EM FASE DE CRESCIMENTOPequena, limpa e segura (especialmente em comparação com Salvador e Recife), Natal ainda é pouco verticalizada e não tem cara de metrópole, mas de "cidade de praia". Tem apenas 800 mil habitantes e vive do turismo - que chega ao auge em dezembro, com o
Carnatal, maior micareta do país. Deve crescer bastante nos próximos anos, com um incipiente
boom imobiliário e investimentos para a Copa de 2014, que incluem a construção do maior aeroporto da América Latina. O sol nasce e se põe cedo: às 6h, já dá para ir à praia, e pouco depois das 17h já está completamente escuro e a lua brilha no céu (!). Como a cidade é espalhada e cortada por grandes avenidas, o turista precisa de carro o tempo todo - especialmente se ficar hospedado na Via Costeira, que alinha os hotéis mais novos e de maior porte.
AL MAREPonta Negra é a praia urbana mais famosa de Natal. No canto direito (emoldurado pelo
Morro do Careca), existe um centrinho urbano meio bagaceiro, que lembra o Porto da Barra, em Salvador; ali, a presença gringa é constante. No canto esquerdo, a orla é menos muvucada e mais residencial; a moçada fica na altura dos quiosques 20 e 21, em frente ao
Manary (hotel charmoso e
friendly, com um ótimo restaurante). Ponta Negra é essencialmente uma praia de turistas: o natalense (que é bem menos praieiro do que os nordestinos de outros Estados) prefere ir para
Redinha, na zona norte, ou para
Cotovelo,
Pirangi e
Búzios, que ficam fora de Natal, no caminho para Pipa.
HAPPY PIPAAliás, uma esticada até
Pipa, vila charmosinha uns 80km ao sul de Natal, vale muito a pena. A praia do centro é meio farofa: o belo visual é poluído por uma profusão de mesas e cadeiras de plástico, ocupadas por famílias em pacotes turísticos. Prefira a
Praia do Amor, à direita (dá para ir andando, se a maré não estiver cheia): mais rústica, com espreguiçadeiras, reúne o povo jovem e bonito do pedaço. Para quem quiser ficar em Pipa (e estiver com o orçamento folgado), duas dicas
top são a pousada
Toca da Coruja e o restaurante
Camamo, nova casa do chef do fantástico Beijupirá, de Porto de Galinhas. Se, por outro lado, você preferir relaxar em uma praia realmente
low profile, troque Pipa por
Galinhos, 150km ao norte de Natal.
BUGUE-WOOGIEO passeio mais típico é feito a bordo de um bugue e toma um dia quase inteiro. O circuito começa nas lindas dunas de
Genipabu (onde os mais empolgados fazem passeios de dromedário, com direito a turbante na cabeça e foto-recordação). O toque de aventura fica por conta do bugueiro, que sobe e desce as dunas em alta velocidade, fazendo manobras bruscas, especialmente se o turista pediu o passeio "com emoção". Nas próximas paradas, mais esportes radicais:
esquibunda (descer uma longa duna sentado em uma prancha, caindo na água) e
aerobunda (aqui, você despenca na água a partir de um teleférico improvisado). Antes de voltar para Natal, escala para almoço num desses restaurantes industriais para o turismo de massa. A real: as dunas são lindas e os 'esportes' são divertidos, mas... o que na primeira vez é novidade, numa segunda já se tornaria um programa de índio.
ENCHENDO O BUCHOTive excelentes surpresas no capítulo gastronomia: restaurantes grandes, vistosos e com preços camaradas, transitando entre o regional e o internacional. O que mais me impressionou foi o
Camarões Potiguar, tão bom que visitei duas vezes (em apenas três dias de estada). Os pratos de camarão custam R$55 e servem duas pessoas; entre tantas opções, o Creme Shiitake e o Fondue são imperdíveis. Outro que não pode ficar de fora é o
Mangai, um bufê regional gigantesco, divino, que coloca o Parraxaxá de Recife no chinelo. A carne de sol com natas é deliciosa, e a mesa de doces é uma afronta. Na churrascaria
Tábua de Carne, você come um macio filé mignon de sol com acompanhamentos típicos e ganha de brinde uma bela vista panorâmica. Para algo menos típico, duas pedidas são o badalado
Temaki Lounge, que investe nos sushis com toques
fusion, e
o versátil
Guinza, que serve culinária japonesa e internacional. Os sucos do
Mangaboo e os doces da
Daguia Tortas Finas estão entre os melhores da cidade.
PUSSYCAT FORRÓSabe qual é a música típica de Natal? Beyoncé, Pussycat Dolls... em versões forró, é claro. O
hit da hora é uma versão de "Angel", do Jon Secada, que toca a cada cinco minutos; acho que cheguei a ouvir "Halo" (Beyoncé) com duas letras diferentes. Na balada, saem os DJs e entram as bandas: são elas as atrações das casas mais concorridas da cidade, como o
Decky e o
Sargent Pepper's (que tem programação na linha pop-rock e é tido como um dos melhores "esquentas" de Natal). Mesmo na principal boate gay,
Vogue Natal, a pista de tribal-bate-cabelo (mal equalizado, distorcido, de agredir os ouvidos) é menos animada do que o ambiente com música ao vivo. A Vogue divide as bees com o
Feitiço, outro espaço para shows dominado pelo público GLS. O único endereço que aparentemente tinha uma proposta mais eletrônica, o incrementado
Crystal Club, acabou fechando as portas. O jeito é aprender a cantar "Halo" em português.
O LADO RUIMComo nem tudo são flores, quem quiser se engraçar com os nativos precisa de muita paciência. Se em todo o Nordeste a cultura machista/ patriarcal deixa os gays acuados, em Natal o problema se agrava, porque todo mundo se conhece e morre de medo de se expor. Caçar pelo Disponível ou Manhunt? Choverão mensagens (sempre te chamando de "brother"!), mas 99,9% dos perfis mostram só o pipi e o popô - e marcar encontro com uma mula-sem-cabeça local pode gerar grandes sustos. Na balada, não é menos complicado: os caras te olham por horas, mas nunca tomam uma atitude; você faz a abordagem, o cara fica sem jeito e, meia hora de papo depois, você vê que a coisa não deslancha nunca. Isso se algum conhecido seu não vier te cumprimentar e o cara praticamente sair correndo, branco como papel, porque você conhecia alguém ali. Ou você fica com algum outro turista, ou faz a linha marginal e cai no
perigón da pegação noturna de Ponta Negra, ou se contenta em provar os sabores da culinária.
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FOTOS:
Morro do Careca, em Ponta Negra, símbolo de Natal; Praia do Amor, em Pipa]