quarta-feira, 28 de julho de 2010

Os capitães do bacanal


Ninguém mais agüenta ouvir falar no caso Eliza Samudio & Bruno Fernandes, o "pão e circo" policial de 2010, que ocupa todos os noticiários para preencher a lacuna deixada pelo fim da novela da garotinha arremessada do sexto andar. O produto mais interessante dessa história não foi a atuação histriônica de Ércio Quaresma, o advogado de defesa que confunde Contagem com Hollywood, mas sim uma reportagem que o Fantástico exibiu [vídeo acima], há cerca de duas semanas. Como Bruno disse que conheceu Eliza em uma suruba, a Rede Globo foi atrás da história e descobriu a América: essas festinhas são mais comuns entre os jogadores de futebol do que se pensa.

A reportagem carregou no tom de julgamento moral, sob medida para o telespectador conservador de classe média. Zeca Camargo franziu a sobrancelha ao falar a palavra "orrrrgia", enquanto Patrícia Poeta sentenciou que se tratava de um "submundo de sexo sem limite e drogas", com a fisionomia dramática de quem faz uma seriíssima denúncia. A narração em off continuou a descrição do que seria "uma rede de silêncio e mistério", enquanto prostitutas e agenciadores explicaram como se desenrolam as picantes reuniões, dando os detalhes sórdidos que fizeram a alegria da audiência. Mesmo já tendo participado de filmes eróticos, uma entrevistada disse que se sentiu "suja de estar ali", referindo-se à experiência de ter sido convidada para uma dessas festas.

Vejam só que engraçado: os promíscuos da sociedade, os adeptos de perversões sexuais, os disseminadores de doenças venéreas, as ameaças ao sagrado paradigma da família brasileira... não eram nós, os homossexuais? Sempre foi em nossa direção que se apontaram os dedos. Vivemos um patrulhamento constante, que reverbera inclusive dentro do nosso próprio meio. Quando um blogueiro como Uomini ousa assumir seus desejos e experiências sexuais com franqueza, sem o pudor do politicamente correto, chovem comentários recalcados, apedrejando-o como o mau exemplo que denigre toda a classe LGBTT [já escrevi sobre isso neste post]. Cobram dos gays que se encaixem na moral dominante, que sejam os melhores exemplos de recato e honradez - para que, quem sabe, contando com a boa vontade alheia, eles sejam merecedores da benevolência e da aceitação social.

A verdade, escancarada pela matéria do Fantástico, é que os homens héteros não são diferentes de nós, ou moralmente superiores. Nem mais, nem menos: são iguaizinhos. Podem até adotar uma postura social irrepreensível, porque têm o imperativo da família para castrá-los, mas isso não significa que possuam menos instintos ou vontades. Muitas vezes, reprimem esses desejos, ou então os exercem na surdina - e, nisso, não são "melhores" do que nós, apenas mais hipócritas. No meio gay tudo é mais escancarado, porque já nos acostumamos a estar à margem e temos um estilo de vida mais livre, mas isso não quer dizer que os héteros não aprontem as mesmas coisas. Das esquinas freqüentadas por travestis aos puteiros chiques do Campo Belo, as histórias se repetem. Perguntado pela reportagem sobre as tais surubas no futebol, o ex-jogador e atual técnico do Bahia, Renato Gaúcho, foi taxativo: "Todo clube tem, é inevitável".

Ter fantasias sexuais turbinadas, querer se lambuzar num mar de corpos, saliências e extremidades, isso é da natureza do homem, seja ele hétero ou gay. O que não quer dizer que ele não seja capaz de se envolver afetivamente e praticar a monogamia, como uma escolha, uma decisão consciente. Ou que todos os homens tenham desejos libertinos insaciáveis: a libido e o tesão são fruto da combinação de uma variedade de fatores físicos, psíquicos, sociais e culturais que se manifestam de forma diferente em cada indivíduo, e também oscilam com o tempo. Agora, mais uma vez, nada disso tem a ver com orientação sexual. Há homens gays e héteros rodadíssimos, assim como há homens gays e héteros bastante recatados.

Mas a sociedade é implacável nos seus julgamentos, e adora dar seu pitaco sobre o que é certo e errado na vida privada das pessoas, ferindo o livre-arbítrio de cada um. No caso do ex-goleiro do Flamengo (que, colocado em outro contexto, é um cafuçu altamente umidificante, #prontofalei), não será surpresa se, antes de ser julgado pelo envolvimento (ou não) na morte da maria-chuteira, ele já for condenado porque curte uma boa bacalhoada. No mínimo, isso já será encarado pelos bastiões da moral e dos bons costumes como um mau antecedente, capaz de pesar negativamente na avaliação do delito em discussão.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

"Oh my God! They killed Thiago!"

Minha mãe passou o sábado aos prantos. "Sua vida acabou, meu filho!!!". Não, não contraí nenhuma doença rara ou incurável (aliás, vou muito bem, obrigado!). Pelo que consta, na sexta-feira ela recebeu o telefonema de uma "amiga". "Gente, o seu filho é GAY?!?! Quando eu vi a foto dele, fiquei absolutamente chocada, sem acreditar! Eu não sabia se te ligava ou não, mas não consegui resistir! Nossa, seu filho exposto daquela maneira para o mundo inteiro ver??? Mas que barra para você, hein!!!" A tal desocupada estava se referindo a uma reportagem publicada na última edição da revista Junior, em que fui citado e entrevistado como um dos blogueiros "bons de texto e opiniões fortes", com foto e tudo. Minha mãe já sabia que eu era gay, mas jamais se sentiu à vontade para dividir isso com alguém. Além disso, eu não havia falado com ela a respeito da revista. Pega de surpresa (e sem saber maiores detalhes: seria algo comprometedor?), ela ficou completamente atônita, sem saber o que fazer ou dizer. Passou a noite tendo pesadelos e despejou seu desespero sobre mim assim que acordei, no sábado.

