sábado, 24 de março de 2007

SPKZ: nada se cria, tudo se copia

Enquanto os moderninhos continuam entretidos com a "santíssima trindade" formada pelos clubes D-Edge, Vegas e Glória, três novos espaços tentam, sem muito alarde, conquistar um lugar ao sol na cada vez mais diversificada cena eletrônica paulistana: o Clash, o Audio Delicatessen e o SPKZ.

Ontem fui conhecer o SPKZ (pronuncia-se "speakers", alto-falantes em inglês). É um sobradinho preto, numa esquina da congestionada Rua Inácio Pereira da Rocha, em plena Vila Madalena. Pelo que sei, ele abre de quinta a sábado, sendo que as quintas (chamadas Galak) têm residência do Márcio Vermelho (que está numa fase bem minimal), e as sextas (Heat) misturam electrohouse e house progressivo, com o argentino Gabo (que andou meio mal de saúde, teve inclusive dois enfartes) e convidados. Ontem era uma noite especial com um convidado dinamarquês, um tal Jokke Ilsoe, cujas produções, dizem, estão no case de feras do progressive house como Sander Kleinenberg, John Digweed, Danny Tenaglia e Anthony Pappa. Achei o currículo do cara bem convincente e resolvi me aventurar.

A primeira coisa que chama a atenção no SPKZ é como eles beberam descaradamente na fonte de outros clubes na hora de bolar a decoração da casa. Para entrar na pista, é preciso atravessar pesadas cortinas de veludo bordô que remetem ao Vegas. Atrás do bar, quadrados brancos com neons coloridos piscam e mudam de cor com a música, igualzinho ao D-Edge. E uma parede da pista é inteira forrada de espelhos, uma "boa sacada" que consagrou o Glória.

Apesar de nada originais, essas idéias funcionam bem: são soluções de baixo custo que conseguem dar uma cara bonitinha a um espaço que, de outra forma, seria apenas uma garagem preta. Já no andar de cima, a mistura de referências não é nada harmoniosa: à esquerda, há um lounge com paredes e sofás de couro vermelhos, que parece citar o Lov.e, e, do lado direito, o que se vê é um bar praiano, com decoração despojada em bambu, que destoa completamente do resto da casa. Do cardápio, além dos bebes de praxe, podem-se pedir temakis, wraps e até churros (!). É como se você tivesse errado de entrada e caído por engano no bar vizinho.

Tudo isso poderia ser duramente criticado se o SPKZ tivesse a pretensão de ser "o novo clube da moda", capaz de atrair os fashionistas com noites de electro e festinhas do site da Erika Palomino. Mas o foco não é esse: o lugar é completamente descompromissado, não faz questão de destronar ninguém, quer apenas ser mais um espaço para projetos eletrônicos na cidade, num bairro que era bastante carente de opções desse gênero. Essa mesma postura low profile parece ser a dos freqüentadores, todos héteros e tranqüilíssimos, sem afetações, sem confusões - e também sem grandes emoções. O tal dinamarquês mandou muito bem no som, uma mistura bastante atualizada de electrohouse com progressive, mas, para aquela molecada pacata de vinte e pouquinhos anos, aquela ali era apenas mais uma noite como outra qualquer.

O próximo fim-de-semana será minha vez de conhecer o Clash. O clube - um galpão na Barra Funda, perto da Blue Space - vai receber, no sábado, uma edição da festa Colors, tradicional núcleo de house de São Paulo. Vou conferir e depois escrevo aqui minhas impressões.

2 comentários:

Gui disse...

São Paulo é suas mil opções.... confesso que esse lado mudernoso das pessoas me cansa um pouco, mas é bom ter pra odne ir.

enquanto isso, no rio...

Danibas disse...

Por acaso estava pesquisando na internet as mídias que soltaram alguma nota sobre o SPKZ (eu faço assessoria de imprensa pra eles) e encontrei o seu despretensioso e muito bem colocado blog.
Achei mto interessante a crítica do clube e vai servir com certeza como uma visão a ser atenta, pois é p/ pessoas como você que eles tem como aspiracional (amante da boa música eletrônica e formador de opinião).

Até :)

Danibas