Aqui vai a continuação da parte 1 do meu guia, com as festas da sexta e do sábado.
SEXTA, DIA 8
O que rola: Na The Week, a atração internacional é a dupla Rosabel, formada pelos DJs Abel e Ralph Rosario. A Bubu também recebe gente de fora: Southern Brothers (não conheço). As sapas mais descoladinhas se jogam na edição especial da festa Chá com Bolachas, no clube Glória, e a comunidade bear se reúne na já tradicional festa Ursound, quase uma label party ursina, que acontece em duas pistas no Hotel Cambridge, na 9 de Julho. Quem preferir um público menos "gay pride" e mais mixed pode se jogar no D-Edge (onde rola a consagrada noite de electrohouse Freak Chic) ou no Vegas (com Pareto, Serge e Márcio Vermelho).
Comentário: Se as noites de quinta e sábado prometem rivalidades e confusão, a de sexta é puro consenso: cada macaco no seu galho. Cada festa tem sua proposta e seu público bem definidos, então não deve haver grandes dilemas. A The Week, em especial, tem tudo para viver aqui a sua noite de maior lotação. Os turistas já estarão em peso na cidade, e não haverá nenhuma festa concorrente no mesmo segmento (diferentemente do que acontece no sábado). Isso sem falar que a dupla Rosabel, mais acessível aos ouvidos médios do que Calderone e Rauhofer, tem um grande número de fãs, que devem rebolar até o chão ao som do megahit "Cha Cha Heels". Para quem for conferir, o conselho é, definitivamente, chegar cedo.
SÁBADO, DIA 9
O que rola: É o auge da programação para todos os clãs, com uma batelada de superfestas ao mesmo tempo. Durante o dia, quem promete roubar a cena é a inédita GiraSol, uma iniciativa conjunta de todas as boates gays de São Paulo, em que cada uma oferecerá o que tem de melhor, entre DJs, drags, go-go boys e atrações. A festa será no Clube de Regatas Tietê e o numeroso line up nacional terá o reforço de 3 DJs gringos. À noite, quem viver verá o duelo mais sangrento desta Parada: de um lado, André Almada repete na The Week a fórmula campeã do ano passado, com mais uma edição especialíssima da Babylon com o top Peter Rauhofer (dessa vez, toca também o mexicano Isaac Escalante); do outro, Rodrigo Zanardi e Rosane Amaral juntam suas forças na E-Joy & R.Evolution, que traz ao Moinho Santo Antônio os DJs americanos Eddie Baez e Jamie Sanchez, mais apresentação da cantora Zhana Saunders, que vem a ser mais uma dessas "divas" do produtor Tony Moran. Alheios a esse confronto, os bears terão mais uma festa só para eles, a Woof!, enquanto meninas e modernos se dividem entre os clubes Glória (com Fischerspooner e Pareto no som) e Clash (onde a festa Close terá um elenco de house e electro bem animado). Ah sim, e a Bubu mais uma vez investe em atração gringa, o colombiano DJ Fist (ui!).
Comentário: Se o tempo ajudar, vale a pena dar um crédito para a GiraSol, uma idéia realmente inovadora e que tem a chance de efetivamente reunir todas as tribos GLS no mesmo lugar, algo raríssimo numa cena tão segmentada como a nossa. A ótima locação deve ajudar a fazer desse evento uma comemoração divertida e única. Sem falar que o som conta com todos os melhores DJs da nossa cena e, entre os gringos, o ótimo (e gato) Brett Henrichsen - quem estava na pool party da Rosane Amaral na Estação do Corpo, no carnaval carioca de 2006, sabe bem do que o moço é capaz. À noite, é clara a diferença entre as propostas das duas principais festas. Vai à The Week quem, como eu, já se encantou com a mágica experiência de ser conduzido pelo maestro Peter Rauhofer e não vê a hora de repetir a dose; vai ao Moinho quem já bateu cabelo na TW na véspera e prefere se jogar num lugar diferente, com um som mais tribaleiro e cheio de vocais. E, com certeza, não serão poucos os que darão um jeito de conferir as duas festas - para esses, melhor começar a noite na E-Joy & R.Evolution e depois ir para a TW, chegando quando Peter já estiver no som e ficando até o final da festa.
quarta-feira, 30 de maio de 2007
terça-feira, 29 de maio de 2007
Guia da Parada 2007, parte 1A: onde se jogar (na quarta e na quinta-feira)
A partir de hoje, vou escrever no blog vários textos que vão formar um guia completo para a Semana da Parada Gay 2007 em São Paulo. Na parte 1 (dividida em dois posts), vou fazer um apanhado geral das festas e dar meus palpites sobre elas. Vale lembrar que isto é um blog, ou seja, os textos não são verdades absolutas, e sim apenas as minhas opiniões pessoais.
QUARTA, DIA 6
O que rola: A The Week faz uma edição especial de sua noite Babylon com o top DJ Victor Calderone. Os residentes da casa abrem a pista e deixam o povo no ponto para o poderoso long set do nova-iorquino. Outra boate que terá um tempero gringo na programação é a Bubu, com o mexicano Erich Ensastigue. Para as meninas, a pedida é a festa Trackinas, no Tirana, novo e simpático clubinho underground do Centrão (na avenida São João).
Comentário: Victor Calderone é, definitivamente, a atração que mais me empolga em toda a programação desta temporada. O som dele agrada em cheio àqueles que gostam de house progressivo, especialmente da vertente mais dark, épica e viajante, e conquistou fãs muito além dos limites do gueto gay. A apresentação especial que Victor fez na finada Level, em fevereiro de 2003, deixou em êxtase fãs de progressive, como eu, mas frustrou muitos que esperavam ouvir os remixes que ele produziu no passado para cantoras como Madonna. Se você também prefere um som mais "característico de boate gay", é melhor ir ver Eric Ensastigue na Bubu. Ou guardar seu dinheiro e seu fôlego e só aparecer na The Week na sexta, para ver a dupla Rosabel.
QUINTA, DIA 7
O que rola: Este é o único dia em que a The Week não funcionará à noite. É que a casa está reservada para uma versão diurna da festa Diva, para garotas, com os DJs Morais e Marcos Paulo, a banda Meninas do Ressaca e um show de mulatas (!). Ainda sob a luz do dia, duas pool parties disputam a atenção do povo. A conhecida As Meninas terá nomes como Robson Mouse, Demu Mix, Jeff Valle e Felipe Lira [o local ainda não foi divulgado], enquanto a inédita Acqualand levará Pacheco, Will Beats, Grá Ferreira, Fábio Noveletto e Scotty K ao parque aquático Wet N'Wild, a 72 km da capital. E o véio-de-guerra Sérgio Kalil faz a Play Pride no parque de diversões Playcenter, com Paulo Ciotti, Herbert Tonn, Mauro Borges, Kiron e outros. À noite, o primeiro grande confronto da temporada. Na festa Magma, que rola no 1767 Hall (na mesma avenida onde funcionou a saudosa Level), tocam o português Mr. Groove, o carioca Robix e o pernambucano João Neto. Já o tradicional selo carioca X-Demente escolheu como locação o club Pacha (próximo à CEAGESP) e ainda está acertando o line up, que, até agora, conta com a cada vez mais popular Ana Paula e os americanos Alyson Calagna e Chris Cox. É possível que novas atrações sejam anunciadas [update: foi anunciada uma pista 2 com Pareto e Márcio Vermelho].
Comentário: As bolachas não têm nem o que pensar: é Diva na cabeça. A festa já se consagrou em várias edições bombadíssimas e deve reunir boa parte das meninas que realmente importam na cena. E a área externa da The Week é perfeita para festas diurnas. Ou seja: sucesso certo. Já para os meninos, durante o dia me parece mais prudente guardar energias, pois a maratona está apenas começando e a pool party de sábado será muito melhor em todos os sentidos (locação, DJs e público). Para quem insistir em se jogar: a festa As Meninas tem mais experiência e um line up redondinho, mas não ter locação confirmada até agora é mau sinal; a Acqualand é caríssima, o parque aquático é longe pra burro e não serve para nada com esse frio, e no som o Pacheco brilha isolado (sendo que ele já toca todas as noites na The Week); por isso, acho que eu daria uma chance para o Playcenter mesmo - bagaceira por bagaceira, pelo menos essa é bem mais perto.
Já à noite, a briga de foice entre Magma e X-Demente é uma incógnita. A locação da Magma é medíocre (espaço cafona, pista apertada, iluminação ruim), mas me causa simpatia a escalação de um DJ europeu como atração internacional. E a já tradicional distribuição maciça de ingressos vips para os muitos amigos de Marcelo Doom e Emílio Jorge deve garantir um bom nível de beleza na pista. Fabio Monteiro entrou tarde na disputa e até agora não divulgou direito sua X-Demente, mas tem know-how e condições de fazer uma linda festa. O Pacha é uma locação superior, com excelente acústica e uma ampla pista circular em forma de arena, que lembra o Circo Voador. Ana Paula tem uma legião de seguidores; Alyson Calagna já é veterana entre os DJs gringos do segundo escalão que tocam no Brasil, e conhece bem os ouvidos e preferências daqui. Se é para apelar à guerra de vips, Fabio também é cheio de amigos lindos, especialmente entre os saradíssimos cariocas. E ele ainda pode virar a mesa se fizer no terraço do Pacha uma segunda pista, com nomes como Pareto e Gustavo Tatá atraindo um público maior com sua boa house music [update: como eu previa, vai mesmo ter pista 2, com Pareto e Márcio Vermelho, oba!].
