Lembram que eu disse, no meu último post de 2009, que meu ritmo no blog diminuiria um pouco, por conta de um novo projeto que ocuparia boa parte deste ano? Pois bem, vou falar um pouco sobre esse tal projeto. É o trabalho de conclusão de curso que vou elaborar com duas colegas de faculdade. Na maior parte dos cursos universitários, o TCC é uma monografia, em que o graduando desenvolve um tema dentro de um formato acadêmico, com regras próprias. Em Jornalismo, porém, o aluno também tem a opção de criar experimentalmente um produto de comunicação: um jornal, uma revista, um programa de rádio ou TV, um livro-reportagem ou mesmo um conteúdo multimídia.
Como tenho mais desenvoltura com a palavra escrita e minha ambição profissional é trabalhar em revistas, era de se esperar que eu optasse por desenvolver o projeto de uma revista, ou então escrevesse um livro-reportagem, a partir de alguma pauta de comportamento, ou mesmo de algum dos assuntos que exploro habitualmente aqui no blog. No entanto, se para muitos o TCC é o trampolim para os voos posteriores à faculdade, ele também pode ser uma chance de ousar, e fazer algo diferente daquilo que se planeja fazer dali para frente. Pensando nisso (e não tendo conseguido pensar em uma ideia melhor), resolvi aceitar o convite de minhas amigas para produzir um videodocumentário sobre mulheres de presidiários.
Nossa ideia é falar não sobre os detentos, mas sobre elas: quais as implicações de se ter um companheiro preso, na vida de uma mulher. As mudanças na rotina, as dificuldades financeiras, a educação dos filhos, a vida afetivo-sexual colocada em standby (ou vivenciada por meio das chamadas "visitas íntimas"), os favores (lícitos e ilícitos) que elas fazem para eles e seus colegas de cela, o estigma e preconceito que elas enfrentam nos círculos sociais pelos quais transitam. A personagem "típica" é aquela mulher humilde, que casou e teve filhos com o cara ainda em liberdade, mas também nos interessam aquelas que atóram um perigón e se envolveram com os rapazes já presos. Ou ainda esposas de classe média-alta, cujos maridos foram condenados por crimes de colarinho branco, por exemplo. Seria interessante investigar em que medida as situações de mulheres de diferentes classes sociais se parecem ou não.
É um tema vasto, com diversos recortes possíveis, e que tem potencial para render muitas histórias. É também um desafio e tanto para nós. Estamos começando do zero, ainda sem nenhum contato. Precisamos encontrar essas mulheres, nos aproximar delas e conquistar sua confiança, para que topem colaborar conosco e aparecer no documentário. O formato em vídeo é um complicador extra, pois: a) é preciso muito mais coragem para se expor diante de uma câmera do que para um bloquinho e gravador; b) não temos o equipamento necessário, e os recursos tecnológicos da faculdade são destinados preferencialmente aos alunos de Rádio e TV; e c) não sabemos operar uma câmera, nem temos noções de edição de vídeo. Ou seja: ao longo dos meses, teremos que sair do nada, ir aprendendo tudo, e dar corpo ao trabalho (conciliando-o com as outras obrigações das nossas vidas, que continuam!)
Mas essas mulheres não são as únicas que poderão colaborar conosco. Esperamos contar com a ajuda de várias outras pessoas, de diversas formas. Gente que conheça mulheres nessas condições e possa nos indicar. Que tenha contatos no meio penitenciário, e possa facilitar nosso trabalho, inclusive quanto à obtenção de autorizações para filmagem. Que seja ou conheça um antropólogo, psicólogo ou sociólogo com atuação nesse campo. Que já tenha feito, lido ou visto outros trabalhos sobre o nosso tema. Ou que tenha produzido videodocumentários sobre outros temas. Enfim, uma infinidade de pessoas pode nos dar dicas, palpites, referências e contatos. É também por isso que estou dividindo esse projeto com vocês. Este blog já me rendeu tantos frutos, quem sabe não consegue me dar uma luz na minha nova empreitada? Quem quiser ajudar ou mesmo trocar ideia sobre o assunto, por favor entre em contato comigo. No mais, quem sabe as histórias que vão surgindo pelo caminho não rendam bons posts para o blog? Quem viver, verá.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Torero Valese: espanhol bom e barato
Um grupo de restaurantes do Itaim Bibi, em São Paulo, resolveu pegar carona no sucesso da Restaurant Week e criou um evento parecido, chamado "Temporada de Verão no Itaim", que acontece até o dia 31. As casas La Tambouille, Bar des Arts, Porto Rubaiyat, Sallvattore, Thaï Gardens, Freddy, Quattrino Itaim, Eñe, Sassá Sushi, Torero Valese e Picchi se propuseram a criar "pratos leves e coloridos a preços mais acessíveis"; o menu com entrada, prato e sobremesa sai por R$55. Considerando a faixa de preço habitual dos participantes, de início a ideia me pareceu atraente.
Quando consultei os cardápios no site do festival, porém, vi que algumas casas usavam o pretexto do "verão" para oferecer pratos quase hospitalares, tipo salmão com legumes. Estava explicado de onde vinha a economia. Mas minha mãe e eu nos interessamos pelo menu do Torero Valese, um pequeno restaurante espanhol escondido na Rua Horácio Lafer, e resolvemos conhecer o lugar. Tivemos uma ótima impressão.
A entrada do menu do festival veio em três pratinhos quadrados, na forma de tapas: um com macias lulinhas à vinagrete, outro com algumas fatias de um embutido típico (era para ser uma pasta de queijo roquefort, mas minha mãe, que não come queijo cru, pediu para substituir) e outro com uma porção de "tomate catalão", trituradinho na ponta da faca com alho, sal e azeite, para se comer com pão (o famoso pa amb tomàquet da Catalunha). A porção era bastante generosa, especialmente em comparação com o que se costuma praticar na Restaurant Week.
