sexta-feira, 30 de maio de 2008

Londres em alerta: as bibas estão se matando

A TimeOut é uma verdadeira bíblia para quem viaja a Londres. Trata-se de uma revista semanal que indica tudo o que importa na cidade, de museus a brechós descolados, de restaurantes de comida contemporânea a afterhours ensandecidos. Tudo de um jeito dinâmico, atual, feito por jovens e para jovens. A seção Gay & Lesbian é bastante completa e traz matérias de interesse da comunidade, com textos sobre política, comportamento e costumes.

Na edição de 27 de novembro de 2007, a revista publicou a reportagem O mundinho gay de Londres em crise, assinada pelo jornalista Paul Burston. O texto mostra como o abuso de drogas pesadas e a prática de sexo sem proteção estão dizimando a população gay local - e ninguém parece dar a mínima para isso.

O gueto gay do eixo São Paulo-Rio de Janeiro não tem o mesmo porte da gigantesca cena londrina, mais diversificada e engrossada pela presença maciça de turistas o ano todo (não só sazonalmente, como aqui). Tudo chega até nós com um certo atraso - incluindo novas modas, novos comportamentos e novas drogas. Não me parece que a coisa esteja tão grave por aqui, mas a reportagem não deixa de ser um aviso bastante pertinente. Afinal, o GHB vem, de mansinho, ganhando mais adeptos - e já fez muita gente cair e levar sustos nas The Weeks da vida. O sexo bareback também vem crescendo, na esteira da falsa idéia de que o vírus HIV é "perfeitamente administrável" com as novas medicações.

Longe de mim fazer pregações ou passar lições de moral: sempre sustentei que cada um deve fazer suas próprias escolhas e ser responsável por elas. Mas acho que essa reportagem traz uma reflexão saudável a todos nós. Pratiquem seu inglês e leiam aqui.

21 comentários:

luka disse...

Não faz muito tempo, li uma reportagem falando a mesma coisa sobre NY. Por lá o uso de drogas fez essa cena quase desaparecer. Se aconteceu nesses lugares, é bem possível que aconteça por aqui também porque os comportamentos não são muito diferentes.
Vejo uma necessidade dos gays de trasgredir, mas não sei a que. Será revolta contra o preconceito? Se destruir resolve alguma coisa??

Paulo disse...

É foda isso... Como vc falou, sem querer dar lição de moral em ninguém, mas o pessoal tá pegando bem pesado ultimamente! Eu vou pra balada, curto fumar um antes, sempre faço isso, rola uma bala de vez em quando, e dá-lhe muita cerveja! Agora, vejo uns amigos meus que fumam, tomam a bala, cheiram ketamina, cheiram pó, tomam GHB, cheiram até as cinzas do pai morto se aparecer na frente! E isso todo o final de semana!! Cara, é jogação demais, tão perdendo um pouco a noção do que é sair pra curtir e se divertir...

Como eu falei, sem querer dar lição de moral, mas esse estilo cansa um pouco os que estão mais "caretas"... Por isso que tenho evitado um pouco as baladas ultimamente e me jogado em programas alternativos. Nada como conhecer e conversar com alguém de cara limpa, faz bem de vez em quando!


abração!

Daniel disse...

"cheiram até as cinzas do pai morto "heheehhe isso foi impagável.

Tenho conhecidos que foram p/ NY e disseram que numa sala de bate papo tinha muita gente que descartava quem não fazia bareback, muita gente mesmo.Agora por la apareceu aquela bactéria que pega só pelo contato........mas não li mais nada a respeito.Não entendo o que esse povo tem na cabeça sinceramente.

Agora quanto ás drogas o negócio da foda mesmo, tem ae a triste história do cara do Mercure.....Na girassol dava para ver a loucura da galera( eu não sou um santo me jogo de vez em qd sim!)
Vc vai na balada é neguinho saindo do banheiro com o nariz daquele jeito, bateção de queixo.......
Ta foda

Daniel Ozorio

MARCUS disse...