Para quem não tomou conhecimento da reportagem, não há nada com que se preocupar. Não estou sendo exposto ao ridículo, nem apareço com orelhas de coelhinho e um pompom de algodão no traseiro. Longe de expor minhas intimidades, o texto é curtíssimo - nem parece que o repórter me entrevistou por mais de uma hora para escrevê-lo. E o tom não é nada depreciativo, muito pelo contrário, diz que tenho "um texto bastante elaborado e elogiado pelos leitores". Não dá para dizer que aquilo foi um outing em rede nacional: a Junior é uma revista de repercussão pífia fora do gueto e, mesmo dentro dele, está longe de ser uma unanimidade. Pelo que entendi, mostraram a revista para a "amiga" da minha mãe por causa da capa com o Pedro Andrade, ela começou a folhear porque não acreditava que o rapaz fosse mesmo gay, e então deu de cara com a minha foto.

Minha mãe sabe que sou gay há mais de dez anos. O processo de aceitação foi muito doloroso para ela e incluiu todos os traumas, culpas e tabus clássicos. Hoje, ela já entende que não existem culpados, que ela não errou a mão na minha educação, que nem todos os homossexuais têm roupas femininas no armário, ou morrem de AIDS. Ela também superou o fato de que não terá netos (o que não aconteceria nem se eu fosse hétero, dado que sempre tive aversão por crianças). Ela considera que me aceita bem. O problema, segundo minha mãe, é que eu me exponho demais, não estou nem aí, sou ingênuo diante de um mundo mau, cruel e fechado. Sei que ela reconhece minhas virtudes e se orgulha de mim, mas vê minha sexualidade como uma mácula social. E não consegue lidar com isso da porta de casa para fora, muito menos se assumir como mãe de gay. Para ela, seria bem melhor se eu vivesse escondido embaixo da cama. Ela se preocupa demais com o que os outros vão pensar, esse é o xis da questão.

E é aí que entra a tal "amiga" - que nem suspeito quem seja, mas posso afirmar sem sombra de dúvida que é um espírito de porco. Além de ser mais uma dessas pessoas pequenas que passam o tempo cuidando da vida alheia, ela deve ser daquelas que perdem o amigo, mas não perdem a piada. E foi egoísta o suficiente para colocar seu próprio prazer de contar uma fofoca acima de tudo, inclusive de uma amizade. Em nenhum momento, ela teve o tato e a consideração de se colocar no lugar da minha mãe, de pensar como ela iria se sentir, se ficaria desconfortável ou até abalada. Ou então ela agiu com má intenção deliberada, para constrangê-la mesmo, o que é ainda pior. E se minha mãe realmente não soubesse de nada? Que direito essa fulana tinha de botar a boca no trombone e jogar a m... no ventilador?

Não acho que a homossexualidade seja uma vergonha que deva ser encoberta, quem lê este blog sabe bem disso. Reconheço que existem situações em que ter uma orientação sexual minoritária não é lá muito prático. Mas sou muito bem resolvido e tenho a autoestima em dia. Quando sinto desejo por outro homem, isso só reafirma em mim a convicção de que a atração e o amor entre iguais são duas coisas maravilhosas. Por isso, procuro sempre passar à minha mãe visões positivas e exemplos de que é possível ser feliz, bem sucedido e inserido socialmente sendo gay. Mas ela ainda acha que paira sobre a minha cabeça uma sentença de morte social: que as portas se fecharão, que não conseguirei oportunidades, justamente neste momento de redefinição profissional. Ora, quantos e quantos jornalistas gays - vitoriosos - existem nas redações dos grandes veículos de imprensa?

Acho inclusive que a tendência é que eu acabe me expondo ainda mais. Não defendo que se dê a cara a tapa indiscriminadamente. Eu não iria, por exemplo, a um programa de TV sensacionalista como o da Luciana Gimenez, que não tem comprometimento com a qualidade, que não propõe um diálogo sério, que apenas provoca "barracos" em busca de audiência; eu não ganharia nada com isso e estaria jogando pérolas aos porcos, batendo cabeça com evangélicos e afins. Porém, na medida em que meu blog e meu trabalho forem ficando mais conhecidos, será natural que a minha pessoa esteja em evidência, e devo lidar com isso da melhor maneira: com serenidade. Por que viver amedrontado? O blog só me trouxe coisas boas, não só amizades como também convites de trabalho. Minha vida não acabou: ela está apenas começando.

Se minha pretensão fosse entrar para o elenco da novela das oito, se para a minha carreira fosse importante despertar o desejo das mulheres, eu certamente teria uma postura social diferente. Mas não é o caso. Não condeno quem vive no armário, mas é uma vida sofrida, de renúncias, que eu não quero para mim de forma alguma. Quero ser o Thiago por inteiro, e quem pretender participar da minha vida terá que me aceitar por inteiro; se não for assim, não me interessa. Não quero viver nas sombras, como minha mãe propõe. Se todos seguissem o conselho dela, ainda estaríamos em 1980, trocando beijos furtivos na clandestinidade, sob risco de repressão policial. Ser uma pessoa plena é importante para o meu bem-estar individual e também para a própria causa gay como um todo. Dar um exemplo aos que nos cercam, fazer a diferença no nosso círculo social imediato, é o único caminho para construirmos o mundo mais tolerante com que tanto sonhamos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Enquete para meus leitores

Este blog começou como um exercício solitário de escrita e nada mais. Depois apareceram os primeiros visitantes, fiz contato com outros blogueiros e o Introspective foi aparecendo na blogosfera. Meus textos começaram a receber um retorno dos leitores, sempre por meio dos comentários. Com o tempo, passei também a ser abordado fora daqui - na rua, na noite, em redes sociais e até em sites de encontros - por gente que lia o Introspective e queria falar não sobre esse ou aquele texto, mas manifestar sua opinião sobre o blog como um todo.

