quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Redescobrindo o Drosophyla

Não sei se é a idade ou apenas o momento que estou vivendo, mas tenho tido menos interesse em sair para dançar e mais vontade de descobrir novos bares, com ambiente aconchegante e sobretudo boas comidinhas. Enquanto não sobra tempo para conhecer lugares como o Suíte Savalas, tenho gostado de ir ao Drosophyla, um velho conhecido que andava meio esquecido no meu roteiro.

O bar fica escondido numa travessa entre a Consolação e a Bela Cintra, perto do Sonique. É um casarão antigo, com decoração kitsch e uma fauna eclética e bem friendly, sem afetação. As mesas do quintal são disputadas, mas eu gosto mesmo é dos sofás de couro da parte interna da casa, que aparecem na foto. Lugar para reunir meia dúzia de bons amigos e deixar a noite passar. E o melhor é que a cozinha tem opções bem interessantes.

Eu costumo abrir os trabalhos com uma das caipiroskas diferentonas do cardápio. Depois, emendo um penne oriental, que leva cubos de frango, shoyu, gengibre, cogumelos e abobrinha, e arremato com o sensacional pudim de ovomaltine, uma das sobremesas que mais chamaram minha atenção neste ano. Da última vez, apareci sozinho, só para jantar - coisa que eu dificilmente faço em um bar!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A salada sexual da Trip

Comportamento é um dos meus assuntos favoritos como jornalista e a Trip, uma das revistas que eu mais curto, depois da Época São Paulo. Assim, eu não pude deixar de comentar a última edição, a 204, dedicada à diversidade sexual. Mesmo já conhecendo a linha editorial deles, e sabendo que eu poderia esperar um olhar fresco e moderno, tive uma boa surpresa quando li a revista.

O que mais chamou minha atenção foi que eles não se limitaram a um olhar meramente gay. Em vez disso, foram a fundo no tema "diversidade" e trouxeram expressões menos óbvias da sexualidade, como o homem que só se relaciona afetivamente com travestis (como rotulá-lo? é mesmo preciso rotulá-lo?) e os artistas que viveram uma relação a três nos anos 70. Mesmo quando o assunto é homem com homem, a equipe foi além da estética mainstream do homem-malhado-consumista: falou com ursos, com surfistas, enfim, foi capaz de pensar pautas diferentes, não tão previsíveis. E ainda falou de psicanálise, da Nostro Mundo e até do Monza série especial do Clodovil.

Talvez a explicação disso esteja no fato de que eles não têm o olhar viciado de quem vive imerso nesse mundinho. Olhando de fora, conseguiram fazer uma representação menos chapada e homogênea do que a das revistas voltadas ao público gay. Mesmo não sendo parte da patota, eles deram conta de assuntos como o mundo bear sem gafes ou escorregões. E, melhor ainda, fizeram a ponte com um público diferente, afinal o leitor típico da Trip é heterossexual. Não tenho dúvidas de que essa revista ajudou a quebrar preconceitos, seja com a corajosa capa, uma das mais bonitas da história da publicação, seja com o dossiê homofobia, ilustrado com imagens contundentes. Pode não ser perfeita (as colunas das últimas páginas não mantiveram a relevância das reportagens), mas é um claro sinal de que as coisas estão mesmo melhorando para todos nós.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Oba, começou mais um Mix Brasil

Começa hoje em São Paulo a 19ª edição do Mix Brasil, o festival de cinema dedicado à diversidade sexual. Se hoje a sociedade ainda tem problemas para ver dois homens trocando carinhos na tela, nos primeiros anos do Mix as expressões artísticas da homossexualidade eram ainda mais underground. O festival ajudou a preencher essa lacuna, trazendo referências importantes para um público que começava a se reconhecer e construir sua identidade nos grandes centros urbanos.

De lá para cá, a mostra ganhou espaço e amadureceu, sem perder seu maior mérito, o de ser um panorama do vasto universo LGBT ao redor do mundo. Diferentes culturas, nacionalidades, tribos, épocas e estilos de vida ganham representação nas telas e nos lembram que existem muitas outras formas de viver, amar e se expressar. Nesta edição, chama atenção o grande número de filmes que retratam a transexualidade, ilustre desconhecida mesmo dentro do nosso meio. Outra novidade é que a programação passa a incluir peças teatrais, preparando o terreno para a transformação do Mix em algo mais amplo, um festival de cultura, o que deve acontecer em 2012.

E tem as festas, claro. Afinal, ferver com os amigos cinéfilos e conhecer gente nova é sempre divertido. Na abertura, daqui a pouco no The Society, quem marca presença é a dupla Arisa [foto], de Israel, que faz uns vídeos superdivertidos [como este, este e este] e é um dos ícones da cena gay de Tel-Aviv. Vale dar uma olhada nos clipes no YouTube - e encher os olhos com a beleza estarrecedora de Eliad Cohen, o bofão da direita, que tem lugar cativo no meu pódio de machos mais perfeitos do planeta.

A programação do festival, você encontra aqui.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Por uma universidade livre... da lei?

