segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

E todos saíram ganhando

No post anterior, eu alardeei as maravilhas do carnaval carioca, e sentenciei: digam o que disserem, não há lugar melhor para passar essa data do que o Rio. Pelo menos quando o assunto é a fauna humana disponível.

Eis que nesse sábado que passou, fui à The Week - interrompendo um jejum de vários meses sem ir lá. Fui mais para encontrar os amigos, que passaram o carnaval nos mais variados lugares, e colher as impressões gerais de todos. E o que me pareceu foi que não teve tempo ruim em lugar nenhum. Quer dizer, tempo ruim teve (especialmente em Floripa), mas todo mundo saiu feliz.

Meus amigos que escolheram Floripa disseram que a varinha de condão da The Week fez maravilhas pela ilha da magia. A ferveção na Praia Mole teve um super upgrade com a instalação do quiosque da TW - uma alternativa à bagaceirice do eternamente desleixado Bar do Deca. E a noite ganhou outro presentão, que foram as festas organizadas pelo clube paulistano - com direito a toda a estrutura e profissionalismo que fizeram da TW o que ela é. Todo mundo que foi adorou e disse que viveu momentos mágicos, num astral leve e diferente.

E quem fugiu da Mole em direção ao norte da ilha confirmou o hype de Jurerê Internacional: o público é mesmo lindo, o som é mesmo incrível e, com a ajuda de providenciais tacinhas de champagne (que já eram entornadas na areia às 10 da manhã), dava até para jurar que se estava, se não na praia ibicenca de Salinas, pelo menos em Punta del Este. Então tá.

Ainda em Santa Catarina, dois clãs apostaram na Praia Brava (vizinha do farofeiro Balneário Camboriú). A cena de lá tem como destaque o superclube Warung, templo maior da cena eletrônica do Sul do Brasil e o clube brasileiro que mais traz DJs de progressive house pra tocar (junto com o Sirena de Maresias). Eles contaram que o clube é absurdo, só gente linda de morrer e numa vibe excelente, e que os sets do infalível Hernán Cattaneo e da dupla Deep Dish foram históricos (o do Deep Dish foi da 1h30 da manhã até meio-dia !). E que, além do Warung, havia ainda um beach bar babadeiríssimo, chamado Kiwi, onde rolavam altas jogações al mare, com house do bom até as 9 da noite. Eles gostaram tanto que estudam até parar de freqüentar Trancoso e passar a ir para lá.

Já os que foram para Salvador disseram que não presenciaram de nenhum dos incidentes de violência que saíram nos jornais. Rolou beijação em alguns trios, rolou o habitual fervo na "pipoca" e no Beco da Off e rolou bastante jogação off-Carnaval - com direito a uma festa eletrônica naquele parque aquático desativado que fica no norte da cidade, e as pessoas dançando numa pista construída dentro da piscina, na beira da praia. Voltaram para casa quase tão estragados quanto aqueles que vieram do Rio...

O circuito Recife-Olinda teve menos adeptos, mas ainda assim consegui pescar dois amigos que foram pra lá, cada um numa onda bem peculiar. Um deles é paraibano de João Pessoa e, querendo reviver as farras de sua adolescência, apostou no carnaval de rua; o outro, DJ carioca radicado aqui em São Paulo, mostrou seu electrohouse em eventos off-Carnaval de lá e disse que o público recebeu superbem (o que não me surpreende: ele é ótimo no que faz e os recifenses são super antenados). Ambos voltaram satisfeitos.

Fiquei pensando então: pelo jeito quem se ferrou mesmo foi quem ficou em São Paulo. Que nada. Logo depois encontrei um antigo colega de faculdade que se jogou na The Week em alguns dias e disse que a casa estava cheia de "novos talentos" do interior e que ele aproveitou horrores, ficou com vários e teve um Carnaval pra lá de animado...

Pelo visto, 2007 foi o ano do milagre. Todos os caminhos apontaram para a felicidade nesse Carnaval.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

10 notas soltas e picadas sobre o Carnaval do Rio

1 - O tempo esteve maciçamente lindo, com dias incríveis de céu azul e muito sol - o que por si só já deixa a cidade com um ótimo astral. Quem já viveu Réveillons e Carnavais de céu cinza e chuva diária sabe que tempo bom faz toda a diferença no Rio.

