terça-feira, 31 de agosto de 2010

Restaurant Week: seleção de cardápios (almoço)

Ontem foi dada a largada para mais uma São Paulo Restaurant Week. Estudei os cardápios das mais de 200 casas participantes e fiz minha seleção pessoal, que passo a dividir com vocês, em dois posts (almoço e jantar). O preço dos menus é de R$29 no almoço e R$ 39 no jantar, mais bebidas, gorjeta, estacionamento e R$1 de doação para a Ação Criança.

PÉ DE MANGA (Vila Madalena; o menu é o mesmo no almoço e jantar) Entradas: Salada de Mix de Folhas, Manga, Queijo Coalho, Tomate Cereja e Castanha do Pará ao Molho de Laranja ou Bruschettas de Brie com Geléia de Damasco Pratos: Risoto de Camarão com Molho Bisque ou Medalhão de Filet Mignon com Purê de Ervas Finas ao Molho Madeira Sobremesas: Rolls Recheados de Nutella e Sorvete de Creme com calda de Maracujá ou Sorvete de Iogurte com Suspiros e Calda de Frutas Vermelhas

BEEF & CHIPS (Joaquim Floriano, Itaim) Entradas: Carpaccio Alla Toscana (com folhas de rúcula, alcaparras, lascas de parmesão e molho especial) ou Ensalata Du Chef (Mix de folhas, gomos de laranja, azeitona preta, tomate, palmito, hortelã, cenoura ralada e pesto de erva doce) Pratos: Bife ancho argentino com molho de cogumelos, acompanhado de risoto de nozes e queijo gorgonzola ou Filet de abadejo grelhado ao molho limone, com musseline de batata baroa, ervilha torta e lâminas de amêndoas) Sobremesas: Sopa de Brigadeiro quente, servida com bolinhas crocantes e pedaços de morangos ou Creme Bavarian (Pudim de baunilha coberto com baba de moça)

PJ CLARKE'S (Mário Ferraz, Itaim) Entradas: Quiche de alho-poró e queijo (com mix de folhas) ou Sopa do dia Pratos: LAMBurger (Hambúrguer de cordeiro + queijo cottage + pesto de manjericão + purê de batatas) ou Corn And Crisp (Sobrecoxa desossada empanada e frita, em farinha especial PJ e Corn flakes + milho doce grelhado + vagem na manteiga e molho BBQ) Sobremesas: Lime Pie (Torta de limão taiti coberta com chantilly) ou Pudim de Leite do PJ Clarke’s [já comi e é incrível mesmo!]

BISTRÔ CREPE DE PARIS (Rua Augusta) Entradas: Salada Verão (Folhas verdes, tomate, pepino Japonês, cenoura) ou Salada Ceasar (Alface Americana, frango desfiado, parmesão, crouton) Pratos: Entrecote com Batata frita ao Molho de Mostarda de Dijon à l'ancienne ou Filet de Saint Pierre grelhado no azeite com Risoto de Alho poró ou Fricassé de Frango com fetuccine ou Crêpe Mônaco (Filet mignon ao molho rôti, champignon e salsa) ou Lasanha Vegetariana ou Crêpe St Tropez (Espinafre, tomate concassê e cream cheese) Sobremesas: Crêpe de doce de leite com côco ou Crème Brulée ou Fruta da Estação

LE POÈME (R. Joaquim Antunes, Pinheiros) Entradas: Salada de Brie (mix de alfaces, Brie, presunto de Parma ao molho de mel) ou Salada de Avocado (mix de folhas verdes, abacate, manga ao molho citron) Pratos: Lasanha Vegetariana (de legumes grelhados com parmesão ao molho de queijos) ou Pescada amarela ao molho de uvas verdes com arroz de amêndoas ou Portfolio Crocante (filé mignon recheado com fondue de Roquefort, crosta de pão caseiro com risoto de peras) Sobremesas: Creme Brulée ou Delícia de Chocolate (torta mousse de chocolate com sorvete de creme)

LA PASTA GIALLA (vários endereços) Entradas: Mix de folhas com tomate cereja marinado e crocante de parmesão ou Mix de folhas julienne com ricota temperada e croutons ao azeite Pratos: Gnocchi Due (ao pesto e ao molho de tomate) ou Filet de frango ao creme de queijo gratinado com spaghetti na manteiga, sálvia e tomate fresco Sobremesas: Torta mousse de chocolate 1/2 amargo ou Crepe de doce de leite e banana com farofa de nozes