Escrevo sempre por prazer, e apenas sobre o que me interessa. Mas fiquei curioso para saber quais tipos de textos e assuntos agradam mais aos meus leitores. Por isso, criei a enquete que está no canto esquerdo da tela, e convido vocês a respondê-la. O que vocês mais gostam de encontrar aqui? Quem quiser fazer outras colocações sobre o blog também pode aproveitar o espaço para comentários deste post.

[UPDATE: primeiro criei uma enquete do próprio Blogspot, mas não conseguia visualizar nada: os leitores votavam, mas para mim continuava aparecendo zero votos. Agora, substituí por uma enquete do BlogPolls. A quem tinha votado na enquete anterior, por favor, refaça a votação nesta nova. Se aparecer "Você já votou nesta enquete" (e for mentira), é só recarregar/atualizar a página do blog. E se puderem e quiserem, deixem também seu pitaco aqui nos comentários. Obrigado!]

[UPDATE 2: a segunda enquete que coloquei, do BlogPolls, também está tendo problemas técnicos ocasionais e às vezes não abre. Até agora, a maior parte dos leitores (28%) disse que prefere postagens sobre comportamento. Depois, textos mais pessoais (20%), noite e variedades do mundo gay (16%), guias de viagem e gastronomia (15%), "qualquer assunto, prefiro os que considero melhor escritos" (12%) e, por último, os posts do tipo Rapidinhas, com notas sobre assuntos variados (8%).]

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Uma pitadinha de Sazón

Bate-cabelo vira house music. Chilli Beans vira Prada Eyewear. Carão vira atitude. Barra Funda vira Higienópolis. Conhecida-de-vista vira íntima-de-oliveira. Empurrão vira com-licença-por-favor. Pulseira VIP vira bracelete de ouro. Semianalfabeto vira poliglota. Sorrisos falsos viram receptividade. Passivo versátil vira ativo liberal. Banco traseiro vira suíte master. Camarão vira símbolo sexual. Parasitismo vira amizade. Metido a besta vira übercool. Cecília vira Chanel. Mati vira odara. Gongativo vira bem-humorado. Pneus viram curvas. Egípcia vira distraída. Stalker vira biggest fan. Panelinha fechada vira portas abertas. Falta de educação vira espontaneidade. Elza vira mão boba. Inconveniente vira espirituoso. Proletário vira democrático. Michê vira Don Juan e até husband material. Farmácia de plantão vira boa genética & disciplina. Grosseria vira masculinidade. Tombo vira coreografia. Solidão vira autossuficiência. Herpes vira pinta charmosa. Coma vira soneca. Fatalidades do destino viram ossos do ofício. Comprimido azul vira fogo insaciável. Amigo-da-onça vira best friend forever. Cheque especial vira salário de cinco dígitos. Jogo de aparências vira boa reputação. Colar de coquinho vira bijoux étnica. Egocentrismo vira vaidade saudável. Sol na laje vira férias em Trancoso. Lista de desconto vira sou amigo do dono. Financiamento com agiota vira empréstimo camarada. Floresta dos sussurros vira canavial das paixões. Turvação vira good vibe. Fracos viram heróis. Sonhos viram possibilidades. Todo-cuidado-é-pouco vira lavou-tá-novo. As mais precavidas já aprenderam: uma pitadinha de Sazón pode salvar a sua noite. Não saia de casa sem ele!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

O alvo preferido

Eu estava vibrando com a vitória dos nossos vizinhos argentinos [eu me refiro à aprovação da emenda do casamento gay pelo Senado argentino, de que tratei aqui, e que foi inclusive o assunto mais discutido do encontro de blogueiros do último sábado]. Mas a euforia durou pouco. Ontem, um post no blog do Don Diego interrompeu meu devaneio otimista e lembrou que em nosso país o buraco da vida real é bem mais embaixo. Ele expôs o drama do jornalista d'O Globo Jefferson Lessa - que relatou, num desabafo na edição de ontem do periódico carioca, que vem sendo vítima de bullying homofóbico quase diário nas imediações da sua casa, no idílico bairro da Urca. O texto é tão comovente quanto desconcertante: Lessa, já quase um balzaquiano, se sente completamente desamparado, e não enxerga nem mesmo na polícia a possibilidade de uma resposta satisfatória à sua aflição. É muito triste.

Na medida em que a história está repercutindo na internet e provocando reações de solidariedade, surgem mais e mais histórias parecidas. Tanto os autores dos blogs como os visitantes que deixam comentários vão expondo experiências pessoais no mesmo sentido, e com isso percebemos que essas histórias estão longe de ser isoladas. Todos nós sofremos algum tipo de bullying, em maior ou menor grau, de forma mais ou menos violenta, em pelo menos alguns ambientes que freqüentamos, em pelo menos algumas fases da vida. Ainda que com o tempo, mais resolvidos quanto à própria identidade e cansados de remar contra a maré, nós optemos por viver nossas vidas em uma bolha de conforto, na companhia de pessoas mais arejadas e civilizadas, e sejamos felizes assim, o mundo segue cruel - e a mentalidade dominante evolui a conta-gotas.

Sim, eu também sofri bullying na escola. Cresci sendo o pária da turma, aquele que passava o recreio isolado, para quem ninguém estendia a mão. Mas meu caso não foi de "bullying homofóbico", simplesmente porque, durante meus onze anos de colégio, não havia em mim nenhum traço, embrionário que fosse, de homossexualidade - ou de qualquer outra sexualidade. Eu era uma c-r-i-a-n-ç-a, mesmo. O típico menino ingênuo, puro, que não conseguia acompanhar a malícia dos coleguinhas, que vivia em seu mundo interior e só mais tarde começou a entender como as coisas eram fora dele. Mas que poderia muito bem ter crescido, perdido a timidez e até se casado com a gostosa da classe. Só fui acordar para a vida e trocar a esfiha pelo kibe mais tarde, já na faculdade.

