A menos que você se contente com a praça de alimentação do shopping, comer fora pode custar um bom dinheiro. Os três lugares que os gays frequentam à exaustão (Spot, Ritz e Mestiço) não são exatamente baratos, assim como boa parte dos meus restaurantes favoritos (Due Cuochi, Carlota, Nam Thai, Sal Gastronomia, Mori). No entanto, a cena gastronômica de São Paulo é vasta e também tem boas opções para quem não quer gastar muito. Em tempos de vagas magras e orçamentos apertados, divido com vocês algumas sugestões mais econômicas do meu roteiro. São opções para todos os gostos e apetites, sempre com uma relação custo-benefício atraente. Aproveitem.
COMEDORIA [
foto]. Com jeitão de "refeitório dos Jetsons", o modernoso restaurante do SESC Pinheiros é uma das opções mais bacanas para quem quer almoçar com alguma dignidade e gastar o mínimo possível. Você pode escolher entre o prato do dia, que já vem montado ("Fogão Cultural"), ou uma segunda opção ("Brasileirinho") em que se paga separadamente por cada item. Molhos cheios de bossa ajudam a fugir do trivial: o filé de frango ganha um toque de gengibre e mel ou laranja e curry, o pernil vem preparado com romã ou damasco, o peixe é servido com um creme de kani kama ou uva itália. Mesmo com saladas e sobremesas à parte, é difícil gastar mais do que 15 reais. Rua Paes Leme, 195, Pinheiros.
ATHENAS CAFÉ. Com localização estratégica, bem na esquina do Espaço Unibanco de Cinema, esse despretensioso bar-restaurante vê sua clientela aumentar a cada noite. Quem fica só na cerveja não sabe que os pratos do cardápio saciam até mesmo os mais famintos - sobretudo os fartos grelhados, que vêm com três acompanhamentos, depois de uma salada também incluída. Os preços são camaradas: o frango athenas (iscas de frango marinadas em laranja e tomilho) custa apenas R$19. Para confirmar a temática grega do lugar, não poderia ficar de fora o típico moussaká (gratinado de berinjela, batata e carne moída, coberto com molho bechamel). Rua Augusta, 1.449, Cerqueira César/Consolação.
CENTRAL DAS ARTES. Um dos meus xodós na cidade, ocupa um gostoso sobrado modernista, com cadeiras e luminárias coloridas. A parede envidraçada mostra uma linda vista de Perdizes, emoldurada pelos prédios da Paulista no horizonte. O menu tem sanduíches, sopas e saladas, mas a especialidade são os crepes. Indico o rodin (mussarela, presunto, catupiry e maçã), o dijon (queijo derretido, cebola dourada e mostarda francesa) e o arpad (chocolates ao leite e branco, castanhas maceradas e sorvete de baunilha). Rua Apinagés, 1081, Sumaré.
CONSULADO MINEIRO. Velho conhecido de quem ferve na Praça Benedito Calixto nas tardes de sábado, é completamente
gay friendly e serve culinária mineira caprichada, em porções generosas: dois pratos satisfazem 5 pessoas. Poucos se lembram que o Consulado tem um segundo endereço, a algumas quadras dali, onde a economia é ainda maior. A filial da Cônego prepara, no almoço de segunda à sexta-feira, um incrível bufê, com todas as especialidades da casa, por apenas R$18,90. É quase bom demais para ser verdade. Praça Benedito Calixto, 74; Rua Cônego Eugênio Leite, 504, Pinheiros.
CHARLES PIZZA GRILL. Paladares mais exigentes costumam encarar a palavra "rodízio" com um pé atrás. Afinal, nesses lugares, a quantidade da comida tende a ser mais importante do que a qualidade. O caso da pizza, símbolo maior da gastronomia paulistana, inspira desconfiança ainda maior. Mas esta casa surpreende, com redondas de excelente qualidade, que vão desfilando seguidamente - para cessar o bombardeio, gire o sinal da mesa até a posição vermelha. As fatias são pequenas, para que se possam provar vários sabores. Não perca a de shiitake, a de camarão com catupiry e do chef (molho de tomate, mussarela, catupiry, parmesão, rodelas de tomate e alho). Preços por pessoa: R$25,90 (2ª-5ª) e R$28,90 (6ª-dom.). Av. José Maria Whitaker, 1785, Planalto Paulista.
