Juro que tentei fugir do baixo-astral como um avestruz, enterrando a cabeça no meu mundinho particular que anda tão animado. Mas não consegui deixar de me deprimir com essa onda de ofensivas e desgraças contra a população LGBT, todas ocorridas nos últimos sete dias. A que menos me atingiu foi a publicação do manifesto contra a Lei da Homofobia no portal do Mackenzie. Quem conhece a trajetória daquela universidade não poderia mesmo se surpreender; se a instituição desfruta de certo prestígio entre as tão mal cotadas escolas privadas do país, nem por isso devemos dar à sua declaração um poder e uma autoridade que ela simplesmente não tem.
Fiquei mais passado com os brutais ataques homofóbicos no Rio (onde três soldados do Exército agrediram e balearam um civil indefeso no Arpoador, e felizmente serão responsabilizados) e em SP (onde, em plena Avenida Paulista, cinco delinquentes de classe média atacaram três rapazes com requintes de barbárie, incluindo golpes de artes marciais e até lâmpadas fluorescentes). Segundo a Folha de hoje, o segurança que defendeu as vítimas relatou à polícia que uma delas foi encurralada, levou socos e chutes na cara e continuou apanhando mesmo após desfalecer. Ou seja, teria sido assassinada se não fosse a intervenção do vigia - que, ao perguntar aos marginais o motivo de tudo aquilo, ouviu: "Porque ele é viado".
Se não há justificativa capaz de endossar um ódio tão sem sentido (nem mesmo a cegueira da religião, como pretendem as nossas tão mal-intencionadas igrejas), episódios como esses parecem estar inseridos dentro de algo maior. Depois de anos de avanço da tolerância e do respeito à diversidade, sobretudo entre as camadas mais esclarecidas, parece que a sociedade resolveu andar na contramão. Estamos vivendo o crescimento de uma terrível onda conservadora, com um recrudescimento do moralismo, da segregação e do preconceito. Como não lembrar do caso da estudante Geisy, que quase foi linchada e currada pelos colegas, e depois expulsa da universidade onde estudava, apenas porque usava um vestido curto? Semana passada, chegamos ao cúmulo de prender um garoto de 18 anos, por ter dado um inocente beijo (!) em outro, de 13 anos - o que certamente não teria acontecido se o beijo tivesse sido recebido por uma menina. No Twitter, mensagens como "mate um viado queimado" se alastram, agrupadas na hashtag #HomofobiaSIM. E o assassinato bárbaro do garoto Alexandre Ivo, de 14 anos, em São Gonçalo (RJ), que foi esquecido em menos de 15 minutos? Tempos bicudos!
Eu gostaria de entender o que está por trás desse rebote reacionário. Talvez a sociedade esteja tão desorientada (o que dizer dos pais dos agressores da Paulista, que passaram a mão na cabeça de seus filhos?) e tão em crise com seus valores, que esse "encaretamento" acabe sendo visto como uma tábua de salvação para preencher os vazios e as inseguranças. Não sei! Alguém arrisca um palpite nos comentários? O que está acontecendo, afinal?
Se há um lado bom em todos esses absurdos, é que existe uma parcela mais lúcida e esclarecida da sociedade que está se indignando e esboçando uma reação. Bem ou mal, o tema homofobia está sendo discutido na mídia e na sociedade com bem mais freqüência do que há, digamos, cinco anos atrás. O simples fato de a motivação homofóbica dos crimes estar sendo explicitada pela imprensa já revela que existe hoje uma preocupação que não se via. É preciso ficar alerta. Afinal, a ignorância e o ódio só se combatem com união, esclarecimento e informação. Até porque nossos algozes também estão articulados: nas ruas, nos templos e agora, mais do que nunca, em Brasília.