Depois, havia três opções de prato principal: Paella a la Marinera, Arroz de polvo e camarão à moda Torero ou Medalhão de filé mignon ao molho de cogumelos silvestres. Minha mãe escolheu a paella, e recebeu outro prato sem miséria, bem servido de frutos do mar. Eu ia escolher o medalhão, mas vi que o cardápio normal tinha muitos pratos tentadores, todos na faixa de R$25 a R$35, e acabei pedindo fora do festival. Depois de muita indecisão, comi um frango recheado de jamón crudo com risoto de queijo e aspargo. O sabor era agradável, mas eu não repetiria o pedido, diante de tantas opções interessantes (não adianta consultarem o menu no site do restaurante, que está desatualizado). Nas mesas vizinhas, a apresentação dos outros pratos era muito convidativa.
Fechamos dividindo a Torta Barcelona (torta gelada com bolacha de amêndoas, chocolate branco, chocolate meio amargo e farofa) que fazia parte do menu do festival, e nos animamos a voltar outras vezes. Com luz baixa e pegada de bar, o Torero Valese é um lugar gostoso, sem grandes pretensões e com preços bastante honestos, mesmo fora do festival. Numa cidade em que a culinária espanhola custa caro, polarizada entre o tradicional Don Curro e o vanguardista Eñe, um lugar mais informal para comer tapas com os amigos é uma novidade muito bem-vinda.
Quando consultei os cardápios no site do festival, porém, vi que algumas casas usavam o pretexto do "verão" para oferecer pratos quase hospitalares, tipo salmão com legumes. Estava explicado de onde vinha a economia. Mas minha mãe e eu nos interessamos pelo menu do Torero Valese, um pequeno restaurante espanhol escondido na Rua Horácio Lafer, e resolvemos conhecer o lugar. Tivemos uma ótima impressão.
A entrada do menu do festival veio em três pratinhos quadrados, na forma de tapas: um com macias lulinhas à vinagrete, outro com algumas fatias de um embutido típico (era para ser uma pasta de queijo roquefort, mas minha mãe, que não come queijo cru, pediu para substituir) e outro com uma porção de "tomate catalão", trituradinho na ponta da faca com alho, sal e azeite, para se comer com pão (o famoso pa amb tomàquet da Catalunha). A porção era bastante generosa, especialmente em comparação com o que se costuma praticar na Restaurant Week.
Depois, havia três opções de prato principal: Paella a la Marinera, Arroz de polvo e camarão à moda Torero ou Medalhão de filé mignon ao molho de cogumelos silvestres. Minha mãe escolheu a paella, e recebeu outro prato sem miséria, bem servido de frutos do mar. Eu ia escolher o medalhão, mas vi que o cardápio normal tinha muitos pratos tentadores, todos na faixa de R$25 a R$35, e acabei pedindo fora do festival. Depois de muita indecisão, comi um frango recheado de jamón crudo com risoto de queijo e aspargo. O sabor era agradável, mas eu não repetiria o pedido, diante de tantas opções interessantes (não adianta consultarem o menu no site do restaurante, que está desatualizado). Nas mesas vizinhas, a apresentação dos outros pratos era muito convidativa.
Fechamos dividindo a Torta Barcelona (torta gelada com bolacha de amêndoas, chocolate branco, chocolate meio amargo e farofa) que fazia parte do menu do festival, e nos animamos a voltar outras vezes. Com luz baixa e pegada de bar, o Torero Valese é um lugar gostoso, sem grandes pretensões e com preços bastante honestos, mesmo fora do festival. Numa cidade em que a culinária espanhola custa caro, polarizada entre o tradicional Don Curro e o vanguardista Eñe, um lugar mais informal para comer tapas com os amigos é uma novidade muito bem-vinda.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Carnaval SC 2010: quem, quando e onde
Quando comecei a ir para Florianópolis, em 2004, o Carnaval da ilha era uma opção mais low profile à jogação descontrol do Rio de Janeiro. O esquema era muito simples: os dias na praia Mole, onde um desleixado Bar do Deca reinava soberano, e as noites na única boate da cidade, a Concorde (cuja pista, redonda e giratória, eu apelidei carinhosamente de "drag grill"). Não havia carão, todo mundo baixava a guarda e interagia, e o colocón era bem tímido, só para dar um brilho mesmo. Esse clima leve, aliado ao sabor de novidade e à beleza das praias, foi atraindo mais e mais gays de outras regiões do Brasil.
Eu também gostei da brincadeira, e passei a alternar meus carnavais entre RJ e SC [os prós e contras de cada um, eu analiso aqui]. A cada nova viagem para o sul, o crescimento era nítido. O grande salto foi dado em 2008, quando a ilha deixou de ser um destino regional e ganhou projeção nacional. Enquanto o sucesso de Jurerê Internacional fez com que os mais empolgados e até a imprensa passassem a se referir a Floripa como a "Ibiza brasileira", a cena gay passava a um novo nível com a chegada da The Week, que comandou uma maratona de festas e DJs típica do eixo Rio-São Paulo. Os manezinhos perderam a inocência e começaram a se jogar como gente grande.
Continuo fazendo o meu rodízio, e 2010 será meu quarto Carnaval em Floripa. Como tenho o hábito de planejar as minhas viagens, tratei de fazer um levantamento das festas e DJs que vão agitar a ilha, e dou todo o serviço aqui, para que você, leitor do blog, também possa fazer sua programação. Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, um planejamento decente é a melhor maneira de conciliar festas e fervos diurnos, sem se perder pelo caminho.
Tudo indica que não haverá grandes novidades nesta temporada. Para os turistas gays, a The Week continua sendo a opção mais prática e cômoda, e deverá lotar todos os dias, apoiada em DJs residentes e convidados que já são velhos conhecidos do seu público. Correndo por fora, estão o clube Concorde, que só não abrirá no domingo, e a festa E.Joy, que fará uma edição justamente no domingo. A Sunrise, festa do barco que já havia virado tradição no domingo de Carnaval, não será realizada neste ano.
Você acha que já ouviu "Bad Romance" o suficiente? Uma sugestão é juntar um grupo de amigos e se jogar nos superclubes eletrônicos, que receberão top DJs como Hernán Cattáneo, Erick Morillo e Armin Van Buuren. O Pacha fica em Jurerê Internacional, no norte da ilha; já o Warung, o Green Valley e o estreante Blue Coast ficam na região de Balneário Camboriú e Itajaí, a uma hora de carro de Floripa. Tenho amigos (gays) que não trocam o Green Valley e o Warung por nada: afinal, a vibe é incrível e os homens são de babar.
