Berlim é uma cidade cheia de surpresas também quando o assunto é pegação. Ao espírito já naturalmente permissivo e desencanado da cidade, soma-se um notável interesse por sexo - que não é, nem de longe, exclusivo dos gays. Nunca esquecerei de uma sex shop gigantesca, numa transversal da Kurfürstendamm, que mais parecia um hipermercado, onde loirinhas de bochechas rosadas e casais héteros de meia-idade manuseavam com a maior naturalidade bugingangas nada angelicais - incluindo um filme em que um homem sodomizava uma mulher completamente enterrada (para fora da terra, apenas o traseiro dela e um tubo na altura da cabeça, por onde ela respirava). Não existem limites em Berlim, desde que as partes envolvidas estejam em consenso e não tentem podar a liberdade dos outros.
No meio gay, como em outras capitais européias, uma rede de cruising bars e afins proporciona festas dedicadas a todos os tipos de fetiche: couro, fardas, borracha/látex, underwear, barbudos, skinheads, sado-masoquismo, watersports, lama (!), fisting... Tamanha segmentação facilita que adeptos de práticas mais extremas encontrem parceiros, mas também pode tornar a noite um tanto monótona e repetitiva, especialmente para quem tem gostos ecléticos na cama. Estar em um ambiente onde todos os tipos são bem-vindos e todos os fetiches são permitidos abre muito mais possibilidades - inclusive de que a noite fuja do script habitual e tome rumos nunca antes imaginados.
De todos os lugares que compõem o roteiro do sexo em Berlim, o mais espetacular, com toda a certeza, é o Lab.oratory. O fervo ocupa uma parte da antiga usina que também abriga o clube Berghain-Panorama - com entrada separada, pela lateral do prédio. Para ter uma dimensão do bafo, é só imaginar uma grande fábrica transformada em um verdadeiro playground do sexo, onde homens bem-resolvidos, fogosos e dispostos chegam para brincar de jogos adultos - mas se soltam como crianças. Seria um sonho, se não fosse realidade.
Na entrada, os clientes recebem grandes sacos plásticos azuis, para que possam se livrar de tudo aquilo de que não forem precisar para se divertir: roupas, documentos, dinheiro, preocupações e inibições. A menos que a noite tenha dress code específico (underwear, couro, nudez obrigatória etc.), cada um pode ficar como se sentir mais à vontade - de calça, de cueca ou até mesmo com uma fantasia de Mulher-Gato, se for o caso. Guardados os pertences, os convivas têm o número do saco plástico escrito no ombro com canetinha e é nisso que se transformam: em meros corpos numerados. Deixam para trás roupas, nacionalidades e rótulos; voltam às suas raízes naturais, machos soltos e libertos, livres para serem e fazerem o que quiserem, assumirem a(s) identidade(s) que desejarem... da porta para dentro, estão protegidos em um mundo à parte. Um grande parque de diversões.
No centro da usina, um grande bar calibra os ânimos e ajuda as pessoas a se conhecerem. O clima é bastante descontraído; quem ficasse por ali e não conhecesse o resto se sentiria em um simples bar "temático" com decoração industrial. A iluminação é bem distribuída para que o espaço não fique claro nem escuro demais. O ambiente é preenchido por uma mistura dark e quase sem vocais de house e progressive house que é altamente sexual; seria perfeita para dançar a noite inteira, se não fosse ainda melhor para deixar os instintos aflorarem e sucumbir à libido. Se existe algo como "música para foder", taí o melhor exemplo. O som bem escolhido tem um papel fundamental para criar o clima de luxúria do Lab.oratory.
Depois de molhar a goela no bar e fazer os primeiros contatos, é hora de dar uma volta e explorar as diversas possibilidades da usina. Há salas, tocas, corredores, mezaninos, cantos e recantos de todos os tipos, alguns mais expostos e outros mais reservados, onde duplas, trios e grupinhos se formam e se desmancham espontaneamente o tempo todo. Tudo com a maior civilidade: "com licença", "desculpe", "quer brincar um pouco conosco?", "isso, segure bem a perna dele", "ei, você curte ___?" [preencha como quiser]. Cada um respeitando as preferências e o espaço do outro, dos dominadores mais severos aos mais tranqüilos voyeurs. Poderia ser um ambiente pesado, mas na verdade é surpreendentemente leve.
Um corredor leva a uma espécie de jardim de inverno, onde é possível tomar um pouco de ar fresco, ver as estrelas - ou continuar a brincadeira ali mesmo. Um belo moreno se refestela dentro de uma banheira, enquanto vários outros fazem fila para urinar nele. O sujeito parece extasiado, enquanto toma goles generosos e deixa que os jatos o ensopem inteiro (ele preferiu ficar vestido, talvez para continuar curtindo o cheiro na roupa depois). A cena toda é quase infantil, parece uma brincadeira de moleques felizes. Todo mundo é feliz ali. Especialmente quem gosta de chupar: numa espécie de estábulo de ferro dividido por uma parede, dezenas de falos despontam lado a lado em glory holes. Não é preciso nem se curvar, pois quem oferece o bilau está num plano três degraus mais elevado, justamente para tudo ficar na altura certa. Ou seja, a tal fábrica foi inteira adaptada para o prazer.
Para quem quiser conferir, é importante consultar no site o calendário com a programação - às vezes, o tema da festa pode não ser do seu agrado (se eu tivesse, desavisadamente, ido conhecer o lugar na noite seguinte, teria literalmente dado merda no meu passeio, se é que vocês me entendem...) Para não errar, a dica é apostar nas sextas-feiras, que têm temática neutra (o que não impede você de se jogar na sua "prática sexual específica" favorita) e funcionam em sistema de double drink (o que você pede no bar vem em dobro), o que sempre garante uma boa lotação. E fique esperto: embora o bafo vá até 5 ou 6 da manhã, a entrada só é permitida até meia-noite. A idéia é fazer todo mundo chegar ao mesmo tempo e cedo, para o lugar já bombar logo de uma vez. Até na hora da pegação esse povo é inteligente...
domingo, 31 de agosto de 2008
sábado, 23 de agosto de 2008
Truques para uma Europa mais econômica
Alguns posts atrás, um leitor deixou um comentário pedindo dicas de como viajar "sem gastar muito". Bem, com a moeda européia mais forte e valorizada do que nunca, não dá para fazer milagres (como dizia um ditado americano, não existe almoço grátis). Mas dá para cortar várias "gordurinhas" do orçamento. São pequenas atitudes que, no fim das contas, podem acabar fazendo uma boa diferença, especialmente em viagens mais longas. A idéia não é seguir à risca todas essas orientações, mas apenas tê-las em mente durante o percurso e fazer algumas escolhas mais econômicas.
::: Planejamento é fundamental para voar mais barato. Quem se antecipa gasta muito menos. Fechando com seis meses de antecedência, toda a minha parte aérea para quatro destinos diferentes, incluindo ida e volta do Brasil, saiu por menos de R$ 2500. Passagens de trem também saem mais em conta se você comprar bem antes ou topar viajar em horários "malucos" (no meio da madrugada, por exemplo).
::: Como já dito neste post, no verão europeu (especialmente os meses de julho e agosto) tudo sai bem mais caro. Na Grécia, os preços da hospedagem chegam a dobrar. Se quiser aproveitar o tempo ensolarado sem pagar o pato, vá em junho ou setembro (no começo do mês, o clima ainda está bem quente e há bastante movimento).
::: Vai viajar sozinho? Quarto single de hotel sai caríssimo. Dispa-se de eventuais preconceitos e considere a idéia de ficar num albergue - alguns são limpos, confortáveis e descolados, e você ainda conhece gente nova. Mesmo se estiver viajando com mais gente, cogite a hipótese: vocês podem pegar um quarto só para vocês, às vezes até com banheiro privativo. Pesquise aqui.
::: Quanto mais central for a localização do hotel, mais cara será a diária. Se o hotel for mais afastado, mas tiver metrô na porta, a economia pode compensar. Paris, por exemplo, tem praticamente uma estação de metrô a cada 500 metros. No entanto, considere que o metrô tem hora para fechar - e voltar para casa de táxi sairá mais caro se você estiver longe do centro. Além disso, nas estações mais distantes, o metrô deserto demais pode ser pouco aconselhável para mulheres desacompanhadas.
::: Leve do Brasil os artigos de toilette e higiene pessoal que vai usar. Assim, você não precisa gastar seus euros em coisas básicas, como espuma de barbear. É um peso a mais na mala? Sim, mas você pode minimizá-lo se levar shampoo em frascos pequenos e perfumes em miniatura, por exemplo.
::: É muito comum que os restaurantes ofereçam menus do dia (formules, na França) com entrada, prato principal, sobremesa e bebida por um preço bem menor do que os pratos do cardápio. Caso você esteja propenso a fazer apenas uma refeição completa por dia, escolha o almoço: os menus são bem mais baratos que os do jantar.
::: Baguetes, quiches, doces, sorvetes e outros quitutes "portáteis" saem mais baratos se você pedir para viagem, ao invés de consumir no próprio café ou restaurante (já no Brasil saem mais caros, porque se cobra a embalagem). Além disso, em alguns lugares é mais caro sentar nas disputadas mesas da calçada ou do terraço: há um cardápio próprio, com preços diferenciados, ou então é cobrada uma taxa adicional de até 15% sobre a conta.
::: Uma maneira charmosa de comer economizando é comprar queijos, frios, pães, doces, frutas e uma garrafa de vinho e fazer um piquenique. O hábito é mais comum na França (Paris tem áreas especialmente convidativas), mas em vários outros países você encontra pessoas fazendo sua boquinha em parques e praças, sobretudo na primavera e no verão. Mas atenção: para o barato não sair caro, compre seu farnel num supermercado, não numa épicerie fina (aliás, se você tem orgasmos na Casa Santa Luzia ou no Garcia & Rodrigues, passe bem longe da Fauchon, templo maior do consumo gastronômico francês).
::: Para se locomover, familiarize-se com os passes múltiplos, mais econômicos. Algumas cidades têm vários tipos de bilhetes; antes de comprar o primeiro por impulso, veja se é o mais adequado para os seus planos. Um passe que permite uso ilimitado de metrô e ônibus por um período (2, 3 ou 4 dias) só compensa se você for efetivamente bater perna como um louco e em pouco tempo. Caso contrário, pode ser mais barato comprar um bilhete de 10 viagens sem validade. Dentro do mesmo raciocínio, bilhetes turísticos como o BerlinWelcome e o BarcelonaCard, mais caros porque incluem descontos em várias atrações, só interessam se você for usufruir dessas vantagens. Pense, compare e faça uma escolha racional.
::: Se você tem pouco tempo numa cidade, a opção mais cômoda e descomplicada para conhecer os pontos turísticos é fazer um daqueles sightseeing tours. São ônibus de dois andares (o de cima é descoberto) que percorrem todas as atrações, em um ou dois circuitos diferentes. O passe, que custa entre 20 e 25 euros, dá direito a descer do veículo nas atrações que lhe interessarem e continuar o passeio no ônibus seguinte (que passará dali a 15 minutos). Por outro lado, em várias cidades, você pode dispensar esse serviço e fazer tudo sozinho (muitas vezes, a pé mesmo) se não estiver com a agenda tão apertada.
::: Não se esqueça: qualquer coisa dentro ou ao redor de atrações turísticas custa muito mais caro. Seja para um lanche rápido, um sorvete ou os inevitáveis suvenires e cartões postais, a diferença pode bater os 400%. Dentro do Castelo de Praga, por exemplo, o único bar disponível vende uma garrafinha d'água a inacreditáveis 6 euros (a República Checa perdeu a inocência de outros tempos, meu bem). Visite as atrações, mas suma da área logo em seguida; procure comer e fazer suas compras com os nativos, não com os turistas.
::: Se você resolveu comprar suas lembrancinhas numa área escancaradamente turística (como as ruelas de Staré Mesto, o centro antigo de Praga), não saia comprando tudo na primeira loja. Não é o caso de desperdiçar a tarde fazendo pesquisa de preços (são milhares de lojas!), mas dê uma olhadinha em algumas concorrentes. Gostou, mas achou caro? Pechinche, sem medo de parecer cafona (o europeu valoriza até os centavos).
::: Há diversas formas de economizar nos museus. Alguns oferecem um dia de entrada gratuita (no Louvre, por exemplo, é o primeiro domingo do mês). Outros dão descontos para turistas que compraram os bilhetes múltiplos (como o Paris Visite) de que falei mais acima. Com carteira internacional de estudante (aquela verdinha da ISIC), a tarifa também é reduzida (mas não pela metade). Nos museus de arte moderna, você gastará menos se quiser ver apenas o acervo permanente, abrindo mão de exposições temporárias que nem sempre são interessantes (avalie).
::: Vai ficar muito tempo na mesma cidade? Depois que inventaram o celular, passamos a ter a necessidade de ser acessíveis onde estivermos. Não estou falando do seu escritório em São Paulo (você está em férias, lembre-se), e sim dos seus anfitriões na Europa, assim como os peguetes e namoricos que forem aparecendo pelo caminho. Ao invés de contratar o roaming internacional do seu celular (caro, ele interessa apenas ao seu chefe, que te amolará gastando pouco), leve apenas seu aparelho e compre um chip pré-pago local (os nativos agradecerão!). Para falar com o Brasil, ligue a cobrar pelo BrasilDireto da Embratel ou compre cartões DDI pré-pagos (você raspa, introduz a senha e vai usando, é prático e barato). Só faça ligações do quarto do hotel (uma facada em qualquer lugar!) em caso de emergência.
