sábado, 12 de abril de 2008

Bem ou mal, é o que tem pra hoje

Um dos assuntos do momento na blogosfera é o "casamento gay" que teve sua cerimônia transmitida pela Rede TV, na noite do dia 10. O tom geral dos comentários foi bastante negativo: a palavra "cafona" foi a mais empregada. Gui lembrou que essa não foi a primeira cerimônia de união gay do Brasil (muito menos pode ser chamada de "casamento") e arrematou: "é muita vontade da bicha de querer aparecer". Marcos foi além: "fiquei imaginando o pobre coitado do gay enrustido vendo aquilo ao lado de seus pais e tendo que vê-los com aquela cara de reprovação, ora sacaneando, ora lamentando e aí aquele comentário: 'onde vai parar esse mundo!'". Classificou o episódio de "uma grande palhaçada nacional", "cenas monstruosas" que "mancharam um pouco a nossa bandeira".

Bem, mesmo sem ter visto o programa eu tenho certeza de que a Rede TV fez do casamento mais uma atração do seu zoológico de aberrações televisivas, sem nenhuma intenção "edificante" ou "cidadã" (e, se bobear, com direito ao costumeiro "humor heterossexual de mau gosto" a tiracolo). Aposto que a apresentadora Luciana Gimenez e seus ilustres convidados não foram capazes de acrescentar ao quadro nada de útil ou que lhe pudesse dar um significado mais profundo. E, pelo pouco que li, os detalhes da cerimônia também desagradaram meu gosto pessoal - apesar de achar que eles arrasaram ao escolher San Francisco para a lua-de-mel (uma das cidades que eu mais gostei de conhecer até hoje, e para onde pretendo voltar num futuro não muito distante).

No entanto, embora eu concorde que a exibição de referências gays mais "extravagantes" pela mídia acaba dificultando o trabalho de assimilação dos homossexuais pela sociedade (que, sabemos bem, tende a jogar tudo dentro do mesmo caldeirão), não posso deixar de ver o outro lado. As "bichinhas querendo ser celebridade" (para usar as palavras do Marcos) aparecem na mídia porque o grotesco dá ibope, mas também porque são as únicas que se prontificam a assumir o ônus da exposição pública. Por vontade de brilhar, por não terem nada a perder - ou porque realmente têm orgulho do que são (não orgulho de fazer bagunça na Semana da Parada) e conseguem manter a cabeça erguida.

Enquanto isso, gays "honrados", "sérios", "insuspeitos", "viris" e que dariam "melhores exemplos ao País" reclamam confortavelmente sentados em suas poltronas; condenam a iniciativa de quem "só queima o filme da classe", mas não topam pagar o pato e carregar o fardo de emprestar sua própria imagem para pleitear uma maior aceitação da sociedade. Se esses dois se amam de verdade ou querem apenas aparecer (será mesmo?), não me cabe julgar. Agora, se realmente existem na vida real vários exemplos de "dois caras masculinos se casando", como lembra o Marcos, quantos deles dariam a cara a tapa e aceitariam se expor em rede nacional, para mostrar às famílias leigas, que vivem as trevas da intolerância, que os gays são pessoas "normais" (?) como todas as outras? Eu não conheço nenhum, vocês conhecem? Falar é muito fácil.

19 comentários:

Dan disse...

Dica recebida e atendida.
Obrigado. :-)
Valeu por aparecer lá. Ah, você tem parcela de "culpa", sabia?
Bju do Dan

Moacir disse...

Thiago, meu caro, eu penso a MESMA coisa. Cafona ou não, bichinha ou não, esses dois foram corajosos, do jeito deles, e de um jeito que poucos seriam e eu os agradeço, de verdade, por isso.

É sempre um início e uma forma de ir abrindo os caminhos. Eu, de fato, não teria essa coragem (ou vontade).

Beijo.

Ronaldo Souza disse...

Pois é, concordo com o Moacir. Pode ter sido um espetáculo midiático ou uma forma de extravasar um sentimento puro de amor, não sei. Mas, para o bem ou para o mal aconteceu e, como diriam no meu tempo, "virou manchete". Agora é ver - ou não! - o dia-a-dia da relação, pois o pior de tudo seria uma versão gay de um casamento de "celebridades" arranjado.

Celso Dossi disse...

E o melhor de tudo: o Felipe era do "Qual é a Música?", substituto do Pablo.
Sempre se virava com uma borboleta na bochecha e arrasando no "Meu Mel". HAHAHAHAHAAHAHAHHAAHAH

Clebs disse...

É igual aquele paradoxo político. O país está uma bosta, mas o senhor poltrona não vota direito e não faz nada para mudar e só reclama.

