terça-feira, 14 de agosto de 2007

O sobe-e-desce de Recife

Quando o assunto é viajar para o Nordeste, quantos de vocês pensam em Recife? Vários outros lugares vêm à nossa cabeça primeiro. Parte disso se deve ao próprio descaso do governo pernambucano com a promoção do turismo no Estado, e mais ainda na capital. Enquanto Bahia e Ceará souberam vender seu peixe e hoje riem sozinhos com o dinheiro dos visitantes, Pernambuco vê seu turismo ficar cada vez mais restrito à vila de Porto de Galinhas (Fernando de Noronha é um caso à parte) e não faz nada. Mas a capital pernambucana também tem seus atrativos. Sem falar que a proximidade com a charmosa Olinda (e a "usurpadora" Porto de Galinhas, claro) faz de Recife um destino turístico bastante completo. Afinal, você leva história, vida urbana, cultura, gastronomia e praias paradisíacas no mesmo pacote. Eu embarquei nessa viagem em fevereiro e deixo aqui algumas impressões.

UAU:

1) PORTO DE GALINHAS. Quem visita esse lugar, logo entende porque ele ofuscou rapidamente todos os outros pontos turísticos do Estado e tornou-se um dos destinos de praia mais cobiçados do Brasil. O mar, todo transparente em tons de azul e turquesa, é realmente lindo e você nada com os peixes nas piscinas naturais. Poucos lugares são tão versáteis e polivalentes: Porto é boa para famílias com crianças (que contam com praias de águas calminhas e ótimos resorts), para casais (que podem ir a praias mais sossegadas e jantar à luz de velas) e para a moçada (que cai na azaração surfista de Maracaípe, a Maresias pernambucana). Além disso, a vila já tem confortos desejáveis (bons restaurantes como o sensacional Beijupirá, Gelateria Parmalat, lojinhas tipo Chilli Beans e Blue Man) sem ter virado uma Porto Seguro ou Guarujá. Com essa fórmula de sucesso, Porto de Galinhas é campeã.

2) OFICINA DO SABOR. Nesse concorrido restaurante que foi a sensação gastronômica da minha viagem a Pernambuco, camarões graúdos e suculentos e peixes macios são preparados em saborosos cremes de maracujá, manga, coco ou gengibre e servidos à mesa dentro de uma abóbora gigante, o jerimum. É de comer de joelhos, de tão bom. Tudo isso num ambiente pra lá de agradável, especialmente nas mesas da varanda, com vista panorâmica de Olinda e Recife. Para completar seu dia perfeito em Olinda, suba as ladeiras cheias de casinhas coloniais coloridas, coma uma tapioca no Alto da Sé e espere pelo melhor pôr-do-sol da cidade.

3) THERMAS BOA VISTA. Eu não colocaria uma sauna gay com tanto destaque no meu roteiro se ela não fosse realmente incrível. Mas a TBV consegue surpreender mesmo os usuários mais exigentes. Primeiro, porque ela tem uma estrutura faraônica e irretocável, que eu só consigo imaginar em alguns poucos países de Primeiro Mundo. Segundo, porque sua limpeza, sua ampla gama de opções de lazer e seu bom astral quebram todos os estigmas negativos normalmente associados a casas do gênero (ela é praticamente um clube social, um verdadeiro complexo de entretenimento gay). E terceiro, porque ela tem uma freqüência ótima, que é o que mais importa no final. Esqueçam tudo o que vocês já viram antes - e depois, voltem para as outras saunas, se puderem. Mais detalhes, eu conto neste post.

4) CREPERIA ANJO SOLTO. Situada num gostoso pátio nos fundos da Galeria Joanna D'Arc (que nasceu com pretensões de Galeria Ouro Fino, mas depois foi perdendo seus pontos descolados), a Anjo Solto é o melhor lugar para saber qual é a boa da noite, tomar os primeiros tragos e, claro paquerar. A confluência de gente bonita de várias tribos, o serviço atencioso, as caipiroskas equilibradas e os crepes pra lá de criativos fazem de lá um dos melhores programas noturnos de Recife. Sabe quando você pergunta "onde as bonitas se esconderam?". Se não achá-las lá mesmo, ao menos você descobrirá a resposta.