DUI (Alameda Franca) Entradas: Salada de folhas verdes, tomate cereja, palmito pupunha e vinaigrette de mostarda e mel ou creme do dia Pratos: Penne ao molho de queijo Saint Agur, nozes, pêras e rúcula ou Picata de carne flambada na cachaça com quinua e cebolas caramelizadas Sobremesas: Tartare de abacaxi com manjericão, tapioca brulée e baba de moça ou Brownie de chocolate belga com castanha do Pará e sorvete de doce de banana

LE FRENCH BAZAR (Pinheiros) Entradas: Salada Juliene com frutos do mar ou Polenta cremosa ao roquefort gratinado Pratos: Boeuf Bourguignone ou Truta em emulsão de limão siciliano e manjericão, com batata caramelada ao alho-poró Sobremesas: Torta mousse de chocolate com banana e chantilly de cupuaçu ou Compota de morango e especiarias ao zabaione de vinho do porto

COSMOPOLITAN LOUNGE (R. Bela Cintra) Entradas: Croquete de carne ao molho de laranja ou Mix verde com mussarela e batata assada ao azeite de alecrim Pratos: Penne ao molho de hortelã ou Premium steak burguer ao molho de queijo cremoso e arroz primavera Sobremesas: Arroz doce com frutas secas ou Suspiro recheado com sorvete de chocolate e calda de maracujá

VITRÔ (Moema) Entrada: Mozzarella Bufalina com Tomate Confit, Pesto e Crostini Pratos: Fraldinha Assada no Vinho com Gratin Cremoso de Batata ou Tagliatelle de Tomate com Espinafre, Abobrinha e Erva Doce Confit com Pecorino Ralado Sobremesa: Brownie Vitrô (Sorvete de Chocolate , Farofa, Calda de Chocolate, Cubinhos de Brownie e Creme Batido)

BISTRÔ NA FARIA LIMA (Itaim) Entradas: Salada Bistrô (mix de folhas com tomate cereja, castanha do Pará e molho de mostarda djon com lascas de parmesão) ou Sopa de cebola Pratos: Triângulo de mussarela ao molho de tomates frescos e manjericão ou Iscas de filé mignon ao roti com risoto de ervas ou Filé de peixe com crosta de azeitona chilena, creme de espinafre e batatas com alecrim Sobremesas: Pudim caseiro ou Frutas da estação

No próximo post, minha seleção de jantares.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Jogações à vista


Curte uma boa jogação? Prepare o corpo e o bolso, pois este segundo semestre de 2010 está beeem animado, com uma série de bons shows pela frente e muitos, muitos festivais. O site rraurl.com fez um guia indispensável com informações e line ups detalhados. Tem muita coisa boa, e não só na música eletrônica, e não só em São Paulo.

Entre os shows, eu até gostaria de ver o AIR, sou apaixonado pelo duo francês, mas a apresentação deles no festival da Natura, em outubro, terá apenas 60 minutos. Talvez valha mais a pena ir vê-los em Belo Horizonte ou no Rio de Janeiro, caso eles se apresentem sozinhos nessas cidades. Eu também consideraria ver Hot Chip, Mika e Smashing Pumpkins no festival Planeta Terra, em novembro, e o Scissor Sisters, no Clash.

No capítulo de DJs, nada me comoveu tanto quanto o festival SWU, que vai rolar durante três dias de outubro (no feriado) na Fazenda Maeda, em Itu (SP). Um dos dias vai reunir Nick Warren, Sander Kleinenberg, Sharam (Deep Dish), Markus Schulz, Roger Sanchez e Life is a Loop, um line up que não fica devendo nada às boas edições do Creamfields de Buenos Aires. Outro festival que promete é o Ultra Music Festival, com Fatboy Slim, Groove Armada, Moby, Kaskade, Above & Beyond e Carl Cox. Mas esse eu vou perder, pois estarei curtindo o Hell & Heaven, na Costa do Sauípe (BA).

Isso sem falar nas festas menores. Aqui em São Paulo, está rolando o Prestonight Week, espécie de Restaurant Week das baladas: você compra uma pulseira e pode entrar livremente em mais de cem casas, durante o finde ou a semana inteira. Eu não encararia essa, mas estou bastante tentado a terminar logo este post, tomar um banho e ir ao D-Edge, ver o japonês Satoshi Tomiie, outro DJ que eu adoro. Quer dizer, isso se eu conseguir espantar o cansaço acumulado. Alguém tem um supositório de wasabi?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Definido em palavras

Um feto com a mão na boca. Chorão. Mamã, papá, quer sopa. Babão. Risonho. Menino. Azul claro. Eu gosto da mamãe. Vovô vê a uva. Autodidata. Quatro-olhos. Gordo, baleia, saco de areia. Bochechas rosadas, cachos dourados. A cara da mãe, com os sapatos enormes do pai. Introspectivo. Primeiro aluno. Criança solitária na hora do recreio. Diferente.