SUJINHO. Prestando bons serviços à boemia paulistana desde 1921, é endereço certo para quem quer consumir quantidades cavalares de carne, sem cair numa churrascaria. O horário elástico - até as 5 da manhã, todos os dias - é herança do tempo em que a casa era conhecida como "Bar das Putas" (alcunha que lhe confere um ar "cult"). O carro-chefe é a bisteca bovina (R$24), que tem nada menos do que 700 gramas (difícil conseguir comer sozinho). Para acompanhar, guarnições
old school como salada de repolho, cebola, polenta, mandioca e batata frita. Leve dinheiro ou cheque: a casa não aceita cartões. Rua da Consolação, 2078, Consolação.
LA TARTINE. Vizinho de porta do concorrido Mestiço (que já foi bem mais barato, diga-se de passagem), esse bistrozinho é fofo até não mais poder: um dos lugares mais aconchegantes da cidade, perfeito para uma noite de inverno. O menu é curto, com sugestões leves da cozinha francesa, como saladas, sanduíches gratinados e quiches (a de queijo de cabra é imperdível). Além disso, há sempre dois pratos do dia, entre opções clássicas como
coq au vin,
boeuf bourgignonne ou filé com molho de pimenta verde. Com preços amigos e poucas mesas, o lugar está sempre cheio - mas a espera, no bar do andar de cima, é agradável. Rua Fernando de Albuquerque, 267, Consolação.
LA TRATTORIA. Bixiga? Que nada! Quando o assunto é cantina italiana - daquelas bem tradicionais, com massas e molhos de todos os tipos, a preços justos - meu destino é sempre Pinheiros, onde desde 1978 funciona o La Trattoria. Em ambiente simples, com toalhas vermelhas e pôsteres nas paredes, tem cardápio extenso, com ótimos pratos gratinados, que chegam fumegantes à mesa. No almoço executivo, os preços são ainda menores - o parmegiana com linguini salva qualquer dia chato de trabalho. Do outro lado da rua, há outra cantina também tradicional, a Nello's, que não me agrada tanto quando esta. Rua Antônio Bicudo, 58, Pinheiros.
GOPALA MADHAVA. Muitos anos antes que a Rede Globo mostrasse a Índia na novela das oito, o antigo Gopala Prasada atraía todos os dias uma pequena multidão, que fazia fila para comer seus PFs indianos vegetarianos. Com o sucesso, o restaurante foi expandido para uma casa vizinha, mas as sócias se desentenderam e seguiram caminhos diferentes. A primeira casa virou Gopala Madhava e sua cozinha se manteve bem mais fiel ao sabor original do que a segunda, Gopala Hari. De segunda a sábado, são duas opções fixas, com sopa, salada, prato, suco e sobremesa, a R$ 18 (sábados, R$22). Mesmo quem não é muito natureba consegue se virar bem com o cardápio, que pode ser consultado
aqui. Rua Antônio Carlos, 413, Consolação.
UNI no MASP. No subsolo do Museu de Arte de São Paulo, encontra-se um dos almoços com melhor relação custo-benefício da Avenida Paulista. Já falei sobre ele no blog,
aqui. No bufê, que custa R$24,20 por pessoa (sábados, R$26), uma variada mesa de saladas, além de pratos quentes como cordeiro com molho de hortelã, sobrecoxa de frango em crosta de aveia e peixe saint-pierre com creme de pimenta rosa. Para fechar os trabalhos, a mesa de doces tem bolo trufado, morangos com chantilly e suspiros, além de um delicioso brigadeirão. Av. Paulista, 1578, Bela Vista.
LA FARINA. Este restaurante tradicional é uma das poucas opções gastronômicas que se mantiveram seguras quando o Centrão entrou em decadência. O ambiente, com sofás de couro, seria
vintage se não fosse todo original. O ar antiquado se mantém no cardápio, com pratos como o filé à cubana, servidos em grandes travessas de metal, com os acompanhamentos ao lado. A cozinha se sai bem em várias direções: na feijoada, no strogonoff e em massas como o rigatoni à pasticciata, recheado de queijo e gratinado com cogumelos frescos e secos. As porções são grandes, então dá para dividir e gastar menos. Rua Aurora, 610, Centro.
