sexta-feira, 31 de julho de 2009

Rapidinhas baladeiras

NOITE DOS SONHOS Um dos mais concorridos festivais gays do mundo, o Black & Blue faz milhares de belos circuiteiros baterem cartão em Montreal a cada mês de outubro. O site da fundação que organiza o B&B já começou a soltar as informações da edição 2009, e eu fiquei simplesmente pretérito quando soube quem vai tocar na festa principal, em 11/10: Sasha, John Digweed e Dave Seaman. Ouvir os três papas da progressive house, juntos, num centro de convenções gigante [o Palais des Congrès, na foto ao lado] apinhado de homens lindos, parece até um sonho. Enquanto aqui somos obrigados a engolir a gritaria tribal sem reclamar, no Canadá até as barbies ouvem música boa...

YO NO CREO EN BRUJAS... Já em outro festival gay bombado, o Circuit Festival, que começa amanhã em Barcelona, o clima é tenso nos bastidores. Segundo fofoca que ouvi do meu provável único leitor português, as autoridades fecharam o Souvenir, afterhours tradicionalíssimo onde aconteceriam algumas das festas mais esperadas do programa. O Matinée Group, que organiza o festival, corre contra o tempo para achar outro lugar e salvar o fervo das bilus. Não é de hoje que a Espanha anda intolerante com a jogação: de 2007 para cá, a prefeitura de Ibiza vem fechando clubes e proibiu toda e qualquer festa após as 6 da manhã - jogando areia nas day parties da Space, que eram justamente as festas mais especiais da ilha.

DOMINGO EU QUERO VER Tô gostando bastante dessa nova movimentação em torno de baladinhas dominicais em São Paulo (o Mix avisa: é tendência). Como o inverno não inspira pool parties, o jeito é pensar em festas indoor. Primeiro veio a despretensiosa Gambiarra, no Cambridge - que nem é gay, mas começou a atrair um povo cansado das matinês de sempre. Agora, dois projetos novos vêm aí. Dia 9/8, o Sonique estreia seu Café com Vodka, sob a batuta do fervido Duda Hering. No domingo seguinte, é a vez da festa Dalva, que Ailton Botelho e Marcos Costa farão quinzenalmente no Vegas, com o promissor André Garça como DJ residente. Ainda sou fã incondicional da Blue Space, mas vou adorar ter novas boas razões para não sofrer com a aproximação da segundona.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

La Figa: o velho La Lupa é bem melhor

Como pimenta e dendê são dois ingredientes que eu abomino, o meu restaurante preferido em Salvador tinha que ser um... italiano. O La Lupa era uma simpática cantina no final da Rua das Laranjeiras, numa parte menos muvucada do Pelourinho. Como a especialidade da cozinha eram as massas com frutos do mar, de uma certa forma eu estava aproveitando as riquezas locais. Em São Paulo, você paga uma fortuna por um prato com míseros dois ou três camarões - isso quando eles não usam aquele sete-barbas fajuto com gosto de esponja descongelada. Na Bahia, não: vem camarão "CAMARÃO", e vem bastante - pelo mesmo preço que você pagaria num prato de carne.

Na minha penúltima visita, em julho de 2007, vi que a casinha com mesas do lado de fora tinha mudado de nome para La Figa. Perguntei sobre a novidade e o garçom me contou que a cozinha continuava a mesma, e uma nova casa com o nome La Lupa seria aberta na Barra. Desta vez, tive a chance de voltar ao La Figa e também conhecer o novo La Lupa.

No La Figa, tudo como antes no reino de Abrantes: as massas artesanais do cardápio continuam deliciosas e com os mesmos preços justos do passado. Não fiz por menos e me esbaldei no velho Pappardelle Mare i Monti de sempre: com um toque de creme de leite, vinho branco, camarão e shiitake [foto]. A porção individual me custou honestos R$20; para dois, sairia a R$35. Comi devagarzinho, saboreando cada garfada, cercado por aquela mistura divertida de escandinavos e mulatos que só o Pelourinho tem.