::: Para fazer suas compras, fuja dos preços salgados de Londres e Paris. As coisas costumam ser mais baratas na Espanha (Barcelona tem ótimos outlets), Itália e Portugal; Berlim também não é cara. Aproveite as épocas de grandes liquidações, em janeiro e julho - na Europa, "liquidação" não é descontinho mixuruca, é abatimento de 50% ou mais. Tente concentrar suas compras na mesma loja, assim é mais fácil atingir o valor mínimo para pleitear a devolução do imposto ao deixar a Europa.
::: Não deixe que sua preocupação com os gastos transforme sua viagem numa sucessão de privações. É importante saber usufruir do dinheiro e até se premiar com algumas extravagâncias. Se for para comer pão com manteiga e regular dinheiro de ingresso, é melhor nem sair de casa - e adiar os planos para ir com um orçamento menos apertado. Aqui, vale a máxima do Carnaval de Salvador: "se não agüenta, por que é que veio?"
::: Planejamento é fundamental para voar mais barato. Quem se antecipa gasta muito menos. Fechando com seis meses de antecedência, toda a minha parte aérea para quatro destinos diferentes, incluindo ida e volta do Brasil, saiu por menos de R$ 2500. Passagens de trem também saem mais em conta se você comprar bem antes ou topar viajar em horários "malucos" (no meio da madrugada, por exemplo).
::: Como já dito neste post, no verão europeu (especialmente os meses de julho e agosto) tudo sai bem mais caro. Na Grécia, os preços da hospedagem chegam a dobrar. Se quiser aproveitar o tempo ensolarado sem pagar o pato, vá em junho ou setembro (no começo do mês, o clima ainda está bem quente e há bastante movimento).
::: Vai viajar sozinho? Quarto single de hotel sai caríssimo. Dispa-se de eventuais preconceitos e considere a idéia de ficar num albergue - alguns são limpos, confortáveis e descolados, e você ainda conhece gente nova. Mesmo se estiver viajando com mais gente, cogite a hipótese: vocês podem pegar um quarto só para vocês, às vezes até com banheiro privativo. Pesquise aqui.
::: Quanto mais central for a localização do hotel, mais cara será a diária. Se o hotel for mais afastado, mas tiver metrô na porta, a economia pode compensar. Paris, por exemplo, tem praticamente uma estação de metrô a cada 500 metros. No entanto, considere que o metrô tem hora para fechar - e voltar para casa de táxi sairá mais caro se você estiver longe do centro. Além disso, nas estações mais distantes, o metrô deserto demais pode ser pouco aconselhável para mulheres desacompanhadas.
::: Leve do Brasil os artigos de toilette e higiene pessoal que vai usar. Assim, você não precisa gastar seus euros em coisas básicas, como espuma de barbear. É um peso a mais na mala? Sim, mas você pode minimizá-lo se levar shampoo em frascos pequenos e perfumes em miniatura, por exemplo.
::: É muito comum que os restaurantes ofereçam menus do dia (formules, na França) com entrada, prato principal, sobremesa e bebida por um preço bem menor do que os pratos do cardápio. Caso você esteja propenso a fazer apenas uma refeição completa por dia, escolha o almoço: os menus são bem mais baratos que os do jantar.
::: Baguetes, quiches, doces, sorvetes e outros quitutes "portáteis" saem mais baratos se você pedir para viagem, ao invés de consumir no próprio café ou restaurante (já no Brasil saem mais caros, porque se cobra a embalagem). Além disso, em alguns lugares é mais caro sentar nas disputadas mesas da calçada ou do terraço: há um cardápio próprio, com preços diferenciados, ou então é cobrada uma taxa adicional de até 15% sobre a conta.
::: Uma maneira charmosa de comer economizando é comprar queijos, frios, pães, doces, frutas e uma garrafa de vinho e fazer um piquenique. O hábito é mais comum na França (Paris tem áreas especialmente convidativas), mas em vários outros países você encontra pessoas fazendo sua boquinha em parques e praças, sobretudo na primavera e no verão. Mas atenção: para o barato não sair caro, compre seu farnel num supermercado, não numa épicerie fina (aliás, se você tem orgasmos na Casa Santa Luzia ou no Garcia & Rodrigues, passe bem longe da Fauchon, templo maior do consumo gastronômico francês).
::: Para se locomover, familiarize-se com os passes múltiplos, mais econômicos. Algumas cidades têm vários tipos de bilhetes; antes de comprar o primeiro por impulso, veja se é o mais adequado para os seus planos. Um passe que permite uso ilimitado de metrô e ônibus por um período (2, 3 ou 4 dias) só compensa se você for efetivamente bater perna como um louco e em pouco tempo. Caso contrário, pode ser mais barato comprar um bilhete de 10 viagens sem validade. Dentro do mesmo raciocínio, bilhetes turísticos como o BerlinWelcome e o BarcelonaCard, mais caros porque incluem descontos em várias atrações, só interessam se você for usufruir dessas vantagens. Pense, compare e faça uma escolha racional.
::: Se você tem pouco tempo numa cidade, a opção mais cômoda e descomplicada para conhecer os pontos turísticos é fazer um daqueles sightseeing tours. São ônibus de dois andares (o de cima é descoberto) que percorrem todas as atrações, em um ou dois circuitos diferentes. O passe, que custa entre 20 e 25 euros, dá direito a descer do veículo nas atrações que lhe interessarem e continuar o passeio no ônibus seguinte (que passará dali a 15 minutos). Por outro lado, em várias cidades, você pode dispensar esse serviço e fazer tudo sozinho (muitas vezes, a pé mesmo) se não estiver com a agenda tão apertada.
::: Não se esqueça: qualquer coisa dentro ou ao redor de atrações turísticas custa muito mais caro. Seja para um lanche rápido, um sorvete ou os inevitáveis suvenires e cartões postais, a diferença pode bater os 400%. Dentro do Castelo de Praga, por exemplo, o único bar disponível vende uma garrafinha d'água a inacreditáveis 6 euros (a República Checa perdeu a inocência de outros tempos, meu bem). Visite as atrações, mas suma da área logo em seguida; procure comer e fazer suas compras com os nativos, não com os turistas.
::: Se você resolveu comprar suas lembrancinhas numa área escancaradamente turística (como as ruelas de Staré Mesto, o centro antigo de Praga), não saia comprando tudo na primeira loja. Não é o caso de desperdiçar a tarde fazendo pesquisa de preços (são milhares de lojas!), mas dê uma olhadinha em algumas concorrentes. Gostou, mas achou caro? Pechinche, sem medo de parecer cafona (o europeu valoriza até os centavos).
::: Há diversas formas de economizar nos museus. Alguns oferecem um dia de entrada gratuita (no Louvre, por exemplo, é o primeiro domingo do mês). Outros dão descontos para turistas que compraram os bilhetes múltiplos (como o Paris Visite) de que falei mais acima. Com carteira internacional de estudante (aquela verdinha da ISIC), a tarifa também é reduzida (mas não pela metade). Nos museus de arte moderna, você gastará menos se quiser ver apenas o acervo permanente, abrindo mão de exposições temporárias que nem sempre são interessantes (avalie).
::: Vai ficar muito tempo na mesma cidade? Depois que inventaram o celular, passamos a ter a necessidade de ser acessíveis onde estivermos. Não estou falando do seu escritório em São Paulo (você está em férias, lembre-se), e sim dos seus anfitriões na Europa, assim como os peguetes e namoricos que forem aparecendo pelo caminho. Ao invés de contratar o roaming internacional do seu celular (caro, ele interessa apenas ao seu chefe, que te amolará gastando pouco), leve apenas seu aparelho e compre um chip pré-pago local (os nativos agradecerão!). Para falar com o Brasil, ligue a cobrar pelo BrasilDireto da Embratel ou compre cartões DDI pré-pagos (você raspa, introduz a senha e vai usando, é prático e barato). Só faça ligações do quarto do hotel (uma facada em qualquer lugar!) em caso de emergência.
::: Para fazer suas compras, fuja dos preços salgados de Londres e Paris. As coisas costumam ser mais baratas na Espanha (Barcelona tem ótimos outlets), Itália e Portugal; Berlim também não é cara. Aproveite as épocas de grandes liquidações, em janeiro e julho - na Europa, "liquidação" não é descontinho mixuruca, é abatimento de 50% ou mais. Tente concentrar suas compras na mesma loja, assim é mais fácil atingir o valor mínimo para pleitear a devolução do imposto ao deixar a Europa.
::: Não deixe que sua preocupação com os gastos transforme sua viagem numa sucessão de privações. É importante saber usufruir do dinheiro e até se premiar com algumas extravagâncias. Se for para comer pão com manteiga e regular dinheiro de ingresso, é melhor nem sair de casa - e adiar os planos para ir com um orçamento menos apertado. Aqui, vale a máxima do Carnaval de Salvador: "se não agüenta, por que é que veio?"
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Berghain-Panorama, uma balada única
A queda do Muro de Berlim expôs ao mundo o grau de decadência em que se encontrava a Alemanha Oriental, combalida pela crise do regime comunista. Foi natural que os berlinenses do leste migrassem para a rica parte ocidental, atrás de bens de consumo e novas oportunidades. Berlin-Ost ficou jogada às traças e seus galpões abandonados ou postos para alugar a preço de banana passaram a atrair todo tipo de artistas e freaks - inclusive de fora da Alemanha. Esse processo de ocupação "alternativa" deu o tom do renascimento cultural e humano da região; hoje, é lá que está tudo o que rola de mais bacana em Berlim. Muitos dos melhores fervos são feitos em velhas fábricas e galpões reaproveitados. É num desses espaços que se esconde a balada mais incrível da minha viagem: o Berghain-Panorama, que rola dentro de uma antiga usina.
Chegar lá pode ser uma aventura para os incautos. O S-Bahn (metrô de superfície) não te deixa longe, mas o entorno do lugar é ermo como a CEAGESP. Sem sinalização alguma ("letreiro na porta"?! hahahá), você só saca que acertou quando começa a ver uma movimentação de gente em direção ao que parece ser uma grande fábrica abandonada. Entre alambrados, areia e entulho, a fila é surreal - cheguei às 5h10 de domingo e só consegui entrar às 7h20. Mas a espera é parte do ritual e uma ótima chance de se ambientar com a eclética fauna que vai dançar do seu lado. Todos os tipos e estilos possíveis estão ali, de jetsetters a ripongas, de lolitas a fortões, do modelão mais montado à roupa mais confortável... e eles interagem numa boa [algo impensável no Brasil, onde as pessoas têm a cabecinha segmentada, classificam umas às outras em rótulos, tribos, padrões e dão uma importância enorme a isso]. No fim das contas, a espera faz pessoas das mais diferentes origens e nacionalidades engatarem um animado tricô (viva a língua inglesa!), o tempo vai passando e, quando você já está perto da entrada, já fez amigos, garantiu uma rodinha na pista e, se bobear, até começou a engatilhar alguma pegação.
Vencido o leão-de-chácara (a criatura mais apavorante que já vi, um sujeito gigante com o rosto todo deformado e cara de nenhum amigo, daria um excelente agiota), você entra e percebe como o lugar é enorme. No térreo, há uma lojinha improvisada e o que eu imagino que seja um espaço para exposições ou eventos de arte. Subindo uma escadaria (total déjà vu da Fundição Progresso), chega-se à pista principal, que é a porção Berghain do clube. Com pé-direito de pelo menos 15 metros, luzes bombando e som entre a house e o techno, essa é a pista da "fritação", onde todos aqueles tipos da fila acabam formando uma massa surpreendentemente homogênea. No início, não dá para saber quem é quem na história, mas os gays logo se identificam tirando a camisa: basta tirar também para que coisinhas comecem a acontecer. À direita de quem dança olhando para o DJ, um enorme vitral iluminado por baixo separa o bar do maquinário intocado da antiga usina.
Outro lance de escadas leva ao segundo andar, a metade Panorama do espaço. O astral nesse segundo ambiente é bem diferente. A pista funciona no centro de um grande recinto quadrado, com paredes de ladrilhos brancos que lembram nossos antigos botequins. Por frestas no alto, a claridade do dia ilumina a pista, mas não mais do que o suficiente. O DJ toca num balcão baixo, totalmente ao alcance do público; do lado oposto, há um bar - e fica claro que os jovens bartenders estão na mesma vibe e se divertindo tanto quanto nós. O som - house, tech house, deep house, algum electro no caldo - é menos dark e mais alegre, mas sem ser "fofinho": tem momentos de euforia, com a pista gritando, e outros para botar o oclón e entrar numa onda introspectiva, sozinho ou acoplado com o peguete.
Mas as duas pistas são só uma parte do barato. Um passeio pelos corredores da usina vai revelando outras descobertas. Há cômodos que fazem a função de lounges, com sofás muito velhos onde o povo se esparrama, se beija, fuma um, fica abraçado de conchinha. Muito pouca luz passa pelas janelas, que são pintadas de diversas cores, dando um clima especialmente aconchegante e quase 70's ao ambiente. O mesmo clima avonts está na ante-sala de um dos banheiros, onde outro sofá serve de acampamento para um grupo fervidíssimo, que logo me inclui na próxima rodada de jägermeister (bebida escura que os alemães não se cansam de entornar e parece um Biotônico Fontoura alcóolico).
