quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Porto Alegre te despreza

Não poderia ter sido outro o título do post. Depois daquela traumática experiência de junho de 2008 (quando fui passar um inofensivo fim-de-semana em Porto Alegre e fiquei quatro dias trancado em casa, enquanto a cidade era varrida por uma tempestade e o aeroporto permanecia fechado), peguei um bode de lá. Resolvi dar uma segunda chance à capital gaúcha em uma época "segura", quando o tempo estivesse quente e ensolarado e eu poderia finalmente conhecer o tão falado sunset do Guaíba. Aproveitei o feirão da Gol em setembro e comprei passagens para voltar a Porto no último fim-de-semana. Qual não foi minha surpresa ao ver que, em plena primavera, a previsão era de chuva nonstop... meu pesadelo gaúcho se repetiria nos mínimos detalhes!

Até pensei em cancelar a viagem (colegas blogayros sugeriram que eu fosse para o Rio ou até BH, onde o finde de sol estava garantido), mas a saudade dos amigos gaúchos e a preguiça de passar pelo procedimento de reembolso da Gol falaram mais alto. Diante do mau tempo, fui checar o circuito cultural do Centro - a Feira do Livro e a Bienal do Mercosul ocupavam os principais espaços culturais da cidade. Visitei o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS, em cujo café comi uma cheesecake de chocolate maravilhooosa, fica a dica!), o Santander Cultural (lindo prédio), o Cais do Porto (meio chocho) e a famosa Casa de Cultura Mário Quintana (que deve ter vivido dias melhores, pois parecia meio abandonada; aliás, o café na cobertura tinha potencial para ser um lugar realmente bafônico, se sofresse uma repaginação bem planejada).

Não foi como eu havia imaginado, mas consegui ocupar o tempo sem ficar maldizendo a minha sina - e ainda tive um fim de tarde delicioso com um guri que conheci por ali. À noite, depois de jantar com meu atencioso anfitrião, segui a dica dele e fui conferir a festa Biônica, num clubinho da Cidade Baixa. Ótima surpresa: som bem legal, transitando entre house, breaks e electro (da dupla de DJs, só se viam as silhuetas contra o telão: eles tocavam no escuro, com umas perucas espetadas e uns óculos-lanterna acesos, tipo um "Information Society from hell, with lasers"), pista animada e cheia de gatitos, embalada por um ar condicionado polar (que compensou o calorão pegajoso do Ocidente na véspera). Mesmo com a chuva, fechei o sábado no lucro.

Para minha sorte, a cidade se redimiu no domingo e me presenteou com um lindo dia de sol. Primeiro, fui conhecer o Parcão, onde os chiques do bairro Moinhos de Vento vão para ficar com o cooper feito. Depois, segui para o miolinho da Padre Chagas (uma mistura do Batel de Curitiba com o Palermo Soho de Buenos Aires; o Z Café lembra muito o Bar 6 portenho). Na transversal Dinarte Ribeiro, vi vários restaurantes novos - seis deles bolaram uma iniciativa que permite ao cliente escolher pratos de uma casa e comer em qualquer das outras cinco. Não resisti e voltei ao Usina de Massas (que não participa da brincadeira), para matar a saudade do mítico nhoque com molho de carne de panela cremoso. Fiquei furta-cor com os novos preços: pela porção individual da massa e uma garrafinha de água, paguei R$67! Só valeu a pena porque esse prato é mesmo dos deuses.

Depois do êxtase gastronômico, fiz o programa clássico dos gaúchos: fui tomar sol (dispensei o chimarrão) vendo o movimento no Parque Farroupilha (ou Redenção), bem mais democrático e agitado que o Parcão. Amigos contavam que uma passada no Brique da Redenção, espécie de feirinha de artesanato que rola por lá, era programa obrigatório das bees locais, mas até que não vi tantas. Mesmo assim, foi bem interessante ver o vaivém da fauna local, com direito a famílias felizes, grupos de loiras legítimas, emos com looks de baixo custo e alguns homens de babar. De lá, fui correndo para o Gasômetro - se eu finalmente conseguisse ver o bendito pôr-do-sol, minha estada seria completa. Infelizmente, tive que ir para o aeroporto antes que o sol se pusesse, mas tudo bem: deixei Porto Alegre satisfeito e resolvi que vou ver o tal "espetáculo" pelo YouTube mesmo...

[Foto: Parque Moinhos de Vento com o chão coberto pelas pétalas dos ipês coloridos]

12 comentários:

Fernando disse...

Thiago, que bom que finalmente a sua estadia em POA foi aceitável! :) Incrível como mágoa de caboclo com cidades pega MEXSMO: a minha com Berlim tá foda de sair. :D

Quais as próximas viagens programadas?

Abs,
Fer-congelando-nesse-porra-de-tempo

Gurizão disse...

Huahuaha óooo não conseguimos nos ver... mas enfim, fico feliz de termos nos falado e que o sol apareceu pra você!

beijao meu querido!