Eu tinha, sim, algumas características que pesavam contra mim e que formavam um verdadeiro "kit impopularidade". Eu aprendi a ler e escrever sozinho, aos quatro anos, e também desenhava muito bem. Ser precoce tornou as coisas muito mais fáceis para mim durante as aulas (escreva com 'ss' ou 'ç'?! ah, por favor, né?) e muito mais difíceis nos intervalos, porque me fazia diferente dos demais e despertava o ódio e a inveja dos colegas ('isibido!', gostavam de rabiscar por cima dos meus desenhos feitos com tanto capricho). Com tanta hostilidade, eu não tinha nenhum estímulo para sair da minha redoma solitária, do meu mundo introspectivo de desenhos, redações e livros, e me misturar aos demais. Nem na hora das brincadeiras e esportes - demonstrações de força, coordenação motora e destreza física que sempre foram um estorvo pra mim. Para piorar, eu usava óculos, em uma idade em que isso era simplesmente inaceitável. Cresci com o carimbo de CDF e de cara mais uncool da turma.

Além do "kit impopularidade", outra característica que selou minha sorte na infância foi a dificuldade que sempre tive para me impor e, especialmente, colocar minha agressividade para fora. Isso é uma questão de sensibilidade, de temperamento mesmo; tudo bem que gays costumam ser mais sensíveis, mas acho que reduzir isso a uma homossexualidade latente seria de um simplismo extremo e absurdo. Sempre fui o tipo de cara pacífico, que precisa acumular muitas provocações até perder a paciência e explodir: isso é parte da minha índole, as pessoas que convivem comigo logo percebem, e algumas inclusive tentam se aproveitar disso. Foi de uns anos para cá que comecei a me educar para reagir mais, enfrentar mais, comprando até algumas brigas que poderia deixar de comprar, pelo simples exercício de não levar desaforo para casa. Há momentos em que é preciso exigir respeito e se impor - e isso também transcende a questão da sexualidade.

Mas há casos em que se impor é bem mais difícil - em especial quando o bullying adquire contornos de pura covardia, como na história de Jefferson Lessa, acuado por um grupo de delinquentes juvenis de classe média. Em nosso íntimo, achamos que seria bárbaro se Jefferson tirasse de dentro de si uma força improvável, se baixasse nele uma mistura de Jackie Chan com Lu Patinadora, e ele desse uma voadora poderosa no meio da fuça de um dos playboys do mal, e quebrasse o nariz do maldito em quatro pedaços, assim como todos os dentes da frente, para total choque dos demais, que perderiam a pose e sairiam correndo na mesma hora para nunca mais atacá-lo. Mas violência não se resolve com mais violência. Enquanto não vem de dentro da sociedade a tão esperada mudança de mentalidade, a tutela do Estado é fundamental para ajudar a garantir a ordem e proteger a integridade dos cidadãos.

E é aí, finalmente, que entra a questão da sexualidade. Nesse momento, a homofobia nos castiga duplamente. Primeiro: ela já nos torna alvos privilegiados do bullying, e aumenta, por si só, as chances de sermos constrangidos e até exterminados, como aconteceu recentemente com o garoto de São Gonçalo (RJ), assassinado por uma gangue pelo simples fato de parecer gay. E segundo: enquanto na escola a equipe pedagógica tem a possibilidade de interceder em favor do aluno molestado, a vítima do bullying homofóbico muitas vezes não tem a pedir proteção, porque as polícias são totalmente despreparadas para lidar com a diversidade sexual, isso quando elas mesmas não engrossam o coro do preconceito. Somos tão alijados de cidadania que até o socorro do Poder Público numa situação extrema nos é negado.

O desespero de Jefferson Lessa é totalmente compreensível. Mas se entregar não é a solução, muito menos abandonar o bairro, como ele chegou a falar em seu texto. Expor o problema, tirá-lo da invisibilidade, é um primeiro e importantíssimo passo. A mesma solidariedade que nós estamos tendo, mesmo sem conhecê-lo, ele poderá encontrar em outras pessoas, que se tornarão suas aliadas. É preciso botar a boca no trombone contra esse absurdo. Por mais capenga que seja a via policial, as autoridades terão que se deparar com o assunto e aprender a lidar com ele. Tem que fazer B.O. sim, até pedir proteção se for o caso. Não dá para engolir a seco e ficar enfrentando a barra sozinho. O bullying traz em sua raiz um desequilíbrio, e só somando forças para reverter esse desequilíbrio é possível dar fim ao pesadelo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Rapidinhas diversificadas

DA JABULANI À JABIROSCA Quem não morreu de vergonha de ser brasileiro quando veio ao mundo o logotipo oficial da nossa Copa do Mundo 2014? A tosqueira tem cara de improviso - parece aqueles trabalhos que crianças de 6 anos fazem na aula de artes da pré-escola - e recebeu críticas de todos os lados, das mais embasadas às mais escrachadas. Levando a sério a máxima de que só pode criticar quem faz melhor, o blogueiro Guilherme Bandeira desenvolveu várias versões alternativas do logotipo, todas disponíveis em seu blog Olha Que Maneiro. A minha favorita ilustra este post. Realmente, era bem fácil fazer melhor.

INVERNO GRATINADO Com a frente fria violenta que varreu o Sul e o Sudeste, nosso apetite pede pratos quentes mais substanciais. Enquanto não tomo coragem para escrever outro roteiro gastronômico, vou dar duas dicas pontuais, ambas em São Paulo. Uma é o Marcel, no Brooklin, disparado o melhor endereço da cidade para comer suflês - o Maison, minha receita favorita, leva camarões, queijo e cogumelos. A outra é o Bar do Alemão, um restaurante que há várias décadas faz os paulistanos viajarem até Itu para saborearem seu gigantesco filé à parmegiana. Agora não é mais preciso pegar a estrada: a casa abriu uma filial em Moema. A versão grande do prato, com 700g de bife, alimenta até 5 paladares.

