Este foi "o" verão para Florianópolis. A cena gay vinha crescendo devagar até o ano passado, quando a The Week começou a investir lá, ainda de forma experimental. Mas 2008 foi o ano da consagração. E não só entre os gays - com o balneário de Jurerê Internacional na moda entre os emergentes, Floripa também ganhou espaço na mídia careta, incluindo uma reportagem de capa na Veja São Paulo. O auge de tudo isso foi o Carnaval: a ilha ferveu como nunca. E muitos gays que pisaram ali pela primeira vez ficaram encantados. Não era para menos: quem apostou em Floripa teve dias lindos de sol, festas incríveis e muita, muita gente bonita. Aquele era, definitivamente, o lugar para se estar. Duro foi voltar para casa!
UAU:
1) SOL, SOL, SOL! O prognóstico era de assustar: a poucos dias do começo da folia, o Sul do Brasil era castigado por chuvas fortíssimas, que fizeram a prefeitura de Florianópolis declarar estado de emergência e pedir para as pessoas não saírem de casa. Várias barreiras caíram nas estradas - teve gente de Porto Alegre que foi obrigada a pernoitar no caminho e levou 22 horas para chegar em Floripa. Mas quem resistiu à tentação de cancelar a viagem (ou transferir os planos para o Rio) não se arrependeu: tirando os leves chuviscos no fim das tardes de sábado e domingo, a ilha foi presenteada com dias ensolarados e perfeitos, de céu azul sem uma nuvem no céu. Já quem escolheu o Rio... pegou uma corzinha na sexta e no sábado, mas passou o resto do Carnaval embaixo de chuva.
2) O TOQUE DE MIDAS DA THE WEEK. Floripa já agradava os gays pelo fervo na Praia Mole. Mas suas poucas opções noturnas, a boate Concorde e o Mix Café, faziam feio diante da opulência das festas do carnaval carioca. Agora a The Week trouxe o ingrediente que faltava para transformar a ilha em destino gay de primeira linha: baladas com o padrão de qualidade do eixo Rio-SP. A estrutura montada à beira da Lagoa da Conceição abusou da beleza natural do lugar, deixando as festas muito mais bonitas do que no Cine-Ideal-de-luxo. Como era de se esperar, nos cinco dias em que esteve aberta, a casa de André Almada reuniu o filé mignon da beleza masculina: os caras mais gatos do circuito estavam lá e todas as festas bombaram. Eu preferi a de sábado: o astral era o mais alto possível, com os amigos de todo o Brasil se reencontrando, deslumbrados com a beleza do espaço, e o DJ da Matinée Group arrasando com um set de electrohouse chique e animado. Mas quem agradou mais a todos foi Isaac Escalante, em performance elogiadíssima no domingo. O único que não convenceu ninguém foi Offer Nissim.
3) SUNRISE. Enquanto no Rio a chegada da The Week foi como um trator que passou em cima da concorrência, em Florianópolis aconteceu o inesperado: com a cidade cuspindo biba pelo ladrão, a demanda por festas era tão grande que todas elas encheram, até mesmo as mais improváveis. Não existiram perdedores nesse Carnaval. Mesmo assim, algumas festas conseguiram se destacar. E foi a Sunrise que levou o prêmio de melhor da temporada pelo júri popular. Foi uma feliz coincidência de fatores: o tempo ajudou, a propaganda prévia nas rodinhas certas reuniu um público muito bonito e já completamente entrosado (o clima era de festinha de amigos) e a beleza do passeio foi uma atração à parte. O resultado: a "festa do barco" foi um sucesso e conquistou de vez seu lugar ao sol no calendário gay de Floripa.
4) O CLIMA DO BAR DO DECA. Mesmo sem nenhum grande predicado, o Bar do Deca é o lugar certo na hora certa: todo o fervo diurno das bees acontece ao seu redor. O clima é absolutamente leve, descompromissado, relaxado. Por algum motivo, aqui é mais fácil deixar o carão de lado, socializar e conhecer gente nova. Talvez seja pelo cenário isolado da muvuca urbana: sem uma avenida da orla e uma montanha de prédios atrás, aqui as pessoas se sentem realmente de férias. Embalado pela música animada dos DJs (que neste ano estava infinitamente melhor do que o habitual), o povo conversava, dançava, fervia, paquerava... e as tardes iam passando gostosas, sob o céu azul e ensolarado da Praia Mole. A clientela, democrática, tem gente de todos os tipos - mas, com esse novo boom gay de 2008, não dava para negar que o nível das beldades estava muito mais alto.