Em um território livre como esse, é fácil conhecer pessoas. No Panorama, as pessoas socializam na pista, fervem, o clima é totalmente "pra cima". Conheci ainda mais gente e dei os parabéns para uma DJ chilena que tocava um som incrível [seu nome é Dinky e ela toca ali uma vez por mês]. Já nas profundezas do Berghain, com os ânimos mais exaltados, os contatos são de outra natureza, e não raro acabam em algum dos dois grandes cômodos completamente escuros à esquerda da pista, onde os descamisados e todo o resto da Arca de Noé se lançam ao universo das experimentações físicas.
Lá pelas tantas, comecinho da tarde, depois de aproveitar de diversas maneiras, fiquei com um alemão na pista do Panorama. Ficamos curtindo lá e, num dado momento, ele me pegou pelo braço e me levou para fora. Eu já ia protestar dizendo que não queria ir embora, quando vi que tinham aberto uma terceira pista no jardim. Era uma espécie de "terraço da Space" improvisado, com a pista coberta por aquela mesma trama de frufrus entrelaçados que filtra uma parte da luz do sol. Todas as bees tinham ido para lá e o clima era quase o de uma pool party: a cada 5 minutos, alguém do clube abria uma mangueira para o alto e os respingos de água que chuviscavam na pista refrescavam a todos nós, que dançávamos felizes como se estivéssemos no Bora Bora de Ibiza ou na piscina da The Week. Tinha até trava dando close. Enfim, só arredei pé de lá às 15h30, e porque meu corpo exigiu. Meus amigos da fila da entrada ainda me chamaram para o after do after, mas colocar qualquer coisa depois daquele lugar seria como fechar um jantar divino com uma concha de sopa Knorr.
Saí de lá maravilhado. Aquela usina maluca tem um astral muito especial e o povo festeiro, de espírito livre e desencanado, é uma atração à parte. Na Space de Ibiza, que considero meu clube preferido, o público pode ser "variado" (héteros e gays, vários países etc.), mas ainda assim dentro de um certo padrão que freqüenta Ibiza: gente bem de vida, houseira, antenada, consumista, que usa oclón de grife, meio jetsetter. Ou seja, você já sabe mais ou menos o que esperar e que tipo de papo vai ter. Já no Berghain-Panorama não: lá tem de tudo mesmo, você realmente se surpreende ao conhecer as pessoas mais diferentes. É muito bacana ver que um povo tão heterogêneo pode dar uma liga tão boa. Muito mais legal do que ir a uma festa 100% barbie ou 100% muderrrna ou 100% emo. Não pude registrar nada (eu já sabia que o staff confiscava todas as câmeras e até celulares, porque não quer que a proposta da casa seja imitada), mas sei que não precisarei de fotos para lembrar da experiência.
Chegar lá pode ser uma aventura para os incautos. O S-Bahn (metrô de superfície) não te deixa longe, mas o entorno do lugar é ermo como a CEAGESP. Sem sinalização alguma ("letreiro na porta"?! hahahá), você só saca que acertou quando começa a ver uma movimentação de gente em direção ao que parece ser uma grande fábrica abandonada. Entre alambrados, areia e entulho, a fila é surreal - cheguei às 5h10 de domingo e só consegui entrar às 7h20. Mas a espera é parte do ritual e uma ótima chance de se ambientar com a eclética fauna que vai dançar do seu lado. Todos os tipos e estilos possíveis estão ali, de jetsetters a ripongas, de lolitas a fortões, do modelão mais montado à roupa mais confortável... e eles interagem numa boa [algo impensável no Brasil, onde as pessoas têm a cabecinha segmentada, classificam umas às outras em rótulos, tribos, padrões e dão uma importância enorme a isso]. No fim das contas, a espera faz pessoas das mais diferentes origens e nacionalidades engatarem um animado tricô (viva a língua inglesa!), o tempo vai passando e, quando você já está perto da entrada, já fez amigos, garantiu uma rodinha na pista e, se bobear, até começou a engatilhar alguma pegação.
Vencido o leão-de-chácara (a criatura mais apavorante que já vi, um sujeito gigante com o rosto todo deformado e cara de nenhum amigo, daria um excelente agiota), você entra e percebe como o lugar é enorme. No térreo, há uma lojinha improvisada e o que eu imagino que seja um espaço para exposições ou eventos de arte. Subindo uma escadaria (total déjà vu da Fundição Progresso), chega-se à pista principal, que é a porção Berghain do clube. Com pé-direito de pelo menos 15 metros, luzes bombando e som entre a house e o techno, essa é a pista da "fritação", onde todos aqueles tipos da fila acabam formando uma massa surpreendentemente homogênea. No início, não dá para saber quem é quem na história, mas os gays logo se identificam tirando a camisa: basta tirar também para que coisinhas comecem a acontecer. À direita de quem dança olhando para o DJ, um enorme vitral iluminado por baixo separa o bar do maquinário intocado da antiga usina.
Outro lance de escadas leva ao segundo andar, a metade Panorama do espaço. O astral nesse segundo ambiente é bem diferente. A pista funciona no centro de um grande recinto quadrado, com paredes de ladrilhos brancos que lembram nossos antigos botequins. Por frestas no alto, a claridade do dia ilumina a pista, mas não mais do que o suficiente. O DJ toca num balcão baixo, totalmente ao alcance do público; do lado oposto, há um bar - e fica claro que os jovens bartenders estão na mesma vibe e se divertindo tanto quanto nós. O som - house, tech house, deep house, algum electro no caldo - é menos dark e mais alegre, mas sem ser "fofinho": tem momentos de euforia, com a pista gritando, e outros para botar o oclón e entrar numa onda introspectiva, sozinho ou acoplado com o peguete.
Mas as duas pistas são só uma parte do barato. Um passeio pelos corredores da usina vai revelando outras descobertas. Há cômodos que fazem a função de lounges, com sofás muito velhos onde o povo se esparrama, se beija, fuma um, fica abraçado de conchinha. Muito pouca luz passa pelas janelas, que são pintadas de diversas cores, dando um clima especialmente aconchegante e quase 70's ao ambiente. O mesmo clima avonts está na ante-sala de um dos banheiros, onde outro sofá serve de acampamento para um grupo fervidíssimo, que logo me inclui na próxima rodada de jägermeister (bebida escura que os alemães não se cansam de entornar e parece um Biotônico Fontoura alcóolico).
Em um território livre como esse, é fácil conhecer pessoas. No Panorama, as pessoas socializam na pista, fervem, o clima é totalmente "pra cima". Conheci ainda mais gente e dei os parabéns para uma DJ chilena que tocava um som incrível [seu nome é Dinky e ela toca ali uma vez por mês]. Já nas profundezas do Berghain, com os ânimos mais exaltados, os contatos são de outra natureza, e não raro acabam em algum dos dois grandes cômodos completamente escuros à esquerda da pista, onde os descamisados e todo o resto da Arca de Noé se lançam ao universo das experimentações físicas.
Lá pelas tantas, comecinho da tarde, depois de aproveitar de diversas maneiras, fiquei com um alemão na pista do Panorama. Ficamos curtindo lá e, num dado momento, ele me pegou pelo braço e me levou para fora. Eu já ia protestar dizendo que não queria ir embora, quando vi que tinham aberto uma terceira pista no jardim. Era uma espécie de "terraço da Space" improvisado, com a pista coberta por aquela mesma trama de frufrus entrelaçados que filtra uma parte da luz do sol. Todas as bees tinham ido para lá e o clima era quase o de uma pool party: a cada 5 minutos, alguém do clube abria uma mangueira para o alto e os respingos de água que chuviscavam na pista refrescavam a todos nós, que dançávamos felizes como se estivéssemos no Bora Bora de Ibiza ou na piscina da The Week. Tinha até trava dando close. Enfim, só arredei pé de lá às 15h30, e porque meu corpo exigiu. Meus amigos da fila da entrada ainda me chamaram para o after do after, mas colocar qualquer coisa depois daquele lugar seria como fechar um jantar divino com uma concha de sopa Knorr.
Saí de lá maravilhado. Aquela usina maluca tem um astral muito especial e o povo festeiro, de espírito livre e desencanado, é uma atração à parte. Na Space de Ibiza, que considero meu clube preferido, o público pode ser "variado" (héteros e gays, vários países etc.), mas ainda assim dentro de um certo padrão que freqüenta Ibiza: gente bem de vida, houseira, antenada, consumista, que usa oclón de grife, meio jetsetter. Ou seja, você já sabe mais ou menos o que esperar e que tipo de papo vai ter. Já no Berghain-Panorama não: lá tem de tudo mesmo, você realmente se surpreende ao conhecer as pessoas mais diferentes. É muito bacana ver que um povo tão heterogêneo pode dar uma liga tão boa. Muito mais legal do que ir a uma festa 100% barbie ou 100% muderrrna ou 100% emo. Não pude registrar nada (eu já sabia que o staff confiscava todas as câmeras e até celulares, porque não quer que a proposta da casa seja imitada), mas sei que não precisarei de fotos para lembrar da experiência.
terça-feira, 19 de agosto de 2008
O sobe-e-desce da Europa no verão
Qual a melhor época para visitar a Europa? Há controvérsias. Muitos não trocam o verão por nada. Mas também há quem não encare uma viagem ao Velho Mundo em julho ou agosto "nem morto". De fato, é na estação mais quente do ano que a Europa ferve - em todos os sentidos. No entanto, é preciso estar preparado para lidar com uma série de inconvenientes. Vamos colocar os prós e contras na balança.
UAU:
1) A EUROPA EM TODO O SEU ESPLENDOR. Convenhamos: com sol e céu azul, até um lugar como São Paulo fica muito mais bonito e fotogênico. No caso da Europa, o inverno deixa a paisagem cinzenta, triste e algo monótona - todos os cenários ficam com a mesma cara e não faz muita diferença estar na Bélgica, na Holanda ou na Áustria, por exemplo. Já o verão enaltece as peculiaridades dos diferentes países e regiões, valorizando o que há de mais bonito em cada um. Arquitetura, vegetação, moda, costumes locais, tudo ganha um novo sabor nesses dias em que o verde é mais verde e o azul é mais azul. E as fotos ficam lindas, claro.
2) OH HAPPY DAY! O calor é muito precioso para os europeus. Durante boa parte do ano, os dias são curtos e as temperaturas ficam bem abaixo da média a que estamos acostumados em nosso abençoado país tropical. Por isso, nos poucos meses que fogem a essa regra, todos ali parecem tomados por uma ânsia de aproveitar tudo ao máximo: trocam a habitual melancolia por uma revigorada alegria de viver, saem das tocas e ganham as ruas, praças e bares. Uma simples canga transforma qualquer gramadinho em praia improvisada, e o sol não se põe antes das oito (em muitos lugares, o dia ainda está claro até 21h30). Partilhar desse súbito alto-astral coletivo não tem preço.
3) É QUANDO TUDO ACONTECE. O crème de la crème da programação cultural e boêmia acontece no verão. É nessa época que rolam praticamente todos os festivais de música que importam, com música eletrônica, rock e os respectivos cruzamentos: Sónar, Glastonbury, Benicàssim, Reading, Creamfields (em vários países) e muitos, muitos outros. A cena gay primeiro se mobiliza em torno das Paradas do Orgulho, em junho, depois doura o bumbum em balneários como Sitges e Mykonos e ainda encontra energias para se jogar nos festivais em Barcelona. Em Ibiza, os superclubes Space, Pacha, Amnesia e Privilege recebem os melhores DJs do mundo, numa temporada pra lá de intensa que só termina no final de setembro. Difícil é dar um breque e não se jogar.
4) BABADO FORTÍSSIMO. Assim como você, os europeus também estarão em férias, cheios de charme e com um desejo enorme de se aventurar. Quem se joga no verão carioca conhece bem essa história: todo mundo está na pista para negócio, a fim de mostrar o corpo (previamente preparado, bien sûr), conhecer gente nova, acasalar, viver o momento intensamente. O babado é ainda mais forte se tiver algum evento especial para atrair mais gente (com o Circuit Festival, Barcelona virou um verdadeiro Carnaval gay). Se você quer voltar para casa cheio de histórias para contar (ou abafar...), não tem jeito: the time is now.
UÓ:
1) FILAS, FILAS, FILAS. Se há uma forte razão para fazer você repensar uma viagem nessa época, a razão é esta: a bombação de turistas transforma a Europa num interminável martírio de filas e mais filas. Nas atrações mais importantes, como a subida à Torre Eiffel em Paris e à cúpula do Reichstag de Berlim, a espera no verão dificilmente leva menos de duas horas (e, numa viagem de turismo, pode apostar: você pegará várias filas por dia). Para entrar nos clubes mais incríveis (Space de Ibiza, Berghain-Panorama), também é preciso ter muita paciência (no Berghain, a fila é enorme em qualquer época e o staff barra eventuais furões). Restaurantes com espera monstro e praias lotadas completam o cenário - e fazem você passar a valorizar a primavera.
2) O CALOR COMO INIMIGO. É óbvio que quem decide viajar no verão está predisposto a viver - e aproveitar - o calor. O que nem todos levam em conta, porém, é que bater perna e fazer o circuito de passeios e atrações turísticas com o sol a pino não é nada fácil (sem falar que a luminosidade do meio-dia "estoura" as fotos). Em localidades como a região central da Espanha (Madrid, Andalucía), as temperaturas freqüentemente passam dos 40 graus - em Sevilla, às 21h os termômetros ainda marcam inacreditáveis 36ºC. O jeito é fazer uma siesta compulsória ou se enfurnar em lojas até o sol dar uma trégua, ainda que com isso se perca um tempo precioso.
