Este blog nasceu como o primeiro passo de um plano de fuga. Eu precisava fugir do que eu era para me tornar o que sou hoje. Estava preso a uma carreira jurídica que não tinha nada a ver comigo e via minha vocação sendo desperdiçada, indo para o ralo. O blog virou minha válvula de escape. Pude escrever sobre assuntos mais prazerosos, fiz contatos e amigos e pus meus textos numa vitrine, que me ajudou a deslanchar como jornalista.
Sete anos se passaram e o plano deu certo. A redação é bem mais legal que o escritório e, se ainda não descobri nem 10% do que é o jornalismo, sei que agora estou me dedicando a algo em que quero crescer e me tornar melhor. Tem muitas pessoas que eu admiro, e espero poder me aproximar delas. Ao mesmo tempo, jornal diário é uma máquina de moer gente - uma produção de texto em ritmo industrial, a fórceps. Isso consome minha energia de tal maneira que, no fim do dia, não tenho pique nem para fazer social no bar, quanto mais escrever aqui.
Mas a vida nova trouxe algo que pesou mais contra o blog que a falta de tempo: a autocrítica. Sempre procurei escolher bem as palavras e escrever com correção e rigor. Mas agora, pensando como jornalista, passei a me preocupar também com a pertinência do meu texto. O que tenho a dizer hoje é relevante? Um produto editorial não pode chover no molhado em meio às outras publicações. Se ele for redundante, a existência dele não se justifica.
E a verdade é que em 2013 tem gente demais fazendo o que eu fazia aqui. Quantos blogs de comida existem hoje? Qualquer um sai pela cidade tirando fotos dos pratos com o celular e registrando impressões sobre o jantar. E blogs de viagem, então? Só sobre Buenos Aires, há tantos relatos, roteiros e dicas - descolados, defasados ou apenas deslumbrados - que o assunto já cansou por umas cinco encarnações. A internet democratizou a produção de conteúdo e isso tem um lado ótimo, a liberdade de criar pautas frescas, fora das amarras da imprensa tradicional. Mas a blogosfera tem muita bobagem por aí, textos rasos, gente que escreve sem base alguma. Nesse mar de blablablá, é preciso se diferenciar para sobreviver.
Talvez um diferencial do meu blog tenha sido um certo olhar gay sobre as coisas e a cidade. Quem frequentava este espaço sabia e esperava por isso. Ouso até dizer que meu blog ajudou a semear um boom de blogs gays que tiveram seu auge lá por 2008. Falávamos sobre comportamento, a cena noturna, as festas, as modinhas do verão de Ipanema, o balanço da semana da Parada. Isso tudo fazia muito sentido naquela época, em que a imprensa gay propriamente dita estava saindo de um longo hiato, desde o fim dos anos 90.
Hoje, não que eu tenha decidido voltar para o armário, mas não vejo mais sentido em ficar repercutindo os ecos da boate (que me preenche cada vez menos, aliás) e a pauta da agenda LGBT é extremamente repetitiva. Fizeram um comercial de TV de mau gosto? A novela está mostrando mais um personagem gay? O humorista soltou uma frase polêmica? A crentalha infiltrada no Legislativo quer emplacar um projeto de lei digno da Idade Média? Seja qual for o assunto da semana, em duas horas todos os analistas de plantão já postaram seus pareceres. E se todos já estão falando a mesma coisa, não preciso engrossar o coro e ser a enésima voz escrevendo contra o Feliciano ou a favor do Mateus Solano. Não são assuntos menos importantes, mas não bastam, e enjoam rápido.
Por essas e outras, este blog vai ter de se reinventar para seguir adiante. E ainda não sei o que quero fazer com ele. Se a ideia for enveredar pela gastronomia, um caminho para me diferenciar seria estudar e fazer cursos na área. Afinal, por mais que toda a minha família viva mergulhada em comida e fale sobre isso o tempo todo, sou mais um foodie que um real entendedor. Mas será que eu quero mergulhar fundo e virar um crítico, ou meu prazer está justamente em apreciar os restaurantes sem tanto compromisso? E o turismo? Hoje não tenho mais o tempo e o dinheiro de antes, quando postava um roteiro novo por mês. E, outra vez, será que eu quero fechar o leque tanto assim, e ser apenas mais um blog de viagem?
Enquanto essas respostas não aparecem, o jornal dá vazão à minha produção de textos e o Facebook supre minhas necessidades de expressão - com uma interação bem mais rápida, ainda que superficial. Aliás, o Facebook é o canibal de todos os blogs: ele mata a sua vontade de escrever longos textos e rouba para si os comentários que antes chegavam no blog. Por isso, talvez este período sabático também sirva para repensar, além do conteúdo, a própria plataforma. Aos que continuam visitando este espaço, sigam a página dele no Facebook para saberem das eventuais novidades.