Rodrigo disse...

volte sempre!

tks pelas fotos!

;)

Janaína Leslão disse...

Amei a frase "mas consegui ocupar o tempo sem ficar maldizendo a minha sina".

Amo nhoque, mas com esse eu iri passar mal!

Abraços!

Marcelo disse...

Porto alegre é demais, como canta a esposa do prefeito!!!

Domingo estava lindo! Fui na redença com um amigo, mas não te vi. hahaha!

Volte sempre!

Lucas T. disse...

Thiago, proxima vez vai no Beco na sexta, ao inves do Ocidente.
Tem 2 casas do Beco, e ambas valem a pena. Vaaaarios gatos. ;)

beto disse...

como só falamos de natal outro dia, tava sem saber se vc tinha finalmente desencantado da sua obsessão com o sol se pondo no guaíba!

já te falei antes: o sol se põe todo dia, vc terá muito tempo para ver em outras ocasiões. e acho esse endeusamento todo do fenômeno um pouco demais: sim, pode ser mais bonito em alguns lugares... mas, no fim, rende mesmo é uma série de fotos estilo Edições Paulinas, daquelas com legenda "A luz do Senhor te iluminará sempre" ou algo similar.

bom ver que vc perdeu o bode por POA. a cidade não merecia! mesmo assim, não acho POA tão interessante pra quem vem de SP, pois não oferece nada muito diferente.
é sempre bom conhecer outros lugares e outras pessoas - mas POA só vale a pena se for com uma passagem bem baratinha heheh. a não ser para aqueles que sofrem da síndrome tão comum de só-homem-com-tipo-mais-europeu-me-interessa.

deco disse...

Thiago:estivemos em POA no feriadão de Finados e pegamos 4 dias de sol e calor senegalês.Conheço bem POA mas a cidade me surpreendeu.Carlos ficou encantado.Eu não ia lá desde que sai da aviação há 8 anos.E segui muitas dicas suas.Até no futebol fomos.Depois do jogo no Beira Rio vimos o por do sol da Praia de Bellas.Magnífico.E o que ficou aquele Santander meu Deus!!!!!! Que coisa linda. Demos sorte tb de ver a feira e a bienal.Ficamos no Lido,hotel de executivos super bacana ,perto da Rua da Praia.Super recomendo. Bom e barato.A Oficina de Massas era tão barato antes. Para de recomendar que baixa o preço,hehehe.E uma dica
HT legal.Na próxima vez conheça o BAR DO BETO na cidade baixa.A especialidade é Filé a parmegiana. O meu preferido é o que é servido com molho branco e champingon.E vem com arroz e batata bem sequinha.Demais. Dá pra 3.oopss. A salada de maionese não existe igual. O chopp e o atendimento tb.O lugar é lindo.Já tem o Bar do Beto II. Não conheço.O original é magnífico. Bjs

Lindinalva Zborowska disse...

O melhor por do sol é na Fundação Iberê Camargo e o café deles vale uma visita!! A arquitetura do prédio é maravilhosa e impecável feita pelo arquiteto português Alvaro Siza.
(fica aqui a dica) amoreco!!
Se quiser te mando umas fotos do local!

deco disse...

Bela dica da Lindinalva. O prédio da Fundação Iberê é qq coisa. Ela se redime das bordoadas sobre o Sonique. KKKKK. Vale lembrar que sempre concordo com vc nestes quesitos de fila,etc e aquele lugar nem merecia aquele stress todo. Vai passar como tantos outros.Queria manter contato contigo,se vc quiser,é claro. Se puder ( e quiser) pegue meu email com o Celso.Mantenho contato mais ou menos regular com ele. E fique tranquilo quanto ao por do sol de POA. Só depois de anos indo prá lá regularmente é que eu,numa viagem turística como esta recente,pude apreciar este grande espetáculo. Hora destas qdo voltar vc será premiado.Abrs

Moacir disse...

Thiago, eu adoro Porto Alegre. Casei com um gaúcho, você sabe, né? Então não podia ser diferente.
Mas vc tem razão em vários pontos: tem muita coisa decadente em Porto, começando pela casa de cultura Mario Quintana. O café lá de cima já foi bem legal. Cheguei a tomar drinks e petiscar lá ao som de música ao vivo, papeando com amigos noite adentro. Foi muito bom, mas não tem mais isso. Pena.
No Café do MARGS tem O MELHOR CAPUCCINO que eu já tomei na vida. Você deveria ter experimentado. E o strudel de maçã também é inesquecível.

Adoro seus relatos de viagem. Seu texto, como sempre, é primoroso.

Beijo!

Moacir disse...

Ah! O Bar do Beto da Cidade Baixa é DEMAIS! Claro que é só pensando na comida e no bolso. É tudo delicioso e super barato. Nada a ver com Moinhos de Vento.
Como disse alguém antes de mim, a salada de batata com maionese do Bar do Beto é realmente maravilhosa. Fiquei com água na boca...