CORTINAS DE VELUDO RELOADED Último clube de sucesso no tempo em que a Consolação ainda era o epicentro da noite GLS de São Paulo, o Ultralounge viveu sua melhor época entre 2000 e 2001 - quando Sérgio Kalil já tinha fechado a B.A.S.E. e ainda não tinha aberto a Level. Com um enorme candelabro e cortinas de veludo bordô, o Ultra se pretendia pomposo e reforçava a aura convidando artistas e fashionistas para comandar as pickups no início da noite. Foi o último clube menor e intimista, antes da era dos descamisados e do colocón: ali, bacana era ir de camisa social, com atenção especial para o cabelo bem esculpido. Varrido da cena por um complô entre vizinhos e prefeitura, deixou muitos órfãos. E agora está de volta, sob a forma de um projeto que ocupará uma ou duas sextas por mês, no clube Lions. [Faltava mesmo uma noite gay no Lions, eu já tinha cantado essa pedra aqui]. A estreia é hoje, e os habituês do Ultra devem comparecer em peso. Será que o Cecin vai tocar aquele remix de "Don't Tell Me" que foi o hino absoluto dos velhos tempos?

A TRILHA DO PARAÍSO E por falar em balada, já saiu a programação das festas do Hell & Heaven, babadeiríssimo evento gay que fará sua segunda edição em novembro, na Costa do Sauípe (BA). O line up superou as minhas expectativas. Na noite do dia 4/11, a festa de boas vindas traz Cella e Rafael Calvente, em parceria com as domingayras Café Com Vodka (SP) e Duo (RJ). No dia seguinte, a abertura oficial tem Renato Ratier (D-Edge) e o francês Tristan Garner, do hit "Stomp That Shit". Sábado será a maratona suprema da jogação: de dia tem pool party com Felipe Lira, André Garça e Danny Verde, e à noite tem festona com Ana Paula e Peter Rauhofer. Já estaria de bom tamanho, mas ainda tem mais: a manhã de domingo será em ritmo de after, com Rodolfo Bravat, André Queiroz e - tcharam! - o argentino Aldo Haydar, fazendo o gran finale perfeito. Partiu Sauípe?

PLUMAS, MULLETS & MARIACHIS E ainda no embalo do post de ontem, a Secretaria de Turismo da Cidade do México anunciou que dará de presente uma viagem de lua-de-mel ao primeiro casal gay a se casar na Argentina. O mimo será uma parceria da prefeitura com a iniciativa privada: o governo municipal arcará com as passagens aéreas, enquanto hotéis e restaurantes da Cidade do México e de Cancún oferecerão hospedagem e alimentação. A ideia busca incentivar o turismo gay friendly no México, cuja capital já reconhece a união gay desde dezembro. Fofo, não?

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Azul claro é a cor da esperança

Hoje nem era dia de postar, mas não dá para deixar passar em branco esse fato histórico importantíssimo, e que merece ser repetido e repostado e comemorado por todos os blogs das amigues, mesmo aqueles que só falam de boate: a Argentina aprovou o casamento gay! Ops, pera lá... casamento gay?! Mas "casamento" não é uma instituição religiosa, não é uma propriedade da Igreja Católica que não pode ser descaracterizada? Não será por isso que a questão não avança no Brasil: porque a militância defende o "casamento gay", expressão que contém em si um absurdo, pois equivaleria a abrir a porta da Catedral da Sé, ou da Igreja Nossa Senhora do Brasil, para que um macho barbudo, braçudo e maludo entrasse no templo vestido de noiva, com véu, grinalda e quem sabe algum adereço emprestado da Lady Gaga para arrematar o look?

De uma vez por todas: NÃO!

Existe o casamento como ritual religioso; aliás, a união entre duas pessoas é ritualizada em várias religiões, não apenas pela Igreja Católica Apostólica Romana. Mas casamento é também um instituto de direito civil, uma relação jurídica entre duas pessoas que, ao se unirem, assumem uma variedade de direitos e obrigações uma perante a outra. Que incluem os deveres recíprocos de respeito, assistência (inclusive financeira) e fidelidade, o direito a ter ou adotar filhos (e o respectivo dever de guardá-los, sustentá-los e educá-los), e também os direitos ligados à herança e sucessão do patrimônio.

Como qualquer outro instituto jurídico, o casamento civil é previsto e definido por uma lei. As leis que vigoram em boa parte dos países ocidentais (excetuando os anglo-saxões) são herança do antigo Direito Romano. Mas as sociedades mudam - e as leis, como produto social e reflexo dessas sociedades, também devem mudar para acompanhá-las (o que ocorre com maior ou menor velocidade, conforme o país). Todos os novos fenômenos sociais precisam de disciplina e proteção jurídica: para ficar num exemplo didático, a internet, que não existia há 30 anos, trouxe novas relações, novos problemas, novos crimes, e tudo isso precisa ser regulado por novas leis.

A definição clássica do casamento civil, cunhada em um período heterocentrista, contemplava apenas a união entre homem e mulher, consagrada na redação de boa parte dos códigos civis. Na medida em que a constituição das famílias passou a incluir formatos diferentes do modelo papai-mamãe-filhinhos, os ordenamentos foram evoluindo para também contemplar essas novas configurações: mães solteiras, famílias recombinadas pelos novos casamentos de pais divorciados... e casais do mesmo sexo. Assim, em alguns países, a atividade legislativa passou a rever a definição clássica de casamento, passando a permitir que esses novos casais desfrutassem das mesmas garantias (e responsabilidades!) dos casais heterossexuais. É "casamento gay" mesmo.

Foi exatamente isso que aconteceu nesta madrugada na Argentina: o Senado deles aprovou um projeto de lei que alterou a definição do casamento no Código Civil argentino, substituindo "homem e mulher" por "contraentes". Só falta a sanção de Cristina Kirchner - mas a presidente já se posicionou a favor da medida, ou seja, a vitória é dada como certa. Com isso, se desejarem, dois homens ou duas mulheres, em todo o território argentino, poderão se unir e usufruir dos mesmos direitos que qualquer outro casal teria, incluindo herança e adoção. Não parece algo tão simples, tão elementar? Sim, parece e é. E às vezes é difícil entender por que um direito tão básico é negado em tantos outros países, incluindo o Brasil. A Argentina foi o décimo país do mundo e o primeiro da América Latina a dar esse importante passo em direção à igualdade e à justiça.