Aliás, mesmo quem preferir não arriscar uma jogação noturna tão distante (e ter que voltar dirigindo para casa depois!) pode dar uma olhada em Jurerê durante o dia: os beach bars Parador 12 e El Divino têm bons DJs animando a praia e muita gente bonita. Outra pedida para quem quer mudar de ares é conferir a Praia do Campeche, que, de dois anos pra cá, vem recebendo os belos que cansaram da Mole.
Aqui vai a agenda de atrações [vou atualizar caso surjam novidades ou alterações]:
QUINTA (11/2) Slam T & Romulo Azzaro, Concorde.
SEXTA (12/2) Life is a Loop, Warung. Erick Morillo, Green Valley. Abel, The Week (casa abre às 23h). Café com Vodka, Jivago. Marcinha & Paty Laus, Concorde.
SÁBADO (13/2) Armin Van Buuren, Green Valley. Kaskade, Pacha. J. Louis & Isaac Escalante, The Week (casa abre às 17h). Danny Verde, Concorde.
DOMINGO (14/2) Sharam (Deep Dish), Warung. Steve Angello, Green Valley. Life is a Loop, Parador 12. Juanjo Martin & Tony Moran, The Week (casa abre às 17h).Ralphi Rosario, Ana Paula & Ale Bittencourt, E.Joy @ Alameda Casa Rosa. Phil Romano, Splash @ Concorde (festa da espuma, só para homens).
SEGUNDA (15/2) Bob Sinclair, Green Valley. Seb Fontaine, Ned Shepard & Nadia Ali, Blue Coast. Hernán Cattáneo, Pacha. Peter Rauhofer, The Week (casa abre às 23h). Tiago Vibe & Joe Welch @ Concorde.
TERÇA (16/2) Luciano, Warung. Kaskade, Green Valley. Gui Boratto, Parador 12. Steve Angello & Moony, Pacha. Chris Cox, The Week (casa abre às 17h). DJ Paulo, Concorde.
QUARTA (17/2) Café Com Vodka, Latitude 27.
Eu também gostei da brincadeira, e passei a alternar meus carnavais entre RJ e SC [os prós e contras de cada um, eu analiso aqui]. A cada nova viagem para o sul, o crescimento era nítido. O grande salto foi dado em 2008, quando a ilha deixou de ser um destino regional e ganhou projeção nacional. Enquanto o sucesso de Jurerê Internacional fez com que os mais empolgados e até a imprensa passassem a se referir a Floripa como a "Ibiza brasileira", a cena gay passava a um novo nível com a chegada da The Week, que comandou uma maratona de festas e DJs típica do eixo Rio-São Paulo. Os manezinhos perderam a inocência e começaram a se jogar como gente grande.
Continuo fazendo o meu rodízio, e 2010 será meu quarto Carnaval em Floripa. Como tenho o hábito de planejar as minhas viagens, tratei de fazer um levantamento das festas e DJs que vão agitar a ilha, e dou todo o serviço aqui, para que você, leitor do blog, também possa fazer sua programação. Com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, um planejamento decente é a melhor maneira de conciliar festas e fervos diurnos, sem se perder pelo caminho.
Tudo indica que não haverá grandes novidades nesta temporada. Para os turistas gays, a The Week continua sendo a opção mais prática e cômoda, e deverá lotar todos os dias, apoiada em DJs residentes e convidados que já são velhos conhecidos do seu público. Correndo por fora, estão o clube Concorde, que só não abrirá no domingo, e a festa E.Joy, que fará uma edição justamente no domingo. A Sunrise, festa do barco que já havia virado tradição no domingo de Carnaval, não será realizada neste ano.
Você acha que já ouviu "Bad Romance" o suficiente? Uma sugestão é juntar um grupo de amigos e se jogar nos superclubes eletrônicos, que receberão top DJs como Hernán Cattáneo, Erick Morillo e Armin Van Buuren. O Pacha fica em Jurerê Internacional, no norte da ilha; já o Warung, o Green Valley e o estreante Blue Coast ficam na região de Balneário Camboriú e Itajaí, a uma hora de carro de Floripa. Tenho amigos (gays) que não trocam o Green Valley e o Warung por nada: afinal, a vibe é incrível e os homens são de babar.
Aliás, mesmo quem preferir não arriscar uma jogação noturna tão distante (e ter que voltar dirigindo para casa depois!) pode dar uma olhada em Jurerê durante o dia: os beach bars Parador 12 e El Divino têm bons DJs animando a praia e muita gente bonita. Outra pedida para quem quer mudar de ares é conferir a Praia do Campeche, que, de dois anos pra cá, vem recebendo os belos que cansaram da Mole.
Aqui vai a agenda de atrações [vou atualizar caso surjam novidades ou alterações]:
QUINTA (11/2) Slam T & Romulo Azzaro, Concorde.
SEXTA (12/2) Life is a Loop, Warung. Erick Morillo, Green Valley. Abel, The Week (casa abre às 23h). Café com Vodka, Jivago. Marcinha & Paty Laus, Concorde.
SÁBADO (13/2) Armin Van Buuren, Green Valley. Kaskade, Pacha. J. Louis & Isaac Escalante, The Week (casa abre às 17h). Danny Verde, Concorde.
DOMINGO (14/2) Sharam (Deep Dish), Warung. Steve Angello, Green Valley. Life is a Loop, Parador 12. Juanjo Martin & Tony Moran, The Week (casa abre às 17h).
SEGUNDA (15/2) Bob Sinclair, Green Valley. Seb Fontaine, Ned Shepard & Nadia Ali, Blue Coast. Hernán Cattáneo, Pacha. Peter Rauhofer, The Week (casa abre às 23h). Tiago Vibe & Joe Welch @ Concorde.
TERÇA (16/2) Luciano, Warung. Kaskade, Green Valley. Gui Boratto, Parador 12. Steve Angello & Moony, Pacha. Chris Cox, The Week (casa abre às 17h). DJ Paulo, Concorde.
