Atendendo aos leitores que têm pedido mais temas gays no blog, hoje falo sobre a Splash 720, megassauna que abriu as portas neste mês na Lapa, aqui em São Paulo. Com três andares, capacidade para 400 pessoas e funcionamento 24 horas, ela tenta ocupar a lacuna deixada pela extinta 269, verdadeiro complexo de pegação que marcou época na Rua Bela Cintra. As fotos divulgadas nos portais de notícias GLBT e os preços ousados (R$58 pela entrada mais barata, com direito a um armário) davam pistas de que o lugar tinha grandes ambições. Aproveitei uma pool party organizada ali há alguns dias para conhecer a casa.
As instalações, que abrigavam uma sauna hétero, foram repaginadas e têm cara de novas. As saunas propriamente ditas, uma seca e outra a vapor, são amplas e confortáveis. Mas não vi o requinte que imaginava: o vestiário é pobrinho e os chuveiros não mantêm a temperatura. O único luxo é a piscina, suavemente aquecida e iluminada por luzes dicróicas que mudam de cor. Se a ideia é uma brincadeira mais íntima, o piso superior tem 40 quartos e 80 cabines que dão conta do recado com folga (dá para se perder lá). Não existe um espaço para "confraternização coletiva" como havia na 269, mas o conforto parece ser maior. Só não entendi o primeiro item do regulamento da casa, que proíbe a prática de ato obsceno...
A Splash tem tudo para ficar abarrotada durante o feriado da Parada Gay, em junho. Mas terá de enfrentar alguns desafios, se quiser sobreviver até lá. A localização, fora do "bolsão gay" da cidade, pode ser conveniente para quem sai da The Week às 7 da manhã (a sauna fica a poucas quadras de distância da boate), mas é fora de mão para o bofe de soja que dava aquela escapada furtiva depois do expediente, antes de voltar para os braços da patroa. Além disso, com a popularização dos smartphones, muitos deixaram as saunas de lado para caçar parceiros pelo aplicativo Grindr. Talvez a casa devesse prolongar o desconto promocional de 50% por mais alguns meses, até seu público se consolidar. Essa tabela de preços pode acabar sendo um tiro no pé.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Apostas cariocas
Com a chegada do verão, as atenções se voltam para o Rio de Janeiro. A pacificação de alguns morros soprou uma brisa de otimismo e autoestima sobre a cidade. E os preços, que já vinham subindo por conta da euforia com a Copa e as Olimpíadas, estão mais salgados do que nunca: no réveillon, tem albergue cobrando R$1.200 por uma vaga em quarto com nove camas. Aos cariocas e turistas que estão de malas prontas, o jornal O Globo fez um apanhado das novidades que devem bombar na temporada.
As apostas do verão incluem esportes ao ar livre, dicas de gastronomia, moda, passeios e festinhas. Algumas tendências já são velhas conhecidas dos paulistanos, como os ceviches, os drinks com jabuticaba e os óculos arredondados. Outras são tipicamente locais - blocos de rua, rodas de samba e ensaios de Carnaval são alguns exemplos. O BikeRio, projeto de aluguel de bicicletas similar ao de cidades como Paris e Barcelona, foi lançado em outubro e já tem estações espalhadas por toda a Zona Sul. Para sair pedalando, é preciso usar um cartão de crédito.
Com a retomada de espaços antes dominados pelo narcotráfico, áreas como Pavão-Pavãozinho, Rocinha e Vidigal se abrem para o mundo e entram no roteiro de diversão da cidade. Tem trilha para escalada, restaurante japonês, sessão de jazz e banquete de feijoada - a R$50 por pessoa, e mediante reserva. Tia Léa, que pilota as panelas, contou ao jornal que trabalha "como personal organizer, vulgo faxineira". Adorei essa!
As apostas do verão incluem esportes ao ar livre, dicas de gastronomia, moda, passeios e festinhas. Algumas tendências já são velhas conhecidas dos paulistanos, como os ceviches, os drinks com jabuticaba e os óculos arredondados. Outras são tipicamente locais - blocos de rua, rodas de samba e ensaios de Carnaval são alguns exemplos. O BikeRio, projeto de aluguel de bicicletas similar ao de cidades como Paris e Barcelona, foi lançado em outubro e já tem estações espalhadas por toda a Zona Sul. Para sair pedalando, é preciso usar um cartão de crédito.
