"Mesmo com uma freqüência menor, faturamos mais. Quem entrou, consumiu. Não queremos bibas truqueiras que pegam garrafa vazia no chão para tomar água na torneira do banheiro ou tumultuam a fila para entrar como VIP sem ser". Com essas palavras, que teriam sido ditas por André Almada ao jornalista Sérgio Ripardo, da Folha de S.Paulo, a The Week justificou sua nova política de preços, que incluiu aumentos substanciais no valor da entrada. O preço da lista de descontos foi para R$ 40 e, na porta, agora paga-se R$ 50 para entrar. Para pagar menos - R$ 30 - é preciso já ter sido cadastrado e recebido um cartão-fidelidade pelo correio. E tudo isso em noites normais, em que tocam apenas os DJs residentes. Como era de se esperar, essas declarações provocaram o maior bafafá no mundinho.
Quem conhece o meio gay sabe bem que tem um monte de verdades ditas aí. Afinal, se há uma coisa que as bichas adoram fazer, é comer sardinha e arrotar caviar. Daí vem a gíria "truqueira": que dá o truque, quer enganar, fingir ser o que não é. Não faltam exemplos de gays que fazem verdadeiros malabarismos para sustentar ícones de status (o jeans da Diesel é um clássico) que são pouco compatíveis com seu real padrão de vida. A conseqüência é sabida por todos: para compensar a ostentação aqui, é preciso apertar ali, e isso inclui mendigar a entrada grátis na boate, numa verdadeira gincana de caça e puxa-saquismo de quem controla a lista vip - no caso da The Week, a hostess Grá Ferreira [mas, com a nova estratégia, justamente para acabar com esse assédio, a lista foi extinta e agora só entra de graça o "verdadeiro vip", que recebe um cartão especial pelo correio]. Até aí, tudo bem, nenhuma novidade.
No entanto, é certo que algumas verdades não devem ser ditas, especialmente para a imprensa. Muito menos por quem ocupa a posição de André Almada. Se ele realmente disse isso, suas palavras foram, no mínimo, de uma deselegância atroz. Sem perceber, o frontman da The Week se pôs exatamente no mesmo nível das tais bibas "penosas" tidas como malditas pela casa. Confesso que fiquei chocado com a matéria, especialmente porque uma das características que sempre me chamaram a atenção no André foi seu extremo tato e gentileza com todos. Ele sempre soube ser muito político - mesmo quando a saia era justa.
Como estabelecimento comercial voltado ao lucro, a The Week pode fazer o que bem entender. A casa é mesmo incrível, colocou São Paulo em posição de destaque entre as principais capitais do mundo quando o assunto é boate gay. E é claro que, com tantos predicados, ela passa a atrair mais e mais gente, a tendência é justamente o público se ampliar, num processo de democratização inevitável que toda casa vive quando começa a chamar a atenção. Com essa ampliação, a freqüência se diversifica e às vezes a casa acaba perdendo o foco do início. Aos poucos, a The Week estava mesmo se tornando um "balaio de gatos" e, numa cena em que os preconceitos são muitos, nem todos acham bem-vinda essa pluralidade. Se o público-alvo da casa é o gay de elite, rico e bonito, a solução mais fácil para recuperar o foco é justamente subir os preços e fazer uma peneira forçada.
Mesmo assim, por mais que a The Week tenha um objetivo claro e esteja lutando por ele, ela não deveria deixar de ter um pé na realidade - sob pena de acabar dando um tiro no pé. André Almada está convicto de que, mesmo com uma freqüência menor, a casa vai faturar mais. Que ela se garante com os que passarem na peneira dos preços. Mas... será que a cena gay de São Paulo tem tanta "top" assim ? Não digo as ditas "tops" que, por questões estratégicas variadas, são "vipadas" pela casa e nada pagam, mas sim as "tops" de verdade, que efetivamente pagam a entrada cheia de R$ 50, consomem bem e bancam sozinhas a casa. Bancam mesmo ? São Paulo tem uma fartura de bibas afortunadas, capazes de fazer bombar aquele espaço enorme ?
Meu singelo palpite é que não.