QUARTA, DIA 6
O que rola: A The Week faz uma edição especial de sua noite Babylon com o top DJ Victor Calderone. Os residentes da casa abrem a pista e deixam o povo no ponto para o poderoso long set do nova-iorquino. Outra boate que terá um tempero gringo na programação é a Bubu, com o mexicano Erich Ensastigue. Para as meninas, a pedida é a festa Trackinas, no Tirana, novo e simpático clubinho underground do Centrão (na avenida São João).
Comentário: Victor Calderone é, definitivamente, a atração que mais me empolga em toda a programação desta temporada. O som dele agrada em cheio àqueles que gostam de house progressivo, especialmente da vertente mais dark, épica e viajante, e conquistou fãs muito além dos limites do gueto gay. A apresentação especial que Victor fez na finada Level, em fevereiro de 2003, deixou em êxtase fãs de progressive, como eu, mas frustrou muitos que esperavam ouvir os remixes que ele produziu no passado para cantoras como Madonna. Se você também prefere um som mais "característico de boate gay", é melhor ir ver Eric Ensastigue na Bubu. Ou guardar seu dinheiro e seu fôlego e só aparecer na The Week na sexta, para ver a dupla Rosabel.
QUINTA, DIA 7
O que rola: Este é o único dia em que a The Week não funcionará à noite. É que a casa está reservada para uma versão diurna da festa Diva, para garotas, com os DJs Morais e Marcos Paulo, a banda Meninas do Ressaca e um show de mulatas (!). Ainda sob a luz do dia, duas pool parties disputam a atenção do povo. A conhecida As Meninas terá nomes como Robson Mouse, Demu Mix, Jeff Valle e Felipe Lira [o local ainda não foi divulgado], enquanto a inédita Acqualand levará Pacheco, Will Beats, Grá Ferreira, Fábio Noveletto e Scotty K ao parque aquático Wet N'Wild, a 72 km da capital. E o véio-de-guerra Sérgio Kalil faz a Play Pride no parque de diversões Playcenter, com Paulo Ciotti, Herbert Tonn, Mauro Borges, Kiron e outros. À noite, o primeiro grande confronto da temporada. Na festa Magma, que rola no 1767 Hall (na mesma avenida onde funcionou a saudosa Level), tocam o português Mr. Groove, o carioca Robix e o pernambucano João Neto. Já o tradicional selo carioca X-Demente escolheu como locação o club Pacha (próximo à CEAGESP) e ainda está acertando o line up, que, até agora, conta com a cada vez mais popular Ana Paula e os americanos Alyson Calagna e Chris Cox. É possível que novas atrações sejam anunciadas [update: foi anunciada uma pista 2 com Pareto e Márcio Vermelho].
Comentário: As bolachas não têm nem o que pensar: é Diva na cabeça. A festa já se consagrou em várias edições bombadíssimas e deve reunir boa parte das meninas que realmente importam na cena. E a área externa da The Week é perfeita para festas diurnas. Ou seja: sucesso certo. Já para os meninos, durante o dia me parece mais prudente guardar energias, pois a maratona está apenas começando e a pool party de sábado será muito melhor em todos os sentidos (locação, DJs e público). Para quem insistir em se jogar: a festa As Meninas tem mais experiência e um line up redondinho, mas não ter locação confirmada até agora é mau sinal; a Acqualand é caríssima, o parque aquático é longe pra burro e não serve para nada com esse frio, e no som o Pacheco brilha isolado (sendo que ele já toca todas as noites na The Week); por isso, acho que eu daria uma chance para o Playcenter mesmo - bagaceira por bagaceira, pelo menos essa é bem mais perto.
Já à noite, a briga de foice entre Magma e X-Demente é uma incógnita. A locação da Magma é medíocre (espaço cafona, pista apertada, iluminação ruim), mas me causa simpatia a escalação de um DJ europeu como atração internacional. E a já tradicional distribuição maciça de ingressos vips para os muitos amigos de Marcelo Doom e Emílio Jorge deve garantir um bom nível de beleza na pista. Fabio Monteiro entrou tarde na disputa e até agora não divulgou direito sua X-Demente, mas tem know-how e condições de fazer uma linda festa. O Pacha é uma locação superior, com excelente acústica e uma ampla pista circular em forma de arena, que lembra o Circo Voador. Ana Paula tem uma legião de seguidores; Alyson Calagna já é veterana entre os DJs gringos do segundo escalão que tocam no Brasil, e conhece bem os ouvidos e preferências daqui. Se é para apelar à guerra de vips, Fabio também é cheio de amigos lindos, especialmente entre os saradíssimos cariocas. E ele ainda pode virar a mesa se fizer no terraço do Pacha uma segunda pista, com nomes como Pareto e Gustavo Tatá atraindo um público maior com sua boa house music [update: como eu previa, vai mesmo ter pista 2, com Pareto e Márcio Vermelho, oba!].
quinta-feira, 24 de maio de 2007
Telepatia?
Por uma dessas coincidências do destino, no mesmo dia em que eu escrevi o post anterior, anunciando que daria dicas de São Paulo para quem viesse se jogar na Parada, a Folha Online convidou "sete especialistas no mundo GLS paulistano" para listar os melhores lugares da cidade em várias categorias, algumas mais ligadas ao meio (bar, clube, DJ, festa, sauna), outras que diziam respeito à cidade em geral (cinema, teatro, shopping, rua e até praça). A reportagem está aqui.
Em geral, a lista não surpreende: muitas indicações são consagrados "campeões de audiência" e não poderiam ter ficado de fora mesmo, caso do clube The Week, da padaria Bella Paulista, do Espaço Unibanco de Cinema, do parque do Ibirapuera e dos restaurantes Ritz, Spot e Mestiço. Outras dicas são menos manjadas, mas ainda assim nenhum segredo para quem conhece minimamente as coisas boas da cidade: o Bar da Dida, o café Santo Grão e o indiano-natureba Gopala Prasada são bons exemplos.
Mas, se uma certa sensação de lugar-comum está presente em vários momentos da reportagem (será que todos que indicaram o Alex Atala como melhor chef realmente foram ao D.O.M. ou provaram da comida dele ?), alguns dos consultados conseguiram fugir do óbvio e fizeram indicações bacanas, não-clichê e, o mais legal, fora das panelinhas a que eles pertencem. Gostei especialmente das lembranças do DJ Rodrigo Ferrari, do Pacha, e dos restaurantes Duplex e Paris 6. E também do Museu da Língua Portuguesa, já que quase ninguém se lembra que o centro de São Paulo tem passeios interessantíssimos (um dos meus prediletos em São Paulo está lá: a dobradinha Pinacoteca + Parque da Luz).
De qualquer forma, as indicações da lista não deixam de ser uma boa amostra de lugares que, em sua maioria, são mesmo indispensáveis. Se milhões de pessoas lembram e gostam deles, isso só pode ser sinal de que são mesmo muito bons. Não há nada de errado em ser pop, afinal.
Em geral, a lista não surpreende: muitas indicações são consagrados "campeões de audiência" e não poderiam ter ficado de fora mesmo, caso do clube The Week, da padaria Bella Paulista, do Espaço Unibanco de Cinema, do parque do Ibirapuera e dos restaurantes Ritz, Spot e Mestiço. Outras dicas são menos manjadas, mas ainda assim nenhum segredo para quem conhece minimamente as coisas boas da cidade: o Bar da Dida, o café Santo Grão e o indiano-natureba Gopala Prasada são bons exemplos.
Mas, se uma certa sensação de lugar-comum está presente em vários momentos da reportagem (será que todos que indicaram o Alex Atala como melhor chef realmente foram ao D.O.M. ou provaram da comida dele ?), alguns dos consultados conseguiram fugir do óbvio e fizeram indicações bacanas, não-clichê e, o mais legal, fora das panelinhas a que eles pertencem. Gostei especialmente das lembranças do DJ Rodrigo Ferrari, do Pacha, e dos restaurantes Duplex e Paris 6. E também do Museu da Língua Portuguesa, já que quase ninguém se lembra que o centro de São Paulo tem passeios interessantíssimos (um dos meus prediletos em São Paulo está lá: a dobradinha Pinacoteca + Parque da Luz).
De qualquer forma, as indicações da lista não deixam de ser uma boa amostra de lugares que, em sua maioria, são mesmo indispensáveis. Se milhões de pessoas lembram e gostam deles, isso só pode ser sinal de que são mesmo muito bons. Não há nada de errado em ser pop, afinal.
quarta-feira, 23 de maio de 2007
Em breve, neste blog não-gay: miniguia para a Parada
Muitos dos textos que escrevo aqui fazem comentários sobre a noite ou o mundo gay, mas este não é um "blog gay". Também não haveria nada de errado se fosse: acho até que faltam pessoas que escrevam textos de qualidade sobre o assunto. O site Mix Brasil pode ser nota dez em termos de agilidade e informação, mas ficar lendo o tempo todo que tudo é "absurdinho", "loucurinha" ou "fofito" não dá. É uma praga que começou com a Erika Palomino e suas "tendencitchas", infestou o Mix e hoje afeta até o Cena Carioca, onde tudo é "absurdinho" ou "conceito" (?).
