sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sobre o Carnaval carioca

Meu carnaval de 2012 foi mais light do que nos anos anteriores. Eu não estava com vontade de me jogar com tanta força, e por isso fui na contramão da maioria dos meus conterrâneos. A bicharada paulistana desceu em peso para Florianópolis e eu escolhi o Rio. Foi ótimo poder dar uma olhada num bloco aqui, numa festinha ali, e também poder fazer outras coisas, ver amigos, comer umas comidinhas leves. Adorei os petiscos asiáticos do Mekong e o japa em caixinhas do Bentô. Abriram em Ipanema uma filial do 00, em formato bistrô, e outra do Balada Mix, num casarão antigo que se esforça para imitar o Gula Gula da Henrique Dumont. Por incrível que pareça, o New Natural da Farme deu uma boa melhorada - teve até atum selado no bufê.

Os blocos de rua já vinham crescendo ano após ano, e a prefeitura limitou o número para tentar controlar a baderna na cidade. A novidade deste ano foi que os gays finalmente resolveram se juntar a esse tipo de folia. No sábado anterior ao Carnaval, o bloco de Preta Gil levou meio milhão de pessoas ao Centro, com presença fortíssima das colegas. No carnaval, muitas bees se infiltraram, não só na Banda de Ipanema (que está cada vez mais família) mas também em blocos menos óbvios, como o Boitatá. Em relação às festas, a The Week não se preocupou em repetir o brilho das produções de Florianópolis. Quem mais se destacou foi a B.I.T.C.H., considerada a melhor festa da temporada; a última Pool Party se estendeu até 7h da quarta-feira de cinzas e também agradou.

O lado ruim do Carnaval: a cidade não soube fazer frente a esse crescimento tão rápido. Aspectos como limpeza das ruas e sobretudo segurança deixaram muito a desejar. Multidões sempre foram propícias a furtos, mas neste ano a coisa parecia descontrolada - no domingo, em questão de 40 minutos, dois amigos meus perderam os celulares nas imediações da Farme, e ambos eram cariocas da gema, bastante vividos e calejados. Chego a ter dúvidas se o Rio está mesmo preparado para sediar os eventos de grande porte que vêm por aí. Parece-me que a cidade ainda tem muito o que melhorar para não dar vexame.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Pausa...

Vou fazer uma pausa aqui para curtir o Carnaval e tirar umas breves férias. Minha primeira parada será o Rio de Janeiro. Depois, Buenos Aires. Até a volta!

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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Desejos de Carnaval

A revista A Capa acaba de soltar sua edição 53, com um especial de Carnaval que traz uma colaboração minha. O editor me pediu um texto que comparasse os carnavais gays de Florianópolis e do Rio de Janeiro, descrevendo o perfil de cada lugar, o tipo de diversão e os principais atrativos e mostrasse os preços de tudo, desde passagens e acomodação até gastos com festas e comida. Na reportagem "Os opostos da folia", além de fazer esse raio X bem detalhado, conversei com pessoas de vários Estados para saber qual seria o destino escolhido e o que havia motivado essa decisão.

O que mais chamou minha atenção quanto aos entrevistados que preferiram Floripa foi que a escolha deles foi feita exclusivamente em função das festas da The Week. Seus desejos, suas expectativas, tudo girava em torno do clube, que para eles já justifica a viagem. Eu já vi a coisa bem de perto - dos quatro carnavais que passei na ilha, dois deles foram sob o reinado de André Almada - e sei que a experiência da esmagadora maioria se reduz a isso mesmo. Ninguém quer sair de perto da bagunça um dia sequer para fazer outras coisas, ver outras praias, outras pessoas. Se você enjoa e tenta dar um tempo desse esquema, acaba ficando só. Quem está indo para Floripa em 2012 não se cansou disso, muito pelo contrário: não quer saber de outra vida.

