Último dia útil do ano, cidade deserta. Em meio a algumas dessas pendências menores que a gente sempre deixa para quando tiver tempo, resolvi dar uma atualizada nos links do meu blog. Na correria da minha rotina, acabo tendo pouco tempo para postar, e menos ainda para ler os blogs dos meus amigos e outros de que eu gosto. Se eu resolvesse lê-los todos os dias, não me sobraria tempo para trabalhar, nem estudar, nem fazer mais nada (o fato de a palavra "tempo" aparecer três vezes num parágrafo tolo como este não deixa dúvidas de que esse é um dos bens mais preciosos e raros da nossa vida moderna).
Nessa última ronda, o reencontro com os outros blogs me reservou algumas novidades. Depois de anos e anos de textos curtos e ácidos que todos pensávamos que seriam eternos, Sedotec resolveu pôr fim à sua existência blogueira. Leleo também escolheu a morte - totalmente pego de surpresa, só pude me despedir em um comentário póstumo. Jayminho entrou em crise: viu que só estava mostrando um lado de si e que talvez não fosse mais isso o que ele quisesse passar. Cris é outro que resolveu dar um tempo, que já dura quase dois meses (num namoro, um "tempo" desse tamanho sinaliza uma situação bastante preocupante). Tootsie não chegou a parar, mas, com a morte da mãe, também andou repensando sua relação com uma série de coisas. Entressafras...
Não dá para generalizar o que os blogs representam na vida de cada um. Cada blogueiro tem uma relação peculiar com seu espaço e cada blog desempenha um papel diferente. Para alguns, é uma distração bem descompromissada, com direito a nonsense, bobagens e fechação. Outros usam o blog como diário ou criam uma espécie de divã virtual, onde desabafam seus sonhos, anseios e neuroses. Tem quem escreva ensaios críticos, textos jornalísticos ou, diante das próprias limitações, se contente em fazer "clippings" pinçando o que foi escrito por outras pessoas em outros lugares.
Da mesma forma, cada um decide o quanto vai expor de si. Tem os que enxergam no blog uma plataforma de projeção pessoal, que agregue contatos reais ao seu círculo de amizades, abra oportunidades e promova a inserção num determinado ambiente social. Outros não mostram o rosto indiscriminadamente, mas não deixam de ser autênticos naquilo que escrevem, e acabam se expondo também: apenas filtram mais as pessoas de quem se aproximam. No outro extremo, estão os que criam uma persona blogueira, prendem-se a ela e não têm a menor pretensão de sair do virtual. Essa persona pode ser uma versão 'levemente botocada' do autor de carne e osso, ou uma verdadeira criação de laboratório, com tudo aquilo que o blogueiro quiser projetar nela. O que às vezes fica claro - a Lindinalva é uma personagem escancarada - e outras não.
O lance é que os leitores vão se relacionar com aquele que lhes for apresentado, seja real ou irreal. E, com a freqüência das visitas, tal como quem segue uma novela, não é raro que acabem se afeiçoando com o blogueiro. Mesmo sem nunca tê-lo visto, depois de ler tantos posts, de partilhar tantas coisas daquele universo ali colocado, eles têm a impressão de que já o conhecem. Identificam-se com ele, torcem por ele, querem saber mais, chegam a sentir falta do contato. É uma espécie de cumplicidade silenciosa. E que não deixa de ser um vínculo afetivo, ainda que unilateral.
No entanto, quando a persona é fabricada, mantê-la por muito tempo torna-se cansativo, incômodo, desconfortável. Toda encenação perde a graça. E, com a vontade cada vez maior dos leitores mais curiosos de se aproximar, o cerco pode ir se fechando para o blogueiro. Até que chega o dia em que ele resolve colocar fim à brincadeira. Para ele, simples personagem, nada mais fácil do que dizer: fim. Para quem está do outro lado, no entanto, essa morte pode não ser tão indolor. Guardadas as proporções devidas, é uma perda, com direito a sentimento de luto. Eu vivi isso recentemente, com o suicídio de um dos blogs que eu seguia, e que me deixou triste. Depois, alguns colegas blogueiros me cantaram a bola: aquele provavelmente era um blog fake. Acho que nunca saberei a verdade. Mas ficou algo para pensar: a ambigüidade do espaço virtual, que consegue criar sentimentos tão reais e, ao mesmo tempo, pode se desfazer com um simples clique no mouse.