DEVASSA. A cervejaria repetiu em sua primeira filial paulista o mesmo sucesso das unidades do Rio de Janeiro, com "bombação" na
happy hour e cardápio bastante versátil, que vai além da cozinha de botequim. Há coisa de um mês atrás, saiu no
Guia da Folha que o bufê de feijoada, servido aos sábados, tinha caído de R$34 para R$25,50 - e ainda dava direito a um desconto de 50% para o acompanhante. Uma pechincha - será que continua valendo? Al. Lorena, 1040, Jardins.
LA BUCA ROMANA. No meio do caminho entre cantina e restaurante, é uma boa pedida quando cada pessoa do grupo tem apetite para um tipo de comida diferente. Além das massas, bons pratos de carne, peixe e frango (gosto do
pollo maraviglia: peito gratinado com creme de cebola, maionese e parmesão, mais fettuccine quatro queijos). Animados com o bom retorno da participação na Restaurant Week, o La Buca tornou permanentes os menus econômicos feitos para o evento, que continuam saindo a R$25 (almoço) e R$39 (jantar). Fora deles, os pratos do cardápio normal já foram bem mais em conta, mas ainda são honestos. Rua Oscar Freire, 2.117, e Top Center (Av. Paulista, 854).
GOA. Restaurantes naturais são baratos, mas o ambiente bicho-grilo e a apresentação dos pratos não costumam ser atraentes. Este (que se chamava Gaia) é uma exceção: lugar descolado e pratos bonitos, com opções veganas para os mais ortodoxos. Há o menu do dia, com 3 opções de prato, mais entrada, suco e sobremesa, por R$20,90, e a "opção verão", com prato e suco, por R$14,90. Entre as sugestões que se revezam, a feijoada e o hambúrguer vegetariano são hits. Depois de comer, desça as escadas para o agradável jardim de inverno, faça de conta que está com a barriga cheia e descanse em uma das simpáticas redes disponíveis. Rua Cônego Eugênio Leite, 1152, Pinheiros.
PEPITTO. Arrumadinho, com direito à luz de velas, dá a impressão de ser mais caro e refinado do que de fato é. É um dos tentáculos da rede Don Pepe di Napoli, que tem várias casas espalhadas pela região, e tem o mesmo sotaque italiano de seus irmãos. O melhor é investir nas massas e nos polpettones. Sem grandes pretensões, é um bom lugar para um jantar a dois, quando não se pode gastar muito, especialmente num bairro caro como Moema. Al. dos Arapanés, 1307, Moema.
SINHÁ. A muvuca na porta após as 12h denuncia: tem coisa boa e barata ali. A decoração rústica, com parede de tijolos e fogão à lenha, remete a uma casa de fazenda - assim como a fartura do bufê, que tem base brasileira, com pitadas de sofisticação. Assim, ao lado do feijão tropeiro e do nhoque de mandioquinha, você pode encontrar um frango com molho de mostarda ou uma pescada com redução de tangerina e pimenta. Da grelha, sai um suculento
bife ancho argentino, que vai bem com as batatas fritas, sempre no ponto, ou o risoto do dia. As sobremesas são matadoras, especialmente o pudim de leite condensado. Custa R$23 (2ª-6ª) e R$30 (fds). Rua Antônio Bicudo, 25, Pinheiros.
PILICO E BIA. Pagar barato para comer macarrão ao sugo é fácil; difícil é economizar quando se quer comer camarão. Milagres não existem, mas uma opção honesta é o Pilico e Bia - uma casinha acanhada, muito simples, com parede de azulejos, escondida numa travessa da Eusébio Matoso, perto do Shopping Eldorado. Eu mesmo só conheço porque trabalho ali perto. Os próprios donos tocam o negócio e fazem ótimos bobós e moquecas, que podem ser de camarão, lagosta, lula ou polvo, além de outros peixes e petiscos de mar. Rua Diogo Moreira, 296.