QUARTA (17/2) Café Com Vodka, Latitude 27.
sábado, 16 de janeiro de 2010
A missão dos "coloridos"
Muitas pessoas consideram política e religião dois assuntos-tabu, que não se deve discutir socialmente, dado o risco de gerar polêmicas e melindres. Eu tenho cautela semelhante com o Big Brother Brasil, tema do qual sempre me esquivei, dentro e fora do blog. Apontar a mediocridade do programa, além de redundante como chutar cachorro morto, é um convite para o banimento social. BBB é como house tribal: pega mal falar mal. Para os interlocutores, é como se você quisesse passar recibo de esnobe, de pernóstico, dizendo que está muito acima do mau gosto da massa ignara, que prestigia algo tão pobre. Como seria preciso forçar a barra para falar algo positivo sobre o programa (cuja única contribuição para a sociedade é a safra anual de "ex-BBBs" que tentam a todo custo faturar uns trocados na mídia), é mais fácil ficar quieto e sorrir amarelo.
Desta vez, porém, a receita que borbulha no caldeirão de Pedro Bial tem um ingrediente novo, e que merece um comentário. A décima edição traz pelo menos três participantes homossexuais (esses são os assumidos). Para a produção do programa, é uma maneira de quebrar o marasmo, atrair o interesse do telespectador médio e ainda posar de amiga da "diversidade". Já no meio LGBTT, a novidade tem dividido opiniões. Isso porque a produção escalou figuras nada discretas: Dicesar, o maquiador que dá vida à conhecida drag Dimmy Kier, e Sérgio, o emo pintosérrimo que lhe desfere uma bitoca na imagem acima. Só a sapa Angélica parece fazer uma linha mais "baixos teores", por assim dizer. Enquanto alguns vibraram com a inclusão dos três candidatos, sustentando que isso seria um verdadeiro avanço para toda a classe, outros tantos se sentiram desconfortáveis, acreditando que a escolha de gays extravagantes só serviria para reforçar os estereótipos vigentes e perpetuar o preconceito. Confesso que eu mesmo tenho sentimentos ambíguos em relação ao assunto, e até consultei a opinião dos amigos via Facebook e Twitter, enquanto procurava refletir a respeito.
Vou começar saindo em defesa das pintosas. Reconheço que elas representam uma fatia pequena dentro do amplo espectro dos LGBTTs, e o público médio tende a generalizar essa referência, o que pode atrapalhar a assimilação dos homossexuais como um todo. Isso não quer dizer, porém, que essas pessoas não tenham o direito de aparecer e devam ser varridas para baixo do tapete: a sociedade precisa aprender a respeitar a todos, inclusive os afeminados, por mais tortuoso que seja o caminho até lá.
Além disso, como já escrevi no post sobre o "casamento gay" que foi televisionado em 2008, antes de apontar o dedo para as bichinhas, temos que lembrar que, muitas vezes, elas são as únicas que se dispõem a dar a cara a tapa por aí. É muito cômodo atacá-las à distância, dizendo que queimam o nosso filme e há exemplos melhores a se dar, sem jamais topar dar o exemplo no lugar delas. Muitos as condenam, mas poucos têm peito para assumir o ônus da exposição pública. Por isso, por menor que seja minha identificação com Sérgio e Dicesar, não posso deixar de aplaudir sua coragem - eles têm muito mais culhão do que os inúmeros "bofes de soja" que povoam o mundo (e o próprio BBB10), fingindo ser algo que não são.
O que me parece realmente importante, e isso nós temos que ter muito claro, é o que a Rede Globo quis ao selecionar esses fofos. Ao contrário do que a emissora carioca quer fazer parecer, e alguns incautos de plantão parecem ter acreditado, os propósitos em jogo nada têm a ver com inclusão social. Não esqueçamos que a Globo veda sistematicamente o beijo gay em suas novelas, alegando que essa imagem está abaixo de seu "padrão de qualidade". Por que no BBB o diretor Boninho avisou que pode? Porque a preocupação de um reality show, diferentemente do irmão "nobre" de grade que é a novela, não tem nenhum comprometimento com a qualidade: o que se busca é explorar o voyeurismo humano de forma grotesca, bizarra.
Nesse sentido, o eventual beijo entre homens não aparece de forma positiva, endossado pela emissora: ele se insere no mesmo contexto de outras tantas "baixarias reais" que surgem como subprodutos do confinamento, assim como banhos desinibidos de chuveiro, pegações embaixo do cobertor e barracos em geral. Os homos do BBB não foram chamados para dar lições de cidadania (tanto é que foram convenientemente colocados no grupo dosmorde-fronhas "coloridos", ou seja, mantidos à margem da normalidade vigente), mas sim na esperança de agregar audiência a um formato que já começa a dar sinais de cansaço. Se rolar um babado forte e voar pena pra tudo quanto é lado, tanto melhor: instala-se uma polêmica, e o ibope sobe. Tudo isso de forma nada ameaçadora, já que os velhos estereótipos não são postos em xeque, evitando problemas para os segmentos mais conservadores.
Por isso, se eu não acho que a presença de gays pintosos no BBB10 seja um mal em si, algo de que todos devamos nos envergonhar, tampouco acho que existam razões para comemorar, como parece ter sido o tom de vários comentários deixados em sites gays. No fim das contas, os homossexuais não estão recebendo nenhuma dádiva do programa, mas trabalhando a serviço dele, como meras atrações do circo televisivo. Não se iludam, alices: se porventura Dicesar, Sérgio ou Angélica vencerem o jogo, isso não significará absolutamente nada, nada além de uma vitória individual para uma dessas pessoas. Não será um "passo à frente", nem haverá algo para o movimento gay comemorar: continuaremos sendo motivo de chacota, levando coió nas ruas, sendo sonegados em nossos direitos civis mais elementares. Big Brother Brasil não traz cidadania pra ninguém.
Desta vez, porém, a receita que borbulha no caldeirão de Pedro Bial tem um ingrediente novo, e que merece um comentário. A décima edição traz pelo menos três participantes homossexuais (esses são os assumidos). Para a produção do programa, é uma maneira de quebrar o marasmo, atrair o interesse do telespectador médio e ainda posar de amiga da "diversidade". Já no meio LGBTT, a novidade tem dividido opiniões. Isso porque a produção escalou figuras nada discretas: Dicesar, o maquiador que dá vida à conhecida drag Dimmy Kier, e Sérgio, o emo pintosérrimo que lhe desfere uma bitoca na imagem acima. Só a sapa Angélica parece fazer uma linha mais "baixos teores", por assim dizer. Enquanto alguns vibraram com a inclusão dos três candidatos, sustentando que isso seria um verdadeiro avanço para toda a classe, outros tantos se sentiram desconfortáveis, acreditando que a escolha de gays extravagantes só serviria para reforçar os estereótipos vigentes e perpetuar o preconceito. Confesso que eu mesmo tenho sentimentos ambíguos em relação ao assunto, e até consultei a opinião dos amigos via Facebook e Twitter, enquanto procurava refletir a respeito.