2 - Percebia-se a ausência de algumas figurinhas carimbadas que resolveram optar por Floripa dessa vez, mas ainda assim a praia lo-tou, o Bofetada lo-tou, as festas lo-taram e a sauna... tinha fila de espera de até 50 pessoas do lado de fora, esperando alguns foliões saírem da casa absolutamente intransitável para que outros pudessem entrar. Ou seja: o ibope do Rio continua muito bem, obrigado.

3 - Com as areias da Farme totalmente malocadas, a tal "Faixa de Gaza" entre a Farme e a Vinícius consagrou-se como o melhor lugar para ficar. Mais espaço entre os guarda-sóis (eu me recuso a chamá-los de "barracas", como os cariocas), mais limpeza, menos bagaceirice (mas não menos gayness) e um clima muito mais relaxante. E, vale lembrar, a pouquíssimos passos do basfond.

4 - Não rolou coió. Os pitboys andaram ameaçando, mas a reação da comunidade veio rápido, com reforço da Polícia Militar e um ato contra a homofobia em plena Vieira Souto, onde foi estendida uma bandeira de arco-íris de 200 metros. Foi uma resposta oportuna e muito bem-vinda. Deixem as bichas em paz e vão resolver os conflitos interiores de vocês, rapazes.

5 - A Banda de Ipanema está voltando às raízes e tornando-se cada vez mais plural, para não dizer heterossexual. Nada de cenas de baixaria explícita no meio da rua - o que se via era a brincadeira inocente de pessoas de todos os tipos entoando marchinhas de carnaval em uníssono, como se estivessem todos na canção de Chico Buarque, vendo a banda passar cantando coisas de amor. Já era hora de as bilus fazerem a sua parte e mostrarem um pouco mais de educação e compostura, se querem ser aceitas pela sociedade como pessoas dignas e merecedoras de tratamento equivalente.

6 - Se no meio eletrônico-gay o que dá a tônica são as festas e chillouts, entre os héteros o que pega mesmo são os blocos de carnaval de rua. Alguns tornaram-se tão mega que passaram a divulgar horários falsos - marcavam para as 14h00, mas saíam na surdina às 9h00, para afugentar a lotação. E ainda assim, não davam conta. O folião carioca-padrão encara até três blocos num dia, sem perder a ginga nem a hidratação. É um espírito carnavalesco bastante arraigado - e totalmente estranho aos paulistanos.

7 - Falando em héteros, a cena carioca mostrou o que quem freqüenta Ibiza sabe faz tempo: uma boa festa com público mixed é muito mais bacana do que uma noite em um gueto. A festa organizada pela TIM no Jockey Clube, com o Deep Dish, foi maravilhosa em todos os sentidos. Boa produção (uma tenda enorme com acústica impecável e toda a vista do Jockey do lado de fora), ótimo som (não só do Deep Dish, que serviu a salada moderna de progressive e electrohouse que os fãs adoram, mas também da gatinha Miss Nine, que está abrindo para eles na turnê mundo afora) e gente linda linda linda. Aliás, a quantidade de homem bonito era desconcertante. Corpos fortes, pele dourada e beleza natural, de camiseta de algodão, sem frescuras. Sair da festa e ver aquele monte de marmanjo gostoso mijando na calçada, de um jeito maroto que só o carioca tem... não tem preço.

8 - Já entre as festas gays, os destaques foram dois: (1) a B.I.T.C.H., que conseguiu abarrotar a imponente Estação Leopoldina para a performance apoteótica de Offer Nissim - a cruza exótica de Danuza Leão com Marília Gabriela desceu de um elevador e fez um set bem dosado, misturando divas pop com momentos mais pesados e levando o público ao delírio; e (2) a E.njoy, que depois de tantas dificuldades finalmente conseguiu acertar no Vivo Rio a apresentação do top top top Peter Rauhofer. Para variar, o carudo entrou mudo e saiu calado, mas seu som não precisa de sorrisos para agradar. A mistura precisa de progressive e tech house com vocais femininos atmosféricos é perfeita para a colocação, é tudo o que as festas gays deveriam tocar - e tem tanta personalidade que, assim que começa, você sabe que é ele tocando, mesmo que você esteja trancado no banheiro. Completada por uma estrutura impecável, com ar condicionado bombando e bares e banheiros de sobra, a E.njoy causou sensação, numa noite de puro devaneio que acabou às 9 da manhã - e, para quem estava lá, ainda foi pouco.

