terça-feira, 5 de agosto de 2008

Comercial de margarina

A vida é cheia de surpresas. E foi numa dessas que ele, em Paris, viveu um inesperado rendez-vous. Um bilhete trocado, um esbarrão, olho no olho. Desculpe, tu t'appelles comment? E eis que num pulo já estavam a quinze estações de metrô dali, entre lençóis, num studio que caberia no banheiro de um conjugado carioca.

Sempre gostou de luxos, sempre apreciou bons vinhos, boa comida. A própria escolha de Paris não fora por acaso, ali sentia-se mais à vontade em meio ao que considerava pessoas mais civilizadas, ainda que menos calorosas do que em sua terra natal. Sua mãe jamais permitiria: ir para a casa de um completo estranho, vai que ele seja violento, desonesto, tenha drogas em casa. Mas ela estava a milhares de léguas dali, provavelmente preparando mais uma torta de maçã. Ali ele era dono de si, dono de seu nariz, de seu bolso, de seu rabo, de seu mundo. Dono de tudo.

E nem tchuns para algum alerta que viesse de seu superego: se o outro fosse bandido, ele realizaria sua fantasia secreta de ser raptado. Mas o rapaz o tratou com tanto carinho e tanto cuidado que, por alguns instantes, ele voltou a acreditar na bondade das pessoas. Um namorado? Talvez em outro momento, outra conjuntura, outro passaporte. Ali, ele sabia muito bem separar as coisas. Guardou a cueca usada dele no bolso. Precisava ir, Paris continuava lá fora, à sua espera.

Eis que um milagre surgiu diante de seus olhos. Tudo parecia mais bonito, mais vivaz, mais colorido. Os gatos sorriam, até os carudos parisienses sorriam, Montmartre de repente era adorável. E então entendeu que clichês podem ser piegas, mas Paris é mesmo a cidade dos apaixonados. Ra tara tara.

Continuou andando sem rumo, por horas sous le ciel bleu, o coração palpitando, e, quando deu por si, já estava flanando pelo Jardim das Tulherias. O cheiro de sexo ainda estava no seu corpo. O cheiro daquele adorável desconhecido, estrangeiro como ele.

Foi fiel ao seu sentimento, procurou novamente o mec. Acabaram se encontrando outras duas vezes. No final, ele até chorou na despedida, ao som de La Vie En Rose. E deixou ali um pedacinho de si. Não importava. A vida é feita de pequenas mortes e renascimentos, e naquele momento ele sabia que tinha acabado de renascer.

11 comentários:

Ivo disse...

Lindo, lindo, lindo.

Á bientôt!

I. :***

Jack disse...

E não é que o rapaz me saiu um ótimo romancista? O que não faz Paris, não?
;-)

Gui disse...

Ó...que fofo.
Mon cheri, Saudaaaaaaaades!

Anonymous disse...

Nossa, que lindo e romântico!
Me deu até vontade de ir procurar alguém :(

Ge disse...

e não é? Não tem como morrer sem antes se apaixonar em Paris, nem que seja por uns dias.

fofo demais o post
:D

Anonymous disse...

Adorei bee! Espero que tenha sido verdade, ainda que não por inteira, mas por pedaços somados de suas aventuras por aí.

Bjs Má

Gurizão disse...

Q lindoo. :)

juliano disse...

ohhh
trés belle!!!!! j'adore cette histoire sur ciel de Paris!!!!
une bonne voiage

à bientôt

uomini disse...

As histórias de bastidores começam... Adorei ;-)

Lindinalva Zborowska disse...

A parte em ser raptado me interessou... Vamos evoulir a idéia a partir daí. Mas ser raptado em Paris... só se for pelo Sagat. Hi hi hi!!! Sö euzinha mesmo pra avacalhar a poética do seu texto com um bando de sacanagem. Um beijo e me liga, fio!!

Anonymous disse...

Mas é