Vou começar saindo em defesa das pintosas. Reconheço que elas representam uma fatia pequena dentro do amplo espectro dos LGBTTs, e o público médio tende a generalizar essa referência, o que pode atrapalhar a assimilação dos homossexuais como um todo. Isso não quer dizer, porém, que essas pessoas não tenham o direito de aparecer e devam ser varridas para baixo do tapete: a sociedade precisa aprender a respeitar a todos, inclusive os afeminados, por mais tortuoso que seja o caminho até lá.
Além disso, como já escrevi no post sobre o "casamento gay" que foi televisionado em 2008, antes de apontar o dedo para as bichinhas, temos que lembrar que, muitas vezes, elas são as únicas que se dispõem a dar a cara a tapa por aí. É muito cômodo atacá-las à distância, dizendo que queimam o nosso filme e há exemplos melhores a se dar, sem jamais topar dar o exemplo no lugar delas. Muitos as condenam, mas poucos têm peito para assumir o ônus da exposição pública. Por isso, por menor que seja minha identificação com Sérgio e Dicesar, não posso deixar de aplaudir sua coragem - eles têm muito mais culhão do que os inúmeros "bofes de soja" que povoam o mundo (e o próprio BBB10), fingindo ser algo que não são.
O que me parece realmente importante, e isso nós temos que ter muito claro, é o que a Rede Globo quis ao selecionar esses fofos. Ao contrário do que a emissora carioca quer fazer parecer, e alguns incautos de plantão parecem ter acreditado, os propósitos em jogo nada têm a ver com inclusão social. Não esqueçamos que a Globo veda sistematicamente o beijo gay em suas novelas, alegando que essa imagem está abaixo de seu "padrão de qualidade". Por que no BBB o diretor Boninho avisou que pode? Porque a preocupação de um reality show, diferentemente do irmão "nobre" de grade que é a novela, não tem nenhum comprometimento com a qualidade: o que se busca é explorar o voyeurismo humano de forma grotesca, bizarra.
Nesse sentido, o eventual beijo entre homens não aparece de forma positiva, endossado pela emissora: ele se insere no mesmo contexto de outras tantas "baixarias reais" que surgem como subprodutos do confinamento, assim como banhos desinibidos de chuveiro, pegações embaixo do cobertor e barracos em geral. Os homos do BBB não foram chamados para dar lições de cidadania (tanto é que foram convenientemente colocados no grupo dos
Por isso, se eu não acho que a presença de gays pintosos no BBB10 seja um mal em si, algo de que todos devamos nos envergonhar, tampouco acho que existam razões para comemorar, como parece ter sido o tom de vários comentários deixados em sites gays. No fim das contas, os homossexuais não estão recebendo nenhuma dádiva do programa, mas trabalhando a serviço dele, como meras atrações do circo televisivo. Não se iludam, alices: se porventura Dicesar, Sérgio ou Angélica vencerem o jogo, isso não significará absolutamente nada, nada além de uma vitória individual para uma dessas pessoas. Não será um "passo à frente", nem haverá algo para o movimento gay comemorar: continuaremos sendo motivo de chacota, levando coió nas ruas, sendo sonegados em nossos direitos civis mais elementares. Big Brother Brasil não traz cidadania pra ninguém.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Rapidinhas paulistanas
HIGH SCHOOL ICE CREAM Para criar um hype em torno do picolé Magnum, a Kibon montou uma casa temática chamada Magnum Hall, e convidou alguns chefs para criarem sobremesas usando o sorvete. O espaço tem decoração inspirada em musicais da Broadway - na linha do comercial que mostra uma garota mordendo o picolé e sendo transformada em diva do cinema, com o mote "o prazer de se sentir tratada como estrela". Os garçons fazem pequenas performances a cada sobremesa servida e, depois do sorvete, as clientes mulheres ganham de presente uma sessão de maquiagem (?!), para terem seu momento diva. Confesso que achei tudo meio over (me senti no Planet Hollywood, nos idos de 1995!), mas a sobremesa que provei era incrível: um Magnum sabor cookies partido em quatro numa taça, com creme de mascarpone, calda de frutas vermelhas e um suave toque de vinho Beaujolais. Quer provar? O Magnum Hall funciona só até o dia 31/1, das 12 às 0h, na Rua Amauri, 352.
ASIÁTICO 2.0 A filial paulistana do restaurante tailandês Nam Thai (que eu provei e aprovei aqui) fechou as portas em maio. Minha tristeza durou pouco: eu logo soube que a casa seria apenas repaginada, reabrindo com outro nome. Parece que o upgrade foi de primeira. O novo Ban Kao tem ambiente muito mais vistoso, e a culinária agora também cita Malásia, Vietnã, Indonésia, Cingapura e Japão. O antigo proprietário do Nam Thai (que continua firme e forte no Rio) se juntou aos donos do Asia 70, o que talvez explique a pegada "baladeira" da nova casa, que tem luz mais baixa e house music bombando. É um dos próximos restaurantes da minha lista de novidades a conferir.
JOGAÇÃO DE QUINTA(-FEIRA) Por falar em house music, um dos meus DJs preferidos, o holandês Sander Kleinenberg, toca amanhã no Pacha de São Paulo. Sander foi um dos papas do progressive, minha vertente eletrônica predileta, mas hoje seu caldeirão sonoro é bem diversificado. Entre suas últimas produções está um remix babadeiro para "Celebration", da Madonna. Rodrigo Ferrari abre a noite, e o convidado assume as pickups às 2h. A consumação mínima é de R$100 (H) e R$50 (M). Ainda não sei se vou encarar essa jogação bem no meio da semana. Nas minhas últimas experiências no clube, a pista era ocupada por uma horda de patileusas de echarpe e salto agulha, que ficavam paradas fazendo carão; com isso, os DJs, desestimulados, acabavam fazendo sets bem aquém do padrão habitual.