Se você mora em São Paulo e quer ajudar a fazer a diferença, apareça amanhã (domingo) no vão livre do MASP, a partir das 15h. O movimento LGBT paulista vai promover uma manifestação de repúdio e reivindicação de providências para o caso dos agressores da Paulista (que foram liberados no mesmo dia, porque a lei assim permite), com caminhada até o local do crime, próximo à estação Brigadeiro do Metrô. Eu também estarei por lá. Mostrar que não toleramos essa atrocidade é o mínimo que podemos fazer. [UPDATE: Considerando que foi divulgada com pouca intensidade e antecedência, a manifestação foi ótima: cerca de 300 pessoas apareceram na Paulista e deram seu recado, de forma muito positiva e tranquila. Inclusive dois dos três rapazes atacados na Paulista deram as caras por lá. Só faltou o segurança-herói aparecer na porta do prédio pra gente homenageá-lo! O único senão foi a apropriação partidária do ato pelo PT e PSTU, que encabeçaram a parada com suas faixas, como se a iniciativa tivesse sido deles. Mas esse tipo de desonestidade já é praxe].
sábado, 20 de novembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Pipoca cor-de-rosa
E cá estou, investindo meu feriado em mais um Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade Sexual. O Mix fez 18 anos, idade em que os homens são obrigados a se alistar no serviço militar, o que inspirou a simpática vinheta acima. Tenho grande carinho pelo festival, que acompanho desde que troquei a esfiha pelo kibe (e lá se vão doze anos!). O fervo já não é mais o mesmo de outros tempos (o povo que freqüenta hoje parece mais velho e cansado), mas o clima ainda é gostoso e dá para encontrar amigos e conhecer gente nova nas filas. A programação, como sempre, é um tiro no escuro: metade dos fimes você aplaude de pé, a outra metade você sofre para chegar ao final (nesta edição do Mix, já saí três vezes da sala antes do fim da exibição).
Dos longas que vi até agora, meus favoritos foram o adorável "Bear City" (história de um rapaz lindinho que procura seu papai urso, cheia de personagens carismáticos) e a comédia "Violeta é Tendência" (os gays norte-americanos sempre foram caricatos demais pro meu gosto, mas o filme é divertido). Dos curtas, adorei "O Bolo", sobre uma doméstica evangélica que acha um bolo de chocolate diferente na geladeira do patrão, e "Eu Não Quero Voltar Sozinho" [trailer abaixo], provavelmente o retrato mais fofo e delicado que eu já vi sobre a descoberta da sexualidade! O festival vai até quinta-feira (18/11), e a programação completa, vocês encontram aqui.
[UPDATE: Acabo de ver Contracorriente, que abriu o festival em sessão fechada e acabou tendo exibição extra. É um drama rasgaaado, história de um triângulo amoroso entre um pescador, sua esposa grávida e um artista forasteiro, com bela fotografia e atuações idem (incluindo uma sósia da "top DJ" Ana Paula como a esposa traída). Vai estrear em circuito em março e recomendo vivamente! Os cariocas poderão ver antes, na sessão especial que o Mix Brasil promoverá no Odeon, dia 26/11, às 21h, junto com os curtas premiados em SP].
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Sauípe 2010: muito Heaven e pouco Hell
Hell & Heaven 2010. Pela segunda vez, o resort Costa do Sauípe, no litoral norte da Bahia, hospeda um festival de música e festa para o público gay. Dois hotéis do complexo são fechados para o evento, divulgado ao longo de doze meses por meio de ações promocionais nas principais capitais e na mídia especializada, atraindo homens de vários estados brasileiros, dispostos a se jogar em festas alucinantes. "Qual é o seu pecado?", provocava o mote do H&H. Depois de anos de estrada em Carnavais, Réveillons e Paradas no eixo SP-Rio-Floripa, o que esperar e como se preparar para um trem desses? O melhor é respirar fundo, cortar os carboidratos, comprar um bom suprimento de camisinhas e já deixar o nome na fila de transplantes de fígado pelo SUS: a jogação tem tudo para ser intensa. Afinal, a fórmula é a mesma de sempre, só que dessa vez enfeitada com uns coqueiros baianos. Certo?