Já na casa nova, não vi a menor graça. O La Lupa mudou-se para o térreo de um prédio em plena Ladeira da Barra. E quem arca com o IPTU é o cliente: por um prato individual de massa, eles cobram salgados R$45 e entregam uma porção menor do que a do Pelô. Alguns vão dizer que, pela varanda envidraçada, você vê o mar. E eu vou responder que, pelo valor de uma conta no La Lupa, você tem ambientes muito mais caprichados (o La Lupa não deixa de parecer um restaurante de flat), com vistas muito mais embasbacantes da Baía de Todos os Santos: Soho, Amado, Lafayette, Trapiche Adelaide, Porto Gourmet. Moral da história: na hora de comer, continuo fazendo figa e não abro.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O mapa da mina para uma farra em Barcelona

A vida é injusta: enquanto aqui no Brasil andamos pelas ruas tremendo de frio, de guarda-chuva na mão e barra da calça ensopada, Barcelona está ensolaradíssima e apinhada de homens interessantes, que chegam de várias partes do mundo atrás de um verão de hedonismo, curtição e aventuras. A ferveção gay na capital catalã chegará ao seu auge a partir do próximo fim-de-semana, quando começa a segunda edição do Circuit Festival, com cinema, palestras e muuuuitas festas (a The Week vai levar alguns de seus DJs para tocar no famoso after Souvenir). Fui conferir o Circuit Festival em 2008 e garanto: é babado & confusão mesmo.

Aos amigos e leitores que já estão de malas prontas, uma dica: escrevi para a revista DOM deste mês (com o ator Júlio Rocha na capa) uma matéria de viagem sobre Barcelona, entregando o serviço completo para quem quiser aproveitar ao máximo a cidade. Está tudo lá, bem mastigadinho: hospedagem de vários tipos, restaurantes, compras, praias, baladas, pegação... Buen viaje, y que disfruten! Entre uma jogação e outra, você pode dar pinta cas culega no Parc Güell.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Viva a fé-dé-ração só-té-ró-pó-litana

A Lei de Murphy é mesmo implacável. Fazia quase um ano que minha audiência em Salvador estava para ser marcada. Poderia ter sido em qualquer um dos oito meses em que a cidade é puro sol, mas não: tinha que cair justo no auge do inverno, quando o tempo fica invariavelmente chuvoso. Já cheguei preparado para o pior, mas até tive um pouco de sorte. Entre um toró e outro, peguei algumas horinhas de praia e consegui ver um pôr-do-sol [foto acima] logo antes de voltar para o aeroporto.

Além de cumprir minha agenda de trabalho, matei a saudade dos amigos só-té-ró-pó-litanos e me atualizei sobre o que mudou na capital baiana de 2007 para cá. Nos dias nublados, as bees vão bater perna no novo Salvador Shopping (não fui conhecer; por fora, ele é todo bonitão e imponente). Antes da balada, o esquenta oficial é o bar Marquês, um charmoso casarão antigo na Barra, com detalhes em estilo art nouveau. Há poucas mesas e o povo toma seus drinks em pé mesmo, mais ou menos como no nosso Ritz, ao som de uns electros fofos e divertidos. A luz baixa e o clima bem informal favorecem os contatos com gente nova.

Depois, o destino ainda é o mesmo de sempre: a Off Club. Mas a boate sofreu uma maxi-reforma e ficou irreconhecível. O espaço físico da casa está bem melhor aproveitado. Agora a pista é só no térreo; o mezanino não tem mais aqueles cantinhos abusados onde a gente levava fio-terra e papanicolau. As cabines acolchoadas embutidas na parede ficaram ótimas. No sábado, o clube hiperlotou para ouvir um DJ novinho do Rio de Janeiro, de cujo nome não me recordo (só sei que ele dublava todas as músicas na cabine, tipo o Offer Nissim, mandava beijos e acenos, e marcava a virada das músicas com inusitados golpes de karatê). Um passarinho verde me contou que Salvador ganhará um novo clube gay dentro de 2 ou 3 meses.