BOLACHA TRAKINAS E já que o assunto é DJ, adorei a fofa que fechou o Café Com Vodka do último domingo, no Sonique. A menina fez um set superbacana, com hits dos anos 90 em remixes bem atuais (parêntese: é impressionante como TODA DJ sapa gosta de tocar Gala, vocês notaram?), e conseguiu fazer a pista deixar o modo blasé e se jogar de verdade (teve até blogayro subindo na caixa de som e fazendo dancinha abusada até o chão). Fervida e mega carismática, a DJ estava em êxtase e parecia se divertir ainda mais que a gente. Depois fui descobrir que ela se chamava Cella Toledo e já havia tocado em outras edições do projeto. Ei Duda, que tal transformá-la em residente? A moça tem potencial para estourar, e depois você poderá dizer que foi o CCV que a descobriu primeiro!
ASIÁTICO 2.0 A filial paulistana do restaurante tailandês Nam Thai (que eu provei e aprovei aqui) fechou as portas em maio. Minha tristeza durou pouco: eu logo soube que a casa seria apenas repaginada, reabrindo com outro nome. Parece que o upgrade foi de primeira. O novo Ban Kao tem ambiente muito mais vistoso, e a culinária agora também cita Malásia, Vietnã, Indonésia, Cingapura e Japão. O antigo proprietário do Nam Thai (que continua firme e forte no Rio) se juntou aos donos do Asia 70, o que talvez explique a pegada "baladeira" da nova casa, que tem luz mais baixa e house music bombando. É um dos próximos restaurantes da minha lista de novidades a conferir.
JOGAÇÃO DE QUINTA(-FEIRA) Por falar em house music, um dos meus DJs preferidos, o holandês Sander Kleinenberg, toca amanhã no Pacha de São Paulo. Sander foi um dos papas do progressive, minha vertente eletrônica predileta, mas hoje seu caldeirão sonoro é bem diversificado. Entre suas últimas produções está um remix babadeiro para "Celebration", da Madonna. Rodrigo Ferrari abre a noite, e o convidado assume as pickups às 2h. A consumação mínima é de R$100 (H) e R$50 (M). Ainda não sei se vou encarar essa jogação bem no meio da semana. Nas minhas últimas experiências no clube, a pista era ocupada por uma horda de patileusas de echarpe e salto agulha, que ficavam paradas fazendo carão; com isso, os DJs, desestimulados, acabavam fazendo sets bem aquém do padrão habitual.
BOLACHA TRAKINAS E já que o assunto é DJ, adorei a fofa que fechou o Café Com Vodka do último domingo, no Sonique. A menina fez um set superbacana, com hits dos anos 90 em remixes bem atuais (parêntese: é impressionante como TODA DJ sapa gosta de tocar Gala, vocês notaram?), e conseguiu fazer a pista deixar o modo blasé e se jogar de verdade (teve até blogayro subindo na caixa de som e fazendo dancinha abusada até o chão). Fervida e mega carismática, a DJ estava em êxtase e parecia se divertir ainda mais que a gente. Depois fui descobrir que ela se chamava Cella Toledo e já havia tocado em outras edições do projeto. Ei Duda, que tal transformá-la em residente? A moça tem potencial para estourar, e depois você poderá dizer que foi o CCV que a descobriu primeiro!
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Complexo de índio
Quando as nuvens se dissipam e o sol irradia sua luz sobre o Rio de Janeiro, cada centímetro de areia da praia de Ipanema é preenchido por cariocas e turistas querendo dourar o pandeiro e colocar o papo em dia cazamiga. Daí que a gente acaba participando involuntariamente da conversa de quem está perto (especialmente quem vai à praia sozinho e tem medo de trazer o iPod, como eu). Dia desses, meus vizinhos de Coqueirão eram dois rapazes brasileiros (como nenhum sotaque me chamou a atenção, vou assumir que eram paulistas, mas não posso afirmar com certeza) e dois estrangeiros (um deles era provavelmente inglês, e o outro devia ser francês ou belga). Aquela era a primeira visita dos gringos, e os brazucas tentavam, a seu modo, fazer as honras da casa, falando sobre a cidade e o país.
É claro que cada um tem seus gostos e opiniões e faz um recorte diferente do país em que vive. Mas os dois brasileiros fizeram um recorte, digamos, peculiar do Rio. Entre outras dicas, recomendaram comer no Le Vin ("filial de um ótimo restaurante francês lá de São Paulo") e avisaram que o Shopping Leblon dispunha de lojas da Diesel e da Armani Exchange, e mais uma multimarcas "xis" que vendia jeans de ótimas grifes de fora. Em relação a baladas, "até tem umas boates e festas por aí, mas nada que chegue aos pés da noite de Londres!", sentenciou um deles. Essa foi a deixa para que os dois começassem a tecer loas sobre a noite e o estilo dos europeus, e também disputassem entre si quem conhecia mais clubes e era mais íntimo dos melhores endereços de Londres e Paris.
Não sei se os gringos se sentiram lisonjeados com tamanha deferência, ou se ficaram pensando que o brasileiro é um povo sem muita autoestima. Será que eles haviam decidido voar para o Brasil para comer steak tartar e comprar calças da Diesel? Se eu estivesse na pele deles e me montassem esse roteiro, no mínimo eu soltaria um "puxa, nem parece que estamos no Brasil!", em tom de ironia. Para os dois nativos, porém, estava claro que o valor do Rio (e do Brasil) se media por sua capacidade de assimilar referências estrangeiras e estar up-to-date com o que era consumido nos grandes centros urbanos europeus. Assim, a melhor maneira de impressionar aqueles turistas era mostrar a eles que ali também se vendia Armani.
Não estou questionando o nosso apreço por aquilo que é estrangeiro (nem poderia fazê-lo, já que eu mesmo admiro inúmeras coisas vindas de fora), mas sim o desapreço de muitos de nós por aquilo que é brasileiro. É como se tivéssemos internalizado a ideia de que a herança colonial e o subdesenvolvimento fazem do Brasil um país inferior em todos os aspectos, e cuja cultura não merece ser descoberta e prestigiada. Os dois nativos podem ter dado aquelas dicas para os gringos porque realmente apreciavam os lugares citados; mas eu arrisco dizer que talvez eles não tenham sido capazes de montar um roteiro genuinamente brasileiro do Rio, por puro desconhecimento. Não seria de se admirar, dado o desinteresse que demonstravam pelo próprio país (que deviam conhecer menos do que a Europa).