5) O CIRCUITO CAFUÇU. Sabe aquela beleza masculina bem brasileira, com pele morena, corpo bem-feito, mãos viris e feições rústicas? Se teu negócio é cafuçu, Salvador está ligeiramente melhor, mas foi em Recife que o termo nasceu (e a Lindinalva só começou a usá-lo depois que eu voltei de Recife com os meus relatos!). O bafão rola mesmo é no domingo. Comece no Ponto G - que não é sex shop como em São Paulo, mas sim um "pagode de família", com bandas ao vivo, muita cerveja e corpos dourados, descamisados e cheios de amor pra dar. E, se você não sair de lá casado, vá conhecer a verdadeira emoção da noite recifense: o excitante, impagável, maravilhoso MKB ("Meu Kaso Bar"), uma mistura de Danger (SP), bordel de Tieta e quermesse de Caruaru, onde tudo pode acontecer (e acontece mesmo! é ba-ba-do). House-pancadão na pistona preta, hilárias músicas de corno no salão brega, shows na área externa, sexo hardcore no quarto escuro... e as figuras mais improváveis, desde a bichinha de blusa tomara-que-caia, rosa na cabeça e leque espanhol até o estivador rude, malvado e saradíssimo que abre garrafa com o dente e traça qualquer coisa com curvas. Ui!

6) O TAPETE VERMELHO AOS PAULISTANOS. Os cariocas nos esculacham, os baianos nos olham com pena porque não sabemos descansar, os gaúchos juram que são mais evoluídos que nós - e o povo dos outros Estados simplesmente nos despreza, porque acredita que paulistano é "tudo metido mesmo". Mas em Recife você terá, finalmente, o bom tratamento que merece. O recifense adoooora o paulistano e, mais ainda, é íntimo-de-oliveira de São Paulo. Vive vindo pra cá, conhece tudo daqui, ama a cidade de paixão - e vive igualzinho a gente (ande pela Agamenon de Magalhães e tente não se sentir em SP). Enquanto o resto do Brasil só idolatra o Rio de Janeiro, é bom saber que tem alguém que também gosta da gente.

:

1) O CALOR SENEGALÊS. É claro que faz calor em Recife (se eu quisesse passar frio, escolheria Gramado). Mas tem alguma coisa muito errada com o clima de lá, e até os nativos estão se queixando. O sol é insuportável - e não só aquele famoso sol do meio-dia, não. Como bom habitué das areias de Ipanema, você estica sua canga na praia, deita - e, em cinco minutos, a sua canga começa a queimar você. Sim, eu disse queimar. O jeito é passar o dia encolhido embaixo de um guarda-sol, enquando camelôs cruzam a sua frente com aqueles carrinhos de CD pirata do Largo 13/Uruguaiana tocando no último volume o que há de pior no gosto popular. Mas não se queixe: eles estão apenas "alegrando" a praia.

2) O ACAIACA. Assim como Copacabana e Ipanema, a extensa praia urbana de Boa Viagem, a principal da cidade, também tem sua divisão territorial por tribos. E o beautiful people de Recife fica todo em frente ao Edifício Acaiaca, prédio modernista dos anos 50 inconfundível em meio aos seus vizinhos com cara de Moema. Falaram tanto do Acaiaca, que eu cheguei sedento para ver um mar de beldades de sotaque arrastado. Mas vi só o sotaque arrastado - o tal "Posto 9 de Recife" deixa muito a desejar em termos de beleza humana. Eu, que tinha visto tanto pernambucano bonito no eixo Rio-SP, concluí que os melhores migraram pra lá mesmo. Ou foram ganhar a vida na Europa...