Na barraca Marguerita, na Praia do Flamengo, os bofes continuam bons (e as tatuagens, cada vez mais medonhas). Encontrei um casal amigo de São Paulo e fomos jantar no classudo Trapiche Adelaide, o primeiro dos restaurantes bacanudos do Contorno, com aquela vista incrível da Baía de Todos os Santos. A comida estava apenas OK - só o carpaccio de polvo era realmente especial. Nem sempre as melhores refeições em Salvador são as mais caras: o melhor pudim de leite condensado do mundo, por exemplo, continua custando módicos R$2 na Cubana, ali no Elevador Lacerda. Também fui conhecer o novo La Lupa (de que falarei num post separado) e perdi a linha (como sempre!) na Doces Sonhos da Vitória. Morram comigo: duas camadas de pão-de-ló com uma camada de pudim de leite condensado no meio, cobertura de doce de leite condensado e morangos fatiados! Pena que o bolo sai de cena no dia 27, quando termina o Festival do Morango.

Com quatro visitas no currículo, ainda acho dificílimo entender o yakissoba viário que é Salvador, com suas avenidas sinuosas e idênticas (a Centenário é igual à Garibaldi, que é igual à Vasco da Gama, e por aí vai). Ao mesmo tempo, me sinto cada vez mais familiarizado com as pessoas e os lugares de que gosto. Vira e mexe, eu me pego pensando quando é que finalmente irei conhecer o Carnaval de lá. Por um lado, me atraem o alto astral e a possibilidade de beijar o maior número de morenos dourados que já vi na vida. Por outro, depois do desconforto da última Parada Gay de São Paulo, não sei se estou disposto a encarar grandes aglomerações de rua, sem conforto e segurança. Isso sem falar que a Parada de SP dura cinco horas - e o Carnaval baiano, cinco dias. Vamos ver o que eu decido até lá.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Um espetáculo chamado Inhotim

As últimas duas semanas foram tomadas por viagens de trabalho e muita correria (daí a escassez de posts no blog). Meu primeiro compromisso foi no interior de Minas Gerais, mas dei um jeito de esticar até Belo Horizonte, e finalmente pude conferir uma incrível atração que tinha ficado de fora da minha visita em abril: o Inhotim.

Mais do que um simples museu, trata-se de um centro de arte contemporânea, instalado em uma reserva ambiental, na cidade de Brumadinho (a 1 hora de carro da capital). Espalhados pelo parque, dez pavilhões abrigam obras de diversos tipos, incluindo algumas instalações interativas, que despertam os sentidos e mostram que a criatividade do homem não tem limites. Como se não bastasse, o próprio projeto paisagístico do espaço é uma atração à parte. Dá para passar o dia ali, curtindo o visual do lugar, entre uma galeria e outra. Um belo restaurante, com bufê caprichado, dá o arremate em um programa simplesmente perfeito.

Saí de lá deslumbrado, sem entender como uma maravilha dessas não tem divulgação maciça no Brasil e no Exterior. Tenho certeza de que não existe no mundo nada parecido com o Inhotim - essa combinação entre arte, arquitetura e natureza é única. Recomendo a todos, sem restrições. Até o vídeo institucional do museu é bacana.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Livres para continuarem presos

Há três meses, a DOM me convidou para desenvolver uma pauta diferente das colaborações que eu vinha fazendo para a revista. Em mês de parada gay (a matéria era para a edição de junho, aquela com o modelo negro na capa), a ideia era fazer uma reflexão sobre os diversos padrões de beleza que imperam no meio LGBT. Para isso, eu tinha que entrevistar gays, lésbicas e trans bem diferentes entre si (ou melhor, que compusessem um painel esteticamente heterogêneo) e ouvir o que era "bonito" para eles, como cada um lidava com a própria beleza e também o que valorizava nos outros.