Na contramão, vão os que já se cansaram da brincadeira. Alguns não têm mais disposição para viver os perrengues de um lugar sem estrutura para tantos turistas, outros simplesmente não querem uma jogação tão intensa. Essas pessoas estão fazendo o caminho de volta para o Rio de Janeiro. O balneário tem as label parties de sempre para uma jogação clássica, mas também oferece outros tipos de diversão, além dos confortos de uma cidade grande. Quando alguém argumenta que o Rio não tem o fator novidade, eles logo respondem que Floripa também está ficando repetitiva.

Para quem pensava que Florianópolis iria atropelar o Rio com um rolo compressor, a matéria mostra que há espaço para dois grandes carnavais gays, com perfis bem diferentes. O mais curioso é que, há coisa de oito anos atrás, o Rio era o destino "oficial" e Floripa, uma proposta "alternativa", e hoje muitos acham que esses papéis se inverteram. Aposto que a farra será ótima em ambos os lugares. E vejo um movimento, ainda tímido, de gente daqui começando a descobrir os carnavais do Nordeste. Alguns conhecidos gostaram do meu relato de Salvador e resolveram tirar a prova; outros vão experimentar Recife e até Fortaleza. Com nosso pink market saindo da infância, é natural que outros mercados, fora dos eixos consolidados, comecem a se desenvolver. Com isso, ganhamos todos nós.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Mexidão mineiro

Aproveitei uma boa promoção de passagens aéreas para passar o fim de semana em Belo Horizonte. Pude atualizar minhas impressões sobre a cidade e também dar uma olhada na gastronomia local. Toda arborizada e com um traçado viário bastante peculiar, a área central de BH, delimitada pelo anel da Avenida do Contorno, é uma das paisagens urbanas mais bonitas que já conheci no Brasil. As praças são uma atração à parte. A da Liberdade é a mais importante, por conta de ícones como o Edifício Niemeyer. Mesmo aquelas não tão ilustres, como a Floriano Peixoto, se enchem de vida nos fins de semana, quando viram sala de estar para famílias inteiras. O bairro mais nobre, Lourdes, é todo salpicado de bares e restaurantes. O epicentro do fervo é a confluência das ruas Bárbara Heliodora e Curitiba, onde as mesas são disputadas pelos belos e bem-nascidos da cidade. Os moradores da região usaram seu poder de influência e impuseram uma espécie de toque de recolher: para não incomodar o sono da vizinhança, os bares foram obrigados a encerrar o expediente antes da 1h da manhã. Com isso, os lugares começam a bombar já no fim da tarde. Enquanto o estilo de Lourdes fica entre Itaim Bibi e Higienópolis, Santa Tereza tem uma pegada mais alternativa. Verdadeira instituição boêmia, o Bolão sacia a larica da madrugada com pratos enormes, em ambiente ultradespojado. Aos poucos, porém, o bairro começa a ganhar points mais bonitinhos: o fofo La Crêpe e o novíssimo Obardô não fariam feio na Vila Madalena. Meu xodó na cidade continua sendo o Café Com Letras: charmoso, aconchegante, com boa cozinha, excelente custo-benefício e público totalmente gay friendly. Minha única ressalva é a noite de domingo: a casa promove jam sessions de jazz e o ambiente fica um pouco ruidoso demais para conversar. A poucas quadras dali, também na Savassi, gostei do contemporâneo 2011. Comecei com um drink sem álcool que levava morango, hortelã, sweet & sour mix e energético, bem refrescante. Depois, pedi o medalhão de mignon ao vinho do Porto com risoto de gorgonzola, pera e nozes. E fechei com o crocante de amêndoa com mesclado de mascarpone e doce de leite, sorvete de baunilha e frutas vermelhas. Tudo muito bom! Para um almoço farto e variado em Lourdes, minha dica é o Graciliano, que segue uma linha "quilo premium" parecida com a do carioca Couve-Flor. O bufê do último sábado tinha pato ao molho de laranja, fagotini de damasco e bacalhau cremoso com batatas portuguesas fininhas e crocantes, além de sushis bem corretos. As mesas da varanda têm vista para uma pracinha superagradável. Na hora do doce, uma epifania: eles têm uma mesa de pavês (!!!), com direito ao pudim mais incrível que já existiu. Ele desmancha na boca, em uma explosão mágica de leite condensado, e consegue ser ainda melhor do que o ex-campeão, o pudim do Riviera, quilo bem honesto que fica na rua Goiás, no centro da cidade. Outros achados em Lourdes: o franco-italiano Mes Amis (o menu é de dar água na boca, com pratos entre R$ 60 e R$70), as focaccias e pizzas do novo Carlotta, os bons sorvetes da Alessa e o ambiente mais que aprazível do café Santa Sophia. A nota destoante foi o Xapuri, restaurante mineiro famosão, que funciona num terreno enorme com cara de fazenda, na Pampulha. Eu e meu amigo pedimos um lombo assado e um mexidão, e ficamos muito, muito decepcionados com a comida. Em termos de noite gay, o circuito mainstream continua igual, com Andaluz na sexta e Josefine no sábado. O povo alternativo/indie toma uma cerveja no Imperial e se joga no Velvet, um clube escurinho que lembra o Wonka de Curitiba e A Lôca de SP. Amantes da música eletrônica têm como opção o Deputamadre, com Robinho e Anderson Noise entre os DJs residentes, mas lá ninguém pega ninguém. Aliás, se a ideia é pegação, o endereço mais quente de BH é o gigantesco Clube Odeon, antigo cinema de rua transformado em sauna e sex club, com estrutura bem superior à nossa extinta 269. Abre 24 horas, mas os períodos mais movimentados são o pós-balada e o fim de tarde de domingo.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Arturito, uma extravagância que vale a pena