Por outro lado, também não vou falar mal deles porque, apesar desses detalhes e mesmo dos erros de português que não são raros, eu leio todos e gosto de todos. E reconheço que, neste blog, muitas vezes eu também peco, caindo no outro extremo: meu português sai rebuscado demais, correto demais, e acaba soando meio formal, pesado. Uma herança maldita da advocacia, da qual pretendo ir me livrando conforme os caminhos do jornalismo forem se abrindo para mim.
Eu digo que "este não é um blog gay" porque nunca quis me limitar a ser um cronista do mundinho: com o tempo, meus temas acabariam se tornando repetitivos e eu cansaria. E tem uma série de outros assuntos que me interessa discutir, e que ficariam deslocados aqui se o blog tivesse uma "linha editorial gay". Quero falar de tudo que eu curto: de comida e restaurantes, de viagens, de música eletrônica, de roupa, de comportamento (não só o das tribos da boate). E até de algum fato do cenário político ou econômico, embora esses campos não me atraiam muito. Sem muito compromisso com nada. Afinal, escrever aqui deve ser, antes de tudo, algo prazeroso.
Feito esse enorme parêntese, adianto que os próximos posts serão de grande interesse para os gays, especialmente os de fora de São Paulo. A cidade está em contagem regressiva para mais uma Parada Gay, e a cada ano que passa há mais festas e eventos em torno dela, atraindo um número cada vez maior de pessoas. Não é exagero dizer que o Corpus Christi tem para o meio gay paulistano o mesmo peso que o Carnaval tem para o carioca: os hotéis ficam praticamente todos lotados, as ruas transbordam de novos corpos e sotaques e o clima é de euforia constante. As academias de ginástica já estão todas impraticáveis...
Tudo isso pode ser muita informação junta para quem quer viver ao máximo esses quatro dias que passam tão rápido. Especialmente se você não é daqui, não vem sempre e não domina a cidade. Por isso, para situar melhor aqueles que vêm de fora, vou fazer aqui no blog uma série de posts dando o serviço completo, desde as principais festas marcadas até boas opções de restaurantes para todos os gostos e bolsos, sem deixar de lado algumas sugestões de passeios entre uma jogação e outra, afinal São Paulo é uma cidade que tem muita coisa para ser vista e aproveitada.
Aguardem!
Por outro lado, também não vou falar mal deles porque, apesar desses detalhes e mesmo dos erros de português que não são raros, eu leio todos e gosto de todos. E reconheço que, neste blog, muitas vezes eu também peco, caindo no outro extremo: meu português sai rebuscado demais, correto demais, e acaba soando meio formal, pesado. Uma herança maldita da advocacia, da qual pretendo ir me livrando conforme os caminhos do jornalismo forem se abrindo para mim.
Eu digo que "este não é um blog gay" porque nunca quis me limitar a ser um cronista do mundinho: com o tempo, meus temas acabariam se tornando repetitivos e eu cansaria. E tem uma série de outros assuntos que me interessa discutir, e que ficariam deslocados aqui se o blog tivesse uma "linha editorial gay". Quero falar de tudo que eu curto: de comida e restaurantes, de viagens, de música eletrônica, de roupa, de comportamento (não só o das tribos da boate). E até de algum fato do cenário político ou econômico, embora esses campos não me atraiam muito. Sem muito compromisso com nada. Afinal, escrever aqui deve ser, antes de tudo, algo prazeroso.
Feito esse enorme parêntese, adianto que os próximos posts serão de grande interesse para os gays, especialmente os de fora de São Paulo. A cidade está em contagem regressiva para mais uma Parada Gay, e a cada ano que passa há mais festas e eventos em torno dela, atraindo um número cada vez maior de pessoas. Não é exagero dizer que o Corpus Christi tem para o meio gay paulistano o mesmo peso que o Carnaval tem para o carioca: os hotéis ficam praticamente todos lotados, as ruas transbordam de novos corpos e sotaques e o clima é de euforia constante. As academias de ginástica já estão todas impraticáveis...
Tudo isso pode ser muita informação junta para quem quer viver ao máximo esses quatro dias que passam tão rápido. Especialmente se você não é daqui, não vem sempre e não domina a cidade. Por isso, para situar melhor aqueles que vêm de fora, vou fazer aqui no blog uma série de posts dando o serviço completo, desde as principais festas marcadas até boas opções de restaurantes para todos os gostos e bolsos, sem deixar de lado algumas sugestões de passeios entre uma jogação e outra, afinal São Paulo é uma cidade que tem muita coisa para ser vista e aproveitada.
Aguardem!
segunda-feira, 21 de maio de 2007
Chus & Ceballos ao quadrado: vi e sobrevivi
O pior jornalista é aquele que, antes de apurar um fato, cobrir um evento ou fazer uma entrevista, já tem pronto na cabeça todo o texto que vai escrever depois. O que esse profissional faz, longe de um verdadeiro trabalho de apuração e crítica, é tão somente encaixar a realidade diante de seus olhos às considerações que ele tinha feito. Ele quer provar para si mesmo e para os outros que ele já sabia de tudo, que tinha razão e nada o surpreende. Antes de ir a uma festa, faço meus palpites mas vou sempre pronto para me surpreender e mudar de idéia - não sou nenhum adivinho, nem pretendo ser.
Faço esse parêntese para explicar que o que passo a dizer aqui sobre as duas apresentações da dupla Chus & Ceballos no Brasil (acabei indo tanto à E-Joy quanto ao Sirena), eu escrevi de peito aberto e sem o menor compromisso com meu post anterior. Muitas conclusões daqui bateram em grande parte com o que eu esperei, mas, se eu tivesse me surpreendido com festas totalmente diferentes do que eu imaginava, eu não teria o menor pudor em admitir que meus palpites estavam errados.
Primeiro, vamos à E-Joy. O evento felizmente aconteceu, sem cancelamentos ou surpresas de última hora. O máximo que a inimiga The Week fez foi abrir no mesmo dia, mas para uma festa private, que não roubou o público da noite de Rodrigo Zanardi. Aliás, se teve um problema que a E-Joy não sofreu, foi falta de público: entre fãs locais de Chus & Ceballos e turistas que tinham vindo para ver o Offer Nissin no dia seguinte, a festa lotou e a pista chegou a ficar desagradável - era difícil encontrar espaço para dançar, numa locação que não foi a mais adequada (a antiga Broadway).
Chus & Ceballos foram recebidos por um público sedento por diversão e já em clima de semana da Parada Gay: cada virada deles era recebida com gritos, mãos para o alto, aplausos e assobios. Era nítida a satisfação na cara de Chus, o carequinha de óculos e feições inegavelmente espanholas, que foi o primeiro a tocar. Ele mostrou logo de cara que é o responsável pelo lado mais latino da dupla: de seus discos, saía uma música com altas doses de percussão e batucadas - a tal "iberican house", fresca e rebolativa. Depois, Ceballos assumiu as pickups e aos poucos foi levando o som para o lado de um tech house de festa, ora mais tribal, ora mais progressivo, mas sempre em sintonia com que se espera de uma noite gay.
O som da dupla na E-Joy não decepcionou, mas também não surpreendeu. Tudo o que eles trouxeram, os freqüentadores mais assíduos da The Week já conheciam, especialmente pelas mãos de Pacheco, um DJ eclético, mas que sempre bebeu longos goles na fonte dos espanhóis. E mesmo os momentos mais pesadinhos do Ceballos me lembraram os sets inspirados que o DJ Morais faz quando é convidado para afters e festas em que ele não precisa seguir à risca a cartilha da pista 2 da The Week (ou quando toca na pista 1, substituindo algum dos residentes). Essas comparações não significam que Chus & Ceballos tenham feito um set datado, mas sim que nossos DJs de casa estão bastante atualizados naquilo que fazem, o que é ótimo.
Já na noite seguinte, no clube Sirena, em Maresias, o som da dupla foi em uma direção completamente diferente. É impressionante como DJs conseguem mudar o foco diante de gays e de héteros. Assumindo as pickups depois de um set sofrível do residente Carlo Dall'Annese (que, ao contrário dos bons vinhos, vai ficando cada vez pior com o tempo), os espanhóis começaram com um electrohouse bem bombado, para fazer o público pular. Como o Sirena tem uma das pistas mais animadas do Brasil, o diálogo foi imediato e logo a dupla já estava completamente à vontade para dar uma verdadeira aula de house. Livres da obrigação de se manter fiéis a uma estética gay, Chus & Ceballos fizeram um set riquíssimo, misturando sons atuais a clássicos como "Blackwater", de Octave One. O melhor momento, na minha opinião, foi quando Ceballos tocou um remix absurdo de "Year Of The Cat" do Al Stewart (!), que me deixou de queixo caído. Vai ter cultura musical assim lá em casa: que faixa maravilhosa, melódica, fofa. Minha onda foi lá pras alturas.
Era interessante ver que o som deles estava sendo curtido por pessoas de todos os tipos: patricinhas, surfistas, jetsetters, caiçaras, tigrões, ravers e, como não podia deixar de ser, alguns dos caras mais gatos que eu já tinha visto (meus amigos ficaram nervosos...). Gente diferente unida pela mesma boa música sempre foi a marca registrada do Sirena. A pista manteve-se cheia na medida certa e ficamos lá até o fim do set dos espanhóis, às 6h30. Missão cumprida. Agora é tratar de se recuperar para a próxima jogação superluxo, a apresentação do top Desyn Masiello, nesta sexta no Pacha.
