
Eu realmente não sabia o que esperar da The Week Rio. Não fui à festa de inauguração porque estava em Buenos Aires; quando perguntei aos meus amigos como a nova casa era, ouvi as opiniões mais conflitantes possíveis. Uns diziam que a The Week Rio era "igualzinha" à The Week São Paulo; outros garantiam que uma não tinha "nada a ver" com a outra. Nesse sábado, que teve como convidado especial o "top DJ" Peter Rauhofer, finalmente fui tirar a prova.
A verdade é que não dá pra falar nem que a TWRJ é
igualzinha à TWSP, nem que ela não tem
nada a ver