5) AH... A GALHETA! É impressionante como a Galheta consegue manter intacto o seu encanto, mesmo estando a apenas cinco minutos do fervo muvucado do Bar do Deca. Assim como todos temos nosso prato, música e filme preferidos, eu tenho a Galheta como a praia do meu coração, minha favorita em todo o Brasil. Logo que atravesso as pedras e piso na areia, eu sinto uma energia diferente. Vou me afastando do início da praia e me vejo perdido na imensidão daquele lugar, extremamente calmo, acolhedor, tranqüilo. Parece que estou a salvo de todos os problemas e coisas negativas do mundo, protegido em um lugar mágico. Em paz. E o mar é meu cúmplice. No entardecer, vejo o céu em tons degradê de azul e rosa, enquanto o sol se põe do outro lado, por trás da Praia Mole. Se voltei para casa com algum arrependimento, com certeza foi o de não ter passado mais tempo na Galheta. Foi com tristeza que me despedi dela. Mas eu volto, com certeza volto. Queria estar lá neste momento, enquanto escrevo estas linhas.
6) A CENA ELETRÔNICA "CLASSE A" DE ITAJAÍ. Foi duro abrir mão de um dia e noite inteiros em Floripa, com tanta coisa acontecendo. Mas valeu a pena sair um pouco do gueto: a Praia Brava de Itajaí é bem bacana. O lugar respira música eletrônica de alta qualidade e tem uma fauna humana melhor ainda - os homens são de enlouquecer. Durante o dia, o fervo do Kiwi era uma delícia, com o povo se jogando feliz da vida na praia, dançando, bebendo, paquerando. À noite, fui conferir o hype do clube Warung. Confesso que achei o lugar meio superestimado ("terceiro melhor do mundo" pela DJ Mag?! será mesmo que só existem dois clubes mais legais no mundo todo?! o próprio Sirena é muito mais bonito!), mas a noite foi excelente, com som in-crí-vel do Deep Dish e os homens mais perfeitos que eu já vi em uma pista de dança (ainda tenho sonhos com um deles...).
UÓ:
1) O EXCESSO DE TUDO. Foram cinco dias com festas demais, sol demais e homens bonitos demais. Era impossível dar conta de tudo, e péssima a sensação de ser obrigado a perder coisas incríveis - seja porque não se podia estar em dois lugares de uma vez, seja porque o corpo não agüenta ficar online por tanto tempo. Para aproveitar as festas, era preciso jogar pela janela os dias lindos de sol e praia bombando e (tentar) descansar. E, mesmo assim, chegava uma hora em que o cansaço era tanto que o corpo já não respondia mais, e você já não conseguia aproveitar e curtir mais nada de verdade. E ainda assim a maratona não acabava, as pessoas não paravam... Depois de cinco dias de estragação, quando todos já deveriam estar mortos, Rogério Figueiredo ainda resolve armar mais uma "festinha imperdível", começando às 2h30 de quarta-feira, logo depois de a TW encerrar o expediente. E não é que a festa... bombou? Pra mim, depois de um certo ponto, tudo o que era bom demais passou a ser ruim.
2) A CIRCULAÇÃO SEMPRE COMPLICADA. Transporte sempre foi um dos grandes perrengues de Florianópolis. A cidade não tem uma estrutura que faça frente ao grande número de turistas da alta temporada - especialmente nas praias da ilha, que são onde o bicho pega de verdade. A única estrada que circunda a Lagoa da Conceição e percorre o litoral tem uma pista só - portanto, fica engarrafada de dia (nos horários de chegada e saída da praia) e também à noite (por causa dos bares e restaurantes do centrinho da Lagoa). Curiosamente, os poucos táxis de Floripa passam longe dali; mesmo sendo essa a região com maior demanda de passageiros, eles acham que vão perder tempo e dinheiro ficando presos no trânsito. Ônibus? Existem, mas passam em loooongos intervalos. E quem está de carro ainda enfrenta, além dos longos engarrafamentos, a falta de vagas para estacionar ("manobrista"? o que é isso?). Moral da história: qualquer que seja seu meio de transporte, circular é um problema constante.
3) A FALTA DE OPÇÕES PARA COMER. E olha que nem estou falando de alta gastronomia, de restaurantes estrelados do quilate dos de São Paulo, mas de lugares para quebrar o galho mesmo. Com o fervo na Mole avançando até a noite, você saía da praia e não tinha nenhuma opção à mão. Era obrigado a pegar o carro/esperar o ônibus e ir láááá para o centrinho da Lagoa, exausto, correr atrás de alguma coisa para matar a fome. Floripa até tem um punhado de bons restaurantes espalhados por aí, mas nem de longe tem a versatilidade de que o turista precisa. Bem ou mal, no Rio você sai das areias de Ipanema a pé e consegue o que quiser, de um simples açaí até uma comida mais substancial. Em Floripa, a praia não tem nada depois do entardecer - e mesmo os restaurantes mais longe fecham cedo, tipo meia-noite. Fome na madrugada? Vai acabar na lojinha de conveniência - se você tiver carro e souber achar um posto de gasolina.
