Eu li em uma revista especializada que, na indústria automobilística brasileira, um carro é projetado para viver 8 ou 10 anos, antes de sair de linha. No entanto, não dá para o produto ficar intocado por tanto tempo: se, ao longo dos anos, ele não passar por algumas reformulações, o comprador, sempre ávido por novidades, perderá o interesse nele e migrará para a concorrência. Para postergar a vida útil de um carro no mercado por mais alguns anos, até que seu substituto esteja pronto, as montadoras recorrem ao chamado facelift: fazem mudanças estéticas sutis - nos faróis ou no desenho da grade dianteira, por exemplo - que rejuvenescem e dão um novo sopro de vida ao veículo, mantendo seu apelo junto ao consumidor.
Pois bem, o clube SoGo acaba de ganhar seu facelift, revelado ao público anteontem, em uma festa semifechada. Já não era sem tempo: a casa completou dez anos de estrada, o que não é pouco. Especialmente se lembrarmos que ela está instalada no coração dos Jardins, que tem um histórico de intolerância a estabelecimentos gays por parte da vizinhança. A cruzada homofóbica do bairro atirava garrafas em freqüentadores do bar L'Open e conseguiu varrer do mapa o Ultralounge. Diz a lenda que a SoGo não teve o mesmo destino porque seu imóvel era próprio e não alugado; quando os vizinhos insistiram em pedir o fechamento, o proprietário da SoGo disse que então usaria a casa para servir sopa a travestis soropositivas. Os vizinhos, então, teriam preferido deixar o clube em paz...
Se a idéia era dar um chica-chica-bum no ambiente, parece que a intervenção cirúrgica funcionou. O bar ganhou tons mais claros e ficou mais moderno e convidativo. Aquela porta giratória horrenda que ficava no meio do caminho e parecia ter saído de uma boate da rua Franz Schubert, direto dos anos 90, foi retirada, o que fez a casa ganhar um bom espaço. A pista ganhou uns filetes laterais de luz bem bacaninhas e o DJ agora toca num balcão mais baixo, que permite interação com o público. Subindo as escadas, o tricô nos banheiros continua bafônico, e é por eles que será feito o acesso ao dungeon bar, o anexo "picante" da casa, cuja repaginação ainda não está concluída.
É claro que, com bebida a rodo (ao contrário do que prometia o convite, o open bar não foi só até meia-noite) e aquele clima eufórico de inauguração, cheio de gente conhecida, a noite não tinha como ser ruim. Mas dá para ver que o clube acertou mesmo. Por um lado, a reforma deu uma atualizada no espaço, espantou o "bode" de quem já havia se cansado (eu mesmo não pisava lá havia pelo menos seis anos) e reinseriu a casa no circuito. Por outro, o lugar não se descaracterizou e continua tendo o mesmo clima aconchegante de que as pessoas aprenderam a gostar. Se tratarem a programação musical com algum capricho (consta que as quintas terão uma pegada mais eletrônica, com Mimi e Marcelo Saturnino), a SoGo pode ser uma ótima opção para o meio da semana e até para o finde. Afinal, é legal alucinar em um espaço mega, mas precisamos de bons clubes menores também.
3 comentários:
Mas e aqueles barmen de antigamente, voltaram??
Nenhuma balada hj em dia tem barmen tão gostosos quanto a SoGo tinha no início dos anos 2000! Saudades...
Sempre passei na frente, jamais entrei...Toda vez que eu vou a São Paulo fico bebendo no Gourmet, é esse o nome, perto da SoGo. Na época diziam que não valia a pena entrar, era praticamente um inferninho...
Talvez seja a hora...
Nossa, a festa estava um verdadeiro baile da terceira idade... Acho que usaram a guest list da primeira inauguração.
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