9 - Já Fábio Monteiro pelo visto ainda não se livrou de sua maré de azar. A clássica X-Demente de sábado na Fundição foi chamada de "morna" pela maior parte das pessoas que lá se aventuraram. Só o caldeirão teve (algum) movimento - nem sinal das noites de puro brilho no terraço, que os modernos realmente abandonaram, em prol de eventos mais direcionados como a festa do DJ Hell no Circo Voador. E, para estragar a X da Marina e soterrar Fábio de vez, Rosane Amaral resolveu esticar sua pool party de terça até às 2 da manhã. A X está acontecendo neste momento, enquanto escrevo (já de SP), mas duvido que, depois da jogação superluxo do Peter Rauhofer e de mais um dia de praia e pool party, as pessoas tenham tido ânimo para encarar a Marina. (update: pelo que eu soube depois, a X na Marina super rolou, as bees guerreiras se jogaram sim!)

10 - Floripa pode ter tido um upgrade incrível, Salvador pode render uma boa beijação, mas, quando o assunto é macho bonito, o Rio ainda é the place to be. Não tem jeito... na praia, nos cafés da Farme, na loja de suco, nas festas, na fila do supermercado, no calçadão, em toda parte, transbordam por todos os lados belíssimos espécimes para todos os gostos, o que mostra que nenhuma outra cidade do mundo tem uma convergência de homens tão especial como o Rio de Janeiro. E duvido que um dia isso deixe de ser assim. E tenho dito.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

10 dicas para o carnaval no Rio

Amanhã o povo começa a debandar de São Paulo para o Carnaval que escolheu. O meu será no Rio de Janeiro mesmo. Aproveito a deixa para dar aqui alguns conselhos e dicas para quem escolheu o mesmo destino que eu (a maioria já é "macaco velho", mas tenho pelo menos três amigos que estão perdendo a virgindade de carnaval carioca, então esse post é dedicado a eles).

1. Vai de ônibus ? Se chegar de dia, vá para a Zona Sul usando o "frescão" (ônibus de turismo com ar condicionado) - o ponto dele fica na calçada, atrás da fila de táxis que você verá do saguão de desembarque. Se chegar de noite, não pegue táxi comum na rua (você pode entrar numa roubada), nem os especiais dos guichês do saguão interno da rodoviária. Use o do guichê que fica do lado de fora do saguão, no canto direito - é uma cooperativa bem mais barata e você paga a corrida no próprio balcão (o preço é fechado por bairro).

2. Por melhores que te pareçam as festas, não deixe de viver também o dia, aproveite a praia em Ipanema. Mas leve o mínimo de coisas necessário: a areia fica extremamente lotada e é muito difícil tomar conta das coisas - os furtos comem soltos nessa época. Melhor uma bermuda com bolsos do que uma mochila, e nada de iPod ou câmera digital largados dando sopa. Não descuide.

3. Se for se jogar na Banda de Ipanema, muito cuidado: no meio do empurra-empurra, sempre tem uma molecada do mal que se mete no meio da muvuca e enfia a mão nos bolsos dos desavisados na maior cara-de-pau. Todo ano é a mesma coisa - e tem gente que não aprende e continua levando prejuízo.

4. Dizem por aí que os pitboys voltarão a atacar as bees nas imediações da Farme e Bofetada. Pode ser boato mas, pelo sim pelo não, abra o olho. E, independentemente dessa ameaça, que tal sair um pouco do pombal e dar uma variada ? As areias do Coqueirão (entre Joana Angélica e Maria Quitéria) estão cheias de gente bonita. Se você não quer ficar tão longe do fervo, vá apenas alguns metros em direção à Vinícius de Moraes - essa área já se estabeleceu como uma "zona de transição semigay", uma espécie de Faixa de Gaza.

