segunda-feira, 30 de maio de 2005

Semana da Parada, parte 1: quarta e quinta


E São Paulo teve sua nona Parada Gay, com 2 milhões de participantes, exposição e comentários óbvios da mídia (as abobrinhas que o Faustão dizia na TV enquanto eu me vestia para ir à Paulista eram de doer). E, antes da Parada em si, como já é praxe, muitas festas e alguns eventos fizeram a alegria das colegas de todo o Brasil que lotaram os hotéis de São Paulo.

Na verdade eu tenho assunto para encher um post de quatro páginas, mas meus textos acabam ficando sempre longos demais e eu preciso começar urgentemente a controlar essa incontinência verbal. Senão ninguém vai ler nada do que eu escrevo.

Assim, vou só fazer um breve relato das festas e eventos de que participei, como um diário de bordo mesmo. Não é o que eu queria fazer, mas é o mais viável neste momento. Depois, se eu tiver tempo, escrevo mais.

Quarta, 25 de maio. Abertura oficial dos trabalhos, com o esperado long set do DJ americano Abel na The Week. A casa estava lindamente decorada, com iluminação vermelha nas árvores ao redor da piscina e bolas gigantes sobre a pista, que se manteve desagradavelmente superlotada até quase 5 da manhã. O som do cara ? Sem sustos, correspondendo ao que se podia esperar de uma festa exclusivamente gay: tribal house à americana, bem alegre, pra cima, com vocais grudentos e algumas faixas bem rebolativas.

Abel virou ídolo no Brasil depois de um histórico set de 9 horas no extinto clube Level, na antevéspera da Parada de 2004 - muitos dizem até hoje que essa foi a melhor noite de suas vidas. Já para quem não é muito chegado em cha cha cha, a festa valeu mais pela animação do público, que ainda estava na primeira noite de jogação e transbordava energia, excitação e entusiasmo, e pela produção impecável da casa, disposta a impressionar os turistas e deixá-los com vontade de voltar. Pelo menos o Alisabel não tocou a insuportável Cha cha heels...

Quinta, 26 de maio. Foi um dia de transitar entre os espectros mais extremos da cena gay de São Paulo (e, por que não, do Brasil).

À tarde, o Centrão foi tomado por uma multidão pra lá de democrática em mais uma edição da Feira do Arouche, que levou mais de 50 mil pessoas ao Largo do Arouche. Em um enorme palco, drags queridas como Silvetty Montilla e Thalia Bombinha entretinham o público com suas palhaçadas, enquanto na praça espelhavam-se barracas e tendas com artigos de interesse do público GLBT, desde artigos de decoração até livros e sungas de praia (a mais concorrida era a tenda do For Man, novo canal de TV por assinatura de conteúdo homoerótico, que exibia uma generosa amostra de sua programação em cabines do tipo peep show).

Na multidão, gays novinhos da periferia, coroas de diversos estilos, casais e grupos de sapas, barbies do centrão, travestis e, também, um bom número de famílias e curiosos. Uma verdadeira salada de tipos (muitos dos quais habitualmente varridos para baixo do tapete pelas bichas do eixo Ipanema-Jardins) mostrava que existe muita vida e diversão além dos padrões estabelecidos pelo meio, que diz lutar pela tolerância, mas também é encharcado de preconceito.

À noite, enquanto o Ultralounge recebia o elogiado set do DJ Alex Lauterstein e a The Week fazia a festa dos econômicos que compraram o passe de 5 dias por R$100, fui conferir a Magma, festa promovida por duas conhecidas barbies da noite de SP numa boate hetero do Itaim chamada Lassù. Na escura pista de dança, o público era homogeneamente belo e barbie, num clima de confraternização entre amigos - provavelmente, todos ali já se conheciam de outras festas.

DJ queridinha da cena tribal carioca, Ana Paula fez um set previsível e bem menos ousado do que costuma fazer quando é atração principal nas superfestas X-Demente. Tanto que o clímax de sua performance foi com Easy As Life, surradíssimo hit de Deborah Cox que levou os apolos ao delírio, revelando que muitos deles guardam uma alma de diva dentro de seus corpos de adônis. Depois dela, o DJ Roberto di Macedo, de Lisboa, mostrou um som tipicamente europeu: linear, acessível sem ser comercial, com poucos vocais e várias pitadas de house progressivo e até de trance - nada comovente, mas bastante adequado para o clima de inferninho da pista e o estado de colocação das bees. Depois dele entraria um inglês chamado Jon Cutler, mas acabei indo para casa antes disso. Não foi especial, mas até que valeu.

Um comentário:

Mutatches Mischelle Tedezco disse...

Enfim, apenas um feriadão normal - com alguns cariocas a mais... rs