Como o jornalismo é conhecido pelos baixos salários, na hora de ir a restaurantes mais caros nem sempre posso contar com a companhia dos meus novos colegas de profissão. Resolvi aproveitar a visita de alguns amigos de Brasília, uma cidade de gente abonada, para prestigiar um restaurante que estava parado na minha lista havia uns bons anos: o Arturito.

A casa é dos mesmos sócios do Sucre e do Gran Bar Danzón, dois restaurantes bem badalados de Buenos Aires. O salão escurinho, com muito cinza, marrom, paredes de cimento queimado e almofadas, entrega o DNA portenho, assim como as carnes do menu - todas feitas no forno à lenha e acompanhadas por variações de batata. Mas não espere um restaurante argentino "temático": os pratos também flertam com Itália e Espanha, sem firulas exageradas e com declarada atenção à qualidade dos ingredientes.

Apesar das recomendações do polvo e do cordeiro, as massas me apeteceram mais. Em busca de alguma emoção diferente, pedi um spaghettini verde com ragu de coelho e funghi porcini e fui muito feliz: a pasta tinha aquele gosto caseiro e o molho era bem cremoso, mas sem ser pesado. Mas o que me deixou de queixo caído foram os sorvetes, que são feitos ali mesmo. Nunca havia provado nada igual. Pedi uma degustação com três sabores: baunilha, doce de leite e uma versão do clássico crema tramontana, com base de baunilha, flocos de chocolate e doce de leite mole. Que sabores, que texturas... um espetáculo!

Os preços: R$66 pela massa e R$28 pelos sorvetes, o que significa uma conta que chega fácil a R$150 por cabeça, isso sem extravagâncias etílicas. Mas existe a opção, bem mais em conta, do almoço durante a semana, com pratos interessantes (que tal coxa e sobrecoxa de frango assadas no alecrim, mais risoto de parmesão, mascarpone, espinafre e limão siciliano?) e o valor total da refeição entre R$42 e R$56, conforme o acréscimo ou não de entrada e sobremesa. Sendo que as opções de doce incluem uma bola dos tais sorvetes mágicos!