Como o assunto era justamente a aparência, não bastava colher algumas aspas (declarações) anônimas dos entrevistados, como fiz na matéria sobre sexo pago: era fundamental que eles aparecessem na revista. Mas, para meu espanto e surpresa, foi dificílimo encontrar personagens para a matéria. Ninguém queria mostrar a cara. Amigos e conhecidos que sempre foram bem resolvidos, que haviam assumido a própria sexualidade para famílias e amigos sem maiores grilos, ficavam ruborizados diante do meu convite e gaguejavam até finalmente responderem... que não topavam. Mesmo quando eu explicava que a matéria não devassaria a intimidade, nem exporia gostos sexuais. O simples fato de aparecer em uma revista gay, ainda que ela fosse lida quase exclusivamente por outros gays, era demais para a cabeça dessas pessoas.

Algum tempo depois, no finalzinho de junho, recebo por e-mail o release de um novo site gay (sobre o qual eu nunca tinha ouvido falar, e continuo não ouvindo), chamado Dolado. Vou guardar as impressões sobre o site para uma outra oportunidade (por enquanto, apenas adianto que levei uns 5 minutos para decifrar o nome: "do lado", entenderam?) e me ater ao que o release colocou como a razão de ser do novo produto. "Um site que pudessem acessar publicamente, sem expor sua sexualidade ou serem rotulados", "para atender ao público gay e aqueles que preferem ficar longe dos rótulos". Diz o slogan: "eu sou gay, eu sou sem rótulo, eu sou dolado". Longe de rótulos... ou dentro do armário mesmo?

Revelar ou camuflar a própria orientação sexual, total ou parcialmente, é uma escolha individual que deve ser respeitada; sou totalmente contra arrancar outras pessoas do armário em nome de um suposto "bem" à causa gay. Respeitei quem não quis colaborar com a minha reportagem, assim como quem precisa de um site que "fuja de rótulos". Mas essas coisas me mostraram que a naturalidade com que eu enxergo certas coisas é bem menos comum dentro do próprio meio do que eu imaginava.

Às vezes minha mãe discute comigo; ela me chama de ingênuo, diz que o mundo é perverso e eu não meço as conseqüências ao não me importar com a opinião dos outros da mesma maneira que ela. Ela acha que eu vivo numa bolha de tolerância e isso faz eu baixar a guarda mais do que deveria. Talvez ela esteja certa: quem circula em ambientes relaxados tende a se expor mais. Mas não sei se isso é necessariamente ruim - pelo menos para mim, a vida fica muito mais leve assim.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Meu sonho é continuar bem perto

Estávamos eu e alguns amigos batendo um papo solto, falando sobre ambições materiais, planos para o futuro, e o assunto acabou naquele jogo de "o que você faria se ganhasse bastante dinheiro". Todos se puseram a imaginar o endereço das suas casas ideais, e comparar as respostas. A minha teria que ser em uma entre cinco regiões: Moema, lado pássaros, de preferência na Inhambu, Pintassilgo, Tuim ou Pavão; Vila Mariana, entre o Instituto Biológico e o Metrô Ana Rosa; Paraíso, especialmente na Teixeira da Silva; o trecho da Alameda Franca entre a 9 de Julho e a Melo Alves; ou Sumaré, no finalzinho da Dr. Arnaldo, Rua Havaí, Bruxelas, Apinagés.

Todos esses são bairros bons para se morar. Mas eu poderia ter citado outros, alguns até mesmo mais caros, já que naquela brincadeira dinheiro não era problema: Higienópolis, Vila Nova Conceição, Jardim Europa, Pacaembu, Cidade Jardim, Butantã, Morumbi. O que havia influenciado minha escolha? Depois de pensar um pouco, percebi que todos os lugares que eu havia selecionado me eram mais do que familiares: eles tinham adquirido um significado pessoal na minha infância. Cresci andando com minha mãe por Moema, brincando em uma pracinha perto de casa. Meus avós maternos sempre moraram na Vila Mariana e minhas tias-avós, no Paraíso. A Alameda Franca era a rua dos meus avós paternos. No Sumaré ficavam a minha psicóloga e a casa de uma prima do meu pai, para onde eu ia logo depois da terapia.

