Depois de registrar aqui minhas primeiras impressões sobre as revistas gays Junior e DOM, resolvi esperar alguns meses para retomar o assunto e fazer um comentário sobre a direção que cada uma das publicações está tomando. Até botar as mãos nas últimas edições (cujas capas ilustram este texto), eu já tinha mais ou menos na cabeça o que ia dizer: que as duas revistas tinham propostas claramente distintas e seguiam caminhos bem separados, de modo que não era o caso de tratá-las como produtos concorrentes ou rivais. Tudo isso antes de ler a DOM#3 e, especialmente, a Junior#4.
Se ainda concordo que Junior e DOM têm estilo, linguagem e visões de mundo peculiares, pude constatar que a distância que as separava ficou menor. É nítido que as duas revistas aprenderam com o feedback do público e também uma com a outra. Com isso, de certa forma se aproximaram e passaram a ser potencialmente interessantes para uma mesma parcela de leitores. Ainda que em tese elas tenham consumidores diversos, a intersecção entre seus públicos aumentou.
E o esforço maior para isso parece ter sido da Junior. Depois de uma chuva de críticas, a revista finalmente percebeu que escrever "excessões" não é legal e resolveu investir um pouco no seu texto. Se o pessoal do Mix Brasil não estava dando conta do recado sozinho (e era visível a diferença de qualidade entre os textos do cabeça André Fischer e os demais), a revista teve a humildade de pedir reforço de fora. E não economizou: abriu espaço para gente do naipe de Gilberto Scofield Jr. (articulista da pioneira revista Sui Generis e correspondente na China no jornal O Globo), Christian Petermann (afiado crítico de cinema da Folha de S. Paulo) e Sérgio Miguez (livreiro experiente e dono da antiga livraria gay Futuro Infinito), além de Ricardo Oliveros, Caio Taxi e Tony Goes, pessoas antenadas e capazes de pinçar informação fresca e interessante. Resultado: o conteúdo escrito da revista deu um salto, tanto de qualidade como de quantidade. Ainda que o apelo maior siga sendo o das imagens, começam a chamar a atenção as boas pautas de comportamento. A própria criação de colunas e seções identificáveis deu um fio condutor à Junior, que ficou com menos cara de colagem de trabalhos e mais cara de revista.
A DOM, por outro lado, já nasceu bem formatada e tem tido uma trajetória mais linear, sem reinvenções ou crises de identidade. Vem acertando na estética elegante e nas reportagens (gays muçulmanos, barebacking, militares gays, André Almada, a coluna de Júlio Moreno), mas ainda tem pela frente o desafio de ousar mais, surpreender de verdade (nesse sentido, a formatação mais livre e solta é uma vantagem para a Junior). Explorado como chamariz da edição 3, o especial de moda com Rodrigo Hilbert poderia ter ido muito além: virou uma capa branca, de impacto zero, e um ensaio cinzento, opaco, sem tempero. O fato de ser moda inverno não é justificativa: dava para ter feito algo bacana e "invernal" em uma locação no campo, à la Revista VIP, ou mesmo dentro de uma biblioteca, com os tons escuros das prateleiras dando sobriedade aos ternos e as lombadas dos livros emprestando um pouco de cor e vivacidade. Só perdoei porque a parte de jeans entregou tudo o que as páginas com Hilbert ficaram devendo - e o portfólio me presenteou com o meu lindinho Ramirez numa pose de matar, oferecendo sua cheirosa axila. Aliás, essa concessão ao fashion e aos corpos não deixa de ser uma aproximação com a linguagem mais visual da Junior.