3) O CUSTO VERÃO. Desfrutar os raros dias de sol e dar pinta cas bunita tem seu preço. A brincadeira sai mais cara já no Brasil, na hora de providenciar passagens e pacotes. Afinal, o verão europeu bate com nossas férias escolares de inverno, portanto os operadores de turismo daqui praticam preços de alta temporada. Chegando na Europa, é nítido que tudo encarece devido à alta da demanda local, de simples picolés e refrescos até o preço da hospedagem - hotéis, pousadas e albergues trabalham com três tabelas diferenciadas, conforme a época do ano.
4) CHIUSO PER FERIE. Todo mundo tem direito a aproveitar o verão. Incluindo quem trabalha nos melhores lugares - justamente aqueles que constam como obrigatórios no seu roteiro. Por isso, não se espante: você poderá dar com a cara na porta onde menos espera - até a Berthillon, sorveteria mais venerada de Paris, se dá ao luxo de fechar as portas para férias em pleno verão. Felizmente, consegui garantir (no último dia de funcionamento) minha saborosa bola de praliné au citron. Mas não tive a mesma sorte na Colette (a descoladíssima loja estava em reforma, bah!), nem no concorrido Pinotxos, que serve as melhores tapas de Barcelona e é freqüentado pelo chef-estrela Ferran Adrià.
[Fotos: a prefeitura da sempre irreverente Barcelona criou uma campanha com valentes super-heróis que combatem o lixo e defendem a praia da sujeira].
UAU:
1) A EUROPA EM TODO O SEU ESPLENDOR. Convenhamos: com sol e céu azul, até um lugar como São Paulo fica muito mais bonito e fotogênico. No caso da Europa, o inverno deixa a paisagem cinzenta, triste e algo monótona - todos os cenários ficam com a mesma cara e não faz muita diferença estar na Bélgica, na Holanda ou na Áustria, por exemplo. Já o verão enaltece as peculiaridades dos diferentes países e regiões, valorizando o que há de mais bonito em cada um. Arquitetura, vegetação, moda, costumes locais, tudo ganha um novo sabor nesses dias em que o verde é mais verde e o azul é mais azul. E as fotos ficam lindas, claro.
2) OH HAPPY DAY! O calor é muito precioso para os europeus. Durante boa parte do ano, os dias são curtos e as temperaturas ficam bem abaixo da média a que estamos acostumados em nosso abençoado país tropical. Por isso, nos poucos meses que fogem a essa regra, todos ali parecem tomados por uma ânsia de aproveitar tudo ao máximo: trocam a habitual melancolia por uma revigorada alegria de viver, saem das tocas e ganham as ruas, praças e bares. Uma simples canga transforma qualquer gramadinho em praia improvisada, e o sol não se põe antes das oito (em muitos lugares, o dia ainda está claro até 21h30). Partilhar desse súbito alto-astral coletivo não tem preço.
3) É QUANDO TUDO ACONTECE. O crème de la crème da programação cultural e boêmia acontece no verão. É nessa época que rolam praticamente todos os festivais de música que importam, com música eletrônica, rock e os respectivos cruzamentos: Sónar, Glastonbury, Benicàssim, Reading, Creamfields (em vários países) e muitos, muitos outros. A cena gay primeiro se mobiliza em torno das Paradas do Orgulho, em junho, depois doura o bumbum em balneários como Sitges e Mykonos e ainda encontra energias para se jogar nos festivais em Barcelona. Em Ibiza, os superclubes Space, Pacha, Amnesia e Privilege recebem os melhores DJs do mundo, numa temporada pra lá de intensa que só termina no final de setembro. Difícil é dar um breque e não se jogar.
4) BABADO FORTÍSSIMO. Assim como você, os europeus também estarão em férias, cheios de charme e com um desejo enorme de se aventurar. Quem se joga no verão carioca conhece bem essa história: todo mundo está na pista para negócio, a fim de mostrar o corpo (previamente preparado, bien sûr), conhecer gente nova, acasalar, viver o momento intensamente. O babado é ainda mais forte se tiver algum evento especial para atrair mais gente (com o Circuit Festival, Barcelona virou um verdadeiro Carnaval gay). Se você quer voltar para casa cheio de histórias para contar (ou abafar...), não tem jeito: the time is now.
UÓ:
1) FILAS, FILAS, FILAS. Se há uma forte razão para fazer você repensar uma viagem nessa época, a razão é esta: a bombação de turistas transforma a Europa num interminável martírio de filas e mais filas. Nas atrações mais importantes, como a subida à Torre Eiffel em Paris e à cúpula do Reichstag de Berlim, a espera no verão dificilmente leva menos de duas horas (e, numa viagem de turismo, pode apostar: você pegará várias filas por dia). Para entrar nos clubes mais incríveis (Space de Ibiza, Berghain-Panorama), também é preciso ter muita paciência (no Berghain, a fila é enorme em qualquer época e o staff barra eventuais furões). Restaurantes com espera monstro e praias lotadas completam o cenário - e fazem você passar a valorizar a primavera.
2) O CALOR COMO INIMIGO. É óbvio que quem decide viajar no verão está predisposto a viver - e aproveitar - o calor. O que nem todos levam em conta, porém, é que bater perna e fazer o circuito de passeios e atrações turísticas com o sol a pino não é nada fácil (sem falar que a luminosidade do meio-dia "estoura" as fotos). Em localidades como a região central da Espanha (Madrid, Andalucía), as temperaturas freqüentemente passam dos 40 graus - em Sevilla, às 21h os termômetros ainda marcam inacreditáveis 36ºC. O jeito é fazer uma siesta compulsória ou se enfurnar em lojas até o sol dar uma trégua, ainda que com isso se perca um tempo precioso.
3) O CUSTO VERÃO. Desfrutar os raros dias de sol e dar pinta cas bunita tem seu preço. A brincadeira sai mais cara já no Brasil, na hora de providenciar passagens e pacotes. Afinal, o verão europeu bate com nossas férias escolares de inverno, portanto os operadores de turismo daqui praticam preços de alta temporada. Chegando na Europa, é nítido que tudo encarece devido à alta da demanda local, de simples picolés e refrescos até o preço da hospedagem - hotéis, pousadas e albergues trabalham com três tabelas diferenciadas, conforme a época do ano.
4) CHIUSO PER FERIE. Todo mundo tem direito a aproveitar o verão. Incluindo quem trabalha nos melhores lugares - justamente aqueles que constam como obrigatórios no seu roteiro. Por isso, não se espante: você poderá dar com a cara na porta onde menos espera - até a Berthillon, sorveteria mais venerada de Paris, se dá ao luxo de fechar as portas para férias em pleno verão. Felizmente, consegui garantir (no último dia de funcionamento) minha saborosa bola de praliné au citron. Mas não tive a mesma sorte na Colette (a descoladíssima loja estava em reforma, bah!), nem no concorrido Pinotxos, que serve as melhores tapas de Barcelona e é freqüentado pelo chef-estrela Ferran Adrià.
[Fotos: a prefeitura da sempre irreverente Barcelona criou uma campanha com valentes super-heróis que combatem o lixo e defendem a praia da sujeira].
sábado, 16 de agosto de 2008
10 razões para incluir Berlim no seu próximo giro europeu
Quando se pensa em ir à Europa, os primeiros e mais óbvios destinos costumam ser Londres e Paris. A Espanha também é muito procurada: o clima agradável, a receptividade dos nativos, a culinária e a vida noturna são um denominador comum com o gosto dos brasileiros. Por outro lado, poucos se lembram de Berlim. A cidade não chega a ser underground, tem lá os seus ícones, mas eles não têm tanto apelo para as massas como uma Torre Eiffel ou um Coliseu. Melhor assim: lá você encontra pessoas que estão atrás de coisas bem mais interessantes do que apenas fotografar cartões postais. Aqui vão alguns dos encantos da capital alemã.
1) UMA TRAJETÓRIA PECULIAR. Berlim é a única cidade do planeta que foi atravessada por um muro e dividida em dois mundos completamente diferentes, um capitalista e outro socialista, sintetizando o cenário geopolítico do período conhecido como Guerra Fria, do qual ela esteve no epicentro. Derrubado o muro, coube a Berlim se reorganizar em busca de uma nova unidade - sem esquecer os importantes acontecimentos que protagonizou. A ascensão do Reich nazista, o holocausto judeu, a ocupação pelas tropas aliadas e o próprio muro, tudo está imortalizado em museus e memoriais, numa verdadeira aula de história in loco.
2) O CONTRASTE ENTRE O ANTIGO E O SUPERMODERNO. Berlim tem seu eixo monumental, com o Portão de Brandemburgo [primeira foto do post, ícone maior da cidade], a Ilha dos Museus [ilha dentro do rio Spree, é o berço da cidade e reúne oito museus e edifícios históricos] e belos bulevares como a avenida Unter der Linden. Por outro lado, com a reconstrução após a queda do muro, a cidade deu à luz construções moderníssimas, especialmente na região da Potsdamer Platz, que ficou com jeitão de metrópole norte-americana high tech. A síntese desse contraste está no Reichstag, o prédio do Parlamento europeu: em cima de seu "corpo" clássico foi construída uma cúpula ultramoderna [foto ao lado], de onde se tem uma vista absurda da cidade.
3) PRIMEIRO MUNDO DE VERDADE. Algumas capitais européias têm zonas inóspitas e perigosas, trânsito caótico, sujeira, focos de tensão étnica. Num certo país povoado por carcamanos (dos quais sou descendente), a bagunça lembra o Brasil e não se pode descuidar dos pertences nem um segundo. Já em Berlim, tudo funciona às mil maravilhas. Para uma cidade de seu porte, ela é limpa, organizada e bastante segura. Uma questão de riqueza (táxi lá é só Mercedão, com GPS e o escambau), mas também de mentalidade. O metrô não tem bilheteria nem catracas (você mesmo emite, paga e valida seu ticket), e pergunta se algum espertinho usa sem pagar? Se implantássemos esse sistema aqui, em dois meses o Metrô iria à falência.
4) O CHARME DOS BAIRROS DO ANTIGO LADO ORIENTAL. Com a queda do Muro e a abertura da antiga Alemanha Oriental para o capitalismo, os bairros do leste se modernizaram, uns de forma mais agressiva e mainstream (o Mitte, que rapidamente abraçou nomes como Diesel e Haagen-Dazs), outros de um jeito menos asséptico e mais genuíno (Prenzlauer Berg [foto ao lado], que foi urbanizado pelos próprios moradores e eu comparei no outro post a um "Leblon soviético"). O melhor jeito de explorar esses bairros é alugar uma bicicleta (7 euros por quatro horas ou 10 pelo dia inteiro) e sair descobrindo os lugares fofos e descolados que aparecerem pelo caminho.
5) PREÇOS SIMPÁTICOS. Berlim é um alívio para bolsos castigados pelos preços astronômicos de Londres e Paris. A surpresa de encontrar um restaurante vietnamita descolado, fervido e delicioso fica ainda melhor quando você vê que os pratos custam apenas 7 euros. E as compras são boas. A cidade não chega a ser um paraíso dos sacoleiros, mas tem tudo o que você possa precisar, com direito a uma "Champs-Elysées local" (a avenida Kurfürstendamm), uma filial das célebres Galeries Lafayette de Paris (na Friedrichstrasse), a KaDeWe (loja de departamentos que é um templo do consumo berlinense) e lojinhas modernas e cool no Mitte e em Prenzlauer Berg.
6) UMA CIDADE DE PIQUE JOVEM. Berlim tem atrações para se visitar e fotografar, mas é menos procurada por turistas tradicionais do que outras capitais. Ou seja, você provavelmente não vai ouvir "benhê, vamu na Lafayette de novo?" enquanto pega seu metrô. Os visitantes da cidade são em geral pessoas jovens, interessadas em explorar as baladas, a cultura de rua e o lado alternativo da cidade. Isso dá um outro pique a Berlim, principalmente no verão.
7) TOLERÂNCIA E DIVERSIDADE. Nenhuma capital preza tanto a individualidade como Berlim. Aqui, ninguém cuida da vida dos outros. No Tiergarten, principal parque da cidade, um casal pode esticar uma toalha na grama e deixar suas partes pudendas dourarem sob o sol sem atrair a atenção dos passantes, muito menos da polícia ou das emissoras de TV. Durante o dia ou à noite, as pessoas se vestem dos mais variados estilos, dispensando rótulos, sem a preocupação de serem classificadas em tribos. Você pode ser, parecer e preferir o que quiser. "Viva e deixe viver" é o lema.
8) TRÊS VEZES GAY. Óbvio que uma cidade tolerante como Berlim não poderia deixar de acolher as bees - o próprio prefeito, Klaus Wowereit, saiu do armário com a maior naturalidade. Mas ela não economizou: na falta de um núcleo gay, há três. Neles, você pode encontrar cafés, restaurantes, lojas, cruising bars, uma livraria GLS enorme e completíssima (com títulos em alemão, inglês e francês) e os melhores sex shops de toda a Europa. A diversidade impera, mas chama a atenção a quantidade de trintões e quarentões gostosos, bem-resolvidos e always ready for the action: em Berlim não existe uma idade-limite para aparecer socialmente e ser desejável, como no Brasil.