Paradoxalmente, o que minhas vivências no Exterior me ensinaram foi que poucas nacionalidades são tão festejadas lá fora quanto a nossa. Quando perguntam de onde somos e respondemos "Brasil", a reação dos interlocutores jamais é de indiferença; não raro, é de festa mesmo. Valorizam-se muitas qualidades atribuídas ao nosso povo: espontâneos, comunicativos, passionais, de uma animação contagiante. Isso sem falar na fama de bons de cama, dentro e fora do meio gay. Não pretendo discutir aqui até que ponto esses (pre)conceitos se aplicam, onde termina a tal cordialidade defendida por Sérgio Buarque de Holanda e onde começam os mitos, mas o fato é que ser brasileiro pega bem lá fora. Mesmo que nosso passaporte não seja o mais admirado pelo setor de imigração de alguns aeroportos, mesmo que em certos contextos específicos nosso povo seja associado a referências pejorativas (a mulher vulgar, o michê trambiqueiro), o Brasil está na moda. Com a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, então, nem se fala.
Quem decide viajar está se dispondo a mergulhar na cultura do país visitado. Descobrir novos costumes, novas comidas, novos estilos, é aí que está a graça da brincadeira. Pena que os dois paulistas do Coqueirão não entenderam isso. Para eles, era mais importante pedir a bênção daqueles caras-pálidas. E eles não estão sozinhos. Em pleno século 21, muitos brasileiros ainda vivem em função da aprovação gringa. Vibramos quando, ao ler a resenha de um show, ficamos sabendo que a Madonna, a Kylie Minogue e a Lily Allen amaram a gente e disseram que fomos o melhor público que elas tiveram em suas turnês. Ainda precisamos ouvir dos outros que temos valor. Quando será que finalmente vamos nos convencer de que, sim, nós somos legais pra caramba?
É claro que cada um tem seus gostos e opiniões e faz um recorte diferente do país em que vive. Mas os dois brasileiros fizeram um recorte, digamos, peculiar do Rio. Entre outras dicas, recomendaram comer no Le Vin ("filial de um ótimo restaurante francês lá de São Paulo") e avisaram que o Shopping Leblon dispunha de lojas da Diesel e da Armani Exchange, e mais uma multimarcas "xis" que vendia jeans de ótimas grifes de fora. Em relação a baladas, "até tem umas boates e festas por aí, mas nada que chegue aos pés da noite de Londres!", sentenciou um deles. Essa foi a deixa para que os dois começassem a tecer loas sobre a noite e o estilo dos europeus, e também disputassem entre si quem conhecia mais clubes e era mais íntimo dos melhores endereços de Londres e Paris.
Não sei se os gringos se sentiram lisonjeados com tamanha deferência, ou se ficaram pensando que o brasileiro é um povo sem muita autoestima. Será que eles haviam decidido voar para o Brasil para comer steak tartar e comprar calças da Diesel? Se eu estivesse na pele deles e me montassem esse roteiro, no mínimo eu soltaria um "puxa, nem parece que estamos no Brasil!", em tom de ironia. Para os dois nativos, porém, estava claro que o valor do Rio (e do Brasil) se media por sua capacidade de assimilar referências estrangeiras e estar up-to-date com o que era consumido nos grandes centros urbanos europeus. Assim, a melhor maneira de impressionar aqueles turistas era mostrar a eles que ali também se vendia Armani.
Não estou questionando o nosso apreço por aquilo que é estrangeiro (nem poderia fazê-lo, já que eu mesmo admiro inúmeras coisas vindas de fora), mas sim o desapreço de muitos de nós por aquilo que é brasileiro. É como se tivéssemos internalizado a ideia de que a herança colonial e o subdesenvolvimento fazem do Brasil um país inferior em todos os aspectos, e cuja cultura não merece ser descoberta e prestigiada. Os dois nativos podem ter dado aquelas dicas para os gringos porque realmente apreciavam os lugares citados; mas eu arrisco dizer que talvez eles não tenham sido capazes de montar um roteiro genuinamente brasileiro do Rio, por puro desconhecimento. Não seria de se admirar, dado o desinteresse que demonstravam pelo próprio país (que deviam conhecer menos do que a Europa).
Paradoxalmente, o que minhas vivências no Exterior me ensinaram foi que poucas nacionalidades são tão festejadas lá fora quanto a nossa. Quando perguntam de onde somos e respondemos "Brasil", a reação dos interlocutores jamais é de indiferença; não raro, é de festa mesmo. Valorizam-se muitas qualidades atribuídas ao nosso povo: espontâneos, comunicativos, passionais, de uma animação contagiante. Isso sem falar na fama de bons de cama, dentro e fora do meio gay. Não pretendo discutir aqui até que ponto esses (pre)conceitos se aplicam, onde termina a tal cordialidade defendida por Sérgio Buarque de Holanda e onde começam os mitos, mas o fato é que ser brasileiro pega bem lá fora. Mesmo que nosso passaporte não seja o mais admirado pelo setor de imigração de alguns aeroportos, mesmo que em certos contextos específicos nosso povo seja associado a referências pejorativas (a mulher vulgar, o michê trambiqueiro), o Brasil está na moda. Com a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, então, nem se fala.
Quem decide viajar está se dispondo a mergulhar na cultura do país visitado. Descobrir novos costumes, novas comidas, novos estilos, é aí que está a graça da brincadeira. Pena que os dois paulistas do Coqueirão não entenderam isso. Para eles, era mais importante pedir a bênção daqueles caras-pálidas. E eles não estão sozinhos. Em pleno século 21, muitos brasileiros ainda vivem em função da aprovação gringa. Vibramos quando, ao ler a resenha de um show, ficamos sabendo que a Madonna, a Kylie Minogue e a Lily Allen amaram a gente e disseram que fomos o melhor público que elas tiveram em suas turnês. Ainda precisamos ouvir dos outros que temos valor. Quando será que finalmente vamos nos convencer de que, sim, nós somos legais pra caramba?