Com a retomada de espaços antes dominados pelo narcotráfico, áreas como Pavão-Pavãozinho, Rocinha e Vidigal se abrem para o mundo e entram no roteiro de diversão da cidade. Tem trilha para escalada, restaurante japonês, sessão de jazz e banquete de feijoada - a R$50 por pessoa, e mediante reserva. Tia Léa, que pilota as panelas, contou ao jornal que trabalha "como personal organizer, vulgo faxineira". Adorei essa!
domingo, 18 de dezembro de 2011
Balada Mixta, uma festa sem preconceitos
Quando eu soube que a Balada Mixta faria sua última edição ever (na noite de ontem), não quis perder a chance de conhecer uma das mais faladas festas pop da cidade. Ela começou tímida, na Funhouse, e em 2 anos de vida chegou a atrair 1,5 mil pessoas, já no Espaço Emme. Cresceu tanto que os produtores decidiram parar, antes que a brincadeira perdesse a graça. Aproveitei o convite feito pela minha amiga Katylene, uma das 21 atrações que comandariam a maratona de 10 horas de jogação, e fui lá ver qual era o babado.
A cena com que me deparei não me convenceu logo de cara. Um exército de late teenagers de visual massificado - grandes golas V, listras horizontais, a inevitável camisa xadrez, óculos Wayfarer ou redondos e o eventual bigode "que faz a cabeça dos modernos" (zzzz) - requebrava ao som de... "Dança Juliana Dança". Achei tão surreal aquele monte de discípulos da revista Junior cair no pagodão que pensei que o entusiasmo era fake. Mera reprodução de alguma tendência tida como cool, espalhada pelas redes sociais como a modinha a ser seguida. Mais ou menos como a atriz da Globo que dança na pista vip do show de rock, aparentando amar a banda - mas, quando o repórter pergunta qual sua música preferida, gagueja e desconversa, porque só estava fingindo gostar daquilo.
Mas a vodca está aí para alterar convencimentos e derrubar preconceitos - os meus, no caso. Aos poucos, percebi que a animação das pessoas ao meu redor era genuína, por mais improvável que fosse a trilha sonora, e ninguém ali se levava muito a sério. "Tira a calça jeans, põe o fio dental!" Quando a Banda Uó subiu ao palco, confesso que torci o nariz para aqueles meninos que encarnavam todas as referências estéticas hipster de uma só vez. Quem me fez baixar a guarda foi "Rosa" - a impagável versão tecnobrega que eles fizeram para "Last Night", dos Strokes. Com direito a muita pinta no palco, é claro. Depois, Katylene assumiu as pickups e emendou Deborah Blando, "Mila", Katy Perry, Michel Teló e "Total Eclipse of The Heart". "Tira a roupa, se joga no chão e morre!", comandava, pelo microfone. A essa altura, eu já tinha assimilado o espírito da festa e me deixei levar.
É verdade que a testosterona do ambiente era zero: o clima era lúdico, inofensivo, com pouca gente se pegando. Aquele era um lugar de gente feliz. Quando revistas femininas como Nova propagam clichês do tipo "as baladas gays são os melhores lugares para dançar, eles são superdivertidos, você vai adorar", é em festas como essa que as leitoras deveriam se aventurar, e não nos megaclubes, onde a combinação de altas doses de hormônios, carão e aditivos produz um ambiente pesado, hostil e excludente.
A despedida da Balada Mixta iria até 8h, com café da manhã a partir das 6h, mas não aguentei ficar até o final. Quando meu fígado começou a cantar "assim você me mata", um cafuçu fofo de óculos geek me ajudou a pegar um táxi (sim, gente, na Balada Mixta até o cafuçu é hipster!) e voltei para casa, feliz por ter participado daquilo. Essa festa pode ter acabado, mas outras iniciativas parecidas certamente continuarão, porque existe um público imenso. Tem muita coisa nova e interessante acontecendo fora dos clubes gays de sempre. Nunca é tarde para rever velhos paradigmas e se abrir a outras possibilidades.
[Foto: Marcelo Fubah. Não levei minha câmera e, enquanto procurava na internet imagens da festa para usar no post, achei essa foto, de uma edição mais antiga, mas que transmite bem o clima divertido de ontem]
A cena com que me deparei não me convenceu logo de cara. Um exército de late teenagers de visual massificado - grandes golas V, listras horizontais, a inevitável camisa xadrez, óculos Wayfarer ou redondos e o eventual bigode "que faz a cabeça dos modernos" (zzzz) - requebrava ao som de... "Dança Juliana Dança". Achei tão surreal aquele monte de discípulos da revista Junior cair no pagodão que pensei que o entusiasmo era fake. Mera reprodução de alguma tendência tida como cool, espalhada pelas redes sociais como a modinha a ser seguida. Mais ou menos como a atriz da Globo que dança na pista vip do show de rock, aparentando amar a banda - mas, quando o repórter pergunta qual sua música preferida, gagueja e desconversa, porque só estava fingindo gostar daquilo.