O que vai acontecer agora é uma incógnita. Muita gente achou a nova postura da The Week extremamente antipática, e com razão. E não só as tais "penosas" que, reza o folclore, pegavam três conduções para chegar e foram excluídas. Mas gente que tem dinheiro (e também senso crítico) começa a questionar se a The Week realmente vale tudo isso. Afinal, até mesmo por ter chegado a uma fórmula vitoriosa, a casa já não se esforça tanto para agradar como no começo. Essa é a deixa perfeita para que a concorrência finalmente ouse colocar as asas pra fora. Sérgio Kalil, por exemplo. Não que os gays descolados ainda se atraiam pelo seu gosto irremediavelmente cafona e datado (para ele, os anos 90 ainda não acabaram...) - mas, repito, o mundo gay não é feito só de "tops". Quem acha que é e pensa assim são aquelas eternas sonhadoras, que colocam em sites de encontros anúncios exigindo um homem perfeito que simplesmente não existe.
9 comentários:
Realmente eu não me acho o truqueiro pq assumo já ter ido diversas vezes à TW e sair de lá após consumir apenas garrafinhas d'água e olhe lá. Longe de ser hipócrita, posso dizer que não sou um top, um VIP com cartão (como milhares) ou sem cartão (como outros milhares), porém estou longe de ser um truqueiro por definição atribuída ao Almada. Mais do que um lugar bacana com gente bonita, é preciso pensar que após um certo tempo não apenas grana, mas também motivos justificam freqüentar um lugar ou não. Motivos como: o q ganho ao enterrar horrores de dinheiro numa noitada em balada sabendo q muitas das pessoas aparentemente interessantes q eu poderia conhecer, na verdade estão/estarão drogadas? Vale a pena pagar caro por poucas horas de suposta diversão e paquera? A Benedito está lá, livre, a céu aberto, com clima leve e descontraído.
A verdade é que não vou negar ter freqüentado a casa desde sua abertura, de ter praticamente riscado do mapa outros locais não menos dignos e mais: de ter testemunhado toda a transformação sofrida. Houve muitos pontos a favor, há DIVERSOS em contrário. Aumentar o preço é uma estratégia, porém público qualificado é público que pensa. E não pensa apenas com o cérebro, mas pelo bolso também.
Seja como for, o texto deste post é brilhante. Aponta coisas que a mídia oficial deveria fazer, porém abdica já que tem o rabo beeem preso, provavelmente pra descolar tb uma entradinha VIP na balada!
É, eu acho até que ele, o Almada, repensou essa postura. Recebi mailing na TW hoje com a seguinte tabela:
R$25 - Membership Gold
R$30 - Lista
R$40 - Flyer
R$50 - Na porta sem nada
Olha, do alto da minha arrogância e, mesmo tendo o cartão da TW, acho bem salgados os preços. Se você comprasse o passe para a closing party da Space de Ibiza NA PORTA, pagaria 60 euros, o que para os padrões europeus é uma bagatela perto dos 50 paus daqui. O grande termômetro disso tudo será a rentabilidade do clube daqui para a frente, se as pessoas vão deixar de ir ou não. Na Fabric de Londres são 10 libras para entrar. Meu amigo que trabalha com produção em BCN falou que lá, se for caro, a galera simplesmente boicota. Ainda bem que eu pedi minha carteirinha de bunita logo no começo e já estou aceitando propostas... hahahahá...
Dear, assino embaixo! Os 30 reais eram o "limite tolerável", ainda mais que, num geral beirando o absoluto, quem paga essa entrada na íntegra é quem mais consome lá dentro...
Em tempo: TW mandou e-mail nesta semana informando da restauração dos "valores antigos".
mandei um e-mail E-NOR-ME!!
um beijo dilicioso nas suas boxexas que só a lindi sabe dar!!
nhé!!!!
Meu lindinho, se esse email com os valores antigos chegou a ser enviado ao mailing list da TW, voce estava certissimo. Nao adianta... estava muito caro!
Beijos e se os controladores de voos permitirem ( hoje em dia quem controla o ceu sao eles, nao Deus ) nos vemos em uma semana.
Olha que falha a minha! Não tinha lido seu post sobre a The Week. Li agora e achei PERFEITO! Não é a toa que sou seu fã. E essa historia ainda tem muito para contar... a arrogancia desceu um pouco pq percebeu que nem tudo na vida são vips flores de verão. bjs e apareça.
Achei muita inteligente e desapaixonada a sua analise. E isso ae mano.
Seria muito importante saber que apesar de tudo, a maioria das pessoas que frequenta a the week sao pessoas pobres, as chamadas de barraqueiras, porem são as que dão o lucro para a casa , que faz a casa lota,quase todos finais de semana. como ja dito, nem todo mundo que frequenta são vips. portanto vale repensar o comentário feito com tanta arrogancia.
Bem o texto acima eh incrivel, adorei o detalhe referente a postura do Andre Almada. Nao foi uma postura de classe o que ele falou se realmente falou.
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