A MATÉRIA INGLESA É MUITO BOA, TANTO QUANTO OS COMENTÁRIOS A SEGUIR. TUDO JÁ FOI FALADO LÁ: BAIXA AUTO-ESTIMA, DESEJO DE FUGIR DE UMA REALIDADE DURA, NUM MUNDO DE VERDADE HOMOFÓBICO, PROBLEMAS TRAZIDOS DESDE A INFÂNCIA, FRIEZA NAS RELAÇÕES HUMANAS. A MESMA COISA ACONTECE AQUI, TALVEZ EM ESCALA AINDA MENOR, MAS ACONTECE. A AJUDA PRA SOLUCIONAR OS PROBLEMAS INTERNOS DE CADA UM PODE VIR DE DUAS FORMAS: TENTATIVA DE CRESCIMENTO E AUTO-CONHECIMENTO, ASSISTIDA OU NÃO, OU O HEDONISMO AUTO-DESTRUTIVO, PALIATIVO MOMENTÂNEO DAS DORES CONSTANTES. CADA PESSOA ACABA ESCOLHENDO O QUE LHE PARECER MELHOR. O PÉSSIMO É DIVULGAR UM ESTILO DE VIDA PODRE DE FORMA A FAZÊ-LO PARECER O MAIS GLAMOUROSO. E VEMOS ISSO DIRETO POR AÍ.

Paulo disse...

hahaha... Falei sobre "cheirar as cinzas do pai morto", mas quem falou que fez isso foi o Keith Richards, dos Rolling Stones. Acredite, se você acha que conhece alguém louco aos extremos, sempre vai ter um mais louco ainda!


abraço!

TONY GOES disse...

Thiaguinho, o eixo gay Rio-SP já é maior e bem mais agitado que o de Londres... A grande diferença entre nós e eles é que lá já existe união civil praticamente igual a um casamento. No resto ganhamos.

Too-Tsie disse...

drogas eu acho ok, vai quem quer.
agora bareback, sorry, tenho medo e tenho medo de quem pratica.
e ja perdi amigos também.

Alexandre Lucas disse...

Adorei o post e também ando pensando muito sobre isso. Obrigado pelo link pro artigo. Aproveita o finde =)

Ivo disse...

Sobre o sexo sem proteção: acho que essa "molecada" não cresceu às voltas com o temor da AIDS. Eles, muito erroneamente, acham que o coquetel é milagroso e que a doença é uma condição tratável, semelhante à de diabetes.

Para o bem e para o mal, nosso "atraso" tem sido cada vez menor. Para o mal, eu realmente tenho muito medo (Regina Duarte mode on, hehe) que a "Tina" se instale aqui. Li recentemente um artigo dizendo que vários estados dos EUA já conseguiram conter substancialmente o avanço da droga. Espero que, com isso, o crystal acabe nem penetrando de fato no meio de nós.

deco disse...

Thiago: muito oportuno o seu post.E bastante feliz o comment do Marcus. Endosso tudo e estou cada vez mais fora do circuito. É deprimente ver gente caindo feito mosca no final da noite.abrs

Deejay Angel disse...

É, mto foda mesmo...
Mas essa coisa de barebacking é questão de amor à vida! Quem não se ama, se sujeita a esse tipo de coisa!

Em relação às drogas, bom todo mundo ta cansado de saber o mal que elas fazem, mais uma vez acho q é questão de bom senso...

Todo mundo é responsável pelos próprios atos, não acredito nessa "inocência desenfreada", ainda mais num país de primeiro mundo, onde praticamente todas as pessoas tiveram educação. E acho que tentar achar um porquê, pra tudo isso é como tentar procurar uma agulha no palheiro! A trangressão é natural do ser humano e não é exclusiva dos gays...

Mas é um bom texto pra se pensar nas nossas escolhas, né?

Abs

Alberto Pereira Jr. disse...

é.. as coisas estão cada vez mais saindo do controle.. o curtir tem perdido o limite.. o que pode começar como brincadeira, mas se tornar um caminho sem volta..

adorei o post

beijão Thi

K. disse...

Ontem assisti a um documentário sobre Circut Parties nos Estados Unidos. Fraco, mas mostra esse lado inconseqüente, carpe diem, do homossexual. Vida, cada um cuida da sua, mas chega um momento em que os outros começam a ser afetados, e aí complica.