Mas calma: antes de sair por aí falando que a Argentina é muuuito mais moderna, que eles estão aaaanos-luz à nossa frente, e blá blá blá, vamos olhar isso mais de perto? Não foi uma conquista de mão beijada. A vitória foi apertada, por 33 votos a 27, não sem ampla resistência dos setores mais reacionários da sociedade. Lá também existem lobbies religiosos, inclusive evangélicos, que se organizam e fazem barulho - a ponto de juntarem 50 mil pessoas numa passeata em frente ao Congresso, na véspera da votação. Lá também existem pessoas públicas que fazem discursos demagógicos, claramente mal-intencionados, para semear a intolerância. Mais ainda: o segundo maior jornal da Argentina, o conservador La Nación, passou os últimos dias em uma maciça campanha contra o casamento gay, publicando sucessivos editoriais e reportagens com argumentos pelos quais ele não deveria ser aprovado - tinha até fundamentos pretensamente "científicos", do tipo "estudos afirmam que crianças adotadas por casais gays podem ter depressão".

Vocês têm noção do que significa isso? É como se um jornal do tamanho do Estadão fizesse uma lavagem cerebral diária contra o avanço dos direitos gays. E no entanto... apesar disso... mesmo com a ofensiva do jornalzão... e com os lobbies dos religiosos... os direitos gays venceram. Isso deve servir para a gente ter a esperança de que um dia também chegará lá. Afinal, os problemas e obstáculos não são muito diferentes lá e cá. E o próprio efeito da decisão argentina aqui deve ser bem positivo, influenciando nossa opinião pública e, quem sabe, deixando os nossos políticos (cuja "consciência" só enxerga o lado eleitoral) mais à vontade para votar a favor dos nossos projetos. E olha que esses projetos - que falam apenas em união civil - são bem mais modestos e tímidos do que o argentino...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Levar ou ser levado?

Hoje tive contato com a história de vida de duas das maiores musas do nosso país: Sônia Braga e Rita Cadillac. De Sônia, li um perfil escrito pela jornalista Eliane Trindade para a Serafina, revista mensal encartada no jornal Folha de S.Paulo. Já da trajetória de Rita, eu tomei conhecimento assistindo ao documentário A Lady do Povo, que passa a limpo toda a carreira dessa que foi a primeira popozuda de sucesso nacional, a bisavó das mulheres-hortifrúti de hoje.

As histórias delas têm em comum a infância sofrida, com contornos bastante dramáticos, e o desabrochar para o sucesso meio que por acaso, por conta do encontro com pessoas que cruzaram seus caminhos e abriram espaço para uma guinada em suas vidas. Sônia foi descoberta por Ronnie Von quando trabalhava em um bufê, e Rita conheceu uma dançarina que lhe abriu a possibilidade de sair da miséria e se apresentar nos Estados Unidos. Depois, novos encontros acabaram selando a sorte das divas: outras pessoas que lhes deram chances, abriram oportunidades e provocaram verdadeiras reviravoltas em seus destinos. Não há dúvida que ambas acabaram indo muito mais longe do que poderiam imaginar lá atrás, quando eram meninas novinhas.

O que mais chamou a minha atenção foi a maneira como as coisas foram simplesmente acontecendo, sem que elas tivessem gerenciado o próprio caminho, sem que tivessem traçado metas, planos, estratégias. Isso é o total oposto do que eu sempre pratiquei. Até entendo que o destino coloca situações e pessoas no nosso caminho, mas cresci aprendendo a jamais esperar por isso. Cresci acreditando que temos um papel ativo crucial como protagonistas de nossas histórias e, mais ainda, que tudo o que conquistamos, tudo o que nos tornamos, depende de nós - o tempo todo. Esse negócio de "deixa a vida me levar" sempre me soou como exaltação de preguiça carioca: quem se deixa levar, vivendo no automático, não sai do zero e jamais chega a lugar algum.

Não tenho maturidade suficiente para discernir se a minha maneira de ver as coisas é a melhor - mas sei que ela exige demais de mim. A gente se cobra demais, fica ansioso demais, sempre achando que a vida é suor, ralação, luta, resistência e persistência. Queremos ter a vida sob controle tanto quanto for possível, sentir que podemos provocar em nosso futuro as coisas que tanto desejamos. Viver é um eterno tatear no escuro e, como isso não nos satisfaz, o que resta é planejar, projetar, idealizar. Mas aí vejo que pessoas como Sônia e Rita não fizeram nada disso, e ainda assim tiveram uma existência plena de realizações. Pura sorte? Talvez a vida delas seja mesmo menos medíocre do que a nossa, gente "normal" que segue o previsível script "colégio + escolha de curso + faculdade + estágio + relações afetivas nascidas no mesmo círculo social + namoro, casamento e filhos + netos e velhice". Mas, pensando bem, o que têm essas mulheres, gente de carne e osso como nós, que nós não temos?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Nada se cria... tudo se copia!

A internet permite o compartilhamento de informações e a socialização do conhecimento. A internet é de domínio público. Quem escreve em um blog precisa lidar com o fato de que seu conteúdo será lido, consumido e retransmitido para muitas outras pessoas; quanto mais interessante ou relevante for esse conteúdo, mais ele irá circular. E, às vezes, ele também será... copiado. Não dá para ter um ciúme doentio dos textos: afinal, eles são feitos para serem lidos. É melhor que ganhem o mundo do que fiquem trancados dentro de um disco rígido, inéditos e condenados ao desconhecimento eterno.