Mas a vodca está aí para alterar convencimentos e derrubar preconceitos - os meus, no caso. Aos poucos, percebi que a animação das pessoas ao meu redor era genuína, por mais improvável que fosse a trilha sonora, e ninguém ali se levava muito a sério. "Tira a calça jeans, põe o fio dental!" Quando a Banda Uó subiu ao palco, confesso que torci o nariz para aqueles meninos que encarnavam todas as referências estéticas hipster de uma só vez. Quem me fez baixar a guarda foi "Rosa" - a impagável versão tecnobrega que eles fizeram para "Last Night", dos Strokes. Com direito a muita pinta no palco, é claro. Depois, Katylene assumiu as pickups e emendou Deborah Blando, "Mila", Katy Perry, Michel Teló e "Total Eclipse of The Heart". "Tira a roupa, se joga no chão e morre!", comandava, pelo microfone. A essa altura, eu já tinha assimilado o espírito da festa e me deixei levar.
É verdade que a testosterona do ambiente era zero: o clima era lúdico, inofensivo, com pouca gente se pegando. Aquele era um lugar de gente feliz. Quando revistas femininas como Nova propagam clichês do tipo "as baladas gays são os melhores lugares para dançar, eles são superdivertidos, você vai adorar", é em festas como essa que as leitoras deveriam se aventurar, e não nos megaclubes, onde a combinação de altas doses de hormônios, carão e aditivos produz um ambiente pesado, hostil e excludente.
A despedida da Balada Mixta iria até 8h, com café da manhã a partir das 6h, mas não aguentei ficar até o final. Quando meu fígado começou a cantar "assim você me mata", um cafuçu fofo de óculos geek me ajudou a pegar um táxi (sim, gente, na Balada Mixta até o cafuçu é hipster!) e voltei para casa, feliz por ter participado daquilo. Essa festa pode ter acabado, mas outras iniciativas parecidas certamente continuarão, porque existe um público imenso. Tem muita coisa nova e interessante acontecendo fora dos clubes gays de sempre. Nunca é tarde para rever velhos paradigmas e se abrir a outras possibilidades.
[Foto: Marcelo Fubah. Não levei minha câmera e, enquanto procurava na internet imagens da festa para usar no post, achei essa foto, de uma edição mais antiga, mas que transmite bem o clima divertido de ontem]
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
As tapas italianas do Bottagallo
Continuando a minha missão de investir em bares com boas comidinhas, neste mês fui conhecer o concorrido Bottagallo, no Itaim. Dos mesmos sócios do Astor, Pirajá e Original, o bar serve comida italiana em porções menores, como se fossem tapas. A ideia é que os convivas peçam e dividam vários pratos diferentes (com o cuidado de não perder o controle, senão a conta fica salgada). Chamei um amigo que não vive de dieta e mandamos ver.
Entre as porções, provamos o uovo guido (ovo empanado, mole por dentro, servido com creme de trufas, à esquerda na foto), as costelinhas suínas ao forno (bem gordas, como devem ser), o risoto de queijo burrata (supercremoso) e os nhoques dourados (passados no azeite, com cubos de tomate fresco, ricota e rúcula, perfeitos para o verão). Depois, pedimos dois pratos individuais: ele foi de pappardelle com ragu de costela bovina, e eu investi no tonarelli alla trapanese (espécie de espaguete com bordas quadradas, servido com queijo pecorino, amêndoas, manjericão, alho e tomate fresco).
Foi uma noite bem agradável. O lugar é aconchegante e os garçons, eficientes, explicavam as opções do cardápio com desenvoltura. Gostamos especialmente dos nhoques dourados (que também saem como prato individual) e do tonarelli alla trapanese. Se fosse menos barulhento, o Bottagallo seria confundido com um restaurante. Mas a graça do lugar é justamente essa: oferecer comida italiana sem a caretice de uma cantina. Em porções menores, intercaladas por excelentes caipiroskas, para você passar horas a fio conversando e, quem sabe, flertando com os maurícios e patrícias que enfeitam o ambiente.
[Foto: Revista ÉPOCA São Paulo]
Entre as porções, provamos o uovo guido (ovo empanado, mole por dentro, servido com creme de trufas, à esquerda na foto), as costelinhas suínas ao forno (bem gordas, como devem ser), o risoto de queijo burrata (supercremoso) e os nhoques dourados (passados no azeite, com cubos de tomate fresco, ricota e rúcula, perfeitos para o verão). Depois, pedimos dois pratos individuais: ele foi de pappardelle com ragu de costela bovina, e eu investi no tonarelli alla trapanese (espécie de espaguete com bordas quadradas, servido com queijo pecorino, amêndoas, manjericão, alho e tomate fresco).
Foi uma noite bem agradável. O lugar é aconchegante e os garçons, eficientes, explicavam as opções do cardápio com desenvoltura. Gostamos especialmente dos nhoques dourados (que também saem como prato individual) e do tonarelli alla trapanese. Se fosse menos barulhento, o Bottagallo seria confundido com um restaurante. Mas a graça do lugar é justamente essa: oferecer comida italiana sem a caretice de uma cantina. Em porções menores, intercaladas por excelentes caipiroskas, para você passar horas a fio conversando e, quem sabe, flertando com os maurícios e patrícias que enfeitam o ambiente.
[Foto: Revista ÉPOCA São Paulo]
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