É claro que as duas revistas ainda estão muito no começo: com quatro edições, qualquer publicação ainda está engatinhando, ainda mais num segmento cru e pouco explorado como esse no Brasil. Talvez o certo seja dar tempo ao tempo e fazer outra análise quando os rebentos completarem seu primeiro ano de vida. É preciso reconhecer que Junior e DOM estão melhorando a cada edição, na medida em que vão se soltando, ganhando confiança e construindo um diálogo com seu público. Os anunciantes, aos poucos, também estão aparecendo. Ainda que tenham muito a lapidar (e aprofundar), são duas revistas redondas e gostosas, que já mostraram o que se pode esperar delas. Nesse sentido, não são concorrentes, mas complementares. Alguns assuntos ficam melhores na DOM e outros só poderiam estar nas páginas da Junior. Com elas, o mercado editorial gay já tem com que se entreter, pelo menos por algum tempo. Vamos ver como cada uma vai lidar com o impasse de se tornar mensal - e continuar tendo algo a dizer.
Há espaço para uma terceira? Sim, mas agora os nichos vazios a preencher já são mais específicos. Mesmo sabendo que o mercado gay ainda é bastante pequeno, consigo pensar em três possibilidades: uma revista que seja menos fútil e mais séria, substancial, politizada; uma revista de vanguarda, transgressora, que se proponha a um exercício estético e artístico realmente inovador; e uma revista com uma proposta assumidamente erótica, bem sexy, mas que mantenha um bom nível editorial e tenha uma certa irreverência, seja inteligente. Várias revistas estrangeiras bacanas - não necessariamente gays - podem dar exemplos e servir de inspiração. Agora, uma coisa é certa: com os atuais jogadores do cenário, uma nova publicação que seja amadora dificilmente vai emplacar.
15 comentários:
Como sempre, ótima análise, Thi. Vamos ver como fica o jogo de mercado com a entrada da Aimé na parada. Se Júnior e DOM estão se aproximando, será que caberá mais uma publicação de perfil semelhante? Espero que haja espaço pra todos e, como você falou, a qualidade técnica e editorial seja crescente!
Thi, acho que a publicação que falta, segundo o seu último parágrafo, seria um almagama de Veja/Época + Playboy + DOM/Junior. Acho difícil isso existir.
Tudo bem que a Junior e a DOM estejam começando, mas ainda vejo uma diferença grande entre as duas, sendo ambas ainda bem superficiais.
Uma terceira revista, faria seria um olhar diferente sobre a mesma coisa e não acho que a AIMÉ seria esta revista.
Em tempo, eu nem me toquei sobre a hora que saimos da festa, acho que era por volta das 7hs/8hs, o som foi desligado com a versão 4 minutes do Mvee na pista princial. Foi engraçado, pois parecia que o bis com Madonna, era para compensar justamente a falta de tocarem músicas da Madonna na própria festa. Sem som, o povo seguiu para a outra pista, que assim que cheguei, tb foi desligado o som...Mas fim de festa é isso, né, geral zumbi só na fofoquinha.
Bjon
ô beleza!
Ta, além do café comigo, te indicarei programinhas imperdíveis e bem quentes, ja que o tempo aqui ta friiio!
bjo pra ti
Ótimo paralelo. Acho que quanto mais revistas, desde que bem feitas, melhor. Confesso que achei a Aimé clichê, cheia de assuntos batidos e imagens de divulgação, mas tudo bem, talvez melhore.
E não perca a próxima Junior hein!!!
Bjo.
concordo com o clebs, dificil acontever, ah num ser que seja distribuicao gratuita, revista d ebolso...
mas respondendo a pergunta, existe espaco para uma terceira, quarta, quinta... o que num falta eh espaco
Clebs e Leo: eu não concebi nem imagino uma revista que seja "uma amálgama" disso tudo! O texto fala em TRÊS possibilidades - cada uma sendo uma revista diferente!
Thi, sonho em ler uma revista que busque uma nova estética. Acho que é a hora de transgredir, mas acho que a inteligentSia gay não chegou neste ponto... Bjus. Cris
Concordo com você em quase tudo. Da maturidade da DOM, ao salto de qualidade da Junior. Mas, é quase impossível não concordar com o Cris. Existem as brechas no mercado. Sim, existem. Mas, o mercado não está preparado para tal. Uma hora chegamos lá, após erros, acertos, falências...