Ainda assim, fiquei abismado com a cara-de-pau de um certo blogueiro - que, por incrível que pareça, estava na minha lista de blogs e com quem eu vinha até mantendo um cordial relacionamento virtual, de troca de comentários e gentilezas. Não é que ele tenha cometido algum deslize isolado: o buraco aqui é bem mais embaixo. O rapaz simplesmente copiou todas as resenhas gastronômicas que eu elaborei neste blog, e se apropriou dos textos, publicando-os por aí... como se tivessem sido escritos por ele! As imagens que ilustram este post são de um site chamado Kekanto.

Sabem os restaurantes que recomendei nesse meu guia mais recente, de 28 de junho? Lembram dos lugares que indiquei para meu guia de lugares bons e baratos? Lembram da resenha do Be Fresh? Do Ban Kao? Estão todos aqui, "escritos" e "assinados" pelo ilustre usurpador que atende pela alcunha virtual de "Edu Pampublikong". Até dicas do Rio, como o Market, ele copiou. O pior é que o moço nem se deu ao trabalho de disfarçar, mudar uma vírgula que seja. Pra que ter o mínimo de trabalho intelectual, se o espertinho pode levar os louros com o meu texto mesmo, que está prontinho e redondo, com a minha pitada autoral e tudo, néam?

Prezado "Edu", LADRÃO de criações e trabalhos alheios: essa sua atitude calhorda é muito mais do que um triste papelão. Demonstra que você é uma pessoa fraca, preguiçosa, sem talento, medíocre demais para tentar produzir algo de destaque com sua própria capacidade e mérito. Mais ainda: revela que você não tem caráter. Não tem o mínimo de respeito por mim (embora aproveite para fazer a simpática comigo quando vem aqui roubar meus textos), nem pelos meus leitores. Aliás, nem pelos seus eventuais leitores, afinal de contas você também está os enganando, sendo trapaceiro com eles, levando-os a acreditar no que não passa de um plágio sem pudor. E MAIS ainda, como se tudo isso já não fosse suficiente: sua conduta é um ato ilícito - civil e penal - e você pode acabar sendo processado. Pessoas metidas a malandras como você desmerecem a internet, denigrem os blogs, envergonham o bom jornalismo - e fazem a diferença para construir um Brasil cada vez mais desonesto e pior para se viver. Shame on you!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Poderosa Afrodite? NOT!

Dizem que um produtor bem escolhido e um primeiro single poderoso já são meio caminho andado para um álbum de sucesso. Mas a verdade é que Aphrodite, novíssima cria de Kylie Minogue, não tem fôlego suficiente e fica pelo caminho. Em "All The Lovers", a superbonitinha faixa de trabalho que abre o disco, o DNA de Stuart Price é bastante evidente. Mas nem o aclamado toque de Midas do produtor consegue segurar a onda do resto do álbum. A delicada Kylie tem suas limitações vocais e nunca se desvencilhou de uma sonoridade datada, estacionada no início dos anos 90, mas trabalhos anteriores como Fever (2001) e X (2007) ao menos conseguiram entregar pérolas pop bastante satisfatórias. Já neste Aphrodite, falta tempero: as faixas são burocráticas, pouco inspiradas, e os refrões não grudam, o disco não acontece. Na melhor das hipóteses, serve como trilha ambiente numa loja da Zara. As duas gloriosas exceções, além de "All The Lovers", são "Better Than Today", com uma melodia bem gostosa que se sobressai, e a alegre "Can't Beat The Feeling", que fecha o disco e tem tudo para ser o próximo single - uma faixa quase dançante, que pode crescer bastante com um bom remix. Ainda assim, é muito menos do que se podia esperar de um disco assinado pelo pai de Confessions. Pelo menos, Lady Gaga pode respirar aliviada.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Houston, we have a problem

O Blogspot/Blogger está atravessando algum problema técnico: os comentários chegam por e-mail, mas não consigo aprová-los. Aparece sempre uma mensagem de erro (bX-o3qgph). No grupo de ajuda do Blogger, vários blogueiros vieram com a mesma queixa, sendo que alguns reclamam que o blog está engolindo os comentários. Enquanto a situação não se resolve, peço que tenham paciência. Não sou eu que estou censurando a participação de vocês. [UPDATE: Já consegui aprovar todos os comentários que estavam pendentes na minha caixa de entrada. O que não está publicado não chegou mesmo. Pelo menos dois leitores me disseram que não viram seu comentário no ar, mesmo depois da normalização. Se alguém mais está nessa situação, comente de novo, porque o sistema engoliu mesmo.]

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Rapidinhas e fresquinhas

CONFESSIONS 2, O RETORNO A cantora australiana Kylie Minogue vende bem e lota shows na Europa, mas nunca chegou a emplacar nos Estados Unidos. Isso pode mudar com seu próximo álbum, Aphrodite, que será lançado oficialmente amanhã. A produção foi assinada pelo inglês Stuart Price, que tem uma pegada dançante infalível - ele é o homem por trás do clássico Confessions on a Dancefloor, de Madonna. Como era de se esperar, o novo disco de Kylie foi todo pensado para as pistas, sem baladinhas, e está sendo recebido com entusiasmo pela crítica especializada. O adorável primeiro single, "All The Lovers", ganhou clipe fofo e pansexual, bem ao gosto do público gay, que vê nela uma espécie de madrinha. No último fim de semana, a diva foi o destaque da Semana do Orgullo de Madri, onde cantou para 1 milhão de pessoas. Aphrodite tem tudo para virar febre entre as bees e, quem sabe, ajudar nossos ouvidos a descansarem da Lady Gaga. [UPDATE: acabo de escutar Aphrodite e achei o entusiasmo da crítica exagerado. O disco não é tão legal assim (nem tão dançante), embora tenha alguns acertos. A minha opinião, vocês podem ler dois posts acima].

