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Como tenho mais desenvoltura com a palavra escrita e minha ambição profissional é trabalhar em revistas, era de se esperar que eu optasse por desenvolver o projeto de uma revista, ou então escrevesse um livro-reportagem, a partir de alguma pauta de comportamento, ou mesmo de algum dos assuntos que exploro habitualmente aqui no blog. No entanto, se para muitos o TCC é o trampolim para os voos posteriores à faculdade, ele também pode ser uma chance de ousar, e fazer algo diferente daquilo que se planeja fazer dali para frente. Pensando nisso (e não tendo conseguido pensar em uma ideia melhor), resolvi aceitar o convite de minhas amigas para produzir um videodocumentário sobre mulheres de presidiários.
Nossa ideia é falar não sobre os detentos, mas sobre elas: quais as implicações de se ter um companheiro preso, na vida de uma mulher. As mudanças na rotina, as dificuldades financeiras, a educação dos filhos, a vida afetivo-sexual colocada em standby (ou vivenciada por meio das chamadas "visitas íntimas"), os favores (lícitos e ilícitos) que elas fazem para eles e seus colegas de cela, o estigma e preconceito que elas enfrentam nos círculos sociais pelos quais transitam. A personagem "típica" é aquela mulher humilde, que casou e teve filhos com o cara ainda em liberdade, mas também nos interessam aquelas que atóram um perigón e se envolveram com os rapazes já presos. Ou ainda esposas de classe média-alta, cujos maridos foram condenados por crimes de colarinho branco, por exemplo. Seria interessante investigar em que medida as situações de mulheres de diferentes classes sociais se parecem ou não.
É um tema vasto, com diversos recortes possíveis, e que tem potencial para render muitas histórias. É também um desafio e tanto para nós. Estamos começando do zero, ainda sem nenhum contato. Precisamos encontrar essas mulheres, nos aproximar delas e conquistar sua confiança, para que topem colaborar conosco e aparecer no documentário. O formato em vídeo é um complicador extra, pois: a) é preciso muito mais coragem para se expor diante de uma câmera do que para um bloquinho e gravador; b) não temos o equipamento necessário, e os recursos tecnológicos da faculdade são destinados preferencialmente aos alunos de Rádio e TV; e c) não sabemos operar uma câmera, nem temos noções de edição de vídeo. Ou seja: ao longo dos meses, teremos que sair do nada, ir aprendendo tudo, e dar corpo ao trabalho (conciliando-o com as outras obrigações das nossas vidas, que continuam!)
Mas essas mulheres não são as únicas que poderão colaborar conosco. Esperamos contar com a ajuda de várias outras pessoas, de diversas formas. Gente que conheça mulheres nessas condições e possa nos indicar. Que tenha contatos no meio penitenciário, e possa facilitar nosso trabalho, inclusive quanto à obtenção de autorizações para filmagem. Que seja ou conheça um antropólogo, psicólogo ou sociólogo com atuação nesse campo. Que já tenha feito, lido ou visto outros trabalhos sobre o nosso tema. Ou que tenha produzido videodocumentários sobre outros temas. Enfim, uma infinidade de pessoas pode nos dar dicas, palpites, referências e contatos. É também por isso que estou dividindo esse projeto com vocês. Este blog já me rendeu tantos frutos, quem sabe não consegue me dar uma luz na minha nova empreitada? Quem quiser ajudar ou mesmo trocar ideia sobre o assunto, por favor entre em contato comigo. No mais, quem sabe as histórias que vão surgindo pelo caminho não rendam bons posts para o blog? Quem viver, verá.