Acabei de ler no Cena Carioca que na madrugada de ontem faleceu, em Brasília, o DJ Ric Novaes, mais conhecido como Mr. Spacely, vítima de uma parada cardíaca.
A cena carioca começou a ouvir falar de Mr. Spacely lá pelos idos de 2002. Brasiliense, ele fez carreira em clubes da Espanha e Portugal antes de voltar ao Brasil e se fixar no Rio de Janeiro. Seus sets de extremo bom gosto e cultura musical casaram perfeitamente com a vibe houseira do carioca, e o sucesso foi imediato.
Logo ele entrou para o time de residentes da X-Demente, onde foi um dos últimos expoentes da house underground, enquanto o cardápio musical da pista principal se restringia cada vez mais ao tribal americano. Nessa época, Fábio Monteiro começava a fazer suas primeiras festas na Marina da Glória, e Mr. Spacely era escalado para fechar a noite. Ele assumia as pickups com a mesma mistura de tribal e progressivo do DJ anterior, e aos poucos fazia uma transição para a deep house, sempre uplifting e sofisticada, brindando as manhãs na Marina com um astral incrível. Ele foi responsável por momentos inesquecíveis que ficaram na memória da X - a então desconhecida "Days Like This", de Shaun Escoffrey, virou hino do Carnaval 2003 e uma verdadeira "marca registrada" das festas na Marina.
Em 2005, aliado ao produtor Fellipe Marques, Mr. Spacely participou do nascimento de outro grande sucesso da noite carioca: a Bug, um projeto que nasceu descompromissado, nas noites de terça-feira, e, em questão de semanas, já causava filas enormes na porta do inferninho subterrâneo La Cueva, em Copacabana. A Bug reinou absoluta como melhor noite de house da cidade até que, no começo deste ano, os sócios se desentenderam e Fellipe saiu, levando todos os seguidores da Bug para sua nova festa, a Maja, em Botafogo. Com isso, a Bug pereceu rapidamente, e Mr. Spacely acabou voltando para Brasília.
Intrigas à parte, Mr. Spacely deixa saudades na cena carioca, cada vez mais carente de DJs houseiros de verdade. Com Márcio Careca e os Gustavos MM e Tatá se perdendo em experimentações com outros estilos e Léo Janeiro tocando apenas em festivais, só resta aos fãs da boa house music se consolar indo ao 00. E apenas às quintas-feiras, pois a antológica domingueira de house Playground também acaba de morrer: ontem foi feita sua edição de despedida, para que, a partir dos próximos domingos, a casa passe a receber um projeto de - adivinhem ? - tribal.
Com isso, a noite eletrônica GLS do Rio vai ficando cada vez mais parecida com a de São Paulo: tribal de um lado, electro do outro - e quem não gosta de nenhum dos dois estilos não tem para onde correr.
(Foto de Mr. Spacely tirada do site Cena Carioca)
3 comentários:
Otimo texto.
obrigado pela citação.
Estamos todos tristes aqui...
:/
Já dancei tanto ao som de Mr. Spacely...
O Rio já foi casa de todo tipo de house. Tribal é bom mas cansa. Nada como aquelas noites de Playground no 00....
Oi Introspective, estou montando uma homenagem ao Ric para o deepbeep.com.br Adorei seu texto, inclusive tomei a liberdade de usar alguns trechos na intro que escrevi. Adoraria colocar um depoimento seu no post. Me escreve? taciana.abreu@nobullshit.com.br
Bjos
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