segunda-feira, 14 de junho de 2010

Reações químicas

Tento pensar que as pessoas não têm qualidades absolutas, e sim relativas. Dentro desse raciocínio, não existem pessoas boas ou más em si mesmas. Nem agradáveis ou desagradáveis, atraentes ou desinteressantes. O que existe são combinações felizes ou infelizes, que dão certo ou não. Como elementos químicos: têm algumas características próprias, mas é a reação entre eles que dará o tom. Uma pessoa pode se revelar de um jeito para A e de outro para B. Nós agimos diferente conforme a companhia, e isso sem deixar de ser quem somos. Sabe aquele cara que muitos adoram, mas você acha insuportável? Mais simples do que apontar razões ou culpas é admitir que vocês apenas não combinam, e pronto. Isso não quer dizer que ele não possa ser incrível diante de outras pessoas, ou que elas estejam erradas em pensar isso dele. O resultado da combinação entre eles é diferente, só isso.

Mas as pessoas têm uma particularidade em relação aos elementos químicos: o resultado das combinações não é estável diante do tempo. Se combinarmos duas moléculas de hidrogênio com uma de oxigênio, sempre obteremos água, seja em 824 a.C. ou em 2012. Já o resultado da combinação entre duas pessoas não será sempre igual, porque elas não preservam as mesmas características ao longo do tempo: elas acumulam experiências que mudam seus valores, seu comportamento, suas expectativas, suas vontades. Por isso muitos casamentos acabam: o que dava supercerto no começo deixa de funcionar, e nem sempre sobra algo que valha a pena ser mantido.

Para complicar mais as coisas, nem sempre as percepções (boas ou ruins) que uma pessoa tem da outra caminham em sincronia. Se sempre existisse essa correspondência, essa harmonia perfeita, nunca haveria sofrimento. É comum que uma parte se encante e não seja correspondida, ou que ambas se envolvam e depois apenas uma delas se desencante. À parte que nunca teve ou deixou de ter a reciprocidade do sentimento (seja ele amor, amizade ou tesão), resta lamber as feridas e partir para outra - no ritmo e velocidade que sua autoestima permitir.

Estamos falando aqui de faíscas que perecem, decaem, deixam de existir - como a planta que nasce, cresce, floresce, murcha e morre, percorrendo um ciclo vital sempre na mesma direção. O mais curioso, porém, é que as relações humanas também têm a possibilidade de andar na direção contrária. Podemos perder o interesse em alguém e, num momento posterior, voltar a desejá-lo, sentir algo novo por ele.

Ou então aquele cara que nunca te deu a menor bola um dia pode passar a te enxergar com outros olhos e se interessar. A causa disso varia: ele mudou, você mudou ou os dois mudaram. O fato é que a combinação para ele não funcionava, e agora funciona. Happy end? Nem sempre. Nesse meio tempo, você também viveu e passou por uma série de coisas. É bem provável que seus valores tenham mudado - e, onde você via uma pessoa admirável, interessante e especial, hoje você enxergue apenas um babaca. Ah, os desencontros da vida!

18 comentários:

Daniel disse...

Acho que você conseguiu sintetizar bem o que muita gente já experimentou em algum momento da vida, até eu mesmo.

Lourival Lima Jr disse...

Sei muito bem o quê é isso. Acho que todos vivemos.

Já me taxaram de metido, arrogante. Na academia, gente que dizia "achava você muito metido, mas não sabia que você era tão gente boa". Ou japon...ops...pessoas que mal me conhecem e dizem "Ah, não suporto o Lourival. Acho ele muito falso"...e na balada vem cobrindo de beijinhos.

Lembro uma vez meu professor da faculdade que dizia que existe uma das coisas que a psicologia não consegue explicar é a antipatia imediata. A empatia vem de valores comuns, ateação física etc. A antipatia, não é possível determinar. O que leva a você não gostar de uma pessoa sem ao menos conhecer em profundidade a mesma? Você pode ter trocado somente duas palavras com ela numa festa ou nem isso, ela ser companhia de um amigo, mas você bate o olho e passa a automaticamente não gostar dela.

