
Comportamento é um dos meus assuntos favoritos como jornalista e a
Trip, uma das revistas que eu mais curto, depois da
Época São Paulo. Assim, eu não pude deixar de comentar a última edição, a
204, dedicada à diversidade sexual. Mesmo já conhecendo a linha editorial deles, e sabendo que eu poderia esperar um olhar fresco e moderno, tive uma boa surpresa quando li a revista.
O que mais chamou minha atenção foi que eles não se limitaram a um olhar meramente gay. Em vez disso, foram a fundo no tema "diversidade" e trouxeram expressões menos óbvias da sexualidade, como o homem que só se relaciona afetivamente com travestis (como rotulá-lo? é
mesmo preciso rotulá-lo?) e os artistas que viveram uma relação a três nos anos 70. Mesmo quando o assunto é homem com homem, a equipe foi além da estética
mainstream do homem-malhado-consumista: falou com ursos, com surfistas, enfim, foi capaz de pensar pautas diferentes, não tão previsíveis. E ainda falou de psicanálise, da Nostro Mundo e até do Monza série especial do Clodovil.
Talvez a explicação disso esteja no fato de que eles não têm o olhar viciado de quem vive imerso nesse mundinho. Olhando de fora, conseguiram fazer uma representação menos chapada e homogênea do que a das revistas voltadas ao público gay. Mesmo não sendo parte da patota, eles deram conta de assuntos como o mundo
bear sem gafes ou escorregões. E, melhor ainda, fizeram a ponte com um público diferente, afinal o leitor típico da
Trip é heterossexual. Não tenho dúvidas de que essa revista ajudou a quebrar preconceitos, seja com a corajosa capa, uma das mais bonitas da história da publicação, seja com o dossiê homofobia, ilustrado com imagens contundentes. Pode não ser perfeita (as colunas das últimas páginas não mantiveram a relevância das reportagens), mas é um claro sinal de que as coisas estão mesmo melhorando para todos nós.