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Depois que entrei na Megga, após esperar pacientemente pela minha vez na fila (o que pessoas que se consideram educadas sempre deveriam fazer, mas muitas vezes não fazem), acabei desistindo dessa ideia. É que essa segunda visita reforçou minha impressão de que a Megga e a The Week não são exatamente boates concorrentes. A proposta de ambos os clubes parece similar mas, na prática, os públicos são distintos e pouco se misturam. Os clientes da The Week não se animaram com a casa nova: nas duas inaugurações, preferiram continuar fiéis à casa de André Almada. Já os freqüentadores da Megga são seguidores do clã da Bubu - e, na falta da Megga, se aproximam mais da Flexx do que da TW. Claro que existem pessoas que não têm um clube preferido e pulam de galho em galho para variar, mas me parece que são minoria: não consigo enxergar que uma das casas roube o público da outra.
A Megga estava bem cheia. Da primeira inauguração para cá, praticamente nada mudou. A única diferença que percebi foi na área do antigo café: a insólita estufa de coxinhas deu lugar a um sushi bar, bem mais adequado. A pistona continua sendo o grande destaque da casa. Ampla e confortável, é mais clara que a da The Week, o que facilita aquele contato visual prévio antes de abordar o gato. Pena que dessa vez o som estava mal equalizado e estourando, o que não aconteceu na estreia original. No bar central, o número de funcionários era nitidamente insuficiente para atender à demanda - algo compreensível em um clube tão novo, que ainda está fazendo ajustes e treinando seu staff. Nesse aspecto, seria até injusto comparar o atendimento ao de uma casa que vem sendo lapidada há cinco anos. Em geral, essas pequenas falhas não incomodaram, e o clima geral era de alegria. E a decisão de abrir apenas uma vez ao mês certamente contribuirá para manter o público entusiasmado, sentindo-se parte de uma noite especial, não rotineira.
Se eu já tinha decidido não fazer comparações objetivas entre as duas baladas (até porque uma delas é semanal e a outra, mensal), emendar uma na outra me deu uma sensação mais clara de qual delas é mais a minha praia. Achei ótimo poder ver caras novas na Megga - incluindo vários rapazes bonitos, dos baby faces aos cafuçus. E o clima mais happy também me contagiou. Por outro lado, eu considero o espaço físico da The Week insuperável. A pista pode ser mais escura e não tão agradável se você não quiser fritar, mas sempre há a opção de fugir para a bela área externa, e isso não tem preço. Em relação à música, infelizmente o bate-cabelo é onipresente nas duas mas, na média, o som da TW ainda me convence mais - na Megga, o dispensável desenterro de "Chorando Se Foi", do Kaoma, foi a deixa que eu precisava para ir embora dali.
No fim das contas, consegui entender melhor por que o público gay de São Paulo é tão polarizado. Quando cheguei na The Week, senti uma agradável sensação de familiaridade, de encontrar muitos amigos, de estar num espaço conhecido, de ver o cuidado com certos detalhes. No fundo, é isso que faz os gays serem tão fiéis aos clubes que escolhem, quaisquer que sejam: a sensação de estarem em casa. Não acho que a TW seja um "universo perfeito" - para ficar num único exemplo, pagar a comanda é sistematicamente um suplício - mas, entre as opções gays que temos hoje, ela ainda é que mais me agrada. O que não me impede de apreciar o frescor da mudança para um clube com mais leveza e menos carão de vez em quando.