Faço esse parêntese para explicar que o que passo a dizer aqui sobre as duas apresentações da dupla Chus & Ceballos no Brasil (acabei indo tanto à E-Joy quanto ao Sirena), eu escrevi de peito aberto e sem o menor compromisso com meu post anterior. Muitas conclusões daqui bateram em grande parte com o que eu esperei, mas, se eu tivesse me surpreendido com festas totalmente diferentes do que eu imaginava, eu não teria o menor pudor em admitir que meus palpites estavam errados.
Primeiro, vamos à E-Joy. O evento felizmente aconteceu, sem cancelamentos ou surpresas de última hora. O máximo que a inimiga The Week fez foi abrir no mesmo dia, mas para uma festa private, que não roubou o público da noite de Rodrigo Zanardi. Aliás, se teve um problema que a E-Joy não sofreu, foi falta de público: entre fãs locais de Chus & Ceballos e turistas que tinham vindo para ver o Offer Nissin no dia seguinte, a festa lotou e a pista chegou a ficar desagradável - era difícil encontrar espaço para dançar, numa locação que não foi a mais adequada (a antiga Broadway).
Chus & Ceballos foram recebidos por um público sedento por diversão e já em clima de semana da Parada Gay: cada virada deles era recebida com gritos, mãos para o alto, aplausos e assobios. Era nítida a satisfação na cara de Chus, o carequinha de óculos e feições inegavelmente espanholas, que foi o primeiro a tocar. Ele mostrou logo de cara que é o responsável pelo lado mais latino da dupla: de seus discos, saía uma música com altas doses de percussão e batucadas - a tal "iberican house", fresca e rebolativa. Depois, Ceballos assumiu as pickups e aos poucos foi levando o som para o lado de um tech house de festa, ora mais tribal, ora mais progressivo, mas sempre em sintonia com que se espera de uma noite gay.
O som da dupla na E-Joy não decepcionou, mas também não surpreendeu. Tudo o que eles trouxeram, os freqüentadores mais assíduos da The Week já conheciam, especialmente pelas mãos de Pacheco, um DJ eclético, mas que sempre bebeu longos goles na fonte dos espanhóis. E mesmo os momentos mais pesadinhos do Ceballos me lembraram os sets inspirados que o DJ Morais faz quando é convidado para afters e festas em que ele não precisa seguir à risca a cartilha da pista 2 da The Week (ou quando toca na pista 1, substituindo algum dos residentes). Essas comparações não significam que Chus & Ceballos tenham feito um set datado, mas sim que nossos DJs de casa estão bastante atualizados naquilo que fazem, o que é ótimo.
Já na noite seguinte, no clube Sirena, em Maresias, o som da dupla foi em uma direção completamente diferente. É impressionante como DJs conseguem mudar o foco diante de gays e de héteros. Assumindo as pickups depois de um set sofrível do residente Carlo Dall'Annese (que, ao contrário dos bons vinhos, vai ficando cada vez pior com o tempo), os espanhóis começaram com um electrohouse bem bombado, para fazer o público pular. Como o Sirena tem uma das pistas mais animadas do Brasil, o diálogo foi imediato e logo a dupla já estava completamente à vontade para dar uma verdadeira aula de house. Livres da obrigação de se manter fiéis a uma estética gay, Chus & Ceballos fizeram um set riquíssimo, misturando sons atuais a clássicos como "Blackwater", de Octave One. O melhor momento, na minha opinião, foi quando Ceballos tocou um remix absurdo de "Year Of The Cat" do Al Stewart (!), que me deixou de queixo caído. Vai ter cultura musical assim lá em casa: que faixa maravilhosa, melódica, fofa. Minha onda foi lá pras alturas.
Era interessante ver que o som deles estava sendo curtido por pessoas de todos os tipos: patricinhas, surfistas, jetsetters, caiçaras, tigrões, ravers e, como não podia deixar de ser, alguns dos caras mais gatos que eu já tinha visto (meus amigos ficaram nervosos...). Gente diferente unida pela mesma boa música sempre foi a marca registrada do Sirena. A pista manteve-se cheia na medida certa e ficamos lá até o fim do set dos espanhóis, às 6h30. Missão cumprida. Agora é tratar de se recuperar para a próxima jogação superluxo, a apresentação do top Desyn Masiello, nesta sexta no Pacha.
sábado, 19 de maio de 2007
O fim do Ultralounge
A assessoria de imprensa do Ultralounge divulgou ontem nota comunicando o encerramento definitivo de suas atividades. É o fim de uma longa batalha entre o clube e a vizinhança, que conseguiu fazer com que a Prefeitura de São Paulo cassasse a licença de funcionamento da casa, alegando "algazarra" e "irregularidades". Pesados blocos de concreto já interditavam a fachada do Ultra desde o dia 10; enquanto isso, o proprietário Bob Yang garantia que a documentação da casa estava 100% em ordem e não havia justificativa plausível para seu fechamento.
Por trás disso, está a intolerância cada vez maior dos moradores dos Jardins com o público gay que ocupa as esquinas da Consolação. É verdade que esse povo faz um certo barulho, atrapalha o trânsito e emporcalha calçadas e canteiros com centenas de flyers espalhados pelos promoters das boates. Mas muitos enxergam na reação da vizinhança um ranço de homofobia. Vale lembrar que, em janeiro, moradores de prédios atiraram garrafas e copos de vidro em direção à porta do restaurante gay L'Open, na Alameda Itu - se a idéia era acertar as bibas, quem acabou pagando o pato foram os pobres manobristas da casa, que se esquivavam assustados, tentando evitar uma tragédia.
A notícia do fim do Ultra não me atingiu em nada, já que nunca fui freqüentador assíduo da casa. Ao primeiro endereço, aberto em 2000 do outro lado da rua, eu até ia - o clubinho tinha um certo charme e foi a melhor boate gay de São Paulo até a abertura da Level. Quando a lei de zoneamento forçou a mudança para o ponto atual, antipatizei logo de cara com a divisão dos ambientes na nova casa. O cardápio musical estava sofrível: só drag music. E os corpos mais gostosos da cena não estavam lá, mas sim na Level, e depois na The Week. Ou seja, nem eles justificariam o sacrifício de passar a noite toda ouvindo o mesmo paupérrimo som bate-cabelo da maior parte das outras boates gays do Brasil.
A casa só conseguiu subir no meu conceito quando começou a fazer seu after (batizado impropriamente de "Chill Out") nas manhãs de domingo. O mesmo ambiente que era escuro, apertado e enfumaçado para uma noite de sexta casava-se perfeitamente com o clima de inferninho que todo after deve ter. O povo que já chegava virado da The Week criava um clima muito mais animado na pista. Até o som era melhor - João Neto e Renato Cecin se sentiam muito mais à vontade para ousar e pesar a mão do que na The Week (cuja política musical parece ser a de não chocar as turistas do interior). Ironicamente, a idéia que deu novo fôlego ao Ultra acabou desencadeando a sua ruína - as confusões com a Prefeitura começaram justamente por causa do after, já que a casa não tinha permissão para funcionar durante o dia.
Com o Ultralounge fora do caminho, a Bubu, que já vinha ganhando mais espaço na cena gay, passa a reinar sozinha nas noites de sexta-feira da cidade. É um clube mais versátil, com muitos ambientes e uma freqüência plural, que inclui meninas e também caras mais novos (que não se sentem tão à vontade em clubes como a The Week e a Blue Space). Mas não chega a ser uma unanimidade: uns acham o ambiente e o som cafonas, enquanto outros se ressentem da falta de, digamos, tensão sexual que se espera de toda boate gay. É justamente nesses aspectos que a The Week mostra por quê ainda é o melhor clube de São Paulo em seu segmento.
Por trás disso, está a intolerância cada vez maior dos moradores dos Jardins com o público gay que ocupa as esquinas da Consolação. É verdade que esse povo faz um certo barulho, atrapalha o trânsito e emporcalha calçadas e canteiros com centenas de flyers espalhados pelos promoters das boates. Mas muitos enxergam na reação da vizinhança um ranço de homofobia. Vale lembrar que, em janeiro, moradores de prédios atiraram garrafas e copos de vidro em direção à porta do restaurante gay L'Open, na Alameda Itu - se a idéia era acertar as bibas, quem acabou pagando o pato foram os pobres manobristas da casa, que se esquivavam assustados, tentando evitar uma tragédia.
A notícia do fim do Ultra não me atingiu em nada, já que nunca fui freqüentador assíduo da casa. Ao primeiro endereço, aberto em 2000 do outro lado da rua, eu até ia - o clubinho tinha um certo charme e foi a melhor boate gay de São Paulo até a abertura da Level. Quando a lei de zoneamento forçou a mudança para o ponto atual, antipatizei logo de cara com a divisão dos ambientes na nova casa. O cardápio musical estava sofrível: só drag music. E os corpos mais gostosos da cena não estavam lá, mas sim na Level, e depois na The Week. Ou seja, nem eles justificariam o sacrifício de passar a noite toda ouvindo o mesmo paupérrimo som bate-cabelo da maior parte das outras boates gays do Brasil.
