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Quando eu soube que a Balada Mixta faria sua última edição
ever (na noite de ontem), não quis perder a chance de conhecer uma das mais faladas festas pop da cidade. Ela começou tímida, na Funhouse, e em 2 anos de vida chegou a atrair 1,5 mil pessoas, já no Espaço Emme. Cresceu tanto que os produtores decidiram parar, antes que a brincadeira perdesse a graça. Aproveitei o convite feito pela minha amiga Katylene, uma das 21 atrações que comandariam a maratona de 10 horas de jogação, e fui lá ver qual era o babado.
A cena com que me deparei não me convenceu logo de cara. Um exército de
late teenagers de visual massificado - grandes golas V, listras horizontais, a inevitável camisa xadrez, óculos Wayfarer ou redondos e o eventual bigode "que faz a cabeça dos modernos" (zzzz) - requebrava ao som de... "Dança Juliana Dança". Achei tão surreal aquele monte de discípulos da revista
Junior cair no pagodão que pensei que o entusiasmo era
fake. Mera reprodução de alguma tendência tida como
cool, espalhada pelas redes sociais como a modinha a ser seguida. Mais ou menos como a atriz da Globo que dança na pista vip do show de rock, aparentando amar a banda - mas, quando o repórter pergunta qual sua música preferida, gagueja e desconversa, porque só estava fingindo gostar daquilo.
Mas a vodca está aí para alterar convencimentos e derrubar preconceitos - os meus, no caso. Aos poucos, percebi que a animação das pessoas ao meu redor era genuína, por mais improvável que fosse a trilha sonora, e ninguém ali se levava muito a sério. "Tira a calça jeans, põe o fio dental!" Quando a Banda Uó subiu ao palco, confesso que torci o nariz para aqueles meninos que encarnavam
todas as referências estéticas
hipster de uma só vez. Quem me fez baixar a guarda foi "
Rosa" - a impagável versão tecnobrega que eles fizeram para "Last Night", dos Strokes. Com direito a muita pinta no palco, é claro. Depois, Katylene assumiu as
pickups e emendou Deborah Blando, "Mila", Katy Perry, Michel Teló e "Total Eclipse of The Heart". "Tira a roupa, se joga no chão e morre!", comandava, pelo microfone. A essa altura, eu já tinha assimilado o espírito da festa e me deixei levar.
É verdade que a testosterona do ambiente era zero: o clima era lúdico, inofensivo, com pouca gente se pegando. Aquele era um lugar de gente feliz. Quando revistas femininas como
Nova propagam clichês do tipo "as baladas gays são os melhores lugares para dançar, eles são superdivertidos, você vai adorar", é em festas como essa que as leitoras deveriam se aventurar, e não nos megaclubes, onde a combinação de altas doses de hormônios, carão e aditivos produz um ambiente pesado, hostil e excludente.
A despedida da Balada Mixta iria até 8h, com café da manhã a partir das 6h, mas não aguentei ficar até o final. Quando meu fígado começou a cantar "assim você me mata", um cafuçu fofo de óculos
geek me ajudou a pegar um táxi (sim, gente, na Balada Mixta até o cafuçu é
hipster!) e voltei para casa, feliz por ter participado daquilo. Essa festa pode ter acabado, mas outras iniciativas parecidas certamente continuarão, porque existe um público imenso. Tem muita coisa nova e interessante acontecendo fora dos clubes gays de sempre. Nunca é tarde para rever velhos paradigmas e se abrir a outras possibilidades.
[
Foto: Marcelo Fubah. Não levei minha câmera e, enquanto procurava na internet imagens da festa para usar no post, achei essa foto, de uma edição mais antiga, mas que transmite bem o clima divertido de ontem]