Aquela coisa que dizemos que "o santo não bate".

Logicamente, já passei por experiências em que tinha ojeriza à pessoa e hoje somos "best friends forever and ever". Questão de momento, experiências acumuladas, como você disse.

Outro fator que conta muito e, logicamente, é mutável com o tempo é o conjunto de valores morais que temos. Se não gostamos de pessoas promíscuas, dificilmente aceitaremos um michê num círculo de amizades. Pessoas humildes costumam demonizar que é narcisista. Para esses, as chances de empatia são mais difíceis, pois envolvem uma mudança de valores morais.

Por isso que o círculo de amigos muda tanto. Difícil alguém manter todos os amigos próximos por toda a vida. Nós mudamos, eles mudam, os valores mudam, a atração intensifica ou diminui, mas sempre existe aquela parcela de "best friends forever and ever after". O H2O sem o qual não existimos.

E tenho que parar de fazer comentários tão longos. Viram outro post...rs...

Beijão e boa semana.

Lobo disse...

Síntese muito boa de uma vivência quase universal das pessoas. Quando os sininhos não tocam, não tocam... mas se os sininhos tocarem em tempos diferentes, também não tem santo que faça isso ir pra frente...

E Introspective, me ensina a chegar no cafeína? Ahuahauahau. Pode me mandar por e-mail. Saindo da praça XV. Ou de Niterói, se tiver um intermunicipal que passe por lá...

Um beijo!

Paulo Braccini - Bratz disse...

O Introspective foi absoluto nesta síntese ... tudo se resume de maneira magnífica nesta frase: "O que existe são combinações felizes ou infelizes, que dão certo ou não."

#perfect

bjux

;-)

Mauri Boffil disse...

Comigo o que aconteceu era que o cara que passou a me olhar com outros olhos, descobriu que eu tinha coisas que eu lhe poderia proporcionar que ele não tinha... aí, fodeu.
Beso

Thiago Lasco disse...

Lobo: o Cafeína em que o encontro foi marcado fica em Ipanema, na Farme de Amoedo, uma rua perpendicular à orla, entre Prudente de Moraes e Visconde de Pirajá. Saindo da Praça XV, o que me parece mais fácil é vc andar até a Av. Rio Branco (se não souber onde é, pergunte; é uma das avenidas mais conhecidas do Centro do Rio. É paralela à Primeiro de Março, a rua do Paço Imperial, que fica bem pertinho da saída das Barcas).

Uma vez na Rio Branco, vc tem duas alternativas: metrô ou ônibus.

Metrô é bem mais rápido: ande até a estação Carioca, no Largo da Carioca, e pegue o trem sentido General Osório - é nessa estação que você vai descer, digo, "saltar", porque vc está no RJ. Pegue a saída na Rua Visconde de Pirajá e vá andando no sentido contrário ao dos carros; vc cruzará a Teixeira de Melo e a rua seguinte é a Farme, é só virar à esquerda e o Cafeína estará à sua direita, na metade do quarteirão.

De ônibus, vc pegar o 123 (Jd. Alah) ou 132 (Leblon), ambos amarelinhos, da Real. Eles vão pegar o Aterro do Flamengo, Praia de Botafogo e cortar Copacabana pela Barata Ribeiro. Quando fizer as duas curvas e entrar em Ipanema, fique esperto que vc verá a Praça General Osório à sua direita. Dê sinal para descer, digo, saltar, assim que a praça passar. Vc estará na rua Prudente de Moraes, e a Farme será a próxima rua à sua direita. Entrando na Farme, o Cafeína estará à sua esquerda, na metade do quarteirão.