3) METRÓPOLE, "A MELHOR BOATE DO NORDESTE". Repito o que eu disse no post sobre Salvador: não se trata de esperar o nível de São Paulo. O segredo é aprender a apreciar a graça e a riqueza de cada lugar. Mesmo assim, a Metrópole, principal boate gay da cidade, decepciona. Especialmente porque tem a pretensão de ser uma boate legal, com muitos ambientes e tal. Mas a decoração é simplesmente cafona (excesso de pretensão?), o som não é sequer divertido e o público... só aquelas poc-poc bem novinhas e suas amigas fag hags (as rachas que acham suuuuper moderno ferver em boate gay). A Off de Salvador dá de dez. Em Recife, melhor ir dançar boa música eletrônica com os héteros na Nox e deixar a pegação para o circuito cafuçu ou a TBV (vide acima), onde pelo menos tem homem de verdade.

4) O LADO RUIM DE SÃO PAULO. Como bons alunos aplicados que são, os recifenses assimilaram o modo de vida paulistano nos mínimos detalhes - incluindo, infelizmente, os problemas que vieram no pacote. Chama a atenção, em especial, a falta de segurança, que coloca Recife na liderança do ranking de capitais mais violentas do País. E não é folclore não: eu mesmo quase fui assaltado - e olha que não estava na periferia atrás de algum cafuçu, mas sim flanando pelas imediações da Rua do Bom Jesus, coração turístico do Recife Antigo. Tudo bem que Salvador também é trash nesse aspecto, São Paulo e Rio nem se fala... mas Recife consegue passar uma sensação pior. Quem viu o fatídico show aberto de Ivete Sangalo em Boa Viagem ser transformado em um arrastão coletivo sabe bem do que eu estou falando.

5) BRENNANDS DE TÁXI. Os dois centros culturais mais importantes de Recife são a Oficina Cerâmica Francisco Brennand (onde o artista Francisco expõe suas impressionantes criações em cerâmica) e o Instituto Ricardo Brennand (um castelo onde o colecionador Ricardo expõe relíquias medievais como armas e tapetes). Se essas atrações não chegam a ser o motivo de sua viagem a Recife, elas podem salvar a pátria quando o dia não der praia. O problema é que os dois museus estão tão longe, mas tão longe de tudo, que só o que você gastará de táxi para ir e voltar já seria suficiente para você levar seu amor para jantar em SP com tudo o que tem direito - e pagar a conta sozinho. Isso faz o passeio deixar de valer a pena.

6) OS ATAQUES DE TUBARÕES. Não dava pra deixar isso de fora: as praias de Recife são alvo de ataque de tubarões. Mas não foi sempre assim: o problema começou depois que o governo pernambucano, para construir um porto, destruiu os manguezais onde esses peixes tinham seus filhotes e se alimentavam, no sul do Estado. A solução encontrada pelos fofuchos foi migrar para Recife e dar pinta em Boa Viagem, onde a água é quente e rica em tira-gostos (com duas pernas e dois braços, mas alguns são até bem carnudinhos). Assim, os banhistas têm que enxergar na maré baixa onde estão os rochedos (os tais arrecifes, que funcionam como barreira) ou então molhar os pés só até o joelho. Mas lembra do calor senegalês?

[Foto: Boa Viagem, principal praia e epicentro do turismo em Recife]

17 comentários:

Gui disse...

Quem adorava usar cafuçu eram as Las Bibas from Vizcaya, que sao de Recife e adoram SP...rs

A MKB é ta famosa quanto a LB e a TW, mesmo sendo uma grande bagaceira.

Fiquei curioso pra conhecer a cidade.

TONY GOES disse...

Íntimo-de-oliveira! Poc poc! Eu disse queimar! Seu texto está ficando mais leve e engraçado. Adooooro.

Estive em Recife só duas vezes. Na primeira tinha 19 anos e ainda achava que era hétero. Na segunda tinha 36, mas fui a trabalho durante a semana. Preciso voltar antes dos 65....

beijomeliga

Alexandre Lucas disse...

Também racho de rir ouvindo as Las Bibas falando de cafuçus :) e também fiquei curioso para conhecer a cidade.