17 comentários:
Nome aos bois! Nome aos bois!
Tony, já tá no texto e tá fácil.
Eu queria tanto ter disciplina suficiente para começar as coisas na minha vida e levá-las ad infinitum... Enfim... Ainda em busca de motivação para continuar blogando em 2009! Vou deixar o tempo se encarregar disso! Bjus e parabéns pelo texto (só pra variar!) Cris
Thiago, claro que eu sei de quem você está falando. Eu estava na praia, lembra? Mas o querido leitor talvez não saiba...
exato!!!
eu quero saber!!!
e ai de quem me chamar de personagem!!! esse corpinho aqui custou muito caro, masssss é real!!!
beijosssssssss
Vc tem razão, acabamos por nos afeiçoar com o escritor, assim aconteceu comigo, olhei pela fechadura e vi um pedacinho do teu universo e agora quero essa cumplicidade silenciosa e unilateral.
Bons textos...
Boas colocações de palavras...
Apenas eu!!!
Putz, eu no caso resolvi reviver meu blog, mas ando meio preocupado pq já ando até sonhando com blogueiros...rs
Sonho que estou interagindo com seus avatares...rs
principalmente com o vicio do Twitter, ultimamente...
será que preciso de tratamento?!? Medoo
Somos um pouco personagens... todos nós. Alguns conscientes, outros não... mas é reflexo do que somos no dia-a-dia, tb... Temos nossa cota fake... no virtual ou no real. E, sem que percebamos ou desejemos, acabamos mostrando muito de nós mesmo quando somos fake...
Li o texto aqui e fiquei refletindo o quando de mim e o quanto que eu queria que fosse de mim está no meu blog... Cheguei à conclusão de que é a mesma medida da minha vida real... Na Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera define 4 tipos de pessoas de acordo com o que as faz existir: aquelas que só existem pelos seus sonhos, aquelas que só exstem quando estão sob o olhar da pessoa amada, aquelas organizadoras de festas que só existem pela reunião ao seu redor e aquelas que só existem pelo olhar anônimo do público...
conversando com meus amigos, concluimos que eu sou o último caso... mas será que não seríamos todos os blogueiros, em alguma faceta nossa, essa pessoa que só existe por causa do olhar anônimo do público?
Querido, passei por isso (e, na verdade, ainda passo diarimente pela perturbação mental de um turbilhão de pensamentos sobre o custo pessoal da manutenção de um blog). Cheguei a escrever um post a respeito disso logo após de saber que eu sou RÉU em 3 processos por conta do blog (cível - danos morais; criminal - calúnia, injúria e difamação; e procedimento administrativo perante a OAB).
Mas estamos aí pro que der e vier...
=)
Dificil começar....
Vou tentar estar descolando as festas que não estão em sp, mas estão no rio... nooooosssaaa confursssssso.
os amigos de sp, como sempre, detonam tudo aqui no rio.... aiii, canseeeeeeeeiiiiiii.....
meus amigos de sp no reveilon: não encontrei!!! ai que bom! me livraram de muuuuuuuuitas coisas......... primeira: prefiro não comentar.............
Sinto-me, por vezes, muito perdido no que eu quero pro meu blog. Algumas vezes acho que tá sem foco, sem elementos atrativos. Noutras acho que o nome não é legal. Em diversas acho que deveria parar, pois isso não vai ajudar em nada no que pretendo: praticar a narrativa jornalístca para a internet, combinada com meu senso crítico e que isso tudo um dia, quem sabe, resulte numa proposta de trabalho interessante. Leio blogs como o seu, ou Gente Fina (que também adoro) e tenho uma ponta de inveja - inveja boa, ressalto - por falarem de coisas simples, com simplicidade e terem tanto sucesso. Isso mostra que você gosta do que faz, seja isso terapia ou um simples hobby. Ou qualquer coisa que seja, mas faz bem. Um dia eu chego lá!
