capital gaúcha, especialmente o famoso pôr-do-sol no Guaíba (sempre gosto de apreciar um pôr-do-sol especial nos lugares que visito).

Se a beleza da vida está no inesperado, muitas vezes ela nos traz surpresas que não têm a menor graça. Meu vôo da ida estava marcado para as 13h35. Cheguei às 12h45 (portanto, com uma aceitável antecedência de 50 minutos) e descobri que a TAM tinha antecipado o vôo para 13h20, sem a preocupação de me avisar. Resultado: às 12h45, eles já haviam chamado todos os passageiros para o embarque e vendido o meu lugar para a lista de espera (!). Fiquei emputecido, reclamei, briguei, mas a TAM não reconheceu o erro e ainda quis colocar a culpa em mim. No fim das contas, me remarcou para as 15h45. Resultado: quando aterrissei no aeroporto Salgado Filho, o céu estava ficando rosado, mas já não dava mais tempo de cruzar a cidade e correr até o Gasômetro para ver o sol se pôr.

Mal sabia eu que aqueles eram os últimos raios de sol que a cidade veria por muito tempo. Sábado nasceu com um solzinho tímido, mas antes da hora do almoço o tempo virou e começou uma verdadeira tempestade. Chuva forte e vento frio pelo resto do único dia que eu tinha para aproveitar a cidade - portanto, nada de passeios e adeus pôr-do-sol. Nessas situações, o jeito é não ficar emburrado e tentar fazer o passeio valer de outras formas. Sabe aquela filosofia de ver o copo "meio cheio" e não "meio vazio"? Sou especialista nisso, portanto curti os amigos, conheci pessoas novas (muito queridas, por sinal), explorei o circuito gastronômico... mas a experiência ficou muito aquém do que poderia ter sido.

No domingo, o tempo continuou horroroso e minha volta estava marcada para as 14h45. Mas cheguei ao aeroporto e encontrei uma situação desoladora: devido ao mau tempo, não havia teto para decolagens e pousos, portanto todos os vôos estavam sendo cancelados. Claro que não recebi a notícia mastigadinha assim, pois a TAM mais uma vez cagou para os passageiros. Era preciso se debater em meio à multidão de milhares de pessoas que superlotava o saguão, correr atrás de informações desencontradas, para saber o que estava acontecendo.

Depois de quase três horas de fila (junto com todos os outros passageiros do mundo, já que ninguém voou naquele dia), consegui remarcar minha volta para as 9h50 de hoje. Dei meia-volta, o tempo continuou feio no resto do dia e hoje amanheceu ainda pior. Ou seja, cheguei no aeroporto e encontrei a mesma cena: filas absurdas, pessoas dormindo pelo chão e vôos novamente cancelados. Como se acumularam os passageiros de domingo e segunda, a situação ficou ainda mais crítica do que na véspera, a massa estressada começou a dar bafão na porta da Infraero... e eu só consegui, com muito custo, marcar a volta para as 14h40 de amanhã. O jeito foi respirar fundo e voltar a encarar esta cidade, que com o passar dos dias e a continuidade das chuvas vai ficando aborrecida, enquanto minhas pendências e meu chefe aguardam a minha volta a São Paulo (que, dizem, está ensolarada como Ipanema).

Claro que esse fim-de-semana teve coisas boas e momentos agradáveis. Serei justo: a cidade tem predicados sim, e merece um miniguia ou um sobe-e-desce aqui no blog. Mas primeiro eu preciso esperar esse bode passar. Neste momento, não quero mais nem ouvir falar em Porto Alegre!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Cortina de fumaça rosa

E a história do casal de sargentos que resolveu assumir sua homossexualidade para o Brasil continua rendendo. Depois que a revista Época com a "bombástica revelação" ganhou as bancas de todo o país, Laci Marinho de Araújo e Fernando Alcântara de Figueiredo foram fazer barulho no programa da Luciana Gimenez (sempre ela!). Resultado: o Exército cercou os estúdios da Rede TV! em Barueri e Laci saiu de lá preso.

Como era de se esperar, a reviravolta quase folhetinesca que a prisão de Laci representa no caso só serviu para jogar mais lenha na fogueira da opinião pública. Nas ruas e na internet, o bafão está na boca do povo. A ala homofóbica usou o tom habitual: isso é uma pouca-vergonha, uma safadeza, onde o Brasil vai parar desse jeito, Deus criou o homem e a mulher para procriarem e povoarem o mundo. Já para os simpatizantes e militantes de plantão, o episódio virou questão de honra: os sargentos estariam sendo perseguidos porque assumiram sua orientação sexual, numa condenável manifestação de preconceito. E tome defesas inflamadas do direito dos gays servirem às Forças Armadas, porque o mundo evoluiu, porque os gays têm os mesmos méritos e estão em todos os lugares e blá blá blá. Não é preciso ser nenhum gênio para concluir que é justamente isso que Laci e Fernando queriam ao abrir o berreiro na mídia: deixar que a sociedade deslocasse o foco da discussão para a questão do preconceito, criando uma cortina de fumaça rosa sobre o verdadeiro problema.

Segundo a nota oficial divulgada pelo Exército, Laci afastou-se do trabalho por seis meses, alegando problemas de saúde. Na sindicância aberta para apurar sua situação, ele teria deixado de apresentar laudos e se recusado a receber os médicos enviados para fazer uma perícia - o que significa dizer que os alegados problemas não foram comprovados. Laci foi então transferido de Brasília para Osasco, mas não compareceu ao novo posto. Sem uma justificativa concreta, seu afastamento foi considerado irregular, caracterizando o crime de deserção. Foi por esse delito que Laci foi preso.