9) UMA VIBRANTE CENA ELETRÔNICA. A relação de Berlim com a música eletrônica não é nova: basta lembrar que foi lá que nasceu o grupo Kraftwerk, com seus teclados, terninhos e sonoridades completamente visionárias para os anos 80. Hoje em dia, a cena alemã continua antecipando tendências: um exemplo disso é o clube Robert-Johnson, de Frankfurt, que não divulga os nomes dos DJs escalados para cada noite, mas somente trechos de seus sets, para que o público valorize apenas a música (quer algo mais moderno do que isso?). Berlim tem um excelente circuito eletrônico, do qual fui conhecer dois endereços. O Watergate é um clube bem bacana, que eu mais do que recomendo, mas o bafo do bafo do bafo foi mesmo o inesquecível Berghain-Panorama, sem dúvida alguma o segundo melhor clube a que eu fui na vida (só perdeu para a Space de Ibiza). Claro que essa experiência vai ser relatada num post próprio.
10) LAB.ORATORY, O MELHOR PLAYGROUND ADULTO DO MUNDO. Se o Berghain-Panorama é o must do must em termos de balada, quando o assunto é sexo entre machos Berlim tem uma infinidade de opções, mas é no Lab.oratory que a onça bebe água (ou o que ela preferir beber, hehehe). Esse também será assunto para um post em separado (e dos grandes), mas só para adiantar: imaginem uma usina termoelétrica desativada transformada em um playground do sexo. Um lugar perdido como a Terra do Nunca, onde homens lindos e fogosos se livram de suas inibições (inibições? em Berlim?!) e vão brincar como crianças, felizes feito pintos no lixo (essa expressão carioca não poderia ser mais apropriada!). Um bafo fortíssimo, mas com um clima maravilhoso. Definitivamente, o melhor lugar de pegação a que eu estive no mundo (sei que tenho feito esse tipo de comparação com freqüência, mas o que posso fazer se a viagem foi cheia de lugares the best?). Aguardem o post completo em breve.
1) UMA TRAJETÓRIA PECULIAR. Berlim é a única cidade do planeta que foi atravessada por um muro e dividida em dois mundos completamente diferentes, um capitalista e outro socialista, sintetizando o cenário geopolítico do período conhecido como Guerra Fria, do qual ela esteve no epicentro. Derrubado o muro, coube a Berlim se reorganizar em busca de uma nova unidade - sem esquecer os importantes acontecimentos que protagonizou. A ascensão do Reich nazista, o holocausto judeu, a ocupação pelas tropas aliadas e o próprio muro, tudo está imortalizado em museus e memoriais, numa verdadeira aula de história in loco.
2) O CONTRASTE ENTRE O ANTIGO E O SUPERMODERNO. Berlim tem seu eixo monumental, com o Portão de Brandemburgo [primeira foto do post, ícone maior da cidade], a Ilha dos Museus [ilha dentro do rio Spree, é o berço da cidade e reúne oito museus e edifícios históricos] e belos bulevares como a avenida Unter der Linden. Por outro lado, com a reconstrução após a queda do muro, a cidade deu à luz construções moderníssimas, especialmente na região da Potsdamer Platz, que ficou com jeitão de metrópole norte-americana high tech. A síntese desse contraste está no Reichstag, o prédio do Parlamento europeu: em cima de seu "corpo" clássico foi construída uma cúpula ultramoderna [foto ao lado], de onde se tem uma vista absurda da cidade.
3) PRIMEIRO MUNDO DE VERDADE. Algumas capitais européias têm zonas inóspitas e perigosas, trânsito caótico, sujeira, focos de tensão étnica. Num certo país povoado por carcamanos (dos quais sou descendente), a bagunça lembra o Brasil e não se pode descuidar dos pertences nem um segundo. Já em Berlim, tudo funciona às mil maravilhas. Para uma cidade de seu porte, ela é limpa, organizada e bastante segura. Uma questão de riqueza (táxi lá é só Mercedão, com GPS e o escambau), mas também de mentalidade. O metrô não tem bilheteria nem catracas (você mesmo emite, paga e valida seu ticket), e pergunta se algum espertinho usa sem pagar? Se implantássemos esse sistema aqui, em dois meses o Metrô iria à falência.
4) O CHARME DOS BAIRROS DO ANTIGO LADO ORIENTAL. Com a queda do Muro e a abertura da antiga Alemanha Oriental para o capitalismo, os bairros do leste se modernizaram, uns de forma mais agressiva e mainstream (o Mitte, que rapidamente abraçou nomes como Diesel e Haagen-Dazs), outros de um jeito menos asséptico e mais genuíno (Prenzlauer Berg [foto ao lado], que foi urbanizado pelos próprios moradores e eu comparei no outro post a um "Leblon soviético"). O melhor jeito de explorar esses bairros é alugar uma bicicleta (7 euros por quatro horas ou 10 pelo dia inteiro) e sair descobrindo os lugares fofos e descolados que aparecerem pelo caminho.
5) PREÇOS SIMPÁTICOS. Berlim é um alívio para bolsos castigados pelos preços astronômicos de Londres e Paris. A surpresa de encontrar um restaurante vietnamita descolado, fervido e delicioso fica ainda melhor quando você vê que os pratos custam apenas 7 euros. E as compras são boas. A cidade não chega a ser um paraíso dos sacoleiros, mas tem tudo o que você possa precisar, com direito a uma "Champs-Elysées local" (a avenida Kurfürstendamm), uma filial das célebres Galeries Lafayette de Paris (na Friedrichstrasse), a KaDeWe (loja de departamentos que é um templo do consumo berlinense) e lojinhas modernas e cool no Mitte e em Prenzlauer Berg.
6) UMA CIDADE DE PIQUE JOVEM. Berlim tem atrações para se visitar e fotografar, mas é menos procurada por turistas tradicionais do que outras capitais. Ou seja, você provavelmente não vai ouvir "benhê, vamu na Lafayette de novo?" enquanto pega seu metrô. Os visitantes da cidade são em geral pessoas jovens, interessadas em explorar as baladas, a cultura de rua e o lado alternativo da cidade. Isso dá um outro pique a Berlim, principalmente no verão.
7) TOLERÂNCIA E DIVERSIDADE. Nenhuma capital preza tanto a individualidade como Berlim. Aqui, ninguém cuida da vida dos outros. No Tiergarten, principal parque da cidade, um casal pode esticar uma toalha na grama e deixar suas partes pudendas dourarem sob o sol sem atrair a atenção dos passantes, muito menos da polícia ou das emissoras de TV. Durante o dia ou à noite, as pessoas se vestem dos mais variados estilos, dispensando rótulos, sem a preocupação de serem classificadas em tribos. Você pode ser, parecer e preferir o que quiser. "Viva e deixe viver" é o lema.
8) TRÊS VEZES GAY. Óbvio que uma cidade tolerante como Berlim não poderia deixar de acolher as bees - o próprio prefeito, Klaus Wowereit, saiu do armário com a maior naturalidade. Mas ela não economizou: na falta de um núcleo gay, há três. Neles, você pode encontrar cafés, restaurantes, lojas, cruising bars, uma livraria GLS enorme e completíssima (com títulos em alemão, inglês e francês) e os melhores sex shops de toda a Europa. A diversidade impera, mas chama a atenção a quantidade de trintões e quarentões gostosos, bem-resolvidos e always ready for the action: em Berlim não existe uma idade-limite para aparecer socialmente e ser desejável, como no Brasil.
9) UMA VIBRANTE CENA ELETRÔNICA. A relação de Berlim com a música eletrônica não é nova: basta lembrar que foi lá que nasceu o grupo Kraftwerk, com seus teclados, terninhos e sonoridades completamente visionárias para os anos 80. Hoje em dia, a cena alemã continua antecipando tendências: um exemplo disso é o clube Robert-Johnson, de Frankfurt, que não divulga os nomes dos DJs escalados para cada noite, mas somente trechos de seus sets, para que o público valorize apenas a música (quer algo mais moderno do que isso?). Berlim tem um excelente circuito eletrônico, do qual fui conhecer dois endereços. O Watergate é um clube bem bacana, que eu mais do que recomendo, mas o bafo do bafo do bafo foi mesmo o inesquecível Berghain-Panorama, sem dúvida alguma o segundo melhor clube a que eu fui na vida (só perdeu para a Space de Ibiza). Claro que essa experiência vai ser relatada num post próprio.
10) LAB.ORATORY, O MELHOR PLAYGROUND ADULTO DO MUNDO. Se o Berghain-Panorama é o must do must em termos de balada, quando o assunto é sexo entre machos Berlim tem uma infinidade de opções, mas é no Lab.oratory que a onça bebe água (ou o que ela preferir beber, hehehe). Esse também será assunto para um post em separado (e dos grandes), mas só para adiantar: imaginem uma usina termoelétrica desativada transformada em um playground do sexo. Um lugar perdido como a Terra do Nunca, onde homens lindos e fogosos se livram de suas inibições (inibições? em Berlim?!) e vão brincar como crianças, felizes feito pintos no lixo (essa expressão carioca não poderia ser mais apropriada!). Um bafo fortíssimo, mas com um clima maravilhoso. Definitivamente, o melhor lugar de pegação a que eu estive no mundo (sei que tenho feito esse tipo de comparação com freqüência, mas o que posso fazer se a viagem foi cheia de lugares the best?). Aguardem o post completo em breve.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Circuit Festival, tintim por tintim
Verdadeiras maratonas da jogação, as chamadas circuit parties nasceram e se consolidaram na América do Norte, que todos os anos espera ansiosamente por eventos como a Black & Blue (Montreal) e a White Party (Miami). Já na Europa, esse formato não tem a mesma tradição: só foi introduzido em 2005, ano de estréia do LoveBall, que teve edições em Bruxelas e Barcelona.
Neste ano, o LoveBall chegou à sua quinta edição e ganhou um concorrente à altura: o Circuit Festival. Ambos foram realizados em Barcelona e chegaram a ter eventos simultâneos durante 4 dias. No entanto, as festas principais foram estrategicamente distribuídas em sábados diferentes (um cuidado que os produtores cariocas, em eterna guerra de egos, poderiam tomar).
Escolhi Barcelona porque meu primeiro contato com a cidade me fascinou e eu queria me aprofundar nela. Mas já sabia dos festivais e resolvi unir o útil ao agradável. Dentro desse propósito, de combinar turismo e jogação sem que um sacrificasse o outro, fiz uma seleção de cinco festas do Circuit e me joguei. Aqui vão minhas impressões...
1) DEVOTION
Quando: terça, 5 de agosto de 2008, 23h-5h
Onde: Sala Apolo, Barcelona
DJs: Yuri (IT), Antoine 909 (FR) e Enrico Arghentini (IT)
O que: a festa de abertura do Circuit Festival foi realizada na tradicional Sala Apolo, antigo salão de baile com galerias forradas de veludo e bares com balcão em madeira. O palco foi ocupado por uma grande caravela, com a mesa do DJ na popa e dançarinos e go-go boys na proa e no convés.
Uau: havia festas mais importantes nas noites seguintes (sem contar que o LoveBall ainda estava rolando). Mesmo assim, a Devotion bombou e deu uma ótima prévia do que seria o Circuit: um festival de homens lindos, esculturais e cheios de vontade de se divertir.
Uó: a Sala Apolo podia ser cheia de glórias e tradições, mas era totalmente inadequada para um evento desse tipo: não havia nenhum tipo de ventilação e o calor era insuportável. Com calças e bermudas grudadas no corpo, as pessoas se abanavam com guardanapos e arfavam em busca de ar. Não agüentei mais do que 45 minutos e fui embora, chocado com tamanho desrespeito. Se fosse no Brasil, o povo daria o maior basfond e o produtor ficaria queimado para sempre.
Nota deste blog: 3,0 para não ser azedo
WATER PARK
Quando: sexta, 8 de agosto de 2008, 10h-22h
Onde: Parc Aquàtic Illa Fantasía, Vilassar de Dalt
DJs: J. Louis, Iordee, Taito Tikaro (todos do Matinée Group)
O que: um dos destaques da programação, essa day party foi feita em um grande parque aquático, cerca de 30 minutos ao norte de Barcelona. Os rapazes do Circuit e as meninas do Girlie Festival (braço lésbico do evento) ficaram em áreas separadas [quer dizer, vieram uns 4500 homens e umas 78 mulheres, o que parece confirmar que nossas amigas sapas não curtem uma boa jogação]. Para eles, a pista principal foi montada dentro de uma enorme piscina com profundidade progressiva: quem estava mais perto do enorme palco dançava fazendo hidroginástica, quem estava mais longe apenas molhava os pés.
Uau1: O Illa Fantasía tinha uma excelente estrutura, com diversas piscinas, grande variedade de tobogãs, áreas para tomar sol, bares, massagem... Da parte mais alta do terreno, tinha-se uma linda vista do balneário de Vilassar de Dalt, com o Mar Mediterrâneo ao fundo.
Uau2: O clima não poderia ser mais leve e descontraído, verão total. Quem estava na parte rasa da piscina ou do lado de fora fervia, conversava, paquerava, fazia novos amigos e reencontrava velhos conhecidos. Quem estava dentro batia pés e mãos na água, feito criança, quando a música empolgava.
Uau3: A equipe da Matinée foi a cereja do bolo. Os DJs tocaram o electrohouse alegre típico das festas do clã. Atrás deles, a mise-en-scène da produção colocou uma horda de dançarinos sarados de sungão e boné da mesma cor dançando numa arquibancada, enquanto uma abusada magricela com perucão loiro sarará balançava sua enorme cauda de sereia verde-metálica, roubando a cena. E os barmen foram escolhidos a dedo: lindos, dourados e gostosérrimos, estavam em pé de igualdade com os homens mais belos do parque.
Uó: Foi um dia divertido e alegre, mas não bafônico como prometia. Mesmo com o visual maravilhoso do parque e algumas das buneetas mais buneetas de toda a Europa, a festa não chegou aos pés de uma boa GiraSol. Muito menos daquela mágica pool party da Estação do Corpo, que entrou para a história do Rio no Carnaval 2006.