5. Bateu o olho e gostou ? Fique esperto com quem você arrasta pro seu hotel. Boa Noite Cinderela não é lenda urbana e não é só gringo que cai no golpe. Muitos hotéis nem deixam hóspedes trazerem gente de fora. E se você estiver hospedado na casa de amigos, nem pensar em arrastar uma pessoa completamente desconhecida pra lá, certo ? Pulgueiros de alta rotatividade existem pra isso, em Copa mesmo tem.

6. Ih, deu chuva ? Vá conhecer o novo Shopping Leblon e veja a vista da Lagoa a partir da praça de alimentação. Passe uma tarde agradável enfurnado na übercool Livraria da Travessa (tem uma filial dela nesse shopping, mas a original é na Visconde de Pirajá 572). Ou, se seu negócio é basfond nonstop, jogue-se com fé nos vapores da célebre 64.

7. Não deixe de se alimentar direito, senão a jogação vai te derrubar. E não precisa ficar comendo naquele Natural decrépito todo santo dia, né ? Na Farme mesmo tem o Cafeína e o Colher de Pau, e a poucos passos há quilos de qualidade como o Frontera (na Visconde) e o Fazendola (na praça General Osório). Andando um pouco mais, ainda em Ipanema, aposte no rango gostoso e descomplicado do Delírio Tropical, esbalde-se com os peixes fresquinhos do Nik Sushi e as saladas encorpadas do Gula Gula. E, se encarar um almocinho no Leblon, o Bibi Sucos e o quilo Fellini são só algumas das muitas boas opções que você tem.

8. Não comprou seu convite antecipado ? Então chegue cedo nas festas - o preço de porta vai subindo vertiginosamente com o passar das horas. E, se anunciaram que até meia-noite será xis, se você chegar às 23h45 pagará 2 xis, porque a produção espertamente liberará a fila bem devagar para não dar tempo de todo mundo entrar. Ah sim, e se você acha que há o risco de querer usar o banheiro no meio da festa, leve de casa um pouco de papel higiênico dobrado no bolso - com toda a certeza não vai ter na hora, e você passará por maus bocados, especialmente na X-Demente da Fundição.

9. Vai para a Sapucaí assistir aos desfiles ou sair na avenida ? Vai se jogar na gafieira abusada do Elite ? Use o metrô para ir (nas noites de Carnaval, o serviço funciona excepcionalmente durante a madrugada, e os vagões ficam cheios de foliões fantasiados; desça na estação Central). Mas volte de táxi, a menos que você esteja num grupo bem grande.

10. Quer dar um tempo da função e da muvuca ? Lembre-se de que você está numa das cidades mais lindas do mundo - e não é preciso ir muito longe para relaxar. Vá dar uma volta pela Lagoa. Pegue o 511 na Visconde de Pirajá e vá passear na Urca. Visite o Jardim Botânico e o vizinho Parque Lage. Faça um passeio de bicicleta pelo Aterro do Flamengo. Ou, se quiser uma praia mais sossegada (e tiver carona), vá para a Reserva, ou mesmo para Itacoatiara, em Niterói. Só não invente de ir para Búzios nessa época - lá com certeza você vai se estressar ainda mais do que no Rio.

Um excelente Carnaval para todos !!!

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Hit parade do verão nordestino

Foram dezoito dias entre Salvador e Recife, com direito a muita praia (do Porto da Barra à Aleluia, de Boa Viagem a Porto de Galinhas) e também festinhas aqui e ali (em boates e até em uma escuna). Nessas andanças, deu pra fazer um hit parade com os 5 principais hinos que marcaram o verão 2007 nas duas maiores capitais do Nordeste. Lá vai:

1) Shakira feat. Wyclef Jean: "Hips Don't Lie" - Aquelas cornetas inconfundíveis que evocam Miami tocaram em todo lugar. Finalmente um hit de alcance mundial na carreira dessa colombiana cada vez mais parecida com a Elba Ramalho (só falta um moreno gostosão 20 anos mais novo a tiracolo).

2) Bob Sinclair: "World Hold On" - É aquela velha história: descer o nível para fazer sucesso. Nem dá pra acreditar que esse lixo é do mesmo produtor da pérola "I Feel For You", de 2000. Será que alguém ainda agüenta aquele assobio irritante ? Os baianos e pernambucanos pelo jeito sim.