Comecei a me perguntar se essa busca da memória afetiva era uma particularidade só minha, uma simples demonstração de apego ou saudosismo. Tenho amigos que já passaram por inúmeros endereços, em várias zonas da cidade, sem jamais olhar para trás. Por outro lado, eu, em 31 anos de vida, morei sempre no mesmo apartamento, olhando sempre pela mesma janela do mesmo quarto. Encaixotar coisas, só quando era inadiável pintar a casa. Minha experiência é bastante peculiar, mas, pensando melhor, o apego às raízes não é assim tão incomum, nem tem a ver com nascer em bairro nobre ou pobre. Já li entrevistas de gente humilde que ganhou dinheiro na televisão ou no futebol e, apesar de ter melhorado de vida, optou por comprar uma casa no mesmo bairro ou morro. No Rio, muitos suburbanos que ascendem migram para a Barra; em São Paulo, eles podem mudar para o Tatuapé, mas preferem não sair da Zona Leste.

Continuando o jogo do faz-de-conta, imaginei que, se eu fosse milionário mesmo, também compraria um apartamento no Rio, para usar como refúgio hedonista e garçonnière de verão. Minha escolha ali provavelmente ficaria com o Posto 6: Conselheiro Lafaiete, Rainha Elisabeth, Bulhões. Mesmo com possibilidade de trocar o povão de Copacabana pelo charme arborizado do Jardim Botânico, a fofura interiorana da Urca ou o "jeito Manoel Carlos de ser" do Leblon, acho que eu ficaria mais feliz tomando o mesmo café-da-manhã no supermercado Zona Sul da Francisco Sá e fazendo o mesmo caminho a pé até a praia. Não por acaso, foi no Posto 6 que moraram uns amigos cariocas muito queridos, e a casa deles foi, por muito tempo, minha referência e minha casa também.

sábado, 4 de julho de 2009

Pequeno guia da gastronomia econômica

A menos que você se contente com a praça de alimentação do shopping, comer fora pode custar um bom dinheiro. Os três lugares que os gays frequentam à exaustão (Spot, Ritz e Mestiço) não são exatamente baratos, assim como boa parte dos meus restaurantes favoritos (Due Cuochi, Carlota, Nam Thai, Sal Gastronomia, Mori). No entanto, a cena gastronômica de São Paulo é vasta e também tem boas opções para quem não quer gastar muito. Em tempos de vagas magras e orçamentos apertados, divido com vocês algumas sugestões mais econômicas do meu roteiro. São opções para todos os gostos e apetites, sempre com uma relação custo-benefício atraente. Aproveitem.

COMEDORIA [foto]. Com jeitão de "refeitório dos Jetsons", o modernoso restaurante do SESC Pinheiros é uma das opções mais bacanas para quem quer almoçar com alguma dignidade e gastar o mínimo possível. Você pode escolher entre o prato do dia, que já vem montado ("Fogão Cultural"), ou uma segunda opção ("Brasileirinho") em que se paga separadamente por cada item. Molhos cheios de bossa ajudam a fugir do trivial: o filé de frango ganha um toque de gengibre e mel ou laranja e curry, o pernil vem preparado com romã ou damasco, o peixe é servido com um creme de kani kama ou uva itália. Mesmo com saladas e sobremesas à parte, é difícil gastar mais do que 15 reais. Rua Paes Leme, 195, Pinheiros.

ATHENAS CAFÉ. Com localização estratégica, bem na esquina do Espaço Unibanco de Cinema, esse despretensioso bar-restaurante vê sua clientela aumentar a cada noite. Quem fica só na cerveja não sabe que os pratos do cardápio saciam até mesmo os mais famintos - sobretudo os fartos grelhados, que vêm com três acompanhamentos, depois de uma salada também incluída. Os preços são camaradas: o frango athenas (iscas de frango marinadas em laranja e tomilho) custa apenas R$19. Para confirmar a temática grega do lugar, não poderia ficar de fora o típico moussaká (gratinado de berinjela, batata e carne moída, coberto com molho bechamel). Rua Augusta, 1.449, Cerqueira César/Consolação.

