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Antes de mais nada, quando falo em "dar uma chance", não é no sentido de fazer caridade, não. Belo Horizonte é uma graça de cidade. Mas menos gente vai conhecê-la do que poderia. Aqui vão alguns motivos para você se animar e experimentar.
1 :::
O acesso é relativamente fácil. Até dá para ir de carro: são 588km a partir de São Paulo e 444km do Rio. De ônibus, oito horas separam BH da capital paulista. Mas o melhor é aproveitar as ofertas das companhias aéreas - não é raro encontrar passagens na casa dos R$99. Fora das promoções, vá de
OceanAir: as poltronas reclinam mais, o espaço entre as fileiras é maior e cada trecho sai em torno de R$150 a partir de Congonhas. Como o antigo aeroporto da Pampulha agora só recebe voos de dentro de Minas, você descerá em
Confins, que fica nos
confins do mundo. Mas ônibus executivos fazem o trajeto até o Centro por R$ 16,90, em intervalos de 30 minutos.
2 :::
BH é uma cidade agradável. Na grande área central demarcada pela Avenida do Contorno, as ruas,
limpas e muito arborizadas, são mais convidativas para um passeio a pé do que as de São Paulo (apesar das ladeiras). O
Parque Municipal é bonito e não merecia estar tão descuidado. Talvez tenha sido o feriado, mas também tive a sensação de que a capital mineira é calma e segura. Um amigo carioca me disse que BH é uma "metrópole com jeitão de interior", e agora consigo entender o que ele quis dizer.
3 ::: Se toda cidade pacata do interior tem uma praça, BH está muito bem servida nesse quesito. O planejamento urbano do Contorno desenhou várias delas. A que mais me encantou foi a
Praça da Liberdade, com lindos jardins, coreto, duas fileiras de palmeiras imperiais e uma bucólica fonte luminosa. Outra que vale uma olhada rápida é a
Praça do Papa, no caminho para Mangabeiras, que está em um plano elevado e tem uma vista OK da cidade (mas o melhor pôr-do-sol, você vê um pouco mais adiante, no
Mirante das Mangabeiras).
4 ::: Para interessados em arquitetura, BH também tem uma porção de construções desenhadas por
Oscar Niemeyer, incluindo até mesmo um "Copanzinho": o Edifício Niemeyer, na Praça da Liberdade. Nos anos 40, para desenvolver o entorno da Lagoa da Pampulha, Juscelino Kubitschek, então prefeito de BH, encomendou a Niemeyer vários edifícios, formando um conjunto arquitetônico: a
Igreja São Francisco de Assis (que virou símbolo da cidade), a
Casa do Baile (que tem jardins de Burle Marx e hoje sedia eventos de arquitetura e design) e o
Museu de Arte da Pampulha, que nasceu como um cassino. Vá no fim de semana e aproveite para conferir as beldades fazendo
cooper na Lagoa.
5 ::: Enquanto São Paulo tem os Jardins e o Rio tem Ipanema, em BH a zona charmosa é formada pelos bairros de
Lourdes (que lembra o Moinhos de Vento em Porto Alegre) e Funcionários (onde fica a região conhecida como
Savassi). Não espere uma Oscar Freire que concentre todo o movimento: os lugares legais estão dispersos, espalhados pelas ruas da região. Algumas dicas são o
Graciliano (Rua Marília de Dirceu, 40), mistura de restaurante e delicatessen que faz festas eletrônicas quinzenais às sextas, o
Yo Sushi (Rua Inconfidentes, 302), restaurante japonês fervidinho, e o
California Coffee (Rua Sergipe, 1199), bom para fazer aquela pausa e tomar um Black Forest (espécie de
shake de café gelado com gostinho de floresta negra).
6 :::
A comida é ótima e custa menos do que no eixo Rio-SP. O melhor almoço da viagem (e que ganhei de aniversário) foi no
Café do Museu, que serve pratos contemporâneos divinos em um belo espaço, no mezanino do Museu Abílio Barreto. Para se esbaldar na culinária típica, todos dizem que o
must de BH é o
Xapuri: em um ambiente que recria uma casa de fazenda, pratos tradicionais mineiros são preparados no fogo à lenha (vá cedo, a espera pode ser inviável). Na linha gordelícias, tem os incríveis
milk shakes de amendoim e de nutella do
Eddie Fine Burgers, os
croissants de amêndoas da
Casa Bonomi e os doces da
Ah Bon. E, se a larica bater de madrugada, aposte nas massas 24hs do
La Greppia ou nos pratos de estivador do tradicional
Bolão, em Santa Tereza.
7 ::: Você gosta de bebericar, petiscar e jogar conversa fora? Então saiba que
BH é a capital dos bares e botecos, com lugares de todos os tipos, cores e tamanhos. A tradição é reforçada pelo festival
Comida di Buteco, espécie de concurso anual em que 41 botecos criam receitas que reinterpretam a culinária de raiz (a edição 2009 já está rolando e vai até 17/5). Meu endereço preferido é o
Café com Letras (Rua Antônio de Albuquerque, 781), um bar-livraria construído numa casinha antiga absolutamente fofa e encantadora. Frequência bonita, música
cool, pratos saborosos, uma torta de limão incrível e
o melhor cosmopolitan que já provei. É só abstrair o serviço, um tanto apalermado, para não dizer pateta.
8 ::: A
Josefine - ou Jô, para os nativos - é um dos melhores clubes gays em que já estive, tendo como parâmetro a noite de outras capitais do mesmo porte de BH. No térreo, a pista principal recebe uma mistura bem animada de pólo boys novinhos, barbies descamisadas e meninas fervidas, que dançam ao som do residente Mauro Mozart, um
cafuçu altamente umidificante (ovulei horrorezzz com a cara de mau dele!). No piso superior, há outra pista, com um lindo jogo de lustres azuis e vermelhos, em que o som é electro. Como alternativas à Jô, há o
Andaluz Club Café, também gay, e alguns clubinhos
mixed, como o
Miss Pig e o
Mary In Hell. Isso se não tiver alguma festa especial rolando por aí.
9 ::: Cansou da capital?
Existem várias atrações bacanas nas imediações. Todo mundo lembra primeiro das cidades históricas: a superpop
Ouro Preto, com suas ladeiras, igrejas e restaurantes, fica a apenas uma hora de carro. Se preferir algo menos muvucado e mais intimista, tente
Tiradentes, a 210km de BH. No capítulo ecoturismo, o
Parque Nacional da Serra do Cipó tem esportes radicais e uma porção de cachoeiras. Por fim, o
Inhotim (em Brumadinho, a 60km de BH) é uma espécie de centro de arte contemporânea, formado por sete pavilhões espalhados dentro de um belo parque ambiental. Quem conhece diz que é incrível (tive que deixar esse passeio para a próxima visita, que não deve demorar).
10 :::
Last but not least, a maior surpresa da viagem:
os mineiros! Nunca vi um povo tão acessível, simpático, carinhoso. É muito fácil puxar papo com gente nova e você logo se sente inserido. Conhecê-los e jogar conversa fora com eles é um prazer, dá para ficar horas ali (vai ver que é por isso que existem tantos bares). Sem falar que eles recebem muito bem: em minha estada de quatro dias, não passei cinco minutos sozinho. Os baianos que se cuidem, porque os mineiros são sérios candidatos ao título de
povo mais boa-praça do Brasil.
[
FOTOS:
Praça da Liberdade; pôr-do-sol no Mirante das Mangabeiras]