Nota deste blog: 8,0 seria bastante justo
3) TOUR INFINITA '08
Quando: sexta, 8 de agosto de 2008, 23h59-6h
Onde: DBOY, Barcelona
DJs: David Berna (ES) e Ismael Rivas (ES); Jeremy Reyes (FR), Fabio White (UK) e Francesco Belais (IT)
O que: festa organizada pelo pessoal do InfinitaMente Gay, maior festival gay de Madrid, responsável também pela parada do orgulho da capital espanhola. Eles trouxeram para a DBOY (resultado de uma caprichada repaginação da antiga boate Salvation) os dois residentes da Space of Sound, a balada mais incrível de Madrid, que acontece das 9h às 15h de domingo dentro de uma estação de trem.
Uau1: quem já teve o privilégio de passar um domingo na Space of Sound sabe que Ismael Rivas é "o" cara [já falei dele várias vezes no meu blog, mas não adianta, a The Week não o chama para tocar!]. Com um som às vezes denso e envolvente, outras vezes totalmente pra cima, ele comanda a pista com muita classe, sem jamais tocar farofa [aliás, já estou há um mês sem ouvir uma só notinha de tribal-bate-cabelo! uhu!!!]. Em Madrid o povo sempre fica passado com ele; em Barcelona não poderia ter sido diferente. Ismael arrasou.
Uau2: sabe aquela noite "ideal" dentro de um clube? Clima gostoso na pista e todo mundo envolvido pela música? A festa foi assim. Astral lá em cima, muita gente linda, o povo interagindo. A equação perfeita (não fosse a pequena ressalva logo abaixo).
Uó: a DBOY é legal. A pista principal tem bom sistema de som e ótima iluminação, com colunas centrais que acendem e teto forrado com néons que piscam e mudam de cor. Mas essa estrutura só proporciona conforto se o clube estiver operando até um certo limite de pessoas. Como tout le monde et son père resolveu se jogar lá, a festa ficou intransitável e bastante quente (e olha que o ar condicionado do lugar era bastante potente). Mas isso não fez com que deixasse de ser uma ótima noite (bastava estar com o espírito preparado).
Nota deste blog: 9,0 com um sorriso no rosto
4) CIRCUIT FESTIVAL MAIN PARTY
Quando: sábado, 9 de agosto de 2008, 23h30-6h
Onde: Pabellón Olímpico de Badalona, Badalona
DJs: Deux (David Penn & Toni Bass) e Peter Rauhofer; live acts de Ultra Naté, Coco Star e Luca G
O que: a festa principal do festival aconteceu dentro de um imenso pavilhão olímpico em um município vizinho. Ao entrar, subir as escadarias e chegar ao alto da arquibancada, a visão que se tinha era algo impactante: milhares de homens descamisados fritavam lá embaixo, na pista montada no centro do ginásio.
Uau1: O som de Peter Rauhofer é perfeito para arenas e espaços com pé-direito bem alto. Numa apresentação compacta (foram duas horas e meia de set), Peter fez o que está acostumado e deu à festa a cara de "main party" de que ela precisava. Se eu não me impressionei mais, foi porque apresentações dele tornaram-se algo bastante corriqueiro na minha vida.
Uau2: a anunciada special appearance do astro pornô François Sagat deixou a pista boquiaberta. Ele e mais dois performers de dotes igualmente descomunais (um deles, fardado) fizeram um pocket-show tão sexy, quente e intenso que Peter Rauhofer simplesmente desapareceu, reduzido a um mero tocador de música ambiente.
Uó1: se à primeira vista a grandeza do pavilhão impressionava, um olhar mais atento mostrava que não havia produção alguma: praticamente alugaram o estádio e jogaram as bichas lá dentro. Tirando o grande telão erguido atrás do DJ, o que se via era uma iluminação bastante modesta para a dimensão do lugar e nenhuma decoração. Os bares funcionavam em esquema precário e ainda tinha o calor, o empurra-empurra... Em outras palavras: a Main Party foi uma máquina de fazer dinheiro fácil. Ou somos nós brasileiros os mal-acostumados a produções caprichadas.
Uó2: totalmente desnecessários os tais live acts. Botar uma cantora fazendo pose de diva e tentando se conectar com o "lado espiritualizado das bichas" é algo anos 90 demais para minha cabeça (pode ser Ultra Naté, Amannda ou quem quer que seja). E aquele mestre-de-cerimônias (?) com roupa branca de garçom (sim, de gravata-borboleta e tudo!) "animando a galera", dizendo "are you reeeaaaady???" e "let's have a good time Barcelonaaaa!!" chegava a ser constrangedor.
Nota deste blog: 8,0 e olhe lá
5) SOUVENIR
Quando: domingo, 10 de agosto de 2008, a partir das 6h
Onde: Souvenir, Viladecans
DJs: Phil Romano (IT), Hector Fonseca (NY), Enrico Arghentini (IT) e Sens Division (FR); Elias (FR) e Nicolas Nucci (FR)
O que: desde sua abertura em 2001, numa ruela afastada no caminho para o aeroporto, o Souvenir é o principal afterhours de Barcelona e um dos melhores de toda a Europa. A pista principal, retangular, é mais ou menos como a da Blue Space (mas mais escura), com uma parede de bolas que mudam de cor no fundo; há uma segunda pista, menor, no subsolo. A clientela costuma ser variada, como nas melhores noites de Ibiza, mas aquele era um fim-de-semana atípico. Com o Circuit Festival, alguns dos homens gays mais bonitos da Europa estavam na cidade - e todos eles saíram da Main Party com um fogo incrível, direto para a Souvenir. Resultado? Bafo, né. O melhor bafo de todos.
Uau1: o clima daquele lugar é indescritível. É uma atmosfera de hedonismo, luxúria, devaneio. É como um universo paralelo que se abre, um Mundo de Marlboro povoado pelos caras mais lindos, mais interessantes, de todas as partes, num clima de total perdição. Lembrei do quanto eu ficava maravilhado nos áureos tempos da X-Demente na Fundição Progresso e me surpreendi por estar vivendo uma sensação parecida oito anos depois, tendo vivido e passado por tanta coisa. Se a X foi a graduação e a The Week foi a pós, o Souvenir é o MBA. Em Harvard.
Uau2: Corpos perfeitos, sozinhos, não movem moinhos. A noite gay do eixo Rio-SP está cheia deles. Para que se crie um clima de magia, é preciso que exista uma música adequada, que ajude a criar e embalar essa viagem. Talvez esteja aí o diferencial da Souvenir. A música estava muito, muito, muito boa. Os DJs mandaram um tech house bem gay, viajante e extremamente sensual. Era difícil não se entregar, não se deixar levar. Quando eu não agüentava o calor e ia tomar uma água no bar da pista 2, que ficava na pista de baixo, me surpreendia com um som igualmente maravilhoso, bem progressivo, acolhedor. Queria tanto que nossos DJs estivessem lá comigo e vissem que é possível agradar aos gays (inclusive as barbies) com outras sonoridades que não o tribal surrado de sempre!
Uó: Apesar de todos esses predicados, temos que lembrar que o Souvenir é um simples after e não um megaclube. Como era de se esperar, a fila na porta foi dramática; lá dentro, até metade da manhã, a pista principal estava um aperto só. Era um tal de abanar os leques do Gaydar e tirar par-ou-ímpar para ver quem ia comprar a próxima água... Porém, se a queixa do calor e da lotação também esteve presente em outras festas, aqui ela foi plenamente recompensada. Não sei como teria sido sem o fluxo de turistas do Circuit Festival, mas, pela experiência que eu tive nesse domingo, posso afirmar que o Souvenir é o melhor after gay em que estive em toda a minha vida.
Nota deste blog: 10,0 com louvor
COMENTÁRIO: Em seu primeiro ano, o Circuit Festival já pegou. O público realmente acreditou na idéia e Barcelona recebeu gente de todos os cantos, inclusive do Brasil. Em termos de estrutura, muitas vezes as nossas festas são melhores (sabemos fazê-las muito bem quando queremos). Mas o Circuit tem seus diferenciais. O maior deles: as pessoas. Sou orgulhoso da minha nacionalidade e não babo ovo para os europeus, mas acho delicioso e enriquecedor poder conhecer homens de tantos outros lugares: holandeses, franceses, israelenses, espanhóis, italianos. Além de muitos serem lindos de verdade, em geral eles são mais liberais, mais bem-resolvidos em relação a uma série de tabus. E bastante receptivos com os brasileiros. É ótimo estar entre eles e aproveitar, com muito ou pouco juízo. E tem também Barcelona, que é um caso à parte, minha cidade preferida na Europa, que eu recomendo para todo mundo. O Circuit Festival não é absolutamente insubstituível, como nenhuma festa o é. Mas, para quem se interessa por esse tipo de jogação e tem a possibilidade de viajar, fica a dica: fiquem de olho no Circuit em 2009.
Neste ano, o LoveBall chegou à sua quinta edição e ganhou um concorrente à altura: o Circuit Festival. Ambos foram realizados em Barcelona e chegaram a ter eventos simultâneos durante 4 dias. No entanto, as festas principais foram estrategicamente distribuídas em sábados diferentes (um cuidado que os produtores cariocas, em eterna guerra de egos, poderiam tomar).
Escolhi Barcelona porque meu primeiro contato com a cidade me fascinou e eu queria me aprofundar nela. Mas já sabia dos festivais e resolvi unir o útil ao agradável. Dentro desse propósito, de combinar turismo e jogação sem que um sacrificasse o outro, fiz uma seleção de cinco festas do Circuit e me joguei. Aqui vão minhas impressões...
1) DEVOTION
Quando: terça, 5 de agosto de 2008, 23h-5h
Onde: Sala Apolo, Barcelona
DJs: Yuri (IT), Antoine 909 (FR) e Enrico Arghentini (IT)
O que: a festa de abertura do Circuit Festival foi realizada na tradicional Sala Apolo, antigo salão de baile com galerias forradas de veludo e bares com balcão em madeira. O palco foi ocupado por uma grande caravela, com a mesa do DJ na popa e dançarinos e go-go boys na proa e no convés.
Uau: havia festas mais importantes nas noites seguintes (sem contar que o LoveBall ainda estava rolando). Mesmo assim, a Devotion bombou e deu uma ótima prévia do que seria o Circuit: um festival de homens lindos, esculturais e cheios de vontade de se divertir.
Uó: a Sala Apolo podia ser cheia de glórias e tradições, mas era totalmente inadequada para um evento desse tipo: não havia nenhum tipo de ventilação e o calor era insuportável. Com calças e bermudas grudadas no corpo, as pessoas se abanavam com guardanapos e arfavam em busca de ar. Não agüentei mais do que 45 minutos e fui embora, chocado com tamanho desrespeito. Se fosse no Brasil, o povo daria o maior basfond e o produtor ficaria queimado para sempre.
Nota deste blog: 3,0 para não ser azedo
WATER PARK
Quando: sexta, 8 de agosto de 2008, 10h-22h
Onde: Parc Aquàtic Illa Fantasía, Vilassar de Dalt
DJs: J. Louis, Iordee, Taito Tikaro (todos do Matinée Group)
O que: um dos destaques da programação, essa day party foi feita em um grande parque aquático, cerca de 30 minutos ao norte de Barcelona. Os rapazes do Circuit e as meninas do Girlie Festival (braço lésbico do evento) ficaram em áreas separadas [quer dizer, vieram uns 4500 homens e umas 78 mulheres, o que parece confirmar que nossas amigas sapas não curtem uma boa jogação]. Para eles, a pista principal foi montada dentro de uma enorme piscina com profundidade progressiva: quem estava mais perto do enorme palco dançava fazendo hidroginástica, quem estava mais longe apenas molhava os pés.
Uau1: O Illa Fantasía tinha uma excelente estrutura, com diversas piscinas, grande variedade de tobogãs, áreas para tomar sol, bares, massagem... Da parte mais alta do terreno, tinha-se uma linda vista do balneário de Vilassar de Dalt, com o Mar Mediterrâneo ao fundo.
Uau2: O clima não poderia ser mais leve e descontraído, verão total. Quem estava na parte rasa da piscina ou do lado de fora fervia, conversava, paquerava, fazia novos amigos e reencontrava velhos conhecidos. Quem estava dentro batia pés e mãos na água, feito criança, quando a música empolgava.
Uau3: A equipe da Matinée foi a cereja do bolo. Os DJs tocaram o electrohouse alegre típico das festas do clã. Atrás deles, a mise-en-scène da produção colocou uma horda de dançarinos sarados de sungão e boné da mesma cor dançando numa arquibancada, enquanto uma abusada magricela com perucão loiro sarará balançava sua enorme cauda de sereia verde-metálica, roubando a cena. E os barmen foram escolhidos a dedo: lindos, dourados e gostosérrimos, estavam em pé de igualdade com os homens mais belos do parque.
Uó: Foi um dia divertido e alegre, mas não bafônico como prometia. Mesmo com o visual maravilhoso do parque e algumas das buneetas mais buneetas de toda a Europa, a festa não chegou aos pés de uma boa GiraSol. Muito menos daquela mágica pool party da Estação do Corpo, que entrou para a história do Rio no Carnaval 2006.