Dentro de casa, sentado na janela. Escondido. Canetinhas para colorir. Eremita. Inadequado. Timidez, mãos para trás. Desengonçado. Pré-adolescente. Acne e bermudas de flanela. Matinê. Nerd revelado – para o mundo. Maria-vai-com-as-outras. Ansioso por pertencer. Sonhador. Passageiro da balsa. Travessia, sem olhar para trás.

Maioridade. Vestibulando. Conquista. Respeito. Cabeça raspada, rito de iniciação. Debutante. Homem, apresentado ao mundo dos adultos. Altivo. Aventureiro. Acadêmico. Estagiário. Curioso. Súbito sexo. Intrépido, clandestino. Secreto. Fugitivo, esgueirando-se por entre as sombras. Masculino e feminino, nada define.

Compromissado. Juramento. Advogado. Inscrito, portador, associado, regulamentado. Padronizado. Sóbrio. Mogno, mármore e carpete. Anulado. Prolixo e rebuscado. Prisioneiro. Um homem em crise. No meio do nada.

Reviravolta. Acidente. Ruptura e recomeço. Contador zerado. Tiozinho da Sukita. Velhos sonhos em novas companhias. Frescor. Vontade de ir com sede ao pote. Brilho nos olhos. Ousado. Futuro, à frente, adiante. Radiante. Oxigênio. Resgatado – com vida.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Rapidinhas comestíveis

CADA PÃOZINHO É UM FLASH Um leitor que está vindo a São Paulo pela primeira vez quer conferir nossas típicas superpadarias e me pediu algumas dicas. Bem, quem é de fora não deve deixar de visitar a mais emblemática delas, a vistosa Bella Paulista, quase uma atração turística da cidade. Sem falar que cada mergulho é um flash: o fervo gay é tão intenso que você nem precisa ir à boate depois. Pena que o padrão deles seja meio irregular - os doces e sorvetes são ótimos, mas os sanduíches freqüentemente chegam com o queijo esturricado. Ainda nos Jardins, outras opções são a Galeria dos Pães, pioneira no formato 24 horas, a St. Etienne, boa para tomar café da manhã, e a Benjamin Abrahão. Em Higienópolis, tem também a Villa Bahia, irmã mais comportada da Bella Paulista, e a Dona Deôla, que eu tenho achado cada vez mais simpática. Padaria é como pizzaria: todo paulistano adota uma para chamar de sua.

EU AINDA MORRO DISSO Enquanto o vício de algumas pessoas dá cadeia, o meu dá pneus. Estou falando de brigadeiros. Não consigo recusá-los, nem parar de comê-los enquanto a bandeja não estiver vazia. Já pensou uma doceira que se dedica exclusivamente a eles, com direito a versões diferenciadas, tipo brigadeiro branco com pistache ou nutella com avelã? Pois bem, São Paulo já tem... três: Maria Brigadeiro, Brigadíssimo e Brigaderia. Eu não tenho estrutura para isso! Outra tentação difícil de resistir são as cupcakes, aqueles bolinhos-bebê confeitados que nasceram nos EUA e viraram modismo guti-guti por aqui. Os melhores ainda são os da Wondercakes (o que é aquele de chocolate com morango? matador!), mas a Cupcakeria entrou na briga com tudo.

FIQUEI FROZEN Sobremesa bem mais leve e praticamente livre de culpas (uma porção pequena tem cerca de 100kCal e zero gordura), o frozen yogurt foi a febre do verão passado, mas continua firme e forte, mesmo com o frio. Aqui em São Paulo, a rede carioca Yogoberry teve que engolir o incômodo de ter uma concorrente de nome idêntico, a coreana Yogurberry (que não me convenceu). Minha preferida não era nenhuma delas, mas a YogoLove, também do Rio, menos azedinha e com textura próxima à do chantilly. Agora a rede de fast food italiano Subito abriu sua primeira YogoSub, no Conjunto Nacional, e chamou minha atenção por dois motivos. Primeiro: o frozen natural deles junta o sabor do Yogoberry e a textura do YogoLove. Segundo: há outros sabores bem criativos, como banana (que eu adorei) e lemon pie.