Ainda não li a Junior, mas tive a DOM do mês passado nas mãos e gostei muito da revista. Concordo contigo, acho que temos mercado para mais revistas voltadas para o público gay, e que consigam abranger muito mais temas... Mas e para achar quem compre a idéia, quem invista nisso? Embora os anunciantes comecem a aparecer, ainda são muito tímidos com relação ao nosso segmento... infelizmente!
Eu, em particular, não gosto muito da linha da Dom..me parece uma coisa meio "armario" ainda. Gosto mais do estilão da Júnior, mais jovem (me parece mais flexível). Ainda acho que os textos não são aquela coisa...mas não queria que ela se aproximasse demais da Dom..a Dom é chata.
DE VERDADE, A JÚNIOR FOLHEEI EM BANCA DE REVISTAS E NÃO DEU PRA ENCARAR, NÃO. A DOM JÁ COMPREI DUAS EDIÇÕES. TRAZ MATÉRIAS BOAS, SIM, MAS AINDA TEM MUITA COISA DISPENSÁVEL. OK, ACREDITO QUE FICARÁ MELHOR COM O PASSAR DAS EDIÇÕES. UMA TERCEIRA REVISTA... HUMMM, NÃO ACREDITO QUE TENHA ESPAÇO, NÃO.
Fui munido de muita vontade e curiosidade de conhecer a DOM e a Junior dia desses na Fnac. Tenho a mania de folhear as publicações antes de comprá-las, principalmente se são novas. Conclusão: achei muito ruim. Os assuntos não me interessaram, pareciam previsíveis e vazios. Não sei por que, mas eu já esperava isso.
A DOM tem uma diagramação chata, quadrada e sem frescor algum, além de trazer um ensaio 'catálogo da Renner' com o Hilbert. Já a Junior me pareceu melhor, ainda que as inúmeras fotos de descamisados tenham me incomodado. Não que eles não sejam merecedores de contemplação, mas não vou comprar uma revista pra ver ensaios 'sensuais esteriotipados'que circulam aos montes pela internet. Ocupa um espaço imenso e não agrega nada à publicação.
Acredito que as revistas vão se moldando com o tempo, ganhando mais conteúdo e uma cara mais moderna. Bom, é o que espero.
Difícil alguma coisa mais amadora que Xunior. O que adianta ter um monte de colaboradores quando não se sabe editar? Nem escrever. A revista que falta toda mundo sabe qual é. Mas quem sabe fazer? Aí é que mora o perigo. Como já disse, os exemplos estão todos aí na cara da gente, mas falta algo substancial: T-A-L-E-N-T-O. Algo que vá além da personalidade da tchurma que faz a revista. Uma revista de verdade. É isso que eu quero ver.
tb notei uma melhora no conteúdo editorial da Junior. Concordo que as duas não são concorrentes diretas, mas complementares.
Sobre a terceira revista, eu vi rapidamente a Aimee, mas não a encontrei nas bancas depois..
oii!!!
concordo com o Douglas!!!!!
ja comprei a Junior e a Dom, outro dia estive na banca dei uma olhada na Junior e achei que nao compesava, um ponto positivo estão tendo uma boa distribuição, encontrei aqui em Maringa, interior do Paraná.
Mas na verdade as duas estão no meu ver muito esteriotipadas seguindo bem a ditadura estetica gay que se impos nos ultimos tempos, somos um mundo de diversidade, vamos romper com isso. Gay nao é so bunitinho com musculos definidos, bronzeado e vestindo as roupinhas da estação. ensaios de moda e afins como teve nas duas revistas acho desnecessários a nao ser que tenham um enredo gay, como fazem algumas grifes inglesas. estamos em tempo de pensarmos mais a ficar vendo figurinhas (boas, sexy, mas figurinhas)
abraços
Juliano
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