"A revolução na FFLCH (Faculdade de Fashionistas com Looks Copiados dos Hipsters) está próxima. Próxima de terminar. O perfil do novo revolucionário é bem definido: usando óculos escuros Gucci, moleton da Gap e “skinny jeans” da Ellus, eles pisam fundo — com seus tênis Nike — no acelerador de suas SUVs e Kia Souls para chegar ao campus de batalha. E as palavras de ordem contra o imperialismo não vêm de livros ou cartilhas marxistas. Agora, a revolução é tramada e tuitada direto de seus iPhones e iPads (e viva Steve Jobs!, já que a Microsoft está a serviço do imperialismo). Assim surgiu a “Gap Revolution”, uma rave que contou com vários patrocínios (e “paitrocínios” também).

Só que tudo tem limite. Após duas semanas de intensa batalha, os revolucionários estão cansados, sujos e mal alimentados (McDonald’s todo dia não dá, né?). Sim, chegou a hora de ir para casa. Lá tem banho quentinho, comida feita na hora e roupa lavada todo dia. Mas os nossos bravos lutadores que não esperem conforto no colinho da mamãe. Será praticamente impossível que escapem de umas belas palmadas e de um belo castigo ao chegarem em casa. Na reunião entre os pais dos alunos revolucionários, ficou decidido que todos os carros, iPhones e videogames serão confiscados e estão todos proibidos de ir para a balada, tuitar e atualizar o perfil do Facebook
".

Não resisti à tentação de transcrever parte do post que foi publicado ontem em um blog de humor do Jornal da Tarde. Fiquei sabendo dele por uma colega de curso que o considerou "desnecessário" e de mau gosto. Ela estava indignada com a ofensiva da polícia para colocar fim à ocupação da reitoria da USP, hoje cedo: "Trezentos policiais para tirar 70 alunos?!" Não sei em que medida essa caricatura feita pelo post representa a realidade do aluno da FFLCH de hoje, mas vou aproveitar a deixa para dar meu pitaco sobre a confusão que se instalou nos últimos dias por lá.

Sou ex-aluno da USP e acho que a universidade tem que ser um território livre para a discussão de ideias e a manifestação política. Na época da ditadura, a infiltração da polícia nos campi inibia o debate e cerceava essa liberdade de pensamento. Qualquer aluno com a cabeça mais arejada corria o risco de ir parar nos porões do DOI-CODI - e alguns que foram nunca mais voltaram. Tantas invasões e ocupações violentas deixaram um trauma: hoje se abomina a ideia de que a PM faça qualquer tipo de intervenção no espaço universitário.

Isso não significa, porém, que esse seja um espaço diferenciado, impenetrável, onde as leis que regem o resto da sociedade não têm validade. Os alunos da FFLCH se revoltaram porque alguns deles consumiram maconha no campus e foram reprimidos pela PM. Em outras palavras, a molecada queria ter um salvoconduto para fumar seu bequezinho em paz, sem ser incomodada, sob o manto dessa pretensa "imunidade geográfica universitária".

Creio que existiu aí uma confusão de valores, ingênua ou mal intencionada. Sou defensor ferrenho da liberdade de pensamento, da autonomia universitária e também simpatizo com a descriminalização das drogas. A universidade é um lugar propício para esse debate. Mas não dá para querer "liberar geral", por conta própria, usando a USP como escudo. Por enquanto, o consumo de drogas ainda é um ilícito penal - e o papel da polícia é reprimir a prática de crimes, seja na favela dos pobres, seja na faculdade dos ricos. Encapuzados como delinquentes, os alunos da FFLCH ocuparam a reitoria, depredaram o que viram pela frente, peitaram a polícia e ainda acharam ruim quando ela se impôs e deu a última palavra. Mas o que seria de uma sociedade em que a polícia não consegue dar a última palavra diante de um bando de adolescentes que cometem um delito? Se no resto do país não pode, por que ali pode? Por acaso os colegas uspianos são cidadãos diferenciados?

É uma pena que a juventude bolchevique do Butantã não consiga direcionar sua fome de revolução e engajamento para causas mais amplas que o baseadinho de cada dia.

[UPDATE: Como o assunto continua rendendo, tenho lido outras opiniões sobre o caso e me deparei com textos que expõem outros lados da questão, e que nem sempre chegam aos ouvidos da opinião pública, como os excessos cometidos pelos policiais e a crise política dentro da USP. Este, este, este, este e este são alguns exemplos, cada um em uma direção bem diferente. São contrapontos interessantes que enriquecem o debate].

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Minha primeira matéria publicada

Hoje tive minha primeira reportagem publicada no Estadão. E já comecei escrevendo sobre algo de que gosto muito: comida. Quando estive em Santa Cruz do Sul, descobri que a cidade estava criando um selo de origem para as suas cucas. Para quem não sabe, a cuca é uma espécie de pão doce de origem alemã, muito comum na região Sul do Brasil. Achei que a ideia de uma "cuca D.O.C." poderia render uma boa pauta. Fiz um texto mais conciso para o Curso, e fui conversar com o pessoal do Paladar, o caderno de gastronomia do jornal. Eles se interessaram. Expandi a minha apuração sobre as cucas, falei com outras fontes dentro e fora de Santa Cruz do Sul e fiz um segundo texto, dividido em retrancas, com uma pegada mais próxima à do suplemento, que tem um certo "molho" de revista. A matéria ganhou a capa e ocupa as duas páginas centrais do caderno - os meus textos estão na página P4. Pena que meu nome não pôde aparecer: a coordenação do Curso proíbe os focas de assinarem as reportagens publicadas no jornal. Mesmo assim, estou feliz. Mais um pequeno passo da minha nova carreira! [Quem não estiver com o jornal impresso por perto pode ler a matéria no site do Paladar, aqui]