À PROCURA DA BATIDA PERFEITA Ironia do destino, Introspective vive pensando em comida, mas não sabe nem quebrar um ovo. Acho charmoso homem que sabe cozinhar, minha supermãe já cansou de oferecer umas aulas, mas quem disse que eu me animo? Melhor não. Para não dizer que sou uma negação completa, desenvolvi a receita da vitamina perfeita, e vou dividi-la com vocês. É só bater no mixer 2 bananas nanicas, 5 morangos graúdos (se forem pequenos, usem uns 6 ou 7), uma dose (um scoop cheio) de um bom whey protein sabor baunilha (o da Elite tem um gosto ótimo), 5 gotas de adoçante e completar com leite de soja Ades sabor frapê de coco (o pulo do gato está nesse detalhe). Cai superbem antes da academia.

É NOZES E falando em leite de soja (a sétima maravilha para quem tem intolerância à lactose, ou simplesmente o desejo de um dia ter uma barriga-tanquinho escândalo), a Ades lançou um novo sabor em série limitada: frapê de nozes. É meio enjoativo para tomar puro, mas fica perfeito misturado a uma xícara de café, quando o expediente ainda está na metade e você precisa daquele chica-chica-bum que dê fôlego extra para continuar.

BOM , BONITO & BARATO I Fiquem ligados: São Paulo terá mais uma edição da Restaurant Week a partir do dia 30/8. Desta vez serão 210 restaurantes participantes, e o preço do menu de almoço, composto por entrada, prato e sobremesa, subiu de R$27 para R$29 (o do jantar continua sendo R$39). Em ambos os casos, pede-se a doação de R$1, que será encaminhada à fundação Ação Criança. O site do festival já disponibilizou os cardápios e eu dei uma boa olhada. Para almoçar, gostei mais do Le French Bazar (recomendadíssimo!), do Beef & Chips, do L'Amitié, do Le Poème e do Pé de Manga; para jantar, minha lista inclui o Fillipa (que sempre vale a pena!), o Santa Gula, o Bistrô Faria Lima, o Casinha de Monet, o L'Amitié e o Thai Gardens.

BOM, BONITO & BARATO II Como nem todo mundo gosta do clima do SPRW (com casas lotadas e, em alguns casos, porções avarentas), vou dar três dicas com boa relação custo-benefício fora do festival. A primeira é o almoço executivo do P.J. Clarke's, restaurante americano do Itaim que faz a cheesecake mais incrível da cidade. Por R$31, você recebe salada ou sopa, o prato do dia e mais um doce ou fruta. O prato das sextas-feiras - medalhão com molho béarnaise - é uma delícia e, pasmem, o pudim de leite consegue a proeza de bater a cheesecake. O pequeno francês Poivre Restaurant, aberto na Vila Olímpia pelo dono do saudoso Pimentel, tem preços abaixo da média, com ótimos pratos entre R$30 e R$35. Outra sugestão barateira, esta ainda não testada, é o tailandês Nama Baru, na Pompeia, que faz curries de filé ou frango sempre abaixo dos R$30. Essa culinária costuma custar bem mais caro por aí.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Morte e prazer

Como já contei para vocês aqui, em matéria de filmes e seriados, não sou muito chegado em super-heróis, gnomos ou vampiros. Gosto daqueles que falam sobre relações humanas: Beleza Americana, As Invasões Bárbaras, C.R.A.Z.Y., O Albergue Espanhol, Amélie Poulain, Desperate Housewives... quanto mais "vida real", quanto mais eu puder me identificar, melhor. E sem violência gratuita, por favor. Dos gêneros que não me interessam, eu costumo passar longe, mas às vezes acabo vendo alguma coisa, involuntariamente, enquanto corro na esteira da academia. Nesse caldeirão entra diumtudo, desde filmes de ação, terror, guerra e suspense, até seriados policiais. E foi justamente vendo um seriado policial na esteira da academia que me veio o estalo para o post de hoje. Na tela, um serial killer russo dopava uma mocinha e a prendia numa cama, semiacordada entre a vida e a morte, meio lúcida mas indefesa, para violentá-la e matá-la lentamente.