Realmente os posts aqui estão ficando bem mais divertidos conforme nosso Introspective passa a soltar-se mais e a dar mais pinta hehehe.

Parabéns pelo post. ADOREI!

Só para finalizar: pernambucano bonito, para mim, é como arara azul e ortopedista viado: existem, conheço exemplares, mas são muito poucos hehehehe.

João Figuer disse...

Seu blog está (de novo) devidamente linkado no meu. Gosto muito do seu texto, concordo com muita coisa do q escreveu sobre SSA, outras considero uma visão típica de turista, um turista inteligente, mas sempre turista. O importante é que você leva jeito pra jornalista gastronômico, com sugestões de roteiros outros, disso não tenho dúvida! Leva adiante esse projeto. Beijão

Anonymous disse...

Esse Tony Goes agora passou a crítico literário, o outro de baixo, quase um Roberto Shinyashiki. Eu, da terrinha, quase infarto de tanto rir lendo suas impressões. Até sobre a "Monstrópoles" fiquei sabendo, já que meu armário é a caixa da NOX. Caro escritor, sua sensibilidade dá medo na mesma proporção que o subentendido gosto pelos cafuçus locais arrepia. Vou ter que pegar seu contato com meu irmão, seu amigo íntimo local. UIA!

Anonymous disse...

Thi,
Senti que vc gostou mais "do" Recife do que de Salvador.
So conheco Porto de Galinhas pois tive que participar de um congresso la. Mas fiquei so dentro do hotel...
Agradeco a sua riqueza de detalhes sobre o lugar pois assim nao precisarei visitar a referida cidade. A nao ser que tenha que ir a trabalho.
Quanto as "cafucus", tambem passo...
Suppress
FXXXX

Vítor disse...

Olha, se o secretario de turismo de Pernambuco ler esse post, vai ter um treco fulminante.

Trocando em miúdos, a única coisa que presta em (no?) Recife são os cafuçus.

Considerando que eu não tenho a menor inclinação (duplo sentido, por favor) para essa classe (?) e que existem cafuçus à vontade na 1140 e similares, fica a pergunta: devo ir a(o) Recife? Não... né? :P

Marco disse...

Esclareceu uma duvida que me perseguia ha tempos: O que significaria MKB? hehehe...que lugar mais bizarro! Mas eu nao entendi direito o barato dos cafucus.Eles nao tem o charme dos perifericos paulistanos e nem uma cultura propria.Ora aparecem como guardadores de carros ora vendendo sorvete na praia...

charles disse...

O que tem os cafucus? deixe-se comer por um, se vai entender leenda...;-)))

Anonymous disse...

Mon cherie,
Manda buscar uns cafuçus "do" Recife p/ vc fazer em NYC! Sai mais barato e seguro que ir até PE.
See you soon.
Suppress
FXXXX

hotspot_fortaleza disse...

PORTO DE GALINHAS É REALMENTE LINDO ... ADOREI O POST ... BEIJOS ... NA PROXIMA VENHA A FORTALEZA TAMBÉM ...


http://hotspotfortaleza.blogspot.com/

Anonymous disse...

Thi,
Acho que vc vai ter que fazer um guia gay de todo o nordeste!
(-:
Boa sorte!
FXXXX

Alexandre Lucas disse...

Movimentado isso aqui... Pelo menos o post causou hehehe :)

Gui disse...

Eu to fora de cafuçu, ta?
Mas o comentario do charles foi franco.

E tô com o Alexandre, isso aqui sempre causa.

CARIOCA VIRTUAL disse...

MINHAS FOTOS, QUERO DIZER... QUERO NOSSAS FOTOOOOOOOOOS!!!
BJS

anonimo disse...

o blog ferveu tanto
que fiquei em duvida
se posso ou não posso
voltar aà recife...

Dan Rodrigues disse...

hahahahhaa adorei este post! A metropole é legal vai, é só saber se divertir... e nós gaúchos pensamos que somos mais evoluidos que os paulistas? pensamos? eu nem penso mais sobre isso...

Bjão!