4) O SERVIÇO DEPLORÁVEL DO BAR DO DECA. Justiça seja feita: de 2005 pra cá o Bar do Deca melhorou muito. A música deu um salto enorme de qualidade - parece que finalmente alguém ali começou a dar alguma importância ao assunto. A comida também melhorou: comi um salmão bem OK e uma porção de lulas à dorê boa de verdade. Mas o serviço (que já não é uma maravilha em lugar algum, é verdade) continua insuportavelmente ruim. Lido, Cíntia & cia. até se esforçam para ser gentis, mas esperar 45 minutos por um simples copo com gelo e o dobro disso por um simples prato de peixe, não dá. Isso quando não esquecem literalmente do seu pedido (o que acontecia o tempo todo). O pessoal do Deca precisa dar um jeito urgente nisso - que mude o sistema, comece a usar aqueles palmtops, qualquer coisa. O tamanho da freqüência na alta temporada mais do que justifica algum investimento.
5) A NOITE DE SEGUNDA NA THE WEEK. Tinha tudo para ser a melhor noite, mas foi a que eu menos gostei. A culpa não foi do DJ: Peter Rauhofer, cada vez mais à vontade diante do público brasileiro, tocou com gosto até quase oito da manhã (burlando o horário-limite imposto pela prefeitura, que era 7h). O principal problema foi a superlotação: com todos os espaços abarrotados, circular pela casa era um estorvo, não havia espaço para dançar, a única fila dos caixas dava voltas e mais voltas, bares e banheiros entraram em colapso. Para piorar, depois de três ou quatro noites de jogação, todos estavam cansados demais para enfrentar tudo isso - e as caras lindas de antes já pareciam meio estragadas. Sabe quando uma festa é tão mega que acaba passando do ponto? O que no sábado era totalmente happy, na segunda passou a ser too much.
6) O PAISAGISMO DA THE WEEK DESTRUÍDO PELAS CHUVAS. A The Week preparou uma área externa bem caprichada em Floripa, com belos jardins que terminavam num píer na Lagoa da Conceição. Mas as chuvas torrenciais que caíram até quase a véspera do Carnaval levaram tudo embora e destruíram o paisagismo da casa. A equipe de Almada fez o que pôde, mas não teve como recuperar os estragos a tempo. Resultado: toda a área foi interditada, incluindo o acesso ao píer e à Lagoa, e ficou aquele aspecto de obra inacabada. O deck e a piscina, liberados, tinham um bom tamanho e atenderam as necessidades de todos, mas o que foi bom poderia ter sido muito melhor.
Mesmo com essas ressalvas, tenho que dizer que foi um Carnaval maravilhoso. Florianópolis foi a escolha mais acertada possível, eu não teria sido tão feliz em nenhum outro lugar. Mesmo com todos os seus problemas estruturais (que certamente estarão lá em 2009, até porque durante os oito meses restantes a ilha fica deserta), Floripa tem um astral incrível. As praias são lindas, as pessoas ficam muito relaxadas e receptivas, e agora não faltam jogações de qualidade para os mais exigentes. É tudo questão de saber equilibrar as coisas, relaxar e se divertir. Afinal, tudo passa rápido, muito rápido. E, quando você vai ver, só sobraram as memórias... ah, que saudade de lá!
16 comentários:
Ótimo texto. Acredito mesmo que a TW tenha imposto qualidade e é sempre assim, mas convenhamos que o que mata o clube é apenas a arrogância de seus donos, o resto é perfeito, mesmo quando a chuva ou coisas do inesperado tentam estragar.
bjs
Adoro Floripa, realmente o astral de lá no verão é incrível. Mas como já fui para lá várias vezes, esse ano resolvi apostar no Rio, e não me arrependi também: apesar da chuva, a jogação foi intensa. Que bom que os destinos gays no Brasil estão se consolidando e se profissionalizando. Ainda espero por um em uma praia top no Nordeste.
Adorei o Blog e seus textos, está entre meus favoritos. Abração
Parabéns pelo Blog e suas idéias convergem com nossos pensamentos.
