domingo, 31 de agosto de 2008

Lab.oratory, a fantástica fábrica do sexo

Berlim é uma cidade cheia de surpresas também quando o assunto é pegação. Ao espírito já naturalmente permissivo e desencanado da cidade, soma-se um notável interesse por sexo - que não é, nem de longe, exclusivo dos gays. Nunca esquecerei de uma sex shop gigantesca, numa transversal da Kurfürstendamm, que mais parecia um hipermercado, onde loirinhas de bochechas rosadas e casais héteros de meia-idade manuseavam com a maior naturalidade bugingangas nada angelicais - incluindo um filme em que um homem sodomizava uma mulher completamente enterrada (para fora da terra, apenas o traseiro dela e um tubo na altura da cabeça, por onde ela respirava). Não existem limites em Berlim, desde que as partes envolvidas estejam em consenso e não tentem podar a liberdade dos outros.

No meio gay, como em outras capitais européias, uma rede de cruising bars e afins proporciona festas dedicadas a todos os tipos de fetiche: couro, fardas, borracha/látex, underwear, barbudos, skinheads, sado-masoquismo, watersports, lama (!), fisting... Tamanha segmentação facilita que adeptos de práticas mais extremas encontrem parceiros, mas também pode tornar a noite um tanto monótona e repetitiva, especialmente para quem tem gostos ecléticos na cama. Estar em um ambiente onde todos os tipos são bem-vindos e todos os fetiches são permitidos abre muito mais possibilidades - inclusive de que a noite fuja do script habitual e tome rumos nunca antes imaginados.

De todos os lugares que compõem o roteiro do sexo em Berlim, o mais espetacular, com toda a certeza, é o Lab.oratory. O fervo ocupa uma parte da antiga usina que também abriga o clube Berghain-Panorama - com entrada separada, pela lateral do prédio. Para ter uma dimensão do bafo, é só imaginar uma grande fábrica transformada em um verdadeiro playground do sexo, onde homens bem-resolvidos, fogosos e dispostos chegam para brincar de jogos adultos - mas se soltam como crianças. Seria um sonho, se não fosse realidade.

Na entrada, os clientes recebem grandes sacos plásticos azuis, para que possam se livrar de tudo aquilo de que não forem precisar para se divertir: roupas, documentos, dinheiro, preocupações e inibições. A menos que a noite tenha dress code específico (underwear, couro, nudez obrigatória etc.), cada um pode ficar como se sentir mais à vontade - de calça, de cueca ou até mesmo com uma fantasia de Mulher-Gato, se for o caso. Guardados os pertences, os convivas têm o número do saco plástico escrito no ombro com canetinha e é nisso que se transformam: em meros corpos numerados. Deixam para trás roupas, nacionalidades e rótulos; voltam às suas raízes naturais, machos soltos e libertos, livres para serem e fazerem o que quiserem, assumirem a(s) identidade(s) que desejarem... da porta para dentro, estão protegidos em um mundo à parte. Um grande parque de diversões.

No centro da usina, um grande bar calibra os ânimos e ajuda as pessoas a se conhecerem. O clima é bastante descontraído; quem ficasse por ali e não conhecesse o resto se sentiria em um simples bar "temático" com decoração industrial. A iluminação é bem distribuída para que o espaço não fique claro nem escuro demais. O ambiente é preenchido por uma mistura dark e quase sem vocais de house e progressive house que é altamente sexual; seria perfeita para dançar a noite inteira, se não fosse ainda melhor para deixar os instintos aflorarem e sucumbir à libido. Se existe algo como "música para foder", taí o melhor exemplo. O som bem escolhido tem um papel fundamental para criar o clima de luxúria do Lab.oratory.