CENTRAL DAS ARTES. Um dos meus xodós na cidade, ocupa um gostoso sobrado modernista, com cadeiras e luminárias coloridas. A parede envidraçada mostra uma linda vista de Perdizes, emoldurada pelos prédios da Paulista no horizonte. O menu tem sanduíches, sopas e saladas, mas a especialidade são os crepes. Indico o rodin (mussarela, presunto, catupiry e maçã), o dijon (queijo derretido, cebola dourada e mostarda francesa) e o arpad (chocolates ao leite e branco, castanhas maceradas e sorvete de baunilha). Rua Apinagés, 1081, Sumaré.

CONSULADO MINEIRO. Velho conhecido de quem ferve na Praça Benedito Calixto nas tardes de sábado, é completamente gay friendly e serve culinária mineira caprichada, em porções generosas: dois pratos satisfazem 5 pessoas. Poucos se lembram que o Consulado tem um segundo endereço, a algumas quadras dali, onde a economia é ainda maior. A filial da Cônego prepara, no almoço de segunda à sexta-feira, um incrível bufê, com todas as especialidades da casa, por apenas R$18,90. É quase bom demais para ser verdade. Praça Benedito Calixto, 74; Rua Cônego Eugênio Leite, 504, Pinheiros.

CHARLES PIZZA GRILL. Paladares mais exigentes costumam encarar a palavra "rodízio" com um pé atrás. Afinal, nesses lugares, a quantidade da comida tende a ser mais importante do que a qualidade. O caso da pizza, símbolo maior da gastronomia paulistana, inspira desconfiança ainda maior. Mas esta casa surpreende, com redondas de excelente qualidade, que vão desfilando seguidamente - para cessar o bombardeio, gire o sinal da mesa até a posição vermelha. As fatias são pequenas, para que se possam provar vários sabores. Não perca a de shiitake, a de camarão com catupiry e do chef (molho de tomate, mussarela, catupiry, parmesão, rodelas de tomate e alho). Preços por pessoa: R$25,90 (2ª-5ª) e R$28,90 (6ª-dom.). Av. José Maria Whitaker, 1785, Planalto Paulista.

SUJINHO. Prestando bons serviços à boemia paulistana desde 1921, é endereço certo para quem quer consumir quantidades cavalares de carne, sem cair numa churrascaria. O horário elástico - até as 5 da manhã, todos os dias - é herança do tempo em que a casa era conhecida como "Bar das Putas" (alcunha que lhe confere um ar "cult"). O carro-chefe é a bisteca bovina (R$24), que tem nada menos do que 700 gramas (difícil conseguir comer sozinho). Para acompanhar, guarnições old school como salada de repolho, cebola, polenta, mandioca e batata frita. Leve dinheiro ou cheque: a casa não aceita cartões. Rua da Consolação, 2078, Consolação.

LA TARTINE. Vizinho de porta do concorrido Mestiço (que já foi bem mais barato, diga-se de passagem), esse bistrozinho é fofo até não mais poder: um dos lugares mais aconchegantes da cidade, perfeito para uma noite de inverno. O menu é curto, com sugestões leves da cozinha francesa, como saladas, sanduíches gratinados e quiches (a de queijo de cabra é imperdível). Além disso, há sempre dois pratos do dia, entre opções clássicas como coq au vin, boeuf bourgignonne ou filé com molho de pimenta verde. Com preços amigos e poucas mesas, o lugar está sempre cheio - mas a espera, no bar do andar de cima, é agradável. Rua Fernando de Albuquerque, 267, Consolação.

LA TRATTORIA. Bixiga? Que nada! Quando o assunto é cantina italiana - daquelas bem tradicionais, com massas e molhos de todos os tipos, a preços justos - meu destino é sempre Pinheiros, onde desde 1978 funciona o La Trattoria. Em ambiente simples, com toalhas vermelhas e pôsteres nas paredes, tem cardápio extenso, com ótimos pratos gratinados, que chegam fumegantes à mesa. No almoço executivo, os preços são ainda menores - o parmegiana com linguini salva qualquer dia chato de trabalho. Do outro lado da rua, há outra cantina também tradicional, a Nello's, que não me agrada tanto quando esta. Rua Antônio Bicudo, 58, Pinheiros.