Pois não foi bem assim.
Para começar, o H&H não foi, nem de longe, tão pesado como eu imaginava. Pensei que seria um turbilhão nonstop das 12h de sexta às 12h de domingo, tipo "salve-se quem puder". Mas a programação do evento foi muito bem amarrada, intercalando períodos de festa e de descanso. Todo mundo pôde fazer todas as refeições (comendo apenas o necessário, já que o bufê era medíocre, com exceção do café da manhã) e também dormir, sem comprometer a farra. É lógico que dançar e tomar o sol forte do Nordeste cansam o corpo, mas cheguei em casa muito mais inteiro do que nas minhas voltas do Carnaval no Rio ou Florianópolis. E olha que, antes do Sauípe, eu já estava me jogando em Salvador havia uma semana.
Outra surpresa: as festas cumpriram seu papel, mas não foram os pontos altos do H&H. O que se fazia era simplesmente montar um palco e um telão na área da piscina de um dos hotéis (e, na festa seguinte, na piscina do outro, dando uma ideia de variedade), ligar o som e chamar os DJs. Sem qualquer refinamento (o tal selo argentino só deve ter emprestado o nome), sem aquele clima de grande produção que marca as tardes de Rosane Amaral no Rio e as noites de André Almada em SP. Nem mesmo a festa principal - a noite de sábado, trazendo o headliner Peter Rauhofer - fugiu disso. A produção poderia ter projetado luzes coloridas nos coqueiros, uma ideia simples que teria criado um efeito incrível, mas se limitou a repetir o telão e meia dúzia de luzes sobre as pessoas, que se equilibravam nos desníveis do terreno acidentado para dançar.
Um fator que contribuiu para que as festas não impressionassem tanto: o evento já mantinha um clima festivo o tempo todo. Na chegada ao resort, o público era recebido para o check in com house e tribal; depois, na piscina, mais música; chegando no salão para jantar, lá estava Offer Nissim nos falantes para dar uma animada. Por isso, quando começava uma "festa propriamente dita", não havia um incremento de emoção em relação aos períodos "sem festa": o que acontecia era uma mera mudança de cenário. Se eu senti uma diferença maior na noite de sábado, foi pelo aumento do público (os moradores de Salvador tiveram a opção de comprar o ingresso avulso para essa festa), pelo som do Peter (que deu o clima mais encorpado que a noite pedia), e também pelo fato de que aquele era, afinal, o clímax antes da despedida. (E foi mesmo especial viver o amanhecer daquele cenário, com o marzão crescendo diante dos nossos olhos ao som de um Peter inspirado).
Além disso, a pegação também ficou aquém do que se podia esperar ao se colocar um monte de homens gays, bonitos, isolados num cenário daqueles. Enquanto dava meu giro de reconhecimento pelo resort, eu imaginava o povo indo aprontar na praia de madrugada, se comendo nas moitas e matinhos que enfeitavam as áreas comuns, zanzando freneticamente pelos corredores de um quarto para o outro. Mas não vi nada disso; se chegou a acontecer, então eu estive nos lugares errados, ou na hora errada. Mesmo durante as festas, achei a beijação bem mais contida do que num bom Carnaval - sendo que estávamos no Estado brasileiro onde mais se beija nessas festas, e fiquei lúcido o suficiente para entender o que se passava ao meu redor. (Logo eu, que me fantasiara num quarto de hotel com mais três, fazendo um picante role play nordestino, sendo a rolinha de vários coroné, enfileirados para colocar a pomba no meu boga e me dar uma boa pisa... Só fiquei zen porque já tinha chegado de Salvador pra lá de saciado!)