Nota deste blog: 8,0 seria bastante justo
3) TOUR INFINITA '08
Quando: sexta, 8 de agosto de 2008, 23h59-6h
Onde: DBOY, Barcelona
DJs: David Berna (ES) e Ismael Rivas (ES); Jeremy Reyes (FR), Fabio White (UK) e Francesco Belais (IT)
O que: festa organizada pelo pessoal do InfinitaMente Gay, maior festival gay de Madrid, responsável também pela parada do orgulho da capital espanhola. Eles trouxeram para a DBOY (resultado de uma caprichada repaginação da antiga boate Salvation) os dois residentes da Space of Sound, a balada mais incrível de Madrid, que acontece das 9h às 15h de domingo dentro de uma estação de trem.
Uau1: quem já teve o privilégio de passar um domingo na Space of Sound sabe que Ismael Rivas é "o" cara [já falei dele várias vezes no meu blog, mas não adianta, a The Week não o chama para tocar!]. Com um som às vezes denso e envolvente, outras vezes totalmente pra cima, ele comanda a pista com muita classe, sem jamais tocar farofa [aliás, já estou há um mês sem ouvir uma só notinha de tribal-bate-cabelo! uhu!!!]. Em Madrid o povo sempre fica passado com ele; em Barcelona não poderia ter sido diferente. Ismael arrasou.
Uau2: sabe aquela noite "ideal" dentro de um clube? Clima gostoso na pista e todo mundo envolvido pela música? A festa foi assim. Astral lá em cima, muita gente linda, o povo interagindo. A equação perfeita (não fosse a pequena ressalva logo abaixo).
Uó: a DBOY é legal. A pista principal tem bom sistema de som e ótima iluminação, com colunas centrais que acendem e teto forrado com néons que piscam e mudam de cor. Mas essa estrutura só proporciona conforto se o clube estiver operando até um certo limite de pessoas. Como tout le monde et son père resolveu se jogar lá, a festa ficou intransitável e bastante quente (e olha que o ar condicionado do lugar era bastante potente). Mas isso não fez com que deixasse de ser uma ótima noite (bastava estar com o espírito preparado).
Nota deste blog: 9,0 com um sorriso no rosto
4) CIRCUIT FESTIVAL MAIN PARTY
Quando: sábado, 9 de agosto de 2008, 23h30-6h
Onde: Pabellón Olímpico de Badalona, Badalona
DJs: Deux (David Penn & Toni Bass) e Peter Rauhofer; live acts de Ultra Naté, Coco Star e Luca G
O que: a festa principal do festival aconteceu dentro de um imenso pavilhão olímpico em um município vizinho. Ao entrar, subir as escadarias e chegar ao alto da arquibancada, a visão que se tinha era algo impactante: milhares de homens descamisados fritavam lá embaixo, na pista montada no centro do ginásio.
Uau1: O som de Peter Rauhofer é perfeito para arenas e espaços com pé-direito bem alto. Numa apresentação compacta (foram duas horas e meia de set), Peter fez o que está acostumado e deu à festa a cara de "main party" de que ela precisava. Se eu não me impressionei mais, foi porque apresentações dele tornaram-se algo bastante corriqueiro na minha vida.
Uau2: a anunciada special appearance do astro pornô François Sagat deixou a pista boquiaberta. Ele e mais dois performers de dotes igualmente descomunais (um deles, fardado) fizeram um pocket-show tão sexy, quente e intenso que Peter Rauhofer simplesmente desapareceu, reduzido a um mero tocador de música ambiente.
Uó1: se à primeira vista a grandeza do pavilhão impressionava, um olhar mais atento mostrava que não havia produção alguma: praticamente alugaram o estádio e jogaram as bichas lá dentro. Tirando o grande telão erguido atrás do DJ, o que se via era uma iluminação bastante modesta para a dimensão do lugar e nenhuma decoração. Os bares funcionavam em esquema precário e ainda tinha o calor, o empurra-empurra... Em outras palavras: a Main Party foi uma máquina de fazer dinheiro fácil. Ou somos nós brasileiros os mal-acostumados a produções caprichadas.
Uó2: totalmente desnecessários os tais live acts. Botar uma cantora fazendo pose de diva e tentando se conectar com o "lado espiritualizado das bichas" é algo anos 90 demais para minha cabeça (pode ser Ultra Naté, Amannda ou quem quer que seja). E aquele mestre-de-cerimônias (?) com roupa branca de garçom (sim, de gravata-borboleta e tudo!) "animando a galera", dizendo "are you reeeaaaady???" e "let's have a good time Barcelonaaaa!!" chegava a ser constrangedor.
Nota deste blog: 8,0 e olhe lá
5) SOUVENIR
Quando: domingo, 10 de agosto de 2008, a partir das 6h
Onde: Souvenir, Viladecans
DJs: Phil Romano (IT), Hector Fonseca (NY), Enrico Arghentini (IT) e Sens Division (FR); Elias (FR) e Nicolas Nucci (FR)
O que: desde sua abertura em 2001, numa ruela afastada no caminho para o aeroporto, o Souvenir é o principal afterhours de Barcelona e um dos melhores de toda a Europa. A pista principal, retangular, é mais ou menos como a da Blue Space (mas mais escura), com uma parede de bolas que mudam de cor no fundo; há uma segunda pista, menor, no subsolo. A clientela costuma ser variada, como nas melhores noites de Ibiza, mas aquele era um fim-de-semana atípico. Com o Circuit Festival, alguns dos homens gays mais bonitos da Europa estavam na cidade - e todos eles saíram da Main Party com um fogo incrível, direto para a Souvenir. Resultado? Bafo, né. O melhor bafo de todos.
Uau1: o clima daquele lugar é indescritível. É uma atmosfera de hedonismo, luxúria, devaneio. É como um universo paralelo que se abre, um Mundo de Marlboro povoado pelos caras mais lindos, mais interessantes, de todas as partes, num clima de total perdição. Lembrei do quanto eu ficava maravilhado nos áureos tempos da X-Demente na Fundição Progresso e me surpreendi por estar vivendo uma sensação parecida oito anos depois, tendo vivido e passado por tanta coisa. Se a X foi a graduação e a The Week foi a pós, o Souvenir é o MBA. Em Harvard.
Uau2: Corpos perfeitos, sozinhos, não movem moinhos. A noite gay do eixo Rio-SP está cheia deles. Para que se crie um clima de magia, é preciso que exista uma música adequada, que ajude a criar e embalar essa viagem. Talvez esteja aí o diferencial da Souvenir. A música estava muito, muito, muito boa. Os DJs mandaram um tech house bem gay, viajante e extremamente sensual. Era difícil não se entregar, não se deixar levar. Quando eu não agüentava o calor e ia tomar uma água no bar da pista 2, que ficava na pista de baixo, me surpreendia com um som igualmente maravilhoso, bem progressivo, acolhedor. Queria tanto que nossos DJs estivessem lá comigo e vissem que é possível agradar aos gays (inclusive as barbies) com outras sonoridades que não o tribal surrado de sempre!
Uó: Apesar de todos esses predicados, temos que lembrar que o Souvenir é um simples after e não um megaclube. Como era de se esperar, a fila na porta foi dramática; lá dentro, até metade da manhã, a pista principal estava um aperto só. Era um tal de abanar os leques do Gaydar e tirar par-ou-ímpar para ver quem ia comprar a próxima água... Porém, se a queixa do calor e da lotação também esteve presente em outras festas, aqui ela foi plenamente recompensada. Não sei como teria sido sem o fluxo de turistas do Circuit Festival, mas, pela experiência que eu tive nesse domingo, posso afirmar que o Souvenir é o melhor after gay em que estive em toda a minha vida.
Nota deste blog: 10,0 com louvor
COMENTÁRIO: Em seu primeiro ano, o Circuit Festival já pegou. O público realmente acreditou na idéia e Barcelona recebeu gente de todos os cantos, inclusive do Brasil. Em termos de estrutura, muitas vezes as nossas festas são melhores (sabemos fazê-las muito bem quando queremos). Mas o Circuit tem seus diferenciais. O maior deles: as pessoas. Sou orgulhoso da minha nacionalidade e não babo ovo para os europeus, mas acho delicioso e enriquecedor poder conhecer homens de tantos outros lugares: holandeses, franceses, israelenses, espanhóis, italianos. Além de muitos serem lindos de verdade, em geral eles são mais liberais, mais bem-resolvidos em relação a uma série de tabus. E bastante receptivos com os brasileiros. É ótimo estar entre eles e aproveitar, com muito ou pouco juízo. E tem também Barcelona, que é um caso à parte, minha cidade preferida na Europa, que eu recomendo para todo mundo. O Circuit Festival não é absolutamente insubstituível, como nenhuma festa o é. Mas, para quem se interessa por esse tipo de jogação e tem a possibilidade de viajar, fica a dica: fiquem de olho no Circuit em 2009.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Um delicioso déjà vu
Sabe aquela capital que é unanimidade quando o assunto é fervo no verao? Aquela cidade para onde todo mundo toma um aviao quando está precisando de um bom fim-de-semana de sol, festa e azaraçao? Onde as pessoas sao mais relaxadas, sorriem mais, andam de bermuda e chinelos o tempo todo e quebram todos os protocolos? Onde corpos dourados flanam para cima e para baixo, olham-se uns aos outros de um jeito maroto e puxam conversa espontaneamente? Onde paira no ar uma irresistível nonchalance que é parte do espírito local? Se voces pensaram na Cidade Maravilhosa, chegaram onde eu queria. Barcelona é o Rio de Janeiro da Europa.
Para completar o déjà vu, a cidade mais vibrante da Espanha está recebendo nao um, mas dois megafestivais gays: o Loveball (de 1 a 7/8) e o Circuit Festival (de 4 a 11/8). Ou seja, quem está em Barcelona agora vive o típico frenesi de um Carnaval carioca, com pencas de festas e eventos rolando ao mesmo tempo. Com seus cartazes espalhados por toda a cidade (o Loveball mostra um fofo imigrante brasileiro chupando um pirulito em forma de coraçao, enquanto o Circuit aposta no astro pornô François Sagat), os dois festivais disputam a atençao, os euros e os neurônios de um exército de bees que veio de todos os cantos do mundo e deixou ainda mais viada uma cidade que já era totalmente gay. Barcelona ovula, e mesmo quem está gastando sua energia com parcimônia (porque sao muitas e intensas as jogaçoes) nao consegue escapar do fervo.
Ontem à noite, por exemplo, troquei uma pool party que iria até 5h da manha por um drink no Hotel Axel, e me surpreendi com o lindo deck do terraço completamente apinhado de bees que entornavam tacinhas e tricotavam ao som de boa house music. No Eixample, bairro adotado pelas culegas de classe, cheio de bares coloridos e lojas multimarcas com os objetos de desejo de toda bee globalizada, é só ir andando e os flyers começam a se acumular na sua mao. Chega uma hora em que é preciso parar a caminhada e fazer uma triagem para processar tanta informaçao.
No entanto, por maior que possa ser a tentaçao de sucumbir ao gueto, Barcelona é rica demais para isso. Fundada pelos cartagenenses e depois ocupada por romanos, visigodos e muçulmanos, a cidade é o resultado do cruzamento de todas essas referências, que se manifestam na incomparável arquitetura, na culinária e na cultura de forma geral. Dos prédios emblemáticos projetados pelo mestre modernista Antoni Gaudí às irresistíveis lojinhas descoladas que se espalham pelas ruelas tortuosas dos bairros que formam a Ciutat Vella (Barri Gòtic, El Raval e Born), há muito o que ver e descobrir. E o melhor: a brincadeira sai pela metade dos preços de Paris, com bons restaurantes que fazem menus do dia com dois pratos, sobremesa, vinho e café a módicos 9 euros. Nem preciso dizer que já providenciei a remarcaçao da minha passagem de volta. Barcelona alucina, enfeitiça, pega você de jeito. Exatamente como o Rio de Janeiro.
Para completar o déjà vu, a cidade mais vibrante da Espanha está recebendo nao um, mas dois megafestivais gays: o Loveball (de 1 a 7/8) e o Circuit Festival (de 4 a 11/8). Ou seja, quem está em Barcelona agora vive o típico frenesi de um Carnaval carioca, com pencas de festas e eventos rolando ao mesmo tempo. Com seus cartazes espalhados por toda a cidade (o Loveball mostra um fofo imigrante brasileiro chupando um pirulito em forma de coraçao, enquanto o Circuit aposta no astro pornô François Sagat), os dois festivais disputam a atençao, os euros e os neurônios de um exército de bees que veio de todos os cantos do mundo e deixou ainda mais viada uma cidade que já era totalmente gay. Barcelona ovula, e mesmo quem está gastando sua energia com parcimônia (porque sao muitas e intensas as jogaçoes) nao consegue escapar do fervo.
Ontem à noite, por exemplo, troquei uma pool party que iria até 5h da manha por um drink no Hotel Axel, e me surpreendi com o lindo deck do terraço completamente apinhado de bees que entornavam tacinhas e tricotavam ao som de boa house music. No Eixample, bairro adotado pelas culegas de classe, cheio de bares coloridos e lojas multimarcas com os objetos de desejo de toda bee globalizada, é só ir andando e os flyers começam a se acumular na sua mao. Chega uma hora em que é preciso parar a caminhada e fazer uma triagem para processar tanta informaçao.