Depois de molhar a goela no bar e fazer os primeiros contatos, é hora de dar uma volta e explorar as diversas possibilidades da usina. Há salas, tocas, corredores, mezaninos, cantos e recantos de todos os tipos, alguns mais expostos e outros mais reservados, onde duplas, trios e grupinhos se formam e se desmancham espontaneamente o tempo todo. Tudo com a maior civilidade: "com licença", "desculpe", "quer brincar um pouco conosco?", "isso, segure bem a perna dele", "ei, você curte ___?" [preencha como quiser]. Cada um respeitando as preferências e o espaço do outro, dos dominadores mais severos aos mais tranqüilos voyeurs. Poderia ser um ambiente pesado, mas na verdade é surpreendentemente leve.

Um corredor leva a uma espécie de jardim de inverno, onde é possível tomar um pouco de ar fresco, ver as estrelas - ou continuar a brincadeira ali mesmo. Um belo moreno se refestela dentro de uma banheira, enquanto vários outros fazem fila para urinar nele. O sujeito parece extasiado, enquanto toma goles generosos e deixa que os jatos o ensopem inteiro (ele preferiu ficar vestido, talvez para continuar curtindo o cheiro na roupa depois). A cena toda é quase infantil, parece uma brincadeira de moleques felizes. Todo mundo é feliz ali. Especialmente quem gosta de chupar: numa espécie de estábulo de ferro dividido por uma parede, dezenas de falos despontam lado a lado em glory holes. Não é preciso nem se curvar, pois quem oferece o bilau está num plano três degraus mais elevado, justamente para tudo ficar na altura certa. Ou seja, a tal fábrica foi inteira adaptada para o prazer.

Para quem quiser conferir, é importante consultar no site o calendário com a programação - às vezes, o tema da festa pode não ser do seu agrado (se eu tivesse, desavisadamente, ido conhecer o lugar na noite seguinte, teria literalmente dado merda no meu passeio, se é que vocês me entendem...) Para não errar, a dica é apostar nas sextas-feiras, que têm temática neutra (o que não impede você de se jogar na sua "prática sexual específica" favorita) e funcionam em sistema de double drink (o que você pede no bar vem em dobro), o que sempre garante uma boa lotação. E fique esperto: embora o bafo vá até 5 ou 6 da manhã, a entrada só é permitida até meia-noite. A idéia é fazer todo mundo chegar ao mesmo tempo e cedo, para o lugar já bombar logo de uma vez. Até na hora da pegação esse povo é inteligente...

6 comentários:

Anonymous disse...

e aquela "historia" que rolou em Paris, algum contato? e-mail? possibilidade de rolar um revival?
que tal um post especifico sobre acontecido?
boa semana, Alex.

Leo Lazzini disse...

e ae bonitao, beleza?! soh pra dizer que eu passei aqui hehe

abraaaco!!

Lindinalva Zborowska disse...

Hi hi hi... Recuerdos... Ich habe noch viele Koffern in Berlin!! Já dizia LIli Marlene!! Adorando os relatos!!!
Um beijo e me liga, fio!!

Rodrigo disse...

bah!
(ótimo, como sempre)

Negrinho, o blog esta de volta... até quando só deus sabe, mas enfim!

bj e saudades de ti
=)

Pegante disse...

alemão é eficiente até para organizar putaria. adoro!

e é incrível como enche.
tá certo que a última vez que fui era bem no finde da CSD (a parada gay).
um dia vi gente com número escrito no braço que era quase 500!
em outro, cheguei pouco mais de uma hora depois de abrir e eu já era o 200 e paulada.
lembra do seu número, rsrsrsr?

eu prefiro as 5as (Naked Sex Party). A única outra que fui era uma domingueira mensal chamada Athletes. Tinha gente de sunga, uniforme de futebol com meião e tudo (Eurocopa!) e até um casal de roupa de luta livre. Mas a maioria era short e tênis mesmo.

o que mais gosto da alemãozada é a falta de carão. eles estão lá para trepar e é isso que fazem, com muita vontade.
aqui em SP, até um cara bem mais ou menos faz carão para um outro que está no mesmo patamar de "atratividade".
já o alemão passa o rodo logo.

Anonymous disse...

Eu ainda estava na dúvida, mas agora vou incluir a Alemanha na minha próxima viagem com certeza!
Beijos! Xande Carioca