Mas nem por isso eu deixei de gostar do Hell & Heaven. A experiência valeu a pena e eu certamente repetiria a dose! O espaço do resort é muito bacana, as áreas comuns são grandiosas e, se a praia não é particularmente bonita para os padrões baianos, é mais do que suficiente para encantar mineiros e brasilienses (esses grupos eram maioria; já baianos e pernambucanos, vi bem menos do que esperava). Meu quarto era bastante confortável, e o outro hotel oferecido era ainda melhor. Sei que não temos que buscar o gueto e sim a inserção social, e blá blá blá, mas foi sensacional ter toda a estrutura do Sauípe só para nós, gays. Isso sim eu considero o grande highlight do H&H. No café, nas piscinas, em toda parte, todo mundo tranquilo, integrado, falando a mesma língua, vivendo a mesma onda. Reconheço que no final eu já estava até meio enjoado de ver tanto viado junto, mas o evento teve a medida certa. Talvez eu colocasse um dia a mais para o povo poder curtir o resort (tivemos apenas o sábado inteiro, os outros dois dias foram de trânsito), mas não mais do que isso.
Acima de tudo, preciso reconhecer que o astral do H&H esteve lá em cima o tempo todo. As pessoas pareciam desarmadas, tranquilas. Talvez tenham cansado de seguir à risca a cartilha dos excessos e resolvido simplesmente relaxar e curtir o resort, sem maiores pretensões. O clima era tão leve, mas tão leve, que eu poderia ter gravado um vídeo compacto do evento e mandado para minha mãe. E o evento foi um sucesso: na reta final, todos os quartos acabaram vendidos, e já estão marcadas duas edições em 2011, em maio (Angra dos Reis) e novembro (Sauípe novamente). Se foi um pouco diferente do que eu imaginava, numa próxima já irei com o espírito mais preparado. No aeroporto de Salvador, na fila do check in para SP, eu continuava me surpreendendo com mais e mais homens lindos, que também voltavam no H&H e eu nem tinha visto. Todos com uma cara boa, realizados. Talvez a gente possa se reeducar para não ter que beijar todas as bocas e se atracar com todos os corpos para sentir que aproveitou, se divertiu e foi feliz.
[Foto: Genilson Coutinho/ACapa]
Pois não foi bem assim.
Para começar, o H&H não foi, nem de longe, tão pesado como eu imaginava. Pensei que seria um turbilhão nonstop das 12h de sexta às 12h de domingo, tipo "salve-se quem puder". Mas a programação do evento foi muito bem amarrada, intercalando períodos de festa e de descanso. Todo mundo pôde fazer todas as refeições (comendo apenas o necessário, já que o bufê era medíocre, com exceção do café da manhã) e também dormir, sem comprometer a farra. É lógico que dançar e tomar o sol forte do Nordeste cansam o corpo, mas cheguei em casa muito mais inteiro do que nas minhas voltas do Carnaval no Rio ou Florianópolis. E olha que, antes do Sauípe, eu já estava me jogando em Salvador havia uma semana.
Outra surpresa: as festas cumpriram seu papel, mas não foram os pontos altos do H&H. O que se fazia era simplesmente montar um palco e um telão na área da piscina de um dos hotéis (e, na festa seguinte, na piscina do outro, dando uma ideia de variedade), ligar o som e chamar os DJs. Sem qualquer refinamento (o tal selo argentino só deve ter emprestado o nome), sem aquele clima de grande produção que marca as tardes de Rosane Amaral no Rio e as noites de André Almada em SP. Nem mesmo a festa principal - a noite de sábado, trazendo o headliner Peter Rauhofer - fugiu disso. A produção poderia ter projetado luzes coloridas nos coqueiros, uma ideia simples que teria criado um efeito incrível, mas se limitou a repetir o telão e meia dúzia de luzes sobre as pessoas, que se equilibravam nos desníveis do terreno acidentado para dançar.