Em sua defesa, Laci acusa o Exército de ter forjado provas para prendê-lo e diz que sofre de um "transtorno emocional grave". O militar afirma ainda que começou a ser perseguido quando descobriram que ele fazia shows como cover da cantora Cássia Eller, e que as coisas pioraram quando o casal fez denúncias de corrupção e irregularidades envolvendo o hospital militar onde Laci estava lotado. No programa de Luciana Gimenez, ele disse que temia ser vítima de "queima de arquivo".

Não tenho a menor pretensão de fazer pré-julgamentos ou especular se o rapaz está ou não falando a verdade. Quem tem que apurar a eventual culpa do sargento (e as denúncias que ele diz ter feito) são as instâncias competentes. O que me chamou a atenção foi que um grande número de pessoas "comprou" a inocência de Laci automaticamente, como se o simples fato de ele ser gay funcionasse como uma presunção de que ele é a vítima da história.

Por que ninguém questiona quais os motivos que o levaram a se assumir publicamente nesse momento, ainda mais num programa como o SuperPop? Ora, ele mesmo admitiu à revista Época que os dois vivem "como um casal normal", no mesmo apartamento funcional, há dez anos. Se isso já vem há tanto tempo, tudo indica que sua condição sempre foi de conhecimento de todos e nunca chegou a causar problemas para eles. A troco de quê Laci decide declarar sua situação ao mundo logo agora?

Ele pode estar sendo perseguido, sim - mas pode também ter inventado os tais problemas de saúde (por que outra razão se recusaria a ser examinado? se as doenças fossem comprovadas, ele poderia se aposentar sem perder seus rendimentos) e deixado de acatar a transferência para não se separar do marido. Nesse caso, armando um espetáculo acerca de sua sexualidade, ele tira os holofotes de cima do que deveria estar sendo examinado: se suas condutas infringiram ou não a lei militar. A revista Época agradece pelo furo de reportagem.

Não há dúvidas de que gays são capazes de atuar nas Forças Armadas com a mesma competência e bravura que os héteros. A própria matéria de Época lembra que homossexuais como Júlio César e Alexandre, O Grande, estiveram à frente de exércitos quase invencíveis. Mas não é essa a questão em jogo aqui. Como romântico incorrigível e entusiasta do amor entre iguais, torço para que Laci e Fernando não sejam separados pelas circunstâncias. Mas não se pode abrir mão da cautela e do bom senso para proteger os gays com simplificações grosseiras. Quem descumpre as normas deve sofrer as conseqüências dos seus atos, qualquer que seja sua sexualidade. Vamos deixar que as investigações apurem o caso - e parar de tratar Laci e Fernando como mártires, só porque são gays. Ser gay não torna ninguém um herói. Gays podem ser íntegros ou truqueiros - como todos os demais seres humanos.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Brigadeiro: o mundo mágico do leite condensado

Inverno é tempo de prazeres à mesa. O tempo frio abre o apetite e convida a pratos mais calóricos. Se você não é carioca nem mora no Rio, essa é sua chance de dar um tempo na disciplina alimentar e cometer algumas extravagâncias. Com tantos agasalhos, o corpo não fica tão exposto e dá até para ganhar uns 2 ou 3 quilinhos a mais. Depois, haverá tempo de sobra para eliminar os excessos da silhueta, bem antes do verão chegar. Afinal, a gente também precisa saber se permitir.

Eu tenho uns gostos culinários bem gordos, mas nada me deixa mais alucinado do que leite condensado. Sou completamente louco por qualquer doce que leve esse ingrediente, especialmente brigadeiros de todos os tipos, bolos e pavês. Quando eu preciso me dar uma recompensa - e essa semana pós-festas da Parada foi um exemplo típico disso -, eu tenho um endereço secreto onde consigo doses cavalares da minha droga predileta, em todos os formatos e variações possíveis. É uma pequena doceria em Pinheiros, que tem o sugestivo nome de Brigadeiro.

Você não podem imaginar a alegria que eu tive ao encontrar uma casa que era especializada justamente em doces com leite condensado. O produto mais vendido é um brigadeiro recheado com morango. Graúdo e suculento, ele derrete na boca a cada mordida - o contato direto com o pedaço da fruta e o suquinho que ela solta deixa o doce ainda mais gostoso. Não dá para explicar como esse brigadeiro é bom: os similares de outros lugares não chegam aos seus pés.

Há também diversas versões de copinho: as mais gostosas são o brigadeiro de nutella (é nutella, sem deixar de ser brigadeiro! deu para entender?), o de pistache (verde e com sabor bem acentuado, divino) e o surpresa, que é um brigadeiro branco bem mole com farofa de biscoito por cima. Outras opções no copinho são os sabores maracujá, damasco, morango e limão.

O leite condensado é usado ainda em vários bolos, tortas, pavês, pudins e sorvetes. O bolo surpresa (pão-de-ló, brigadeiro crocante, brigadeiro branco e farofa de biscoito) é melado e bem macio, o bolo de brigadeiro com chumbinhos (bolinhas crocantes) é um clássico, o mas meu predileto será sempre o pavê delícia: a doçura mais suave do pavê é completada à perfeição pela calda de leite condensado que é servida por cima e escorre pelos lados. Uma obscenidade.

Além dos doces, eles ainda servem algumas saladas (para atenuar a culpa dos clientes, imagino), salgados e boas quiches (queijo gruyère com cenoura e bacalhau com milho verde, entre outras sob encomenda). Tudo num ambiente ultrafofo, que parece uma casinha de boneca, com jardim de pedrinhas e até um viveiro com três simpáticas tartarugas. Esse precioso tesouro fica escondido na Rua Padre Carvalho, 91, atrás do bar Pirajá da Av. Brigadeiro Faria Lima. Cardápios, fotos e outras informações aqui.