No entanto, por maior que possa ser a tentaçao de sucumbir ao gueto, Barcelona é rica demais para isso. Fundada pelos cartagenenses e depois ocupada por romanos, visigodos e muçulmanos, a cidade é o resultado do cruzamento de todas essas referências, que se manifestam na incomparável arquitetura, na culinária e na cultura de forma geral. Dos prédios emblemáticos projetados pelo mestre modernista Antoni Gaudí às irresistíveis lojinhas descoladas que se espalham pelas ruelas tortuosas dos bairros que formam a Ciutat Vella (Barri Gòtic, El Raval e Born), há muito o que ver e descobrir. E o melhor: a brincadeira sai pela metade dos preços de Paris, com bons restaurantes que fazem menus do dia com dois pratos, sobremesa, vinho e café a módicos 9 euros. Nem preciso dizer que já providenciei a remarcaçao da minha passagem de volta. Barcelona alucina, enfeitiça, pega você de jeito. Exatamente como o Rio de Janeiro.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Comercial de margarina
A vida é cheia de surpresas. E foi numa dessas que ele, em Paris, viveu um inesperado rendez-vous. Um bilhete trocado, um esbarrão, olho no olho. Desculpe, tu t'appelles comment? E eis que num pulo já estavam a quinze estações de metrô dali, entre lençóis, num studio que caberia no banheiro de um conjugado carioca.
Sempre gostou de luxos, sempre apreciou bons vinhos, boa comida. A própria escolha de Paris não fora por acaso, ali sentia-se mais à vontade em meio ao que considerava pessoas mais civilizadas, ainda que menos calorosas do que em sua terra natal. Sua mãe jamais permitiria: ir para a casa de um completo estranho, vai que ele seja violento, desonesto, tenha drogas em casa. Mas ela estava a milhares de léguas dali, provavelmente preparando mais uma torta de maçã. Ali ele era dono de si, dono de seu nariz, de seu bolso, de seu rabo, de seu mundo. Dono de tudo.
E nem tchuns para algum alerta que viesse de seu superego: se o outro fosse bandido, ele realizaria sua fantasia secreta de ser raptado. Mas o rapaz o tratou com tanto carinho e tanto cuidado que, por alguns instantes, ele voltou a acreditar na bondade das pessoas. Um namorado? Talvez em outro momento, outra conjuntura, outro passaporte. Ali, ele sabia muito bem separar as coisas. Guardou a cueca usada dele no bolso. Precisava ir, Paris continuava lá fora, à sua espera.
Eis que um milagre surgiu diante de seus olhos. Tudo parecia mais bonito, mais vivaz, mais colorido. Os gatos sorriam, até os carudos parisienses sorriam, Montmartre de repente era adorável. E então entendeu que clichês podem ser piegas, mas Paris é mesmo a cidade dos apaixonados. Ra tara tara.
Continuou andando sem rumo, por horas sous le ciel bleu, o coração palpitando, e, quando deu por si, já estava flanando pelo Jardim das Tulherias. O cheiro de sexo ainda estava no seu corpo. O cheiro daquele adorável desconhecido, estrangeiro como ele.
Foi fiel ao seu sentimento, procurou novamente o mec. Acabaram se encontrando outras duas vezes. No final, ele até chorou na despedida, ao som de La Vie En Rose. E deixou ali um pedacinho de si. Não importava. A vida é feita de pequenas mortes e renascimentos, e naquele momento ele sabia que tinha acabado de renascer.
Sempre gostou de luxos, sempre apreciou bons vinhos, boa comida. A própria escolha de Paris não fora por acaso, ali sentia-se mais à vontade em meio ao que considerava pessoas mais civilizadas, ainda que menos calorosas do que em sua terra natal. Sua mãe jamais permitiria: ir para a casa de um completo estranho, vai que ele seja violento, desonesto, tenha drogas em casa. Mas ela estava a milhares de léguas dali, provavelmente preparando mais uma torta de maçã. Ali ele era dono de si, dono de seu nariz, de seu bolso, de seu rabo, de seu mundo. Dono de tudo.
E nem tchuns para algum alerta que viesse de seu superego: se o outro fosse bandido, ele realizaria sua fantasia secreta de ser raptado. Mas o rapaz o tratou com tanto carinho e tanto cuidado que, por alguns instantes, ele voltou a acreditar na bondade das pessoas. Um namorado? Talvez em outro momento, outra conjuntura, outro passaporte. Ali, ele sabia muito bem separar as coisas. Guardou a cueca usada dele no bolso. Precisava ir, Paris continuava lá fora, à sua espera.
Eis que um milagre surgiu diante de seus olhos. Tudo parecia mais bonito, mais vivaz, mais colorido. Os gatos sorriam, até os carudos parisienses sorriam, Montmartre de repente era adorável. E então entendeu que clichês podem ser piegas, mas Paris é mesmo a cidade dos apaixonados. Ra tara tara.
Continuou andando sem rumo, por horas sous le ciel bleu, o coração palpitando, e, quando deu por si, já estava flanando pelo Jardim das Tulherias. O cheiro de sexo ainda estava no seu corpo. O cheiro daquele adorável desconhecido, estrangeiro como ele.
Foi fiel ao seu sentimento, procurou novamente o mec. Acabaram se encontrando outras duas vezes. No final, ele até chorou na despedida, ao som de La Vie En Rose. E deixou ali um pedacinho de si. Não importava. A vida é feita de pequenas mortes e renascimentos, e naquele momento ele sabia que tinha acabado de renascer.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Pit stop estrategico
Uma praca, uma ponte e um castelo. Depois de duas grandes capitais cheias de atracoes, agitos e antros, tudo o que eu precisava era de um pouco de simplicidade. Uma cidade onde eu pudesse dar uma desacelerada, sem ter medo de perder o melhor da festa. Soh assim eu conseguiria recarregar as energias para o destino seguinte, que promete ser o mais babadeiro de todo o meu circuito europeu.
Foi pensando nisso que escolhi passar quatro noites em Praga. Verdadeira joia as margens do rio Vlatva, a capital da Republica Tcheca foi considerada, por muito tempo, a Paris do Leste Europeu. De fato, a cidade parece um presepio. Na tal praca, com uma grande catedral e um chafariz central rodeado por construcoes coloridas de varios estilos arquitetonicos, a grande atracao eh o Orloj, o relogio astronomico instalado na torre da prefeitura. A cada hora cheia, figuras representando os doze apostolos e os sete pecados capitais saem por uma portinhola e entram por outra, num pequeno show mecanico que arranca ah!s e oh!s da multidao com cameras na mao.
Atravessando-se a tal ponte sobre o rio, chega-se ao castelo. Mas nao eh qualquer ponte, nem qualquer castelo. O castelo eh uma verdadeira citadela medieval que abriga 27 construcoes. E a Ponte Carlos eh considerada uma das mais bonitas da Europa. Seus mais de 500 metros, destinados apenas a pedestres, sao rodeados por lindas estatuas, cujas silhuetas ficam ainda mais belas contra o sol que se poe. Eh quando a muvuca de turistas e artistas de rua dah uma necessaria diminuida (as doze horas de um dia de verao, voce se sente na 25 de Marco andando por ali) e voce pode ver como a cidade pode ser melancolica, enquanto um velhinho de olhos muito claros sauda os ultimos raios de luz com seu violino.
Embora sua beleza sempre tivesse sido reconhecida, Praga foi um destino bem "alternativo" enquanto o pais, alinhado ao antigo bloco sovietico, esteve fechado para o capitalismo. Com a abertura da economia, o turismo disparou, mas os tchecos levaram um tempo para se acostumar a receber tantos visitantes. Muitos estudantes estrangeiros vieram para cah ganhar uns trocados dando aulas de ingles para a populacao local; mesmo assim, ainda hoje, os nativos parecem ter uma notoria ma-vontade com os turistas (invasores?) e as vezes pode levar muito tempo ateh voce resolver questoes praticas banais, como a compra e o uso de um cartao telefonico pre-pago.
Apesar disso, a vida aqui eh bastante gostosa. Basta evitar as grandes aglomeracoes (eu, que estou viajando ha duas semanas, comeco a ficar cansado facilmente e jah nao tenho mais a mesma paciencia). Tudo estah perto o suficiente para ser feito a pe, sem se cansar. Nem mapa eh preciso usar: as ruas sao todas tortas, mas perder-se por elas faz parte do passeio, e invariavelmente logo se chega onde se quer: na praca, na ponte ou no castelo. Isso apos ter descoberto simpaticas lojinhas e tavernas pelo caminho.
Esse aspecto compacto de Praga faz com que a cidade seja ideal para periodos curtos, combinados com outras capitais (um pacote tradicionalmente oferecido no Brasil alia a capital tcheca a Viena e Budapeste, em um total de onze dias, jah incluindo os traslados). Nos primeiros anos da abertura, as ruas foram tomadas por jovens europeus de outras partes; hoje, a faixa etaria dos turistas subiu e o publico ficou mais "familia", enquanto os viajantes mais novos passaram a invadir outros paises do antigo Leste Europeu (definitivamente, o hype deste verao para quem jah "veio, viu e venceu" em Ibiza e Mykonos eh se jogar em lugares como Croacia, Servia e Eslovenia).
Claro que ainda dah para se entreter por aqui. Aventurando-se para fora do burburinho turistico da Cidade Velha, Praga tem sua cota de compras e fervos, com cafes badaladinhos e clubes gays - o Valentino, com varios ambientes que bombam aos sabados, pode ser considerado a The Week local (nao reclamem da comparacao; pior foi ter ouvido dentro do Louvre em Paris que aquilo era "a The Week dos museus"). Alem disso, os jovens tchecos sao de fato muito bonitos - quem conhece as producoes eroticas da Bel Ami sabe bem do que eu estou falando. Mas estou preferindo me resguardar um pouco, jah que Barcelona, minha proxima e ultima parada nesse giro, sera bastante intensa. Provavelmente, vou precisar de ferias das ferias quando chegar.
Foi pensando nisso que escolhi passar quatro noites em Praga. Verdadeira joia as margens do rio Vlatva, a capital da Republica Tcheca foi considerada, por muito tempo, a Paris do Leste Europeu. De fato, a cidade parece um presepio. Na tal praca, com uma grande catedral e um chafariz central rodeado por construcoes coloridas de varios estilos arquitetonicos, a grande atracao eh o Orloj, o relogio astronomico instalado na torre da prefeitura. A cada hora cheia, figuras representando os doze apostolos e os sete pecados capitais saem por uma portinhola e entram por outra, num pequeno show mecanico que arranca ah!s e oh!s da multidao com cameras na mao.
Atravessando-se a tal ponte sobre o rio, chega-se ao castelo. Mas nao eh qualquer ponte, nem qualquer castelo. O castelo eh uma verdadeira citadela medieval que abriga 27 construcoes. E a Ponte Carlos eh considerada uma das mais bonitas da Europa. Seus mais de 500 metros, destinados apenas a pedestres, sao rodeados por lindas estatuas, cujas silhuetas ficam ainda mais belas contra o sol que se poe. Eh quando a muvuca de turistas e artistas de rua dah uma necessaria diminuida (as doze horas de um dia de verao, voce se sente na 25 de Marco andando por ali) e voce pode ver como a cidade pode ser melancolica, enquanto um velhinho de olhos muito claros sauda os ultimos raios de luz com seu violino.
Embora sua beleza sempre tivesse sido reconhecida, Praga foi um destino bem "alternativo" enquanto o pais, alinhado ao antigo bloco sovietico, esteve fechado para o capitalismo. Com a abertura da economia, o turismo disparou, mas os tchecos levaram um tempo para se acostumar a receber tantos visitantes. Muitos estudantes estrangeiros vieram para cah ganhar uns trocados dando aulas de ingles para a populacao local; mesmo assim, ainda hoje, os nativos parecem ter uma notoria ma-vontade com os turistas (invasores?) e as vezes pode levar muito tempo ateh voce resolver questoes praticas banais, como a compra e o uso de um cartao telefonico pre-pago.
Apesar disso, a vida aqui eh bastante gostosa. Basta evitar as grandes aglomeracoes (eu, que estou viajando ha duas semanas, comeco a ficar cansado facilmente e jah nao tenho mais a mesma paciencia). Tudo estah perto o suficiente para ser feito a pe, sem se cansar. Nem mapa eh preciso usar: as ruas sao todas tortas, mas perder-se por elas faz parte do passeio, e invariavelmente logo se chega onde se quer: na praca, na ponte ou no castelo. Isso apos ter descoberto simpaticas lojinhas e tavernas pelo caminho.
Esse aspecto compacto de Praga faz com que a cidade seja ideal para periodos curtos, combinados com outras capitais (um pacote tradicionalmente oferecido no Brasil alia a capital tcheca a Viena e Budapeste, em um total de onze dias, jah incluindo os traslados). Nos primeiros anos da abertura, as ruas foram tomadas por jovens europeus de outras partes; hoje, a faixa etaria dos turistas subiu e o publico ficou mais "familia", enquanto os viajantes mais novos passaram a invadir outros paises do antigo Leste Europeu (definitivamente, o hype deste verao para quem jah "veio, viu e venceu" em Ibiza e Mykonos eh se jogar em lugares como Croacia, Servia e Eslovenia).
Claro que ainda dah para se entreter por aqui. Aventurando-se para fora do burburinho turistico da Cidade Velha, Praga tem sua cota de compras e fervos, com cafes badaladinhos e clubes gays - o Valentino, com varios ambientes que bombam aos sabados, pode ser considerado a The Week local (nao reclamem da comparacao; pior foi ter ouvido dentro do Louvre em Paris que aquilo era "a The Week dos museus"). Alem disso, os jovens tchecos sao de fato muito bonitos - quem conhece as producoes eroticas da Bel Ami sabe bem do que eu estou falando. Mas estou preferindo me resguardar um pouco, jah que Barcelona, minha proxima e ultima parada nesse giro, sera bastante intensa. Provavelmente, vou precisar de ferias das ferias quando chegar.
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