3) Mason: "Exceeder" - Um dos hits do último verão europeu, esse electrinho chegou de leve no Brasil e, inesperadamente, já aportou no Nordeste. Tocou na festa da escuna que reuniu o crème de la crème das barbies de Salvador; esteve no set do Fatboy Slim em sua apresentação em Recife, no Marco Zero da cidade; e foi citada com destaque pela Jovem Pan FM recifense, em seu programa de novidades. Biscoito fino.

4) Vanessa da Mata: "Ai Ai Ai" - Uma peculiaridade das pistas nordestinas: elas não têm absolutamente nenhum preconceito com músicas em português - diferentemente do Sudeste, que torce o nariz para isso. O "banho de chuva" em versão remixada era garantia de animação em qualquer festa - moderninha ou bagaceira, gay ou hétero, dos finos ou do povão.

5) Os Kamaradas: "Não Me Chame Não Que Eu Vou" - Essa leva o troféu de grude insuportável do ano. O refrão "venha! venha! venha! venha! / venha! venha! venha! venha!" faz você pensar em mil jeitos cruéis de assassinar o maldito camelô do MP3, que toca a desgraçada faixa no repeat o dia inteiro, sob o sol escaldante dos trópicos. Ninguém merece.

Isso sem contar algumas esquisitices locais. A pista da Metrópole, a principal boate GLS de Recife, bomba mesmo é com o remix altamente farofoso de "Another Brick In The Wall" do Pink Floyd. E a praia de Boa Viagem tem um hino disco informal: "Dance Little Lady Dance", hit de 1976 da Tina Charles que todos os camelôs de MP3 do pedaço (que ficam passeando pelas areias com carrinhos) tocam todo santo dia.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Rio ou Floripa ? O meu veredito

E vamos logo escrever aquele post com o meu ponto de vista sobre o dilema do Carnaval 2007 (Rio x Floripa), antes que a polêmica fique velha.

Não vou puxar a sardinha para o lado do Rio ou de Floripa, mas sim colocar alguns fatores que levariam a cada uma das opções, e deixar que cada um faça sua escolha. Acho isso mais bacana do que fazer propaganda unilateral de um destino. Já passei vários carnavais nas duas cidades e acho que tenho know how para opinar.

Antes disso, tenho 3 considerações a fazer:

i) A cena carioca pode ter escorregado feio nas festas de réveillon, mas isso não chega a ofuscar o Rio como um destino de carnaval. Há que se lembrar que existe todo um contigente de pessoas que curte outros tipos de festa (desfilar na Sapucaí, por exemplo) e vai continuar indo pro Rio como sempre foi, e um enorme exército de gringos que está alheio a novas modinhas internas e vai continuar considerando apenas a Cidade Maravilhosa como opção. O Rio não vai ficar morno da noite pro dia.

ii) Muitos usam os investimentos da The Week como pretexto para alegar que Floripa é the new place to be e o Rio é passado. Eu discordo. Na minha opinião, se André Almada está jogando pesado em Santa Catarina, é porque sabe que no Rio ele teria que enfrentar uma briga de foice com Fábio, Rosane, Téo & cia., com resultados no mínimo incertos, enquanto que na ilha ele encontrará um mercado de noite muito mais capenga e por isso mesmo mais receptivo, que dará todo o espaço para a The Week brilhar e sair bonita na fita. A TW não investe no Rio porque no Rio não há espaço pra ela, só isso.

iii) É muito saudável que exista uma migração de pessoas do Rio para Floripa, e que se consolide a ilha como uma segunda cena de carnaval forte. Se podemos ter vários destinos bombando, isso é sinal de que o mercado está crescendo, e isso é legal pra todo mundo. É muito mais chato ter só uma opção realmente boa.


CINCO RAZÕES PORQUE VOCÊ DEVERIA ESCOLHER FLORIPA:

1) DEMOCRACIA E DIVERSIDADE. No Rio de Janeiro você é absolutamente invisível se não tiver bração, peitão e tanquinho (e isso não vale só para o meio gay; ser ostensivamente sarado é um requisito de aceitação em todos os ambientes cariocas). Já em Floripa o apreço pela beleza física continua dentro do limite saudável - não existe essa "ditadura barbie", há espaço para outros tipos de beleza, todos encontram um lugar ao sol (incluindo aí as próprias barbies).