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Restaurant Week terá 12 edições em 2010
O festival gastronômico Restaurant Week já divulgou sua agenda para 2010. Assim como nos anos anteriores, os restaurantes participantes oferecerão menus completos, com entrada, prato e sobremesa, por R$27,50 no almoço e R$39 no jantar. Couvert e bebidas são cobrados à parte, assim como a doação (opcional) de R$1 por pessoa, repassada a entidades beneficentes.
O festival, que reproduz um formato criado em Nova York, terá doze edições brasileiras neste ano, e fará sua estreia em lugares como Vitória e Fernando de Noronha. As datas são as seguintes:
25/1 a 7/2 - Brasília
1/3 a 14/3 - São Paulo; Vitória; Olinda, Fernando de Noronha, Porto de Galinhas, Jaboatão dos Guararapes e Gravatá (PE)
10/5 a 23/5 - Rio de Janeiro
31/5 a 13/6 - Curitiba
19/7 a 1/8 - Brasília
9/8 a 22/8 - Recife
30/8 a 12/9 - São Paulo
18/10 a 31/10 - Rio de Janeiro
Datas a definir - Porto Alegre e Belo Horizonte [atualizarei o post quando forem divulgadas]
Quando os restaurantes de São Paulo publicarem os menus no site do festival (que ainda não foi atualizado), farei um post selecionando algumas sugestões.
O festival, que reproduz um formato criado em Nova York, terá doze edições brasileiras neste ano, e fará sua estreia em lugares como Vitória e Fernando de Noronha. As datas são as seguintes:
25/1 a 7/2 - Brasília
1/3 a 14/3 - São Paulo; Vitória; Olinda, Fernando de Noronha, Porto de Galinhas, Jaboatão dos Guararapes e Gravatá (PE)
10/5 a 23/5 - Rio de Janeiro
31/5 a 13/6 - Curitiba
19/7 a 1/8 - Brasília
9/8 a 22/8 - Recife
30/8 a 12/9 - São Paulo
18/10 a 31/10 - Rio de Janeiro
Datas a definir - Porto Alegre e Belo Horizonte [atualizarei o post quando forem divulgadas]
Quando os restaurantes de São Paulo publicarem os menus no site do festival (que ainda não foi atualizado), farei um post selecionando algumas sugestões.
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Rapidinhas cariocas
Como fiquei no Rio de 26 a 30 de dezembro, peguei dias de muito sol e um praião fantástico, e consegui dar um "up" no meu tom dourado alagoano. Aliás, eu nunca consegui entender: por que o Rio de Janeiro é sempre muito mais quente do que o Nordeste, se está mais longe da linha do Equador? Em época de balanços e melhores-do-ano, concluo que a música que deu a cara do Rio em 2009 (pelo menos pra mim) foi "Hush Hush", das Pussycat Dolls. O metrô da cidade está um desastre! A nova estação General Osório (prometida há 11 anos) ficou bonita, mas o trem chega a demorar quinze minutos para passar, e não há um único banco na plataforma inteira para os usuários sentarem e esperarem! A muvuca logo se acumula e as composições já partem abarrotadas. Se em verões anteriores o balneário parecia ter virado destino dos gringos mais bagaceiros, de 2008 pra cá um público bem bacana tem flanado pela Zona Sul. Dos hotéis trendy aos albergues-carandiru, muita gente linda na pista pra negócio. Bem bacana a nova edição limitada das Havaianas - branca, com estampa de várias fitinhas coloridas à la Bonfim, representando os desejos de ano novo - à venda por R$32 na loja própria da marca na Farme, quase em frente ao Bofetada. O tal "choque de ordem" imposto pelo prefeito Eduardo Paes para disciplinar a vida na praia desagradou muita gente. Cada barraca agora só pode oferecer 80 cadeiras - ou seja, chegue muito cedo, ou passe nas Lojas Americanas e compre a sua. O comércio ambulante foi drasticamente reduzido, e proibiram aqueles latões de mate que eram verdadeiros ícones da praia carioca. O lado bom: os folgados que distribuíam boladas nos banhistas agora só podem mais jogar frescobol e "altinho" na beira da água após as 17h. Depois de uma era em que o must era ser o mais bombado possível, a palavra de ordem deixa de ser volume e passa a ser definição. O músculo ainda impera, mas corpo inchado virou cafona: quanto mais seco e rasgado, melhor. A minha descoberta nessa viagem foi o Meza Bar, na Capitão Salomão com a Visconde Silva (ali onde era o Madame Vidal, no Humaitá). Delícia de lugar pra ir com os amigos: aconchegante e escurinho na medida, música perfeita, público bacanudo e sem afetações, comidas sofisticadas e criativas, que chegam à mesa em potinhos. Tudo de bom! Outra delícia, essa já tradicional, é assistir ao vaivém de Ipanema tomando um sorvetinho mara sentado no pequeno deck da Mil Frutas. Para quem gosta de sabores cremosos e doces, uma trinca matadora: o novo beijinho e os clássicos chocolate branco com maracujá e queijo com doce de leite. Hummm! Mais dicas de comidinhas cariocas em breve: vou postar uma versão revista e atualizada do meu roteiro gastronômico do Rio, que publiquei aqui em 2006. Sobre as festas: como voltei pra SP no dia 30, não peguei as festonas da cena barbie (eu soube que a Maxima e a R.Evolution agradaram). Mas fui conferir a edição de 5 anos da Moo, na varanda do Museu de Arte Moderna. Locação desbundante, público desencanado e bonito e música entre electro e disco house, criando um clima superfofinho. Tive minha última dose de cafuçus do ano, no quartel-general-nagô do Rio de Janeiro, o Buraco da Lacraia, que nunca decepciona e estava simplesmente bafônico. E por falar em cafuçus, já começou a votação para o Mulato do Góis 2010, concurso do jornal O Globo que elege o mais bonito entre um dream team de sambistas das escolas do Grupo Especial. Escolha o seu favorito aqui. Não tem jeito: entra ano e sai ano, com sol ou com chuva, com todas as virtudes e defeitos, a Cidade Maravilhosa continua me deixando amarradão! Se meu amor é por São Paulo, minha paixão é pelo Rio! Um beijo e feliz 2010 para os meus amigos e leitores cariocas! [Foto: Eugene Zhukovsky]
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