Um fator que contribuiu para que as festas não impressionassem tanto: o evento já mantinha um clima festivo o tempo todo. Na chegada ao resort, o público era recebido para o check in com house e tribal; depois, na piscina, mais música; chegando no salão para jantar, lá estava Offer Nissim nos falantes para dar uma animada. Por isso, quando começava uma "festa propriamente dita", não havia um incremento de emoção em relação aos períodos "sem festa": o que acontecia era uma mera mudança de cenário. Se eu senti uma diferença maior na noite de sábado, foi pelo aumento do público (os moradores de Salvador tiveram a opção de comprar o ingresso avulso para essa festa), pelo som do Peter (que deu o clima mais encorpado que a noite pedia), e também pelo fato de que aquele era, afinal, o clímax antes da despedida. (E foi mesmo especial viver o amanhecer daquele cenário, com o marzão crescendo diante dos nossos olhos ao som de um Peter inspirado).
Além disso, a pegação também ficou aquém do que se podia esperar ao se colocar um monte de homens gays, bonitos, isolados num cenário daqueles. Enquanto dava meu giro de reconhecimento pelo resort, eu imaginava o povo indo aprontar na praia de madrugada, se comendo nas moitas e matinhos que enfeitavam as áreas comuns, zanzando freneticamente pelos corredores de um quarto para o outro. Mas não vi nada disso; se chegou a acontecer, então eu estive nos lugares errados, ou na hora errada. Mesmo durante as festas, achei a beijação bem mais contida do que num bom Carnaval - sendo que estávamos no Estado brasileiro onde mais se beija nessas festas, e fiquei lúcido o suficiente para entender o que se passava ao meu redor. (Logo eu, que me fantasiara num quarto de hotel com mais três, fazendo um picante role play nordestino, sendo a rolinha de vários coroné, enfileirados para colocar a pomba no meu boga e me dar uma boa pisa... Só fiquei zen porque já tinha chegado de Salvador pra lá de saciado!)
Mas nem por isso eu deixei de gostar do Hell & Heaven. A experiência valeu a pena e eu certamente repetiria a dose! O espaço do resort é muito bacana, as áreas comuns são grandiosas e, se a praia não é particularmente bonita para os padrões baianos, é mais do que suficiente para encantar mineiros e brasilienses (esses grupos eram maioria; já baianos e pernambucanos, vi bem menos do que esperava). Meu quarto era bastante confortável, e o outro hotel oferecido era ainda melhor. Sei que não temos que buscar o gueto e sim a inserção social, e blá blá blá, mas foi sensacional ter toda a estrutura do Sauípe só para nós, gays. Isso sim eu considero o grande highlight do H&H. No café, nas piscinas, em toda parte, todo mundo tranquilo, integrado, falando a mesma língua, vivendo a mesma onda. Reconheço que no final eu já estava até meio enjoado de ver tanto viado junto, mas o evento teve a medida certa. Talvez eu colocasse um dia a mais para o povo poder curtir o resort (tivemos apenas o sábado inteiro, os outros dois dias foram de trânsito), mas não mais do que isso.
Acima de tudo, preciso reconhecer que o astral do H&H esteve lá em cima o tempo todo. As pessoas pareciam desarmadas, tranquilas. Talvez tenham cansado de seguir à risca a cartilha dos excessos e resolvido simplesmente relaxar e curtir o resort, sem maiores pretensões. O clima era tão leve, mas tão leve, que eu poderia ter gravado um vídeo compacto do evento e mandado para minha mãe. E o evento foi um sucesso: na reta final, todos os quartos acabaram vendidos, e já estão marcadas duas edições em 2011, em maio (Angra dos Reis) e novembro (Sauípe novamente). Se foi um pouco diferente do que eu imaginava, numa próxima já irei com o espírito mais preparado. No aeroporto de Salvador, na fila do check in para SP, eu continuava me surpreendendo com mais e mais homens lindos, que também voltavam no H&H e eu nem tinha visto. Todos com uma cara boa, realizados. Talvez a gente possa se reeducar para não ter que beijar todas as bocas e se atracar com todos os corpos para sentir que aproveitou, se divertiu e foi feliz.