O que chama minha atenção nesse tipo de entretenimento é a maneira como a morte é explorada. Nada de tiros, que são rápidos e imediatos: morte que se preza é aquela de "causa mecânica", que provoca sofrimento e faz a vítima nos brindar uma expressão de dor e desespero (com ou sem gritos, aí já é uma questão do estilo de cada "obra"). É uma morte que se estende por algum tempo, para que sua agonia seja contemplada e saboreada pela audiência. Um exemplo bastante ilustrativo é Premonição, um grande sucesso de bilheteria que já teve três continuações, e se resume a um desfile contínuo de mortes por acidentes macabros. Duas pessoas são tragadas por uma escada rolante de shopping center, outra morre afogada dentro do carro num lava-rápido, e por aí vai, até a película acabar [se você não conhece e ficou curioso, tem uma amostra bem desagradável do volume 4 aqui].

Alguns podem argumentar que, no gênero do terror, a presença (ou mesmo a simples iminência) da morte não é gratuita, mas o próprio combustível do suspense que sustenta o filme. OK, vamos pensar então nos seriados policiais do tipo CSI, que se multiplicam pelos canais de TV a cabo. Sem os mesmos ecos sobrenaturais dos filmes de terror, as mortes, geralmente causadas por assassinos seriais, não provocam tantos gritos. No início de cada episódio, é lançado um mistério, e os mocinhos-investigadores vão gastar a sola do sapato atrás de pistas e informações que possam levar ao culpado. Na medida em que suspeitos, testemunhas e afins vão dizendo o que sabem, e as peças do quebra-cabeça passam a se encaixar, as cenas dos assassinatos em flashback vão se repetindo, e repetindo, e repetindo.

As soluções da trama são precárias: os agentes têm a sorte de ir direto nas pistas certas, a tecnologia faz verdadeiros milagres, e tudo se desvenda sem maiores problemas. Fica evidente, portanto, que a "graça" (?) dos tais seriados não está na construção e desmantelamento dos enigmas, e sim na exibição das cenas de morte em si - os pontos altos de cada episódio. Dentre os diversos métodos possíveis, o estrangulamento é um dos mais adequados: a vítima se vê num crescente desespero, que contrasta com o semblante frio e impassível de seu algoz, enquanto sua vida vai se esvaindo. Se antes de morrer ela for torturada, melhor. O ritual de execução se desenrola num crescendo (prazer?), que culmina com o esgotamento da resistência, o instante da morte - o clímax. Que será repetido em vários ângulos a cada reconstituição do crime pelos investigadores. É um orgasmo com direito a replay.

Ver alguém gritando e virando os olhos enquanto é esmagado, as marcas da violência em um cadáver estendido no IML, a frieza do homicida operando a morte, tudo isso deveria ser agoniante e repulsivo. Mas, por algum motivo, filmes e seriados que exploram e celebram a morte fazem enorme sucesso. Não é possível que todos os fãs desses gêneros sejam psicopatas incubados que precisavam só de um empurrãozinho para sair por aí cometendo atrocidades. A hipótese que me parece mais razoável é que deve existir, em alguma salinha do inconsciente de pessoas "normais", um lado negro que extrai prazer da morte e do sofrimento alheio. Um sadismo camuflado, que não extrapola às vias de fato, mas se realiza com cenas de mortes e desgraças. Os produtores desses filmes e séries devem entender isso melhor do que eu. Pergunto: de onde virá esse fascínio tão mórbido?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Na palma da mão

Não, eu ainda não tenho um smartphone. Mas, de uns tempos para cá, meus amigos - que já aderiram em massa - estão começando a perguntar, em tom de cobrança, quando é que eu vou comprar o meu. Afinal, já estou atrasado! Respondo que ainda não me sinto atraído o suficiente para investir num gadget desses; no fundo, eu acho que não preciso de um smartphone, é essa a verdade. Então, por que torrar R$ 2 mil que poderiam ser aplicados em tantas outras coisas bem mais importantes? Implacável, a patrulha tecnológica vem apertando o cerco. "Resistir é bobagem: você vai ter um smartphone", sentenciou um amigo, gadget freak inveterado.

Até enxergo que existem alguns usos legais para os smartphones. Por exemplo, você está na rua e pode confirmar no Google o endereço ou o telefone daquele restaurante. Ou ler seus blogs preferidos na sala de espera do consultório [outro dia me mostraram o meu, sabe que ficou bonitinho na tela? pensei que ficaria pesado de ler por ter muito texto, mas até que não]. Uma novidade bacana é o Grindr, mistura de rede social e GPS do babado: você se conecta, descobre onde estão os gays mais próximos da sua área, e pode se comunicar com eles. Um verdadeiro alento para quem mora em cidades menores, onde é mais difícil interagir; numa cidade maior, pode ser excitante saber que tem uma bee nervosa percorrendo as gôndolas do mesmo supermercado que você. Por outro lado, não vejo graça no Foursquare, que faz um relatório dos seus passos para os colegas das redes sociais. Quer coisa mais besta do que acessar o Facebook e o Twitter e ver sua timeline poluída de mensagens do tipo 'X entrou no Bibi Sucos', 'Y entrou nas Lojas Pelicano', 'Z entrou na Academia Marombation'? Na boa, o que eu tenho a ver com isso?