Engraçado que o assunto estava em pauta num jantar na semana passada, porque um amigo estava comentando que na França está um caos - heteros e homos perdendo limites de tudo. Parece que isso tudo é resultado de uma sociedade opressiva nascida nos anos 80... Ou é o que justificam.

srcesario disse...

Thiago:

Não o conhecia, mas ao pesquisar um pouco mais sobre as recém-lançadas revistas com teor gay no Brasil (vendidas em bancas), acabei me deparando com o seu nome; mais especificamente um post seu, semanas atrás. Aproveitei e li os mais atuais.
Gostaria de parabenizá-lo pelo texto bem-escrito e cuidadoso; com aquele delicioso "respeito" ao leitor, do qual vc mesmo menciona no post de 17/12/07.
Sou jornalista, moro em Nova York, sou um velho "conhecido" de seu colega "Marcos Costa", só para citar alguém, e estou sempre por aqui. Não dá para viver sem nosso Brasil :)
Nessas idas e vindas, sonhei muito com uma publicação decente por aqui. Tanto que comecei, quatro anos atrás, a articular a criação de uma revista "completa" para o mercado gay -- até então inexplorado (mesmo considerando a tentativa da Sui Generis) -- e tentei convencer grupos editoriais fortíssimos dos EUA a unir forças com o monopólio de "distribuição" editorial brasileiro e finalmente colocar no mercado a "revista dos sonhos".
Sei muito bem que os anunciantes estão ávidos pelo "pink money" mas não tinham onde colocar o seu investimento.
Enquanto negociava o feito, houve troca na direção dos meios com os quais alinhavava a formação da "tal revista"; acabei adoecendo, e (temporariamente) arquivei os planos.
O mesmo parece ter feito a Editora Abril, que nem se deu ao trabalho de lançar a tão esperada "Romeu".
Planejamento e pesquisa são ingredientes complexos que necessitam de "tempo" e cuidados especiais. Cautela. Mas o mercado não podia mais esperar.
Como jornalista da Bloomberg TV, não era difícil entender (para mim) a tendência do sucesso: um bom negócio se dá com "união", fusão, aquisição... mas a mentalidade do meio (supostamente) empreendedor por aqui, ainda gravita em torno do "ego" e, de repente, lá estão três revistas: Junior, DOM e agora, Aimé.
Sim, as três se complementam e engatinham lado a lado. Imagino que todas têm potencial; mas infelizmente, algo me diz que todas estão fadadas ao fracasso se não unirem forças. Não cabe discutir o que falta nas páginas das revistas que, agora, abraçamos com carinho e respeito, ou mesmo cuspir frustrações, ou criticar o visual ou o conteúdo de cada uma delas. O que precisamos é dar as mãos para construir um alicerce forte. Lamento obervar uma tremenda briga de "egos" e pouca intenção pela boa qualidade e respeito ao leitor.
Não está longe de um investidor sério descobrir esta carência. O importante é que nosso "meio" está fazendo sua história.
Todos sabemos que para correr, precisamos de fôlego.
Fico feliz por saber que temos blogs tão bons, como o seu, revistas com vontade de crescer... e leitores, que acreditam!
Um brinde às conquistas !
Abraços,
Sergio Cesario

Gui disse...

Como disseram nos comentários o exemplo da França: isso ocorre em qualquer cena, tanto homo quanto HT. Claro que nós temos a tal tendência à transgressão, mas são inúmeros os casos que chegam aos jornais de jovens em raves perdendo compeltamente a noção das coisas.

Um amigo londrino contou que o G é extremamente combatido nos clubs de lá, com cartazes e campanhas nos sites e se vc for pego pela casa, é colocado até em lista negra. O mesmo anda acontecendo nos EUA com a Tina, né?
Talvez seja hora de fazermos algo parecido antes que seja tarde.

Clebs disse...

Londres é uma cidade que não me dá tesão. Talvez por sua pompa toda!