Nós também adoramos Floripa nesta Carnaval e é possível repetirmos a dose no ano que vem.
bjs, Ricardo & Rogérioxxx
Olá Thiago, foi um prazer conhecê-lo pessoalmente.O astral da ilha e das pessoas estava incrível.O que se viu foram corpos lindos e caras simpáticas por todos os lados. Não tinha lugar pra carão. Sexta não me surpreendeu, pois a performance da Offer e seus cedezinhos-pré sem nenhuma novidade, já não fazem minha cabeça há muito tempo. mas decepcionou,e muito seus fãs de carteirinha.Há , e os caracóis de seus cabelos estavam um eeeerrrroo.....Concordo que sábado foi o melhor astral, Dj Louis do Matinée, arrasando .Agora ,tirando a lotação, a segunda foi excândalo. As últimas apresentações do Peter na TW foram bem chatinhas, agora segunda ele entrou "nervosa"...A Ana Paula entregou uma pista super animada para Peter arrebentar.Pra mim o melhor set da minha vida....O corpo já não aguentava mais, mas a vibe era maior, derretemos, literalmente.....uma noite perfeita. Esse carnaval já ficou na História..Um enorme prazer estar com meu amor e toda família reunida, ano que vem estaremos lá com certeza.Bjão pra você!
Thi, realmente foram incríveis os dias por lá. Fico triste por ter perdido a balada com vc em Camburiú mas a Sunrise foi sim muito boa. Não diria a melhor, porém uma das... a melhor mesmo em minha opinião foi o Peter na segunda, que realmente deixou muito boas memórias. E o pior de tudo pra mim foi a ressaca mesmo depois de tantos excessos... o ano que vem, tiro de novo até segunda para ficar por lá e descansar ao vento de tarde na galhetas e mole....saudades já!
meu querido, vc tem que por tudo isso num livro!! manual abril nas bancas, vai rachar de vender! pode por a foto 4 na capa
O Carnaval em Floripa deve ter sido tudo mesmo.. adorei o textão analisando a folia na ilha.
gente o Offer é divertido, mas tá rolando uma overdose dele ultimamente, não larga mais o Brasil..
Obrigado pela visita no meu blog.
Qto a Filó, o beijo será dado.
Saiba que essa postagem que fiz, gerou o comentário de um rapaz chamado Deco, que indicou um site, de uma amiga que ajudava cãezinhos abandonados.
Fiquei comovido com isso tb, e mandei o site para uns amigos.
Bem, agora a tarde, uma amiga advogada foi a SP e voltou com Samy, a cachorrinha que estava pra ser adotada no site. Vou passa ro endereço pra vc...veja lá que coisinha linda que ela é.
O mundo é pequeno...e somos poucos...rs rs rs
vou fuçar no seu blog.
abraço.
veja o site:
http://3amiguinhos.nafoto.net/
abra�o
Como te falei ao nos encontrarmos na praia, estava esperando anciosamente pelos seus comments - sempre neutros, corretos e na medida, sem os arroubos passionais ou desafetuosos. Realmente foi indescritivel, e olha que nem me deslumbro tanto com as coisas... e Matinée e Sunrise as melhores, sem duvida: musica e publico bacanissimos. O desgaste da falta de transporte mata a gente, que é "o lado negro da força" na estrutura da ilha. O que realmente me seduz em FLP é a simplicidade e despretenção do povo, sempre educado e simpatico, sem a famosa MARRA... Chorei na hora de voltar, agora é esperar por 2009 e torcer por um up grade na estrutura da ilha. Bjus
Vi sim. Só que agora eu quero mais.
(Adoro seu blog. Queria escrever tão bem como você...)
Introspective, parabéns, gostei do seu blog por três motivos:
(1) é informativo, mas com opinião própria
(2) é organizado, "clean".
(3) é positivo, tem uma mensagem construtiva.
Apenas como feedback as vezes acho um pouco longo ou desbalanceado. 20linhas para falar de Galheta dos pelados pelancudos e só 6 para falar de Warung dos bonitos? Mas ok, o blog é seu, tem o seu direito de opinião.
Agora, sobre excessos: um dia vai ter gente processando os clubes por danos à saúde.
Eu mesmo faço isso. Junto todos os convites, pulseiras e fotos para pleitear alguns milhões de tratamento ou internação. Já tenho várias caixas. E exames médicos anuais - incluindo de próstata.
Só falta contratar meu amigo advogado picareta e voilá. Viva a aposentadoria na Florida...huahuahuahua!!!
Pelo o que sei, seu texto não poderia ser diferente! E de certo a The Week, fez todo o diferencial. É só notar pelos comentários de foi para SC...creio que não teria sido o que foi sem a cada de Almada.
Assim como aqui no Rio. Com chuva e tudo, sem o diferencial de A Semana, teriamos Zamaral e uma XD cancelada...e, nojinho, BITCH.
Fico feliz de ao menos alguém ter aproveitado bem o carnaval.
Abração!
Campanha para 2008: Offer No More!
Deu, né? Daqui a pouco a bicha vai vir morar na paulista!
PQP, que som mais horrível!
PENA QUE NAO TE CONHECI PESSOALMENTE, SO CONHECI O BLOGUEIRO RENATO NO ULTIMO DIA...UM ABRAÇO
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