Abraço e mais sucesso!
Grandissimo Thiagao,
Adorei ler seu comentário, devo ter feito isso umas tres ou quatro vezes e nao me canso!! É muito bom curtir tanto lugar legal, com ou sem pretensão, que acabam se tornando a maior parte das nossas horas na internet!! Teu blog eh um deles.
Mas thiagao, não me cansei do Leo virtual não! muito pelo contrário, ele é minha parte mais divertida, a menos estressada e a que vê graça em tudo! E o Leo virtual era o Leo que eu sentia mais falta de ver, porque ele só podia existir aqui (ou com a Clara e depois o Ricardo, mas de tanta gente legal, escolher só duas é osso, foi assim que surgiu A Tampa). Falar que sujeitinho eh Créu velocidade 5, e falar da barriguinha dele, da carinha dele e nhé nhé nhé eh MTO bom principalmente quando só se faz isso aqui, é tipo a hora em que "transborda", entende?! o blog surgiu quando eu ja nao conseguia mais segurar.
Claro que varias coisas foram mudadas, ate porque nao faz sentido ser um cara tao concreto nas coisas que escrevo e dizer que sou enrustidasso - essa eh a parte que eu menos gosto, esse medo de escrever algo que possa me levar ao desmascaramento (existe essa palavra?!). mas ta valendo, porque o que mais faco é mudar a ordem dos fatores, ae o resultado continua o memso. o ruim mesmo eh trocar o nome do pessoal, porque depois do RSS eu nem tenho a chance de me descuidar e escrever o nome real do brow, porque se nao quem assina meu feed pega meu descuido hehe
e eu descobri tb que na real as pessoas q mandam email nao acreditam que ja podem ter cruzado comigo (e foram umas 4 viu).
Entao o blog foi indo e mostrando de uma forma ou de outra o que acontece comigo, mas de repente, MUITO de repente, o Leo mudou muito!! e, se no blog dá certo, no dia a dia tinha q funcionar tb! e num eh que funcionou?!
eu acho que eu saberia escrever isso no blog, o lance num eh esse, o lance eh que num ta dando tempo, tu curtindo dmais o tempo perdido, to querendo reviver 10, 12 anos de amizades em cada fim de semana! enfim: AJA figado!!
e eu to metendo muito thiagao, muito mesmo! :D hehe
e eh CLARO que um dia o blog volta, eu ainda nem contei o tigre frances!!! hehe
valeu mesmo por todas passadas lá, agora eu que vou retribui-las aqui!!! dae a gnt vai se lendo e quem sabe num rola AQUELA pizza um dia?! hehe
abracao e keep up with the good work!!
FOra os que morreram, cadáveres virtuais no IML internético, vc só falou de mimzinha, a decana dos blogs gays. Blogar é uma questão de disciplina e de nescessidade catártica. Personas criamos todos, e elas são várias, na frente do chefe, na frente da família, na frente das bixas. POrque não uma persona internética? Quantas personas cabem dentro de vc? "Meu nome é legião", já disse um possído à g-zuz!! Entonces, ponha seus demônios para fora em um blog, o exorcismo do século XXI. E dá licença que jo me estoy possuída hoje!!! Um beijo e me liga, fio!!
ONDE ME ENCAIXO?
ONDE ME ENCAIXO?
E SIM, GRAVO PARA VC
ME DIGA QUAL
QUE NEM PRECISA TRAZER CDZINHO
SÓ QUE VC ME ENCONTRA EM SP TB
MINHA RESIDÊNCIA ATUAL
BJO!
Eu cantei a pedra na praia... la la la la...
Mais uma vez, inteligente, sensível e autêntico. Fico feliz quando encontro algo de qualidade na internet, me faz ver como não foi atoa que estive procurando! =)
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