Para voltar: se veio de metrô, é só voltar à estação General Osório e pegar a composição no sentido contrário, descer na Carioca. Se veio de ônibus: ande até a Visconde de Pirajá e pegue o 123, 125, 128 ou 132 e salte na Primeiro de Março, em frente ao Paço Imperial. Ande até as Barcas, e pronto.

Depois me conte como foi o encontro ;^)

... disse...

Ah, mon ami, são também os desencontros que fazem a vida ficar agitada... hehe!!! Adorei o enfoque do texto e com certeza concordo com vc!!!!! Tu, assim como a Martha M., sabe muito cerzir as palavras... hehe!!!
E fique certo: a Vaca Jersey sempre acerta o tiro... hehehe! Grato pela chacoalhada no meu sininho... isso que tu nem imaginas onde ele fica pendurado... hahahaha!!!! Hugzzzzzzz, cara!!! Vc é fera!

Rafa disse...

Ótimo texto! Isto perpassa as relações de maneira geral mesmo. Tem caras que vc acha lindos, mas quando "prova" te parecem xoxos, pessoas que à primeira vista não tem nada a ver contigo e se tornam amigos incríveis, vai saber... Te esperamos no próximo encontro! Abç

K. disse...

o texto está ótimo
e nem quero desmerecê-lo
mas me fez lembrar tanto de semisonic!

aaahhhh
All about chemistry
Won't you show me everything you've learned
I'll memorize everything you do to me so I can
Teach it when it comes my turn

Rodrigo disse...

guri... belo texto.

saudades, de tu

beijo pra ti

Paulo disse...

Ah, maldita química que nunca dá certo... E como você falou, é engraçado como os sentimentos mudam com o tempo!

Adorei!! :D

Rafael disse...

òtimo texto e é por aí mesmo, o sucesso de combinações não se sujeita somente aos elementos envolvidos, mas também ao tempo. A questão é que pra gente chegar a essa conclusão só mesmo fazendo experiências, como nas bancadas de laboratório, é misturar, obsevrar, provar e anotar os resultados pra analisar sozinho e tentar entender o resultado.

Guy Franco disse...

Eu não tenho 'química' comigo mesmo, às vezes. E ainda bem que mudamos, porque eu não me daria bem com a minha versão de quatro anos atrás.

Só não me chama de esquizofrênico, Introspective. Embora eu ache bonitinho.

Kisso!

S.A.M disse...

A vida e seus desencontros que a fazem fantástica. Não sei porque as pessoas teimam em continuar a olhar isso de um modo negativo.

Seria uma chateza se tudo pudesse ser programado ou não mudasse.

Essa incerteza é a adrenalina da vida.

Abração!

... disse...

Ô... demorou... "bora" fechar a porta desse estábulo... que faz tempo que eu quero saber do que tu é capaz... Esse lance de rugido, então... WOW... coisa de tiger... hehe!!!! Hugzão, por trás, meu Thundercat!!! Hehehehe!!!! Vc é ótimo mesmo... se é fera vamos comprovar... Pode vir... hahahaha!!!!!

Wans disse...

Sinceramente não creio nesse lance de que de um ahora para outra alguém se tornou o centro das atenções para alguém. Química tem que rolar desde o começo. Se não aconteceu momentaneamente, não é depois que acontecerá.

bjão, Thiago.

melo disse...

the chemistry between us...
acredito sim nessas reações químicas e que elas podem variar conforme altitude, pressão, condições atmosféricas e afins...
como disse, uma molécula de água sempre será uma molécula de água e as pessoas de certo evoluem com e no tempo trazendo para suas relações novos valores e visões mas, até que ponto é necessários fazer tantas ligações assim?
ou estamos mudando ou fugindo do núcleo do átomo sugados por uma força centrífuga?
de certo, como disse, que tudo muda, mas mudar sempre não é mudar demais?

Camille disse...

Pois olha, eu queria ver alguem dar uma quimica feliz com meu ex. Seria coisa para analisar na NASA, um ET, talvez. Tou amarrrrga, mas tou viva.
Beijinhos, voce é muito inteligente,
Cam