Ter a internet na palma da mão pode quebrar vários galhos, mas bom mesmo é poder escrever em um teclado decente. Às vezes estou na rua, tenho o estalo de um post e tento sair atrás de um pedaço de papel, um guardanapo, para rascunhar algumas palavras, antes que a ideia evapore (o que geralmente acaba acontecendo). Já pensei em andar com um bloquinho no bolso, mas nunca com um smartphone. "Não cansa os dedos digitar num teclado virtual tão pequenininho?", perguntei ao meu amigo. A resposta veio de bate-pronto: "NOT! Você também deve ter se perguntado, lá em 97, se não era incômodo ficar carregando celular no bolso, lembra?". Retruquei: "Ora, mas em 97 era! É só comparar um celular daquela época com um de hoje!". Ele não se deu por vencido. "Você já viu o tamanho do teclado virtual do iPhone ou do BlackBerry Storm? Não é nada pequenininho! É normal e feito pra ser fácil de usar". Aham, Cláudia...

Tentei explicar que não faço questão de um smartphone porque acho gostoso chegar em casa com a expectativa de abrir os e-mails. Aí sim ele ficou perturbado. "Ah Thiago, sai dessa de 'expectativa de abrir e-mails'! Eu, hein!? Qual o problema de ver toda hora? A relação com seu e-mail mudou. Chegar em casa para abrir era legal em 99. Agora isso não faz o menor sentido. Soa nostálgico. Meio que como 'adoro o cheiro do vinil'... Fala sério!"

Pois é, pelo visto temos uma diferença de ponto de vista: a mesma hiperconectividade que para ele é uma bênção, para mim parece um problema. Eu sinto que já passo tempo demais da minha vida conectado na internet. E-mails, blogs, redes sociais, portais de notícias, sites de encontros, tudo isso me prende na frente do monitor muito mais do que eu gostaria, me priva de fazer outras coisas no meu tempo livre, cada vez mais raro e precioso. Se eu tiver um smartphone, vou acabar entrando numa vigília eterna. É cada vez mais comum ver grupos de amigos que se reúnem pra almoçar ou jantar, e fica aquele pic-pic-pic na mesa: cada um entretido com seu brinquedinho, ao invés de todos conversarem. OK, pode ser legal dividir com a galere, em tempo real, fotos e vídeos do almoço, da praia, da festa. Mas qual o sentido de ficar ciscando nas redes sociais quando isso passa a sacrificar a socialização no mundo real?

Todos esses são argumentos racionais, mas não se pode desprezar o peso do fator emocional: não compramos só o estritamente necessário, mas também aquilo que atiça nosso desejo. Eu pego um iPhone na mão... e fico absolutamente indiferente. Tão aguardado pelos brasileiros, o novo iPhone 4 tem um problema primário de recepção: se você pegar o aparelho com a mão esquerda, a ligação simplesmente cai. Que tal essa? O mais sensacional foi os consumidores americanos escreverem para o Steve Jobs em busca de uma solução e ouvirem como resposta "Basta não segurar o aparelho desse jeito". Fazer um recall, nem pensar, né? Depois ainda perguntam por que eu tenho desprezo pela Apple. Mas tudo bem, o iPhone não é o único smartphone do mercado. Várias pessoas já me disseram para ir ver os modelos da BlackBerry, que eu vou gostar mais.

Pode até ser que eu goste mais, e um dia até me renda. Mas, enquanto isso não acontecer, melhor. Talvez o smartphone venha a ser mesmo uma facilidade inevitável, como o celular comum se tornou um dia. Vivemos décadas sem ele, éramos tão felizes, e hoje não conseguimos largá-lo nem para ir até a padaria, é como se estivéssemos pelados. Vou protelar esse novo vício enquanto puder. Até lá, quem sabe não inventem aparelhos ainda menores, com autonomia muuuito maior (esses aparelhos de hoje precisam ser carregados todos os dias) e espaço para os meus três chips? E tudo isso sem pagar os tubos por um pacote de dados? Quando esse dia chegar, me avisem e eu comprarei o meu também.