Desde criança, coordenação motora nunca foi o meu forte. Por isso, vivia fugindo de esportes com bola, eterna fonte de constrangimento diante dos coleguinhas (crianças conseguem ser incrivelmente cruéis umas com as outras, até mesmo por conta de sua total inocência). Já andar de bicicleta sempre foi meu esporte favorito. Passeei muito por aí, o que talvez explique a origem das minhas panturrilhas bem torneadas. Num belo dia, tive minha magrela furtada na garagem do prédio, e aí desencanei.
Quinze anos depois, eis que meu melhor amigo carioca veio morar em São Paulo e elegeu a bicicleta como seu meio de transporte diário. Isso me animou a comprar outra bike: agora eu teria companhia para pedalar no fim-de-semana. Ambos moramos bem perto do Parque do Ibirapuera, mas minha idéia é mostrar a ele um pouco mais de São Paulo. Ir até o Parque da Independência no Ipiranga, pedalar pelo Centro (que fica irreconhecivelmente bonito e pacato aos domingos) e percorrer o que eu considero nossa "ciclovia" mais emblemática, como a de Ipanema é para o Rio: o Minhocão.
Agora que estou escolhendo o modelo (praticamente fechei com a Caloi 100 Sport), tenho percebido que as bicicletas estão bastante em alta, aqui e lá fora. Em seus blogs, André Fischer e Marcelo Cia até apostaram nelas como um dos hypes de 2008. Em Sampa, que tem seus grupos organizados fazendo passeios pela cidade há uns bons 15 anos, a novidade é o SP Gay Bikers, primeiro grupo exclusivamente gay, que já tem 100 pessoas cadastradas, blog, comunidade no orkut e reportagem na última edição da Junior. Para pedalar com eles, basta ser homem, gay e maior de 18 anos e comparecer com sua bicicleta e capacete aos encontros.
Enquanto isso, em Paris, o Vélib, sistema de locação de bicicletas lançado em julho passado, está revolucionando o transporte público local. Você carrega uma espécie de cartão e se serve sozinho em milhares de postos de retirada e devolução, sendo que os primeiros 30 minutos de uso são gratuitos (para não pagar nada, basta ficar trocando de bicicleta). Lá, a nova febre do ciclismo chegou até mesmo à indústria do luxo: hotéis como o Plaza Athénée e o Meurice desenvolveram modelos especiais para seus hóspedes, assim como as maisons Hermès e Chanel - o modelo desta última, assinado por Karl Lagerfeld e cheio de detalhes em couro matelassê, está à venda nas boutiques da marca por 9000 euros (cerca de R$23 mil).
Infelizmente, São Paulo não é tão plana nem tão receptiva às bicicletas como a capital francesa. Se por estas bandas carros e motos já se ferem mortalmente, o que dizer dos pobres ciclistas? Segundo dados fornecidos à Junior pela CET, um deles morre a cada 4 dias no trânsito paulistano. Só mesmo sendo muito macho (e bastante teimoso) para usar a bicicleta como transporte do dia-a-dia (a menos que você precise ir apenas até o bairro vizinho, como meu amigão carioca). Mas, como passeio de fim-de-semana, a aventura pode ser bem bacana. No mínimo, você aprende a ver a sua cidade de um outro jeito. Um dia desses, ainda vou sair de madrugada e ver o sol nascer, as cores, cheiros e sons de uma São Paulo serena, acordando devagar. Depois conto tudo aqui.
9 comentários:
Em SP, eu apostaria nas escadas rolantes, em vez de nas bicicletas. Com tanta ladeira, seria bem mais prático. E bacana também. Já tô rindo só de imaginar aquelas coroas cheias de laquê dos Jardins subindo a Ministro Rocha Azevedo numa escada rolante, cheias de sacolas de grife e fumando cigarros slims. Seria uma atração à parte... :D
Bjs!
Eu já tô mais pros patins! Fico vendo algumas bees andando de patis na orla fazendo a Lu Patinadora, e me da uma saudaaaaade da época que eu só tirava os meus pra dormir, mas já arrumei um amigo q também aprovou a ideia de comprar um patins e sair por ai patinando! Será que tem um grupo patinadores gays cariocas?
Dearest, back to black! Vi que você tentou falar comigo no MSN mais cedo, só não tenho idéia de quando (digo, que horas)... Adorei vir aqui e ler mais novidades. E me identifiquei com o post, quase toda (da minha já escassa) verve "esportista" concentra-se na bicicleta.
Saudade e beijos!
Thiago, eu vi essas bicicletas de Paris e elas sao lindas!!!
(Estive em Paris no fim de semana passado.)
Aqui em Frankfurt existem bicicletas assim tb, vc liga pra um telefone, passa o n. do seu cartao de crédito e a bicicleta é desbloqueada pra vc usar. Quando nao quiser mais, vc liga de novo pra central, dizendo onde deixou a bicicleta, que será bloqueada até que outra pessoa queira usá-la.
Espero que vc encontre a bicicleta ideal e curta muito seus passeios!
Eu não sei andar de bicicleta.
A minah tb foi levada na garagem do meu antigo predio. Agora que tem ciclovia nova aqui emf rente de cas,a ja pensei varias vezes em comprar outra. Quem sabe nao animo, ne?
Um post inspirado! Adorei!
Bem, depois de alguns meses, começo a ficar com as pernas bem torneadas, risos, mas a vantagem da bike em SP não pára por aí: eu chego muuuito mais rápido aos destinos próximos ao meu prédio (trabalho, espanhol etc) assim, do que se estivesse de carro e ainda colaboro com o meio ambiente.
Xandoso
CICLE, biCICLE, reCICLE
em 2018 comemoramos dez anos das duas primeiras CICLO-RUAS que foram conquistadas dos carros para as bicicletas.
eram ruas secundárias pouco usadas por carros. ajudaram a mudar a mentalidade automotiva predominante na época. conectaram com segurança estações de metro ao parque ibirapuera. em seguida outras ruas secundárias se converteram até chegarmos hoje aos quase 4 mil km de ciclo-ruas cruzando a cidade e aos 6 bairros inteiros que têm em média uma auto-rua para cada 7 ciclo-ruas.
algumas ciclo-ruas foram até desasfaltadas(!) e
re-arborizadas e
ajardinadas.
os carros ainda permanecem dominantes,
mas comemoramos
menos poluição,
mais saúde,
menos trânsito,
mais socialização.
são paulo virou referência para outras mega-cidades.
sim, quando a bicicleta for opção segura, mais cidadãos vão pedalar. compartilhar as vias com automóveis, ônibus e caminhões ainda é perigoso.
ciclo-vias ajudam.
ciclo-ruas mostrarão a firmeza da administração pública para lidar com a poluição, o trânsito e a obesidade.
CICLE, biCICLE, reCICLE
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