GOPALA MADHAVA. Muitos anos antes que a Rede Globo mostrasse a Índia na novela das oito, o antigo Gopala Prasada atraía todos os dias uma pequena multidão, que fazia fila para comer seus PFs indianos vegetarianos. Com o sucesso, o restaurante foi expandido para uma casa vizinha, mas as sócias se desentenderam e seguiram caminhos diferentes. A primeira casa virou Gopala Madhava e sua cozinha se manteve bem mais fiel ao sabor original do que a segunda, Gopala Hari. De segunda a sábado, são duas opções fixas, com sopa, salada, prato, suco e sobremesa, a R$ 18 (sábados, R$22). Mesmo quem não é muito natureba consegue se virar bem com o cardápio, que pode ser consultado aqui. Rua Antônio Carlos, 413, Consolação.

UNI no MASP. No subsolo do Museu de Arte de São Paulo, encontra-se um dos almoços com melhor relação custo-benefício da Avenida Paulista. Já falei sobre ele no blog, aqui. No bufê, que custa R$24,20 por pessoa (sábados, R$26), uma variada mesa de saladas, além de pratos quentes como cordeiro com molho de hortelã, sobrecoxa de frango em crosta de aveia e peixe saint-pierre com creme de pimenta rosa. Para fechar os trabalhos, a mesa de doces tem bolo trufado, morangos com chantilly e suspiros, além de um delicioso brigadeirão. Av. Paulista, 1578, Bela Vista.

LA FARINA. Este restaurante tradicional é uma das poucas opções gastronômicas que se mantiveram seguras quando o Centrão entrou em decadência. O ambiente, com sofás de couro, seria vintage se não fosse todo original. O ar antiquado se mantém no cardápio, com pratos como o filé à cubana, servidos em grandes travessas de metal, com os acompanhamentos ao lado. A cozinha se sai bem em várias direções: na feijoada, no strogonoff e em massas como o rigatoni à pasticciata, recheado de queijo e gratinado com cogumelos frescos e secos. As porções são grandes, então dá para dividir e gastar menos. Rua Aurora, 610, Centro.

DEVASSA. A cervejaria repetiu em sua primeira filial paulista o mesmo sucesso das unidades do Rio de Janeiro, com "bombação" na happy hour e cardápio bastante versátil, que vai além da cozinha de botequim. Há coisa de um mês atrás, saiu no Guia da Folha que o bufê de feijoada, servido aos sábados, tinha caído de R$34 para R$25,50 - e ainda dava direito a um desconto de 50% para o acompanhante. Uma pechincha - será que continua valendo? Al. Lorena, 1040, Jardins.

LA BUCA ROMANA. No meio do caminho entre cantina e restaurante, é uma boa pedida quando cada pessoa do grupo tem apetite para um tipo de comida diferente. Além das massas, bons pratos de carne, peixe e frango (gosto do pollo maraviglia: peito gratinado com creme de cebola, maionese e parmesão, mais fettuccine quatro queijos). Animados com o bom retorno da participação na Restaurant Week, o La Buca tornou permanentes os menus econômicos feitos para o evento, que continuam saindo a R$25 (almoço) e R$39 (jantar). Fora deles, os pratos do cardápio normal já foram bem mais em conta, mas ainda são honestos. Rua Oscar Freire, 2.117, e Top Center (Av. Paulista, 854).

GOA. Restaurantes naturais são baratos, mas o ambiente bicho-grilo e a apresentação dos pratos não costumam ser atraentes. Este (que se chamava Gaia) é uma exceção: lugar descolado e pratos bonitos, com opções veganas para os mais ortodoxos. Há o menu do dia, com 3 opções de prato, mais entrada, suco e sobremesa, por R$20,90, e a "opção verão", com prato e suco, por R$14,90. Entre as sugestões que se revezam, a feijoada e o hambúrguer vegetariano são hits. Depois de comer, desça as escadas para o agradável jardim de inverno, faça de conta que está com a barriga cheia e descanse em uma das simpáticas redes disponíveis. Rua Cônego Eugênio Leite, 1152, Pinheiros.