[Foto: Genilson Coutinho/ACapa]
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Salvador: nada ficou no lugar
Sinto desapontá-los, isto dói mais em mim do que em vocês, mas Salvador não presta mais. Agora que o Bar da Ponta fechou as portas, não tenho mais nada para fazer naquele fim de mundo, então beijos e nos vemos no Rio de Janeiro. Claro que estou brincando: mesmo com a perda irreparável do meu xodó (que era tudo de bom, fiquei arrasado), o saldo da minha quinta visita à capital baiana foi bastante positivo. Mas é fato que encontrei uma cidade menos legal, já que várias de suas atrações mais bacanas simplesmente deixaram de existir. O saudoso Bar da Ponta, que Deus o tenha, foi engolido por um empreendimento imobiliário de alto padrão, junto com o bacanudo restaurante Trapiche Adelaide, do qual era anexo. Quem também deixa saudade são as megabarracas que transformavam as praias do Flamengo e Stella Maris em puro fervo. Por conta de uma quizila jurídica com a União, todas elas foram sumariamente demolidas em agosto. Isso mesmo: não existe mais Barraca do Lôro, nem Margueritta, nem Gaúcho, não existem mais drinques servidos em espreguiçadeiras rústicas-chiques, nem corpos malhados dançando house music em deques à beira-mar. O Litoral Norte de Salvador mó-rreu! Já o Porto da Barra felizmente continua o mesmo, com a água deliciosa para nadar, um pôr-do-sol mais aplaudido que o do Arpoador, e aquela mistura única de classes sociais, etnias, estilos e pegadas. E corpos babadeiríssimos ali e acolá. Aliás, sem querer ferir brios ou fomentar bairrismos, a Bahia tem os homens mais bonitos do Nordeste, né? Nos finais de semana, quando a superlotação deixa o Porto da Barra intransitável, o novo plano B da galere é o Buracão, uma prainha escondida no Rio Vermelho que só os moradores do bairro freqüentavam, e agora vem sendo adotado pelos descolados, num clima low profile. Para quem gosta de conforto, uma opção é ir até o Corredor da Vitória e tomar sol no Mahi-Mahi, bar do hotel Sol Victoria Marina que tem um píer que avança sobre a Baía. Você paga uma consumação e passa o dia comendo, bebendo e tomando banho de mar. Parece que o esquema é bem gay friendly. A Barra não tem a fartura de comidinhas pós-praia de Ipanema. Acabei adotando o Ramma, um simpático restaurante natural escondido na Rua Lord Cochrane (como será que os baianos pronunciam isso?). Depois de horas de sol nordestino, o suco de tangerina deles descia que era uma maravilha. Adoro que na Bahia essa fruta dá o ano todo, não tem época certa como aqui em São Paulo. A doceria A Cubana inaugurou uma filial na Pituba, num shoppingzinho na Praça Nossa Senhora da Luz. Isso significa que agora você pode comer o melhor pudim de leite condensado do mundo, sem ser molestado a todo instante pelos pedintes do Elevador Lacerda. Outro endereço que continua firme e forte no topo da minha lista de laricas pecaminosas é a Doces Sonhos, na Vitória. Os bolos de lá são pura felicidade cortada em pedaços. Morri três vezes a cada garfada. A vista da Baía de Todos os Santos transforma qualquer ida ao complexo gastronômico Bahia Marina em um programão. Matei a saudade do japonês Soho, que continua bem gostoso e badalado. Voltei também ao contemporâneo Lafayette - mas os pratos criados por Carla Pernambuco já não têm o mesmo brilho de antes. Acabei não conseguindo ir a nenhum restaurante especializado em frutos do mar. Da próxima, quero provar os camarões ao prosecco com risoto de amêndoas do Mistura, em Itapuã, e as moquecas mutcholocas com frutas e ingredientes