2) PRAIAS. Floripa dá de dez nesse quesito. Se as praias urbanas do Rio já perdem a briga em outras épocas, no Carnaval elas ficam imundas, tanto a areia como a água. A Farme em particular fica parecendo um cortiço à beira-mar, dá nojo pisar lá. Já na ilha o babado rola num cenário muito mais bonito - a Praia Mole - com opção de dar alguns passos e acabar num verdadeiro paraíso - a Galheta - onde pode rolar basfond ou não (a escolha é sua). Sendo que, se for o caso de pegar o carro e fugir do pombal, só na ilha você tem mais de quarenta praias a escolher. O Rio tem a Barra, a Reserva e, quando muito, Itacoatiara (mas você iria até Niterói ?! sei !).

3) SEGURANÇA. Nem preciso falar que de modo geral há muito mais violência no Rio (o que não quer dizer que Floripa seja um oásis de calmaria; nessa época não faltam ladrões sazonais querendo uma fatia do patrimônio dos turistas). Mas a situação do Rio é ainda pior: além dos bandidos de sempre, consta que aqueles velhos pitboys de Ipanema estão saindo de suas tumbas (do armário eles não saem...) para promover a volta dos coiós e do terror homofóbico sobre o público da Farme.

4) NOVIDADE. Bem ou mal, o Rio tem sido por muito tempo o principal destino de todo mundo. É bom variar. As festas do réveillon carioca foram todas meio caídas, um claro sinal de que a cena de lá precisa de renovação. Nem a pool party da Rosane (que no carnaval 2006 era apontada como "o futuro da cena carioca") se sobressaiu: a locação que ela conseguiu infelizmente não chega nem aos pés da saudosa Estação do Corpo. O público quer novidades, e o Rio ainda não se mexeu o suficiente para isso. E vamos combinar: o Rio a gente freqüenta o ano todo, é fácil de ir em qualquer fim de semana. Não precisa ser Carnaval... já Floripa pede uma ocasião especial, e é essa a melhor hora para se visitar a ilha, pelo menos para quem quer ferver.


5) AMIGOS. Para muitos, o melhor Carnaval é aquele em que seus amigos estarão. E, seja pelo "bode" de Rio, seja pelo chamariz da The Week, seja pela simples vontade de arriscar, muita gente está apostando em Floripa neste ano - não só os habituais paulistas e sulistas, mas brasilienses, mineiros e até alguns cariocas. Por isso, se seus amigos resolveram descer para Santa Catarina, você tem mais um motivo para ir também.


CINCO RAZÕES PORQUE VOCÊ DEVERIA ESCOLHER O RIO:

1) ESTRUTURA. Floripa com chuva pifa. Se São Pedro fica de mal da região Sul do País (que é a primeira a receber as frentes frias da Argentina !) e o tempo fecha, não há o que fazer, não há plano B. Floripa não tem estrutura, não tem gastronomia, não tem cultura, não tem nada. Até o número de salas de cinema é pífio. Já no Rio... os humores também azedam quando o tempo fecha, mas dá pra escapar do fracasso de diversas maneiras. Bons restaurantes, bons centros de compras, um bom circuito cultural e, por que não, uma sauna movimentadíssima garantem ocupação enquanto as festas da noite não chegam.

2) CIRCULAÇÃO. Em Floripa você precisará de carro para tudo, e só Deus que vê tudo lá de cima sabe como o trânsito em Floripa é uma merda. A hora da saída da praia é um horror: o engarrafamento começa no final da Mole, dá a volta na Lagoa da Conceição e se prolonga em direção ao Centro. No Rio, você faz praticamente tudo a pé o tempo todo (quando muito, num ônibus rapidíssimo se você está hospedado no começo de Copa) e só vai pegar um táxi (baratinho, se comparando com os pouquíssimos da ilha) na hora de ir para a festa.