Vou aguardar fielmente seu mini-guia, hehehehe Pena que não vamos nos mesmos dias ou cidades... exceto Paris, acho.

Minha viagem já está fechada...

Anonymous disse...

Oi. Sabe que depois das festas da Parada me deu muita vontade de começar a escrever sobre isso? Vou ler o link para começar a pesquisa.
Abraços
Marcelo Cia

K_CO disse...

... excesso no uso de drogas e bareback estão ligado, e muito !
... as drogas, na sua maioria, toldam a capacidade de discernir sobre o certo e o errado, dai para fazer sexo sem proteção é um passo.
... nos eua, lar do crystal ( ou tina, ou tantos outros nomes ), a cena tem-se acabado e o índice de new-converts ( recém convertidos à situação de hiv + ) é alarmante.
... mas não se engane, esse ano nas festas da parada ouvir bem mais o nome dela do que em anos anteriores.

Anonymous disse...

Realmente difícil não comentar esse post. O comportamento das pessoas é um reflexo da sociedade em que estão inseridas.

Sobre as drogas, acho que deve haver limite para as coisas. Não acho que as pessoas devam ficar experimentando tudo até (finalmente) morrerem. Infelizmente já conheci pessoalmente três pessoas que se mataram desse jeito, coisa triste de se ver. Mas isso está longe de ser um fenômeno recente, acontece há pelo menos uns 7 anos.

Sobre o HIV e o barebacking, tenho uma coisa a dizer: sou HIV positivo diagnosticado há alguns meses e uma coisa eu digo... há várias pessoas na mesma situação que eu e estão por aí em todos os lugares (em todos os lugarem mesmo!).

São caras bonitos, sarados, saudáveis, interessantes e que não dizem pra ninguém o que realmente acontece. Conheço algumas pessoas que foram infectadas pelos próprios namorados, sem nem mesmo saber da situação do parceiro já que os sintomas geralmente aparecem depois de 10 anos em média.

A questão é muito mais complicada do que simplesmente o livre arbítrio das pessoas em relação a ter sexo seguro ou não. Antes de tudo é uma questão de saúde pública.

Recentemente li em uma revista sobre a possibilidade de se contrair o HIV no sexo oral... Será verdade? Ainda não sei, mas será que todo mundo se protege inclusive no sexo oral? Honestamente acho que não.

Para os mais desinformados existe uma coisa que se chama "janela viral", período de mais ou menos três meses em que uma pessoa mesmo infectada apresenta exames negativos. Acho que o que aumenta exponencialmente o contágio é o medo de fazer o teste e a certeza de que "nada de mal" vai acontecer com você.

Sinceramente fico um pouco chocado quando leio coisas do tipo: "eu tenho medo de quem faz bareback". Muitas vezes a infecção pelo HIV não está ligada à toda a baixaria que estamos acostumamos a ouvir, mas está ligada a situações diferentes. E a estes, cuidado com este tipo de manifestação... Será que você nunca fez alguma coisa da qual se arrependeu? Eu já. Esse tipo de afirmação só faz aumentar a atitude que vivemos tentando repudiar.

E por fim, apenas a título de curiosidade, segundo os infectologistas
com quem me consultei os remédios para o HIV tem eficácia por tempo indeterminado, assim como remédios para Hepatite C, que é bem mais contagiosa que o HIV e mata muito mais rápido. Não digo que é como diabetes, mas digo que acredito no que eles dizem, já que minha própria sobrevivência depende disso.

Lembro ainda que muitas outras doenças podem ser transmitidas pelo contato sexual, inclusive o HPV que é tão contagioso que mero contato da pele pode transmitir.

Procurem se informar melhor antes de dizerem qualquer coisa acerca de suas "experiências ausentes".

Desculpem o desabafo, apenas precisava dizer.

Dionisio disse...

Interessantíssimo o post... Pude observar a prática em um famoso Cruising bar de sampa.Não estamos, de fato, longe da realidade londrina. As razões... estas dão pano pra mangas de teses e teses de doutorado!

Lúcio disse...

Acho que o anõnimo hiv+ aí de cima disse tudo levantou fatos cruciais!!