A casa só conseguiu subir no meu conceito quando começou a fazer seu after (batizado impropriamente de "Chill Out") nas manhãs de domingo. O mesmo ambiente que era escuro, apertado e enfumaçado para uma noite de sexta casava-se perfeitamente com o clima de inferninho que todo after deve ter. O povo que já chegava virado da The Week criava um clima muito mais animado na pista. Até o som era melhor - João Neto e Renato Cecin se sentiam muito mais à vontade para ousar e pesar a mão do que na The Week (cuja política musical parece ser a de não chocar as turistas do interior). Ironicamente, a idéia que deu novo fôlego ao Ultra acabou desencadeando a sua ruína - as confusões com a Prefeitura começaram justamente por causa do after, já que a casa não tinha permissão para funcionar durante o dia.
Com o Ultralounge fora do caminho, a Bubu, que já vinha ganhando mais espaço na cena gay, passa a reinar sozinha nas noites de sexta-feira da cidade. É um clube mais versátil, com muitos ambientes e uma freqüência plural, que inclui meninas e também caras mais novos (que não se sentem tão à vontade em clubes como a The Week e a Blue Space). Mas não chega a ser uma unanimidade: uns acham o ambiente e o som cafonas, enquanto outros se ressentem da falta de, digamos, tensão sexual que se espera de toda boate gay. É justamente nesses aspectos que a The Week mostra por quê ainda é o melhor clube de São Paulo em seu segmento.
domingo, 13 de maio de 2007
Uma vez Carlota, sempre Carlota
Dia das Mães pede mais do que uma comidinha gostosa: pede um almoço especial, que tenha cara de comemoração e sirva como um mimo para a homenageada e todos aqueles que estiverem paparicando a dita cuja. Por isso, na hora de escolher onde levar minha fã número 1, não tive dúvidas: fui logo para o Carlota, meu restaurante predileto.
Eu e minha mãe amamos o Carlota. A cozinha deles é contemporânea sem ser chata, sem ser aquela mistureba pretensiosa de ingredientes com texturas e sonoridades que dão vertigem. Todas as combinações fazem sentido, até mesmo aquelas que, à primeira vista, deixam você em dúvida. Você logo percebe que está num lugar incrível quando, já na parte de entradas, fica num dilema daqueles: tudo apetece e você não sabe o que escolher. E olha que eu normalmente não ligo muito para entradas, prefiro pedir logo um prato principal e depois uma sobremesa. Mas lá não tem jeito: tenho que pedir entrada, prato e sobremesa, o que acaba sempre terminando em uma conta meio salgada (é por isso que só vou lá de vez em quando).
Em todas as minhas visitas ao Carlota, nunca pude me queixar de falta de novidade. A chef Carla Pernambuco está sempre renovando o cardápio, introduzindo alguns pratos e tirando outros. O problema é que as receitas dela conquistam a gente tão rápido que, quando saem do menu, a gente fica meio órfão. Na última reformulação, a minha entrada predileta acabou indo para o paredão. Chamava-se shumai: uma porção de rolinhos de camarão, shiitake e nirá feitos no vapor e servidos com um molho balinês que tinha um gostinho delicioso de leite de coco e especiarias. Foi uma pena, mas a entrada nova que eu e minha mãe pedimos não deu espaço para lamentações: os bolinhos cremosos de mandioca com camarão, servidos na folha de bananeira, estavam tão gostosos que tivemos que pedir mais uma porção.
Já ficamos felicíssimos com os bolinhos, mas nossa aventura só estava começando. Os pratos principais do Carlota são uma tentação. Minha mãe bem que tentou experimentar alguma coisa nova, e quase pediu o tournedo de atum com centolla fueguina (espécie de caranguejo argentino trazido da Terra do Fogo), molho satay (agridoce) e purê de batatas com macadâmia. Mas não conseguiu resistir ao apelo do nosso eterno favorito: o filé mignon ao molho de vinho do Porto e balsâmico com risoto de figos. É uma combinação improvável, mas deliciosa: o perfume delicado do risoto casa divinamente com o saboroso molho do filé, um chateaubriand alto e suculento. Eu pensei em pedir os camarões crocantes com risoto de presunto de Parma, que já tinha provado e aprovado, mas acabei ficando com o linguado com creme de limão siciliano, cogumelos e batatas sautées, mais levinho (estava gostoso, mas, como era de se esperar, foi ofuscado pelo filé de minha mãe).
A essa altura do campeonato, muitos jogariam a toalha e se dariam por satisfeitos. Mas ir ao Carlota e não pedir sobremesa é um pecado grave e, como o Papa está nos visitando, achei melhor não pecar. Os doces que mais saem são o suflê de goiabada com calda de catupiry (uma criação de Carla que foi muito copiada pelo Brasil afora) e o petit gâteau de doce de leite. São boas sobremesas, mas, na minha opinião, não chegam aos pés da minha preferida, a carlota pernambucana: um delicioso bolo quente e cremoso de banana (praticamente um petit gâteau), acompanhado de gelado de canela. Como não gosto de canela, pedi no lugar do gelado uma bola do ótimo sorvete de coco queimado que eles fazem (e, no cardápio, servem com doce de ovos). E assim, fechei com chave de ouro mais um daqueles almoços que vão ficar na minha memória gustativa por um bom tempo. Não tem pra ninguém: o Carlota é campeão!
Eu e minha mãe amamos o Carlota. A cozinha deles é contemporânea sem ser chata, sem ser aquela mistureba pretensiosa de ingredientes com texturas e sonoridades que dão vertigem. Todas as combinações fazem sentido, até mesmo aquelas que, à primeira vista, deixam você em dúvida. Você logo percebe que está num lugar incrível quando, já na parte de entradas, fica num dilema daqueles: tudo apetece e você não sabe o que escolher. E olha que eu normalmente não ligo muito para entradas, prefiro pedir logo um prato principal e depois uma sobremesa. Mas lá não tem jeito: tenho que pedir entrada, prato e sobremesa, o que acaba sempre terminando em uma conta meio salgada (é por isso que só vou lá de vez em quando).
Em todas as minhas visitas ao Carlota, nunca pude me queixar de falta de novidade. A chef Carla Pernambuco está sempre renovando o cardápio, introduzindo alguns pratos e tirando outros. O problema é que as receitas dela conquistam a gente tão rápido que, quando saem do menu, a gente fica meio órfão. Na última reformulação, a minha entrada predileta acabou indo para o paredão. Chamava-se shumai: uma porção de rolinhos de camarão, shiitake e nirá feitos no vapor e servidos com um molho balinês que tinha um gostinho delicioso de leite de coco e especiarias. Foi uma pena, mas a entrada nova que eu e minha mãe pedimos não deu espaço para lamentações: os bolinhos cremosos de mandioca com camarão, servidos na folha de bananeira, estavam tão gostosos que tivemos que pedir mais uma porção.
Já ficamos felicíssimos com os bolinhos, mas nossa aventura só estava começando. Os pratos principais do Carlota são uma tentação. Minha mãe bem que tentou experimentar alguma coisa nova, e quase pediu o tournedo de atum com centolla fueguina (espécie de caranguejo argentino trazido da Terra do Fogo), molho satay (agridoce) e purê de batatas com macadâmia. Mas não conseguiu resistir ao apelo do nosso eterno favorito: o filé mignon ao molho de vinho do Porto e balsâmico com risoto de figos. É uma combinação improvável, mas deliciosa: o perfume delicado do risoto casa divinamente com o saboroso molho do filé, um chateaubriand alto e suculento. Eu pensei em pedir os camarões crocantes com risoto de presunto de Parma, que já tinha provado e aprovado, mas acabei ficando com o linguado com creme de limão siciliano, cogumelos e batatas sautées, mais levinho (estava gostoso, mas, como era de se esperar, foi ofuscado pelo filé de minha mãe).
A essa altura do campeonato, muitos jogariam a toalha e se dariam por satisfeitos. Mas ir ao Carlota e não pedir sobremesa é um pecado grave e, como o Papa está nos visitando, achei melhor não pecar. Os doces que mais saem são o suflê de goiabada com calda de catupiry (uma criação de Carla que foi muito copiada pelo Brasil afora) e o petit gâteau de doce de leite. São boas sobremesas, mas, na minha opinião, não chegam aos pés da minha preferida, a carlota pernambucana: um delicioso bolo quente e cremoso de banana (praticamente um petit gâteau), acompanhado de gelado de canela. Como não gosto de canela, pedi no lugar do gelado uma bola do ótimo sorvete de coco queimado que eles fazem (e, no cardápio, servem com doce de ovos). E assim, fechei com chave de ouro mais um daqueles almoços que vão ficar na minha memória gustativa por um bom tempo. Não tem pra ninguém: o Carlota é campeão!
segunda-feira, 7 de maio de 2007
Você precisa da bênção do Papa?
Às vésperas de sua chegada ao Brasil para uma visita de cinco dias, a figura do Papa Bento XVI é assunto constante na ordem do dia. Enquanto beatas em polvorosa se preparam para sair em romaria até Aparecida (que, justo nessa hora, está prestes a declarar estado de emergência por conta de uma epidemia de dengue), vários setores da nossa sociedade estão perplexos com as declarações que o Sumo Pontífice tem feito mundo afora, condenando o uso de preservativos, o aborto, o divórcio e a homossexualidade. Os movimentos homossexuais, em particular, preparam uma série de manifestações de repúdio – o Grupo Gay da Bahia, por exemplo, já avisou que vai queimar fotos de Bento XVI em frente à Catedral da Sé, em Salvador.