3) CORPOS. Já falei sobre isso mais acima, mas o que pode ser inconveniente para alguns é certamente muito bem-vindo para outros. Se seu negócio é corpão acima de tudo, seu lugar é e sempre será o Rio. Tem corpão galã (sim, daqueles lindos de morrer), corpão camarão (corta-se a cabeça e come-se o resto), corpão cafuçu (rústico e viril), corpão frutinha (que às vezes só se revela como tal na hora H), corpão michelle (vem com taxímetro acoplado), corpão poliglota (pencas de gringos que fazem as circuit parties mundo afora) e corpão semi-analfabeto (que, não raro, acaba se engraçando pelos corpões da categoria anterior). De todas as cores e tamanhos.

4) VERSATILIDADE. O Rio pode até focar demais nas barbies, mas seu Carnaval também tem opções para as outras tribos e é o mais completo para atender a todos. As barbies batem cartão na Farme e nas festas dirigidas a elas (X-Demente, Pool Party etc.), os modernos encontram seus pares nos clubes Dama de Ferro e Fosfobox e em festinhas de electro, e quem prefere uma diversão mais, digamos, bagaceira se esbalda no pós-praia do Bofetada, na sempre lotada Le Boy e nos babadeiríssimos bailes do Elite, onde rola de tudo (de tudo meeesmo: barba, cabelo & bigode !). E você ainda pode transitar entre esses universos, combinando os ingredientes à sua maneira e montando um roteiro pessoal rico e único - coisa que Floripa jamais poderá te dar.

5) MÚSICA BOA E VARIADA. Em Floripa, 110% das festas e projetos para esse carnaval é de house tribal, e, mais ainda, de qualidade variada - não são poucas as chances de você acabar dublando "Alone" mais de uma vez no seu Carnaval. Já o pacote Rio de Janeiro dá de brinde um time considerável de bons DJs gringos de vários estilos diferentes. Tem DJ Hell na sexta, Deep Dish no sábado e, dizem, Peter Rauhofer na segunda e na terça. Ah sim, e se a sua praia é house tribal mesmo, ainda tem Tony Moran, Offer Nissin, e a inevitável overdose de Ana Paula nas duas X-Dementes. Musicalmente, é Rio mesmo e não tem pra mais ninguém.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Outros ares

Eu continuo viajando, tenho mais alguns dias de férias pela frente e ainda não estou pronto para redigir aqui as minhas impressões das cenas de Salvador e Recife. Mas já posso dizer que, como eu havia adiantado no post anterior, aqui tem muito fervo gay sim. Fervo como era antigamente: conhecer pessoas, dar risada, beijar na boca, fazer sexo. Não esse 'fervo' pseudomoderno do eixo Rio-SP, em que todos se entopem de substâncias sintéticas de todos os tipos, para ficarem belíssimos e colocadíssimos, e terminam sempre sozinhos.

Nós que vivemos no tal eixo Rio-SP nos achamos os mais antenados com tudo, mas não percebemos que muitas vezes acabamos vivendo em um mundinho ainda menor e mais estreito do que os habitantes de outros Estados que consideramos "atrasados". Paulistanos e cariocas podem até ter acesso a mais informações (especialmente do Exterior), mas olham demais para seus umbigos "superiores" e cultivam gostos e preferências muito limitados, enquanto os baianos e pernambucanos são muito menos preconceituosos e mais receptivos a coisas novas, culturas novas. Pelo menos foi essa a impressão que eu tive.

Só posso dizer que estou achando ótimo dar esse tempo aqui pelo Nordeste. Não deixei pra trás, da noite para o dia, todos os interesses que eu tinha. Mas tive uma consciência maior de como o mundinho gay do Sudeste anda chato, com suas preocupações cada vez mais repetitivas... Rosane Amaral ou Fábio Monteiro ? Deca ou Dura ? E ou G ? Cera espanhola ou escova progressiva ? Na boa, pra mim já chega... e quando penso que, no Rio ou em Floripa, serão esses os únicos valores reinantes, me dá até uma vontade de adiar minha volta e ficar por aqui mesmo. Tenho certeza de que basfond não ia faltar.

Mas o fato é que na data prevista eu volto, e ainda antes do Carnaval redijo aquele prometido post comparando as propostas de Carnaval do Rio e de Floripa, para cada um tirar suas próprias conclusões.