PEPITTO. Arrumadinho, com direito à luz de velas, dá a impressão de ser mais caro e refinado do que de fato é. É um dos tentáculos da rede Don Pepe di Napoli, que tem várias casas espalhadas pela região, e tem o mesmo sotaque italiano de seus irmãos. O melhor é investir nas massas e nos polpettones. Sem grandes pretensões, é um bom lugar para um jantar a dois, quando não se pode gastar muito, especialmente num bairro caro como Moema. Al. dos Arapanés, 1307, Moema.

SINHÁ. A muvuca na porta após as 12h denuncia: tem coisa boa e barata ali. A decoração rústica, com parede de tijolos e fogão à lenha, remete a uma casa de fazenda - assim como a fartura do bufê, que tem base brasileira, com pitadas de sofisticação. Assim, ao lado do feijão tropeiro e do nhoque de mandioquinha, você pode encontrar um frango com molho de mostarda ou uma pescada com redução de tangerina e pimenta. Da grelha, sai um suculento bife ancho argentino, que vai bem com as batatas fritas, sempre no ponto, ou o risoto do dia. As sobremesas são matadoras, especialmente o pudim de leite condensado. Custa R$23 (2ª-6ª) e R$30 (fds). Rua Antônio Bicudo, 25, Pinheiros.

PILICO E BIA. Pagar barato para comer macarrão ao sugo é fácil; difícil é economizar quando se quer comer camarão. Milagres não existem, mas uma opção honesta é o Pilico e Bia - uma casinha acanhada, muito simples, com parede de azulejos, escondida numa travessa da Eusébio Matoso, perto do Shopping Eldorado. Eu mesmo só conheço porque trabalho ali perto. Os próprios donos tocam o negócio e fazem ótimos bobós e moquecas, que podem ser de camarão, lagosta, lula ou polvo, além de outros peixes e petiscos de mar. Rua Diogo Moreira, 296.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Divã: reinventando a própria história

Não gosto de filmes com anões e elfos. Ou magos e bruxos. Ou galáxias distantes. Ou cachorros inteligentes. Ou machos-alfa que grunhem "uga buga" enquanto trocam tiros e sopapos e se esquivam de explosões, em seqüências de ação "cinematográficas". Ou desenhos animados que viram trilogias intermináveis. Eu gosto mesmo é de filmes que tratam de histórias humanas. Se eu puder me identificar com elas, então, melhor ainda. Por isso, adorei Divã, filme estrelado pela Lília Cabral - atriz que ganhou ainda mais o meu respeito, e passa a impressão de ser uma pessoa muito simpática na vida real.

Aí alguns podem dizer: "Putz, então você se identifica a história de uma balzaquiana que vê seu casamento degringolar, precisa dar um up na vida e vai fazer terapia?! Que coisa mais triste!" Que nada: Divã é um filme leve, "pra cima" e otimista. Tem momentos deliberadamente feitos para serem engraçados (a cena em que a protagonista Mercedes prova um baseado dentro do carro é antológica), mas o grande trunfo são as tiradas espirituosas do livro de Martha Medeiros, que ganharam mais força na tela. A adaptação foi muito fiel ao texto original, com pequenas atualizações. Em uma delas, por exemplo, Mercedes se joga num clube gay (aliás, só mesmo no cinema duas pessoas conseguem entrar juntas no banheiro da The Week sem que a segurança derrube a porta e faça um escândalo...)

O filme passa voando, da mesma forma que o livro, que você lê num só trago. É sempre inspirador ver histórias de gente que quebrou seus próprios paradigmas e ousou se reinventar, passando a viver uma vida mais solta e livre. A sociedade espera que as pessoas se aquietem depois de uma certa idade, mas nunca é tarde para repensar as escolhas, permitir-se experimentar outras coisas, outros parceiros, outras ondas. De certa forma, passei por algo parecido depois de ter sido atropelado, em 2006: aquele acidente em Copacabana foi o divisor de águas de uma vida nova, da qual o melhor exemplo é o curso de jornalismo que vou continuar fazendo ("você não vale nada, mas eu gosto de você!").