Francamente, não entendo o motivo de tanto espanto e indignação. O que as pessoas esperavam do Papa? Ele está apenas sendo coerente com os princípios da religião da qual ele é o expoente máximo no mundo. Eu ficaria surpreso, isso sim, se de repente ele passasse a relativizar os dogmas do catolicismo em busca de mais fiéis, dizendo que não é bem assim, que hoje em dia as coisas mudaram. Isso sim seria patético, uma prova cabal de que o Vaticano está mesmo tão preocupado com a evasão das massas para outras religiões que precisa negociar valores que sempre defendeu como absolutos.
O brasileiro acha que existe jeitinho para tudo e quer customizar a religião conforme suas necessidades práticas. Cresceu ouvindo dizer que era “católico” e quer continuar repetindo isso para a pesquisadora do censo do IBGE, mas não gosta de seguir a cartilha e acha ruim quando o Papa lembra dos preceitos que os fiéis devem seguir. Daí vem o desconforto de alguns, que querem continuar pertencendo a um rebanho do qual não enxergam que já se desprenderam há muito tempo, porque em sua vida real simplesmente não praticam esses valores.
É verdade que os tais valores da Igreja Católica foram cunhados para sustentar a dominação ideológica dos fiéis no passado e estão em total desacordo com os anseios da humanidade do século 21. Que afirmam que o homem já nasce pecador e deve passar a vida tentando limpar sua ficha e implorando por perdão. Que não concebem a camisinha, o aborto ou a homossexualidade porque acreditam piamente que o sexo não tem nenhum sentido que não seja para a perpetuação da espécie. Esses valores podem ser um disparate para mim ou para você, mas essa é a visão de mundo deles; o catolicismo não evolui com o homem, o homem é que deve evoluir, se for o caso, para religiões que proponham um olhar mais real sobre a vida. Cada um na sua com aquilo em que acredita.
E tem mais: o papel da Igreja Católica não é ser condescendente com ninguém. De boazinha, ela nunca teve nada. Se a população tivesse prestado mais atenção nas aulas de História que teve no colégio, lembraria que a Igreja Católica foi desde o início uma instituição centralizadora de poder e perpetuadora de desigualdades sociais, e esteve sempre muito mais comprometida com a manutenção dos próprios privilégios do que com a promoção dos valores humanitários que ela alega defender. Da cobrança do dízimo à iniciação sexual compulsória de jovens seminaristas por padres pedófilos (Almodóvar não me deixa mentir), não faltam exemplos de que a Igreja pode ser tudo, menos santa.
Portanto, ao invés de se estressar porque Bento XVI disse as mesmas ladainhas que a Igreja Católica sempre disse e sempre continuará dizendo, as pessoas deveriam questionar qual o peso que a palavra do Papa deveria ter em suas vidas hoje. Os gays, em especial, precisam aprender a viver suas vidas sem ter que ficar pedindo o aval do Papa ou de quem quer que seja. Se o beijo gay não saiu na novela das oito porque a sociedade média não aprovou, isso não deveria significar mais nada a não ser o fato de que as pessoas sempre terão crenças diferentes, e devem ser felizes com as suas próprias sem que os outros também precisem estar convencidos delas.
Francamente, não entendo o motivo de tanto espanto e indignação. O que as pessoas esperavam do Papa? Ele está apenas sendo coerente com os princípios da religião da qual ele é o expoente máximo no mundo. Eu ficaria surpreso, isso sim, se de repente ele passasse a relativizar os dogmas do catolicismo em busca de mais fiéis, dizendo que não é bem assim, que hoje em dia as coisas mudaram. Isso sim seria patético, uma prova cabal de que o Vaticano está mesmo tão preocupado com a evasão das massas para outras religiões que precisa negociar valores que sempre defendeu como absolutos.
O brasileiro acha que existe jeitinho para tudo e quer customizar a religião conforme suas necessidades práticas. Cresceu ouvindo dizer que era “católico” e quer continuar repetindo isso para a pesquisadora do censo do IBGE, mas não gosta de seguir a cartilha e acha ruim quando o Papa lembra dos preceitos que os fiéis devem seguir. Daí vem o desconforto de alguns, que querem continuar pertencendo a um rebanho do qual não enxergam que já se desprenderam há muito tempo, porque em sua vida real simplesmente não praticam esses valores.
É verdade que os tais valores da Igreja Católica foram cunhados para sustentar a dominação ideológica dos fiéis no passado e estão em total desacordo com os anseios da humanidade do século 21. Que afirmam que o homem já nasce pecador e deve passar a vida tentando limpar sua ficha e implorando por perdão. Que não concebem a camisinha, o aborto ou a homossexualidade porque acreditam piamente que o sexo não tem nenhum sentido que não seja para a perpetuação da espécie. Esses valores podem ser um disparate para mim ou para você, mas essa é a visão de mundo deles; o catolicismo não evolui com o homem, o homem é que deve evoluir, se for o caso, para religiões que proponham um olhar mais real sobre a vida. Cada um na sua com aquilo em que acredita.
E tem mais: o papel da Igreja Católica não é ser condescendente com ninguém. De boazinha, ela nunca teve nada. Se a população tivesse prestado mais atenção nas aulas de História que teve no colégio, lembraria que a Igreja Católica foi desde o início uma instituição centralizadora de poder e perpetuadora de desigualdades sociais, e esteve sempre muito mais comprometida com a manutenção dos próprios privilégios do que com a promoção dos valores humanitários que ela alega defender. Da cobrança do dízimo à iniciação sexual compulsória de jovens seminaristas por padres pedófilos (Almodóvar não me deixa mentir), não faltam exemplos de que a Igreja pode ser tudo, menos santa.
Portanto, ao invés de se estressar porque Bento XVI disse as mesmas ladainhas que a Igreja Católica sempre disse e sempre continuará dizendo, as pessoas deveriam questionar qual o peso que a palavra do Papa deveria ter em suas vidas hoje. Os gays, em especial, precisam aprender a viver suas vidas sem ter que ficar pedindo o aval do Papa ou de quem quer que seja. Se o beijo gay não saiu na novela das oito porque a sociedade média não aprovou, isso não deveria significar mais nada a não ser o fato de que as pessoas sempre terão crenças diferentes, e devem ser felizes com as suas próprias sem que os outros também precisem estar convencidos delas.
domingo, 6 de maio de 2007
We Love Sundays: enfim, o Pacha acerta a mão
Quando anunciaram que São Paulo teria uma filial do clube Pacha, fiquei empolgado. Eu gostei muito da matriz em Ibiza e da filial de Buenos Aires (por razões completamente diferentes, já que as franquias pelo mundo não são idênticas como o McDonald's) e comemorei a possibilidade de São Paulo finalmente passar a receber com regularidade grandes nomes da house music mundial. Se a nossa cena eletrônica recebe gringos com freqüência, é fato que só uma minoria é de house; nosso underground sempre teve um certo preconceito com esse gênero e só investe em electro, minimal e techno. Uma pena.
Minha estréia no Pacha SP me deixou um pouco frustrado. O maior problema não foram os preços caríssimos (a começar pela entrada, entre R$ 120 e R$ 150 para homens), mas o pouco que o Pacha entrega pelo dinheiro. Enquanto o Pacha Ibiza tem ambientes caprichados e ricamente decorados, com plantas, lustres, velas, cores, enfeites, a decoração aqui (pelo menos nesse começo) é meio pobrinha: tudo branco, tudo seco, tudo pelado. Podem chamar de minimalismo, mas a impressão que dá é que acabou o dinheiro na metade da obra. Nem o lounge se salva - simples sofás brancos sobre uma marquise de cimento queimado fizeram com que eu me sentisse no prédio da Bienal, em algum daqueles "lounges" improvisados em eventos.
Se pelo menos o clube tivesse uma vibe alucinante, como no Pacha Buenos Aires, onde as pessoas interagem com o DJ, pulam, gritam, batem palmas e explodem a cada virada, não seria nada. Mas pelo funil dos preços altos só passam cocotas de salto alto e netos de banqueiros, e o que se vê é uma pista morna e blasé, com patricinhas conversando em rodinhas e tomando champagne, de costas para o DJ, e "vips" isolados em camarotes em volta da pista - que, com isso, custa ainda mais a bombar. Achei muito pouco pela fortuna que se paga.
Mas hoje o Pacha se redimiu. A estréia da day party We Love Sundays (sobre a qual já falei aqui) foram outros quinhentos. Foi só abaixarem um pouco os preços (entre R$ 40 e R$ 80) e darem uma diversificada na divulgação que os resultados logo apareceram: um público muito mais interessante, lindo e cheio de entusiasmo lotou a área externa onde foi feita a festa. Tinha gente de todos os clãs, gente da alta mas também gente low profile e até figurinhas carimbadas do meio gay (André Almada, Turca, João Neto), que não têm o hábito de freqüentar a casa (aliás, os donos de clubes no Exterior são unânimes em dizer que a freqüência mixed é essencial para o sucesso de uma boa pista).
Foi uma tarde ótima, que logo virou noite, coroada pelo som sexy do grande Steve Lawler, que desta vez usou mais electrohouse e menos progressive house no set, fazendo todo mundo rebolar. Não havia quem não estivesse se divertindo - com algumas vódegas a mais, dava até para jurar que se estava mesmo na We Love Sundays original, que faz os domingos da Space de Ibiza serem únicos no mundo.