Mesma coisa...Se as "bichinhas" se expoem na tv, de um lado mancha a bandeira e colaboram para que a imagem do gay seja um personagem esteriotipado do "Zorra Total", por outro lado, são eles que matem a chama da homosexualidade em evidência, não deixando que a questão seja esquecida (ou apenas lembrada em Paradas Gays), quiçá marginalizada.

Foi cafona? Foi. Foi algo de muita coragem? Foi.

Repito aqui o que Tony disse no blog dele " Eu admiro pessoas que não tem medo de expor-se ao ridículo". Mais um caso...

Next...

MM disse...

Boa argumentação. Faltou falar que a indignação da "classe" deixa claro o alto grau de preconceito que rola na comunidade. Não falo do preconceito contra a bichinha afetada, mas do preconceito da classe média (sempre tosca e arrogante em sua mediocridade) contra quem ela julga "pobre" e "não branco". Esse preconceito parece ser carregado pela vida a fora mesmo entre quem se julga superior devido exclusivamente ao exercício não ortodoxo de sua sexualidade. Enfim, um grande mal entendido que, acredito, vai demorar muito pra ser resolvido. Pois, quando a base do pensamento é conservadora, não tem estilo de vida alternativo que mude isso. Agora, não considero que eles sejam ridículos ou estejam dando o primeiro passo rumo à nova ordem das coisas (menos, please!). Tá mais pra comicidade involuntária do que qualquer outra coisa. E, mais, que falta de assunto, não?

Jack disse...

Brilhante. A melhor coisa desse casamento foi seu texto.
;-)

Vítor disse...

É inegável que o casamento foi a coisa mais cafona e tosca do mundo, mas até aí morreu Neves.

Eu não lembro de um casamento que não tenha sido. Essa coisa de vestido branco que parece coberto por glacê de bolo é a materialização do mau gosto. Igreja é uma coisa bem cafona também, né?

Como eu já li por aí, casamento é uma instituição tão falida, que só mesmo padres e bichas ainda querem casar. Que venha o casamento do Padre Marcelo Rossi!

Quanto à suposta exposição dos noivos ao ridículo, não acho que isso me prejudique ou prejudique a "causa gay", sinceramente. E nem tô preocupado o que vão pensar dos gays a partir disso. Até porque as pessoas já desconhecem o universo gay mesmo. E, convenhamos, entre acharem que bicha gosta só de fazer suruba e acharem que bicha gosta de casamento cafona, fico com a segunda opção, que aliás é bem fachada heterossexual.

Essa coisa de achar que isso fere a imagem dos gays é típica de viado que dá pinta horrores e escreve em site de pegação que não é e nem "curte" (aff!) pintosas. Tá bom...

Bjs!

OBS: Agora, sobre o casamento em si, só digo uma coisa: MEDO. :D

Alexandre Lucas disse...

Mesmo concordando com o Marcos Carioca de que foi cafona, adorei seu texto acima de tudo acho que eles têm o direito de se expor e fazer cerimônia extravagante como qualquer outro de tantos casamentos que vemos na mídia.

luka disse...

Não acho que tenham que achar os gays lindos. A questão que deve ser discutida é o direito do cidadão. Pode ser ate atentado ao bom gosto mas eles tem o direito, não interessa se gostem ou não. Nem obrigação de melhorar imagem de comunidade eles tem.
O preconceito contra eles, por parte dos gays, é do mesmo nivel do preconceito do resto da população, sejam machões, católicos ,evangélicos...
Vamos combinar,, a comunidade gay é preconceituosa e fútil demais. Se não for alto, lindo, louro malhado, de voz grossa e europeu não pode se manifestar porque prejudica a imagem dos gays. O restante tem que ficar no porão.
Praticamente suplica-se para que a população veja nos gays pessoas lindas, inteligentes, bondosas,etc. Ridiculo. O que todos tem que saber é que os gays são 10% de uma população, que pagam impostos, tem poder politico e legal de viver sua vida sem que ninguém se ache no direito de controlá-la. Seja bichinha, urso, barbie, tia velha, drag, transex,sapata. Os gays por sua vez tem que viver sua vida sem dar explicações a ninguem, pois ninguem tem nada a ver com isso a não ser ele mesmo.
O preconceito é natural do ser humano de pouca inteligência. Não vai acabar. O que pode mudar é o comportamento dos gays vivendo alheios a esse tipo de burrice.

Anonymous disse...

Arrasou no comentário. Parabéns.

Paulo disse...

Sua análise foi perfeita! Principalmente no último parágrafo.

Já o Marcos foi muito infeliz, extremamente preconceituoso. Eu quero mais é que os homossexuais enrustidos se dane! Eles não agregam nada à nossa luta. No fim, são as "bichinhas" que fazem a diferença.

