quinta-feira, 13 de maio de 2010

Meu guia gastronômico do Rio - parte 1

Por incrível que pareça, ainda há gente desinformada que imagina que no Rio de Janeiro se come mal, pode? Os cariocas podem até não ter a mesma devoção pela boa mesa dos paulistanos (até porque ali a devoção pelo corpo fala mais alto), mas seu circuito gastronômico é riquíssimo e capaz de satisfazer qualquer tipo de paladar - e surpreender. Sempre chego ao Rio com uma lista de lugares para conhecer, e volto para casa sem ter conseguido conferir nem metade.

Numa cultura que preza a informalidade, quem dá o colorido local são os célebres botequins, imitados Brasil afora, e as casas de suco, que não existem em nenhum outro lugar. Mas nem só de baixa gastronomia vive o Rio: há excelentes restaurantes por lá. Em comparação com São Paulo, há bem menos franceses e italianos; por outro lado, há mais casas de frutos do mar, portugueses e, se bobear, até japoneses (a disputa é dura). Às vezes, tenho também a impressão de que há mais cafés por lá (ainda que isso combine mais com o nosso clima que com o deles).

Já fazia tempo que eu estava devendo uma re-edição do meu roteiro carioca: vira e mexe dou alguma dica solta em Rapidinhas, mas um miniguia de verdade eu só postei em 2006. O gancho que me levou a atualizá-lo agora é a segunda edição da Rio Restaurant Week, que está acontecendo por lá até o dia 23/5 (mas a seleção deste guia não necessariamente coincide com as casas participantes). Desta vez, optei por indicar mais lugares e fazer descrições menos detalhadas. Os endereços, vocês conferem nos links.

CAFÉ DA MANHÃ

Para ver e ser visto já no começo do dia, não há lugar melhor que o Cafeína da Rua Farme de Amoedo, em Ipanema. Sentado em uma das disputadas mesas externas, você poderá assistir de camarote ao vaivém de cariocas e turistas indo e vindo da praia. Como os preços não são lá muito camaradas, há quem consiga fazer um simples espresso render por horas... Se a varanda estiver lotada, o vizinho Colher de Pau é uma alternativa. O cardápio não faz feio, e os valores são mais justos: dá para tomar um café da manhã digníssimo, com bebida quente, suco de laranja, cestinha de pães, manteiga ou requeijão, peito de peru e um delicioso queijo fresco caseiro, por apenas R$12.

Se quiser tirar onda de carioca da gema, vá fazer seu desjejum no supermercado Zona Sul. O café da manhã é servido até as 11h em um bufê por peso, com grande variedade de pães, frios, bolos, geléias e uma ótima relação custo-benefício. Atente que nem todos os endereços da rede servem café: nos arredores do fervo de Ipanema, as filiais mais próximas são a da Praça General Osório e a da Rua Francisco Sá (já em Copacabana, no Posto 6).

Se o dia nublou ou sua fissura de praia passou, dirija-se ao Parque Lage, nas imediações do Jardim Botânico, e renda-se ao charme do Café du Lage. O café é servido no pátio interno da casa que abriga a Escola de Artes Visuais do parque, à beira da piscina e aos pés do Cristo Redentor, num cenário encantador. Não muito longe dali, a Escola do Pão pilota, aos sábados e domingos, uma verdadeira orgia alimentar, daquelas que inviabilizam não só o almoço como a praia do dia.

ALMOÇO

A praia deixou você faminto? A Zona Sul tem ótimos restaurantes por quilo (no Rio se diz "a" quilo), alguns deles com receitas elaboradas, dignas dos melhores cardápios. É o caso do disputado Couve-Flor, no Jardim Botânico, do Fellini (meu predileto, no Leblon; o que é aquela torta alemã com calda?) e do Da Silva, dentro do Rio Design - esse é a versão quilo do estrelado português Antiquarius, ou seja, vá preparado para comer bacalhau da silva, arroz de pato e siricaia de sobremesa (hummm!). Se não quiser sair de Ipanema, nem andar muito, tente o Fazendola (os pratos quentes decaíram muito, mas os sushis continuam bem corretos), o Frontera (para encontrar o viadeiro em peso e se esbaldar no brigadeirão) ou o Papa Fina, mais low profile, na Vinícius. Ou se jogue no rodízio japonês do Nik Sushi, um dos melhores da cidade.

Para quem prefere almoço à la carte, há restaurantes agradáveis e bem versáteis. O Gula Gula é um clássico carioca - as saladas estilo salpicão e os picadinhos do dia são marca registrada da casa - mas a espera por uma mesa pode ser cruel. O Doce Delícia tem saladas, tortas doces e pratos quentes excelentes (indico o Frango Delícia e o Filé Normandie) e foi inteiro repaginado, ficou uma graça. No Alessandro & Frederico, todo mundo quer sentar na varanda e acompanhar o movimento da Rua Garcia D'Ávila. Dentro da übercool Livraria da Travessa de Ipanema, o Bazzar Café é o restaurante onde Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda almoçariam se o seriado Sex & The City se passasse no Rio.