E agora, acabo de ficar sabendo que o Pacha vai trazer, na noite do dia 25 de maio, sexta-feira, o DJ Desyn Masiello. Masiello é um dos poucos grandes nomes do house progressivo que eu ainda não vi tocar mundo afora e estava louco para ver. Os CDs compilados do cara são maravilhosos e a minha expectativa está altíssima - desde já, aposto que vai ser um dos sets do ano. Fica aí a dica, esse vale até o preço da entrada cheia. Chame seus amigos e se jogue, porque vai ser incrível.
Minha estréia no Pacha SP me deixou um pouco frustrado. O maior problema não foram os preços caríssimos (a começar pela entrada, entre R$ 120 e R$ 150 para homens), mas o pouco que o Pacha entrega pelo dinheiro. Enquanto o Pacha Ibiza tem ambientes caprichados e ricamente decorados, com plantas, lustres, velas, cores, enfeites, a decoração aqui (pelo menos nesse começo) é meio pobrinha: tudo branco, tudo seco, tudo pelado. Podem chamar de minimalismo, mas a impressão que dá é que acabou o dinheiro na metade da obra. Nem o lounge se salva - simples sofás brancos sobre uma marquise de cimento queimado fizeram com que eu me sentisse no prédio da Bienal, em algum daqueles "lounges" improvisados em eventos.
Se pelo menos o clube tivesse uma vibe alucinante, como no Pacha Buenos Aires, onde as pessoas interagem com o DJ, pulam, gritam, batem palmas e explodem a cada virada, não seria nada. Mas pelo funil dos preços altos só passam cocotas de salto alto e netos de banqueiros, e o que se vê é uma pista morna e blasé, com patricinhas conversando em rodinhas e tomando champagne, de costas para o DJ, e "vips" isolados em camarotes em volta da pista - que, com isso, custa ainda mais a bombar. Achei muito pouco pela fortuna que se paga.
Mas hoje o Pacha se redimiu. A estréia da day party We Love Sundays (sobre a qual já falei aqui) foram outros quinhentos. Foi só abaixarem um pouco os preços (entre R$ 40 e R$ 80) e darem uma diversificada na divulgação que os resultados logo apareceram: um público muito mais interessante, lindo e cheio de entusiasmo lotou a área externa onde foi feita a festa. Tinha gente de todos os clãs, gente da alta mas também gente low profile e até figurinhas carimbadas do meio gay (André Almada, Turca, João Neto), que não têm o hábito de freqüentar a casa (aliás, os donos de clubes no Exterior são unânimes em dizer que a freqüência mixed é essencial para o sucesso de uma boa pista).
Foi uma tarde ótima, que logo virou noite, coroada pelo som sexy do grande Steve Lawler, que desta vez usou mais electrohouse e menos progressive house no set, fazendo todo mundo rebolar. Não havia quem não estivesse se divertindo - com algumas vódegas a mais, dava até para jurar que se estava mesmo na We Love Sundays original, que faz os domingos da Space de Ibiza serem únicos no mundo.
E agora, acabo de ficar sabendo que o Pacha vai trazer, na noite do dia 25 de maio, sexta-feira, o DJ Desyn Masiello. Masiello é um dos poucos grandes nomes do house progressivo que eu ainda não vi tocar mundo afora e estava louco para ver. Os CDs compilados do cara são maravilhosos e a minha expectativa está altíssima - desde já, aposto que vai ser um dos sets do ano. Fica aí a dica, esse vale até o preço da entrada cheia. Chame seus amigos e se jogue, porque vai ser incrível.
quarta-feira, 2 de maio de 2007
Chus & Ceballos em São Paulo
O Mix Brasil e o blog do Italo acabam de informar que a dupla espanhola Chus & Ceballos vai se apresentar em São Paulo no dia 18 de maio, sexta-feira, numa edição da festa gay E-Joy. Com isso, deixa de ser necessário ir até Maresias para vê-los tocar no Sirena, no sábado 19 (data em que a The Week receberá outro nome querido pelo público gay, o DJ Offer Nissin).
Quem gosta de Offer Nissin (e estava sendo forçado a escolher entre os dois) já tem a resposta na ponta da língua: vai ver Chus & Ceballos em São Paulo mesmo, para poder bater cabelo com a Nissin Lamen no sábado. Já para quem não curte o som do israelense, ver C&C na E-Joy ou no Sirena tem prós e contras. Coloco aqui os dois lados da questão:
MOTIVOS PARA VER CHUS & CEBALLOS NO SIRENA:
1) Chus & Ceballos saberão que o público da E-Joy é gay e o do Sirena é hétero. Será que isso influenciará o set deles em cada lugar ? Com certeza sim, e não necessariamente para o bem: basta lembrar da apresentação farofa que eles fizeram no Cine Ideal, no Rio. Muitos DJs tendem a tocar mais drag music quando estão diante de ouvintes gays - sobretudo de barbies, que têm um gosto musical cada vez mais estreito. Para quem está indo atrás de C&C porque conhece as produções e gosta do som deles, é muito mais garantido sair satisfeito do Sirena do que da E-Joy.
2) Longe de mim rogar qualquer praga na E-Joy, mas a festa já teve alguns episódios constrangedores em sua trajetória - todo mundo se lembra da não-festa que eles fizeram com o próprio Offer Nissin, na Vila Olímpia. E eu não ficaria surpreso se a The Week, que gosta de sabotar iniciativas concorrentes, desse um jeito de jogar areia na festa, fazendo surgir uma denúncia anônima de que o tal local "novo local na Barra Funda" não tem alvará. No Sirena, não tem amadorismo que faça a festa bufar em cima da hora.
3) É sempre bom sair de São Paulo, e o Sirena inclui no pacote a aventura da viagem e do passeio em si. Optar pelo Sirena não significa apenas ver o C&C (embora eles sejam o pretexto), mas também dar uma pinta em Maresias, ver gente nova (e encher os olhos com os caras gatos do Sirena), enfim, variar um pouco das mesmas pessoas de sempre.
MOTIVOS PARA VER CHUS & CEBALLOS NA E-JOY:
1) Maresias tem custos maiores embutidos: gasolina até lá, alimentação, estadia - e o trampo de pegar 2h20 de estrada pra ir e 2h20 de estrada pra voltar, ainda que isso seja feito em dias diferentes. Sem falar que a serrinha que liga Maresias a Boiçucanga exige atenção; se em SP já é importante sobrar um motorista sóbrio e lúcido, na estrada isso é mais importante ainda.
2) Para os gays, é infinitamente melhor se jogar numa pista de dança gay, onde dá pra ficar fofo, beijar e abraçar à vontade, sem medo de levar coió (os pitboys do Sirena já arranjam briga com outros héteros; imagine com gays desavisados que, no calor da onda, começarem a ficar "à vontade" demais !). E outra: agora que a notícia do C&C na E-Joy vai vazar, todos os gays que iam pro Sirena vão dar pra trás e ficar com a E-Joy, que é mais perto e não atrapalha o Offer Nissin.
3) A graça de fazer o passeio até Maresias vai toda para o ralo se no fim de semana da festa o tempo fechar ou, pior ainda, chover. Optando por ficar em São Paulo, você não precisa passar a semana inteira encanado, controlando a previsão do tempo para o final de semana.
Como eu não faço nenhuma questão de ver o Offer Nissin, posso acabar escolhendo a E-Joy ou o Sirena. Não sei ainda o que vou decidir. Façam suas apostas!
Quem gosta de Offer Nissin (e estava sendo forçado a escolher entre os dois) já tem a resposta na ponta da língua: vai ver Chus & Ceballos em São Paulo mesmo, para poder bater cabelo com a Nissin Lamen no sábado. Já para quem não curte o som do israelense, ver C&C na E-Joy ou no Sirena tem prós e contras. Coloco aqui os dois lados da questão:
MOTIVOS PARA VER CHUS & CEBALLOS NO SIRENA:
1) Chus & Ceballos saberão que o público da E-Joy é gay e o do Sirena é hétero. Será que isso influenciará o set deles em cada lugar ? Com certeza sim, e não necessariamente para o bem: basta lembrar da apresentação farofa que eles fizeram no Cine Ideal, no Rio. Muitos DJs tendem a tocar mais drag music quando estão diante de ouvintes gays - sobretudo de barbies, que têm um gosto musical cada vez mais estreito. Para quem está indo atrás de C&C porque conhece as produções e gosta do som deles, é muito mais garantido sair satisfeito do Sirena do que da E-Joy.
2) Longe de mim rogar qualquer praga na E-Joy, mas a festa já teve alguns episódios constrangedores em sua trajetória - todo mundo se lembra da não-festa que eles fizeram com o próprio Offer Nissin, na Vila Olímpia. E eu não ficaria surpreso se a The Week, que gosta de sabotar iniciativas concorrentes, desse um jeito de jogar areia na festa, fazendo surgir uma denúncia anônima de que o tal local "novo local na Barra Funda" não tem alvará. No Sirena, não tem amadorismo que faça a festa bufar em cima da hora.
3) É sempre bom sair de São Paulo, e o Sirena inclui no pacote a aventura da viagem e do passeio em si. Optar pelo Sirena não significa apenas ver o C&C (embora eles sejam o pretexto), mas também dar uma pinta em Maresias, ver gente nova (e encher os olhos com os caras gatos do Sirena), enfim, variar um pouco das mesmas pessoas de sempre.