naturais do Paraíso Tropical, que funciona dentro de uma chácara distante no Cabula e virou cult. Para um jantar mais informal e barato, aprovei o Mariposa, no Jardim Apipema, atrás da Ondina. Tem um longo menu de sucos, crepes e temakis, numa casa colorida bem praiana, supersimpática. O Pelourinho, que já não era minha área preferida em Salvador, está com um arzinho largado, abandonado. Parece que todo o dinheiro da região foi para o Carmo, onde a inauguração do hotel-boutique Convento do Carmo acabou dando um sopro de vida em todo o entorno. Já o MAM, que estava totalmente ao deus-dará, deu um merecido tapa em seu Jardim de Esculturas, que ainda é meu segundo lugar favorito para ver o pôr-do-sol soteropolitano (o primeiro é a Ponta do Humaitá). Com a morte de bares como Marquês (que fazia as vezes de Ritz baiano), Babalotim e Boomerangue, hoje Salvador não tem nenhum endereço gay friendly onde se possa fazer um esquenta antes de ir dançar. Ou você toma os primeiros drinques onde estiver jantando (a pizzaria Piola já foi uma opção, mas agora o hype passou e ela está às moscas), ou então aciona seus contatos e descola um chill in na casa de algum amigo local. Aliás, num desses esquentas, fui descobrir que as blogueiras Katylene e Cleycianne também são adoradas por lá, e estão colocando suas gírias na boca das bees. Tive a oportunidade de conhecer a bombada San Sebastian em sua última semana no antigo endereço - a casa está de mudança para outro imóvel na mesma rua. Deve existir um "jeito soteropolitano de construir boate": estreito e comprido, com andares e mezaninos, o clube me lembrou muito a primeira Off. A propósito, a Off Club, que reinou sozinha na noite por anos, perdeu o trono e se tornou a boate "do meio". Nos extremos estão a San Sebastian, para onde migrou o pessoal mais bonito, e a Tropical, opção mais popular e bagaceira. Uma pulga me contou que a dona da Off pensa até em se desfazer do negócio. Entre os DJs locais, quem mais chamou minha atenção foi o Bernardo Chez. Além de ser um gentleman e um fofo de marca maior, o loirinho-angelical está fazendo um som bem bacana, criando inclusive seus próprios bootlegs e mashups. Tem tudo para conquistar mais espaço na cena, e não só em Salvador. Na boate, depois de certa hora da noite, elas ficam bem soltinhas, e a beijação rola em esquema drive-thru, tipo assim bem solto. Vai ser bom, não foi? Cansada de quebrar louça? Pois saiba que o percentual de atividade em Salvador beira os 90% - nenhuma outra capital tem tamanho superávit! E ó, tem que levar preservativos GG na nécessaire, viu? Para os adeptos dos vapores vespertinos, a Rios continua sendo o endereço mais indicado. E quem curte um perigón na linha Uomini se refestela no Paredão, no Jardim de Alah - uma falésia que esconde encontros furtivos e sorrateiros na calada da noite. Bateu uma vontadinha de ir (ou voltar) a Salvador? Se fosse você, eu me hospedaria na Barra, para poder ir à praia a pé, e daria uma olhada nas tarifas do Sol Barra, do Grande Hotel da Barra e do Marazul, nessa ordem. Ou então ficaria no Rio Vermelho e decidiria entre o funcional-padronizado-insípido Ibis e o charmoso Catharina Paraguaçu, todos numa faixa de preço viável. As músicas que ilustram este post são "Happiness" (Dave Aude Club Mix), de Alexis Jordan, e "Empire State of Mind" (na versão que o André Garça toca) . Elas deram o tom da minha semana em Salvador e também do fim de semana no Sauípe, no festival Hell & Heaven - que será o assunto do próximo post.
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