Numa linha mais saudável, casas de suco como Bibi, BB Lanches e Polis Sucos preparam boas vitaminas e sanduíches (por que não existe um lugar em SP que faça uma pasta de ricota decente, meu Deus?); o Bibi ainda serve crepes substanciais e um ótimo strogonoff. Marombeiros radicais não arredam pé do New Natural, um quilo excessivamente natureba, que era unanimidade entre as barbies até que o Frontera abocanhasse parte desse público. Os moderninhos adoram o Market [eu escrevi recentemente sobre ele, aqui] e o Líquido, na Praça N. Sra. da Paz. Nesse último, os carros-chefe são as dosas, levíssimas crepes de massa de farinhas de arroz e lentilha, com recheios e chutneys a combinar, mas ali eu prefiro pedir o Sesame Líquido (atum semicru com molho teriaki, risoto de parmesão e macadâmia, tomate confit e azeite trufado).

Mas o Rio não é só a Zona Sul. O bairro "alternativo" de Santa Teresa tem um charme pitoresco e bons restaurantes, como o Aprazível, que serve comida brasileira atualizada em gostosas mesas ao ar livre, algumas com direito a uma vista fantástica da cidade. No Centro, minha dica é o Cais do Oriente, casarão histórico escondido numa ruela atrás do Centro Cultural Banco do Brasil, com menu que mescla ocidente e oriente. E para quem está pelos lados da Zona Oeste, a região de Guaratiba, bem depois da Barra e Recreio, tem alguns dos melhores restaurantes de frutos do mar da cidade, como o Tia Palmira (o pioneiro), o Bira (do filho dela) e o 476. Mas não posso recomendá-los, porque nunca me atrevi a ir tão longe...

[Foto: Confeitaria Colombo @ Forte de Copacabana]

11 comentários:

Daniel disse...

Já mandei para mamãe. Aguardamos ansiosamente a parte 2.

beto disse...

nossa, minha mãe e o resto da família eram moderninhos e eu não sabia! Eles que me levaram no Market pela primeira vez.

Já que vc falou fora da ZS, no centro tb tem um Da Silva (será o original?). Fica dentro do prédio do Clube Ginástico Português, acho que na Graça Aranha. E depois de um certo horário no almoço, é preço fixo, pode comer 2kg que o preço não muda!

Tico disse...

Hummm, muito bom o post! Até msm para cariocas como eu não tão ligados em gastronomia. Já vou usar uma das dicas essa semana, to precisando conhecer lugares novos.

Qnt aos restaurantes da Z. Oeste, conheço apenas o Tia Palmira e embora já tenha alguns anos que eu não vá lá, lembro que ele realmente fazia juz à fama.

E na sua próxima vinda ao Rio, te aconselho veementemente dar um pulinho por aquelas bandas. Não tanto pelos restaurantes, mas principalmente pelas praias mais lindas de toda a cidade. Grumari e Prainha são "breathtaking", não há nada igual. É muita beleza junta, inclusive a dos gatíssimos surfistas que frequentam a Prainha e que de certa forma compensam a ausência de fervo gay. (se é q há tanta ausência assim...rs)

Alex Bez disse...

Thiago, estou em Berlin, e ontem na hora q pedi uma BECKS LEMON lembrei do seu post sobre a sua comparação do gosto de cerveja e cera de ouvido, rsrsrs, vc lembra disso???
Hoje vamos na BERGHAIM (prequiça de procurar o nome certo no google) estamos cheio de expectativas, acho q teremos uma noite e tanto...
abs,
take care

poor guy fashion victim disse...

feita a desmontagem das palavras cifradas a seguir ao seu comentário ;)

abraço

poor guy fashion victim disse...

Ah faltava explicar: desemparar a baiuca = desamparar a loja. Expressão utilizada para dizer que um convidado que não queremos receber e nos está a dar um saco enorme, nunca mais se vai embora.

baiuca é uma loja de baixa qualidade. No meu post = Portugal

Gustavo Miranda disse...

Juro que um dia eu compilarei todas as suas dicas, antes de resolver a minha viagem. Vc é ótimo nisso.

Luca disse...

Adorei

Chapinha disse...

a linguiça do Club 117 tbm é deliciosa!

endim mawess disse...

detalha mais o cardapio desses lugares que dá vontade de comer o teclado do computador.

Anonymous disse...

Recomendo o Sobrenatural, em Santa Teresa. Bem legal!