MOTIVOS PARA VER CHUS & CEBALLOS NA E-JOY:
1) Maresias tem custos maiores embutidos: gasolina até lá, alimentação, estadia - e o trampo de pegar 2h20 de estrada pra ir e 2h20 de estrada pra voltar, ainda que isso seja feito em dias diferentes. Sem falar que a serrinha que liga Maresias a Boiçucanga exige atenção; se em SP já é importante sobrar um motorista sóbrio e lúcido, na estrada isso é mais importante ainda.
2) Para os gays, é infinitamente melhor se jogar numa pista de dança gay, onde dá pra ficar fofo, beijar e abraçar à vontade, sem medo de levar coió (os pitboys do Sirena já arranjam briga com outros héteros; imagine com gays desavisados que, no calor da onda, começarem a ficar "à vontade" demais !). E outra: agora que a notícia do C&C na E-Joy vai vazar, todos os gays que iam pro Sirena vão dar pra trás e ficar com a E-Joy, que é mais perto e não atrapalha o Offer Nissin.
3) A graça de fazer o passeio até Maresias vai toda para o ralo se no fim de semana da festa o tempo fechar ou, pior ainda, chover. Optando por ficar em São Paulo, você não precisa passar a semana inteira encanado, controlando a previsão do tempo para o final de semana.
Como eu não faço nenhuma questão de ver o Offer Nissin, posso acabar escolhendo a E-Joy ou o Sirena. Não sei ainda o que vou decidir. Façam suas apostas!
terça-feira, 1 de maio de 2007
Tinta fresca no Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro é deprimente: sempre que eu volto de lá, me dá uma deprê danada. Amo minha cidade mas, quando volto do Rio, preciso de pelo menos uma semana para recuperar minha auto-estima de paulistano e lembrar que São Paulo também é legal.
Brincadeiras e bairrismos à parte, os cariocas sempre guardaram um certo ressentimento pelo fato de que São Paulo se tornou o centro econômico e financeiro do País e, com isso, o Rio de Janeiro perdeu não só prestígio como também muito dinheiro. Antigamente, a maioria das grandes empresas tinha sede na Cidade Maravilhosa; hoje, pouquíssimas são as que não se transferiram para cá, deixando no Rio apenas um escritório comercial ou algo do tipo. Aos poucos, o Rio foi passando a receber menos investimentos e começou a viver uma certa sensação de abandono. Definitivamente, "o dinheiro do Brasil" não estava mais ali.
Se o Rio atravessou mesmo uma fase de desaquecimento econômico, o que me pareceu nessa última visita é que essa recessão já está bem longe, no passado. A cidade nunca esteve tão agitada em termos de novos investimentos - pelo menos, naqueles setores que um cidadão de fora como eu percebe. Fazia apenas dois meses que eu não ia para o Rio, e ainda assim fiquei impressionado com a quantidade de novidades que encontrei no circuitinho Zona Sul que eu freqüento.
Algumas dessas novidades já eram esperadas havia bastante tempo, é verdade. Os novos quiosques da orla de Copacabana, por exemplo, já deveriam estar prontos para o verão passado, mas só agora finalmente deslancharam - vi muitos novos em funcionamento. Ainda em Copacabana, a nova estação do metrô ficou uma beleza. Chama-se Cantagalo e foi construída estrategicamente na Praça Eugênio Jardim, pertinho do Corte Cantagalo, servindo também aos moradores da Lagoa. E, como já era óbvio que o metrô para a Barra não iria sair do papel a tempo para os Jogos Panamericanos, trataram de esticar até lá o tal "Metrô na Superfície", típico improviso de carioca que, de qualquer forma, permite uma viagem bem mais rápida do que pelo ônibus normal.
Em Ipanema, outras novidades com cheiro de tinta fresca. A tradicional padaria Martinica, na esquina da Visconde com a Vinícius, praticamente veio abaixo e se refez do zero - ficou um desbunde, parece até aquelas superpadarias classudas de São Paulo. E o querido Gula Gula construiu uma nova filial Ipanema, na Henrique Dumont, aposentando o apertado ponto da Aníbal de Mendonça. No Leblon, o Shopping Leblon já é notícia velha, mas continua dando o que falar, com mais restaurantes abrindo no piso superior - depois de Ráscal e Outback, veio o japa fashion Nori, e o primeiro Wraps carioca já está a caminho. E, por falar em restaurantes, não dá pra esquecer do recente boom de restaurantes paulistanos no Rio, de que já falei, especialmente no Jardim Botânico.
Para completar, a The Week, maior clube gay do Brasil e sensação da noite paulistana desde 2004, acaba de anunciar que abrirá no final de maio uma filial no Rio de Janeiro. O local escolhido fica na zona portuária da cidade e a boate terá capacidade para 2000 pessoas - o que é muito, dado o porte da cena noturna carioca. A julgar pelo que aconteceu com a matriz, a The Week Rio tem tudo para fazer sucesso também com o público hétero, e quem sabe comandar um efeito cascata de readequação urbana em toda a região.
Podem dizer que essas novidades beneficiam uma parcela restrita da sociedade, ou mesmo que sou um cara fútil e de visão estreita por dar "tamanha importância" a um punhado de novos lugares "classe média". Mas o fato é que o Rio está vivendo um momento de otimismo, com idéias novas e dinheiro novo. Nós, paulistanos, costumamos ter a sensação de que no Rio as coisas não acontecem, que a cidade vive estagnada, curtindo preguiçosamente a leseira praiana dos cariocas; os exemplos de que falei hoje são um claro sinal de que lá as coisas estão acontecendo sim, e numa velocidade no mínimo comparável à de São Paulo.
Brincadeiras e bairrismos à parte, os cariocas sempre guardaram um certo ressentimento pelo fato de que São Paulo se tornou o centro econômico e financeiro do País e, com isso, o Rio de Janeiro perdeu não só prestígio como também muito dinheiro. Antigamente, a maioria das grandes empresas tinha sede na Cidade Maravilhosa; hoje, pouquíssimas são as que não se transferiram para cá, deixando no Rio apenas um escritório comercial ou algo do tipo. Aos poucos, o Rio foi passando a receber menos investimentos e começou a viver uma certa sensação de abandono. Definitivamente, "o dinheiro do Brasil" não estava mais ali.
Se o Rio atravessou mesmo uma fase de desaquecimento econômico, o que me pareceu nessa última visita é que essa recessão já está bem longe, no passado. A cidade nunca esteve tão agitada em termos de novos investimentos - pelo menos, naqueles setores que um cidadão de fora como eu percebe. Fazia apenas dois meses que eu não ia para o Rio, e ainda assim fiquei impressionado com a quantidade de novidades que encontrei no circuitinho Zona Sul que eu freqüento.
Algumas dessas novidades já eram esperadas havia bastante tempo, é verdade. Os novos quiosques da orla de Copacabana, por exemplo, já deveriam estar prontos para o verão passado, mas só agora finalmente deslancharam - vi muitos novos em funcionamento. Ainda em Copacabana, a nova estação do metrô ficou uma beleza. Chama-se Cantagalo e foi construída estrategicamente na Praça Eugênio Jardim, pertinho do Corte Cantagalo, servindo também aos moradores da Lagoa. E, como já era óbvio que o metrô para a Barra não iria sair do papel a tempo para os Jogos Panamericanos, trataram de esticar até lá o tal "Metrô na Superfície", típico improviso de carioca que, de qualquer forma, permite uma viagem bem mais rápida do que pelo ônibus normal.
Em Ipanema, outras novidades com cheiro de tinta fresca. A tradicional padaria Martinica, na esquina da Visconde com a Vinícius, praticamente veio abaixo e se refez do zero - ficou um desbunde, parece até aquelas superpadarias classudas de São Paulo. E o querido Gula Gula construiu uma nova filial Ipanema, na Henrique Dumont, aposentando o apertado ponto da Aníbal de Mendonça. No Leblon, o Shopping Leblon já é notícia velha, mas continua dando o que falar, com mais restaurantes abrindo no piso superior - depois de Ráscal e Outback, veio o japa fashion Nori, e o primeiro Wraps carioca já está a caminho. E, por falar em restaurantes, não dá pra esquecer do recente boom de restaurantes paulistanos no Rio, de que já falei, especialmente no Jardim Botânico.
Para completar, a The Week, maior clube gay do Brasil e sensação da noite paulistana desde 2004, acaba de anunciar que abrirá no final de maio uma filial no Rio de Janeiro. O local escolhido fica na zona portuária da cidade e a boate terá capacidade para 2000 pessoas - o que é muito, dado o porte da cena noturna carioca. A julgar pelo que aconteceu com a matriz, a The Week Rio tem tudo para fazer sucesso também com o público hétero, e quem sabe comandar um efeito cascata de readequação urbana em toda a região.
Podem dizer que essas novidades beneficiam uma parcela restrita da sociedade, ou mesmo que sou um cara fútil e de visão estreita por dar "tamanha importância" a um punhado de novos lugares "classe média". Mas o fato é que o Rio está vivendo um momento de otimismo, com idéias novas e dinheiro novo. Nós, paulistanos, costumamos ter a sensação de que no Rio as coisas não acontecem, que a cidade vive estagnada, curtindo preguiçosamente a leseira praiana dos cariocas; os exemplos de que falei hoje são um claro sinal de que lá as coisas estão acontecendo sim, e numa velocidade no mínimo comparável à de São Paulo.
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