POR UM FINAL FELIZ Um dos cinemas mais tradicionais e charmosos de São Paulo está na corda bamba. Com o cancelamento do patrocínio do banco HSBC, o Belas Artes passa por dificuldades financeiras e pode fechar as portas em dezembro. Para ajudar a evitar o fim trágico, a restauratrice Marie-France Henry, dona do francês La Casserole, reuniu outros 16 restaurantes na campanha Tudo Pode Dar Certo, que começa hoje e vai até 5 de setembro. Olha só que legal: você come em uma casas participantes, doa R$5 ao cinema e ganha um ingresso válido de segunda a quinta-feira. Carimbado na bilheteria, o tíquete dá direito a uma sobremesa de cortesia em qualquer um dos restaurantes. E a lista só tem coisa boa: além do La Casserole, participam Adega Santiago, Amadeus, Arábia, Arábia Café, Così, 210 Diner, Dona Onça, Dui, Eñe, Ici Bistrô, La Frontera, Martín Fierro, Mestiço, Obá, Tappo Trattoria e Tordesilhas. Vamos prestigiar, ajudar o Belas Artes e torcer para que apareça logo um novo patrocinador!

VOCÊ PODE DAR UMA NOTA? O encontro de blogueiros gays que rolou na semana da Parada não teve pauta definida ou objetivo "oficial". Muitas questões interessantes poderiam ter sido discutidas, mas não havia tempo. Como aquilo era apenas um pontapé inicial, o primeiro de vários encontros, não nos afobamos e deixamos nossos e-mails para a construção de uma rede de contatos, que facilitaria a integração entre os blogueiros. A segunda edição ainda não aconteceu, mas o encontro já teve ao menos um resultado: nossas caixas de e-mails passaram a receber desinteressadas "sugestões de nota", por parte de assessorias de imprensa que pegaram carona nesse bonde. Não tenho nada contra o trabalho desses profissionais, mas não me agrada a maneira como os blogueiros estão sendo usados. É bacana receber sugestões de leitores, pessoas que conhecem seus textos e jeito de pensar e, por isso, contribuem com ideias e assuntos pertinentes, porque querem enriquecer o blog. Outra coisa bem diferente é receber um e-mail absolutamente impessoal de uma assessoria ou um RP que está preocupado(a) apenas em vender o peixe do cliente, que jamais passou os olhos no seu blog, não tem o menor interesse pelos seus textos e não teve sequer o cuidado de mandar uma mensagem individualizada. Pior ainda é receber um e-mail retransmitindo o anterior e meio que me cobrando porque não dei a tal nota. Este blog não é um balcão de panfletos e propaganda grátis. Acho válido ser informado sobre coisas que possam ser do meu interesse, mas quem decide se realmente são, ou se valem uma nota, sou eu. Até porque eu não faturo um tostão nisso. No mais, torço para que a pilha de spam cor-de-rosa não acabe sendo o único resultado prático daquele encontro.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Bola murcha

É aquela história: chega a época da Copa, e de repente o Brasil tem 190 milhões de especialistas em futebol. Terminado o jogo, chovem explicações e teorias de torcedores que "já sabiam que o Brasil ia perder", apontando culpados e prescrevendo soluções que certamente teriam evitado o pior. Como eu não entendo bulhufas de futebol, nem me arrisquei a dar um palpite: apenas acompanhei o tatibitati das redes sociais. Alguns crucificaram o Felipe Melo, que estragou tudo so-zi-nho, enquanto outros colocaram a culpa no Dunga, porque deixou os jogadores aprisionados demais na concentração, ou não escalou ninguém do São Paulo Futebol Clube para a seleção. Teve até quem sustentou que o resultado era "previsível", porque a FIFA não iria deixar o Brasil ganhar, sendo que na próxima Copa ganharemos a taça em casa. Só essa que eu não entendi. Se vencemos, fomos nós; se perdemos, foi a FIFA? Se a Copa é realmente um torneio de cartas marcadas e resultado combinado, então qual é o sentido de acompanhar tudo e torcer com tanta paixão?

Meu mundo certamente não caiu por causa da eliminação do Brasil, mas tenho que reconhecer que dessa vez fiquei com pena e até meio triste, enquanto em 2006 a única coisa que eu lamentava era o fim das folgas coletivas em horário de jogo. Do alto da minha completa ingenuidade esportiva, me pareceu que nossos jogadores se empenharam, correram atrás de uma virada até o final. E não me envergonho deles. É verdade que ficaram meio instáveis emocionalmente a partir do empate, mas quem no lugar deles não estaria uma pilha de nervos? Sentindo o peso da cobrança e expectativa de 190 milhões de pessoas?

Agora que o Brasil foi eliminado, não vou deixar de dar uma olhadinha nas partidas de amanhã. Não que eu tenha descoberto, da noite para o dia, aos 32 anos, que sou um fanático por futebol: é que quero dar uma conferida no material humano da Alemanha e da Espanha, duas seleções que me foram recomendadas por predicados não exatamente técnicos, se é que vocês me entendem. Se eu vou torcer pela Argentina? É ruim, hein. Eu sou apaixonado por Buenos Aires e me dou bem com os argentinos, mas não tenho saco para o excesso de patriotismo deles diante dos brasileiros - que freqüentemente resvala para a falta de gentileza e a arrogância, tal qual a rixa surrada entre Rio e Sampa. Amigos brasileiros que estão em Buenos Aires neste exato momento contaram que a cidade ficou em polvorosa com a nossa eliminação, com gente comemorando nas ruas e tudo. É mole?

O Brasil fez um muxoxo, as vuvuzelas se calaram (graças a Deus), mas, no fim das contas, entre mortos e feridos, tudo ficará bem. (Curiosamente, muitos que se diziam patriotas já arrancaram suas bandeiras da janela). Eu devo amargar um jejum sem sexo, porque o Daniel Alves já me ligou da África do Sul dizendo que está com sintomas de depressão e não vai conseguir comparecer por um bom tempo. Mas tudo bem: sou um amante compreensivo e não vou me incomodar em botá-lo no colo e fazer cafuné enquanto seus olhos claros fitam o infinito. Dureza maior vai ser o baque de novembro nas urnas. Isso sim é que deveria estar tirando o sono do Brasil.