Ricardo disse...

De fato o "casamento gay" é uma necessidade legal para aqueles que conseguem segurar uma relação por algum tempo sendo bichinhas ou pitbichas, isto não importa. Dai se eles tiveram a coragem de colocar a cara a tapa em rede nacional, meus Parabéns .... porque o movimento precisa de mais casais como eles. Afinal, alguém tem que aparecer para mostrar que isto é possível e existe, assim como a adoção por casais gays já discutida neste programa da Luciana. Agora se os gays machões tão mais a fim de ficar desfilando sem camisa na buatchi, deixa as bichinhas curtirem o seu momento, e deixa o veneno (preconceito) de lado.

Rodrigo disse...

viu? tu arrasa colega!
ninguem poderia ter escrito melhor.
bjo e boa semana!
;)

Leo Lazzini disse...

gente, mas que orgulho desse meu amigo!! lindo.

bem, seguinte... eu achei tudo muito barango na verdade. eu sou uma pessoa bem discreta e quando eu num sou eu to me escondendo atras de um blog. o que rola de fato vc comentou no inicio do post: eh redetv e mesmo sem vc ter visto vc ja sabe que tudo foi uma grande pagaçao. esse cara eh brega, o casamento foi brega e transmitir isso na tv eh brega (da mesma forma q a sacha nascer no jornal nacional tb eh brega).

acontece eh que existem os bregas e, meu amigo, eles estao entre nos!!! eu assisti aquela baranguice toda e achei um maximo. posso nao concordar/gostar/"aprovar" (whatever) mas defendo ate a morte o seu direito de gostar/concordar/dizer.

alias, tem coisa mais brega do que usar "whatever'no meio de uma frase?!

;)

Gui disse...

Bom, o meu post passou mais do que uma simples frase. Como disse lá no inicio, nao tenho absolutamente nada contra o fato deles quererem se casar, seja ou nao em publico, com pastor ou pai-de-santo. Muito menos contra o fato deles serem pintosas ou não, cada um faz o que acha mais bonito e elegante, ja disse.

Só acho que 1000 convidados, cobertura ao vivo e mesa-redonda na Gimenez é super-exposiçao. E disso eu nao gosto. Deixou de ser um casamento ou algo que lute pela visibilidade do movimento pra ser um circo.

Eu, por exemplo, vou a Parada ha alguns anos. E existe uma linha tenue entre a Parada e toda aquela sua festa (se brasileiro gosta de festa, imagina bicha brasileira - impossivel nao ser daquele jeito) e o momento em que um gogoboy põe o pinto pra fora em cima de um carro.

Nào pode, perde o sentido, assim como convidar a Alessandra Scattena pra falar de "homossexualismo" (o que essa senhorita entende do movimento gay, pelamor?) perde o sentido da luta por qualquer um de nossos direitos. Que ela fosse convidada da festa, tô nem aí, mas dar depoimento a favor do "amor gay" é um pouco além da conta, né?

Que tivessem convidados 1000 ativistas, gays, familiares e pessoas mais interessantes. Ou apenas 10 pessoas realmente importantes pra ambos. Mas o conjunto de fatores foi além do que deveria.

E diante de tantas coisas, esse casamento se igualou àquele da Galisteu com o Justus: apenas mídia, flash, celebridades e capa de revista.

Por fim, na minha opinião, não dá pra achar tudo o que gay faz bonito só pq somos gays. E isso não é preconceito.

poor guy fashion victim disse...

Muito bo texto. Genial. Tocou muito bem a homofobia internalizada dos gay.

Anonymous disse...

Eu acredito que o preconceito do gay para ele mesmo é algo inevitável, adimirei a coragem dos dois de expor seu sentimento da forma que eles acharam conveniente, também não acho justo as pessoas ficarem querendo pregar alguém na cruz. Será que seria mais aceitavel um dos dois vestir-se de noiva e o outro de terno rosa, com aquele bolo enorme branco de marmóre com um casal de pombinhos acima?
O que pessoal não entende que este casamento foi feito na crença deles que é o candomble, sendo assim teve pai de santo sim e tudo aquilo tem um fundamento religioso para eles, agora cabe a nós respeitar e desejar felicidades aos dois.
Pessoal tem coisas que é para quem pode e não para quem quer, viu Carioca, temos que respeitar o gosto de cada um se foi brega ou não foi um ato de coragem.
Parabéns aos noivos que sejam felizes.

Ed

Alberto Pereira Jr. disse...

realmente não conheço casal "respeitável" que daria acara a tapa.. mas tb isso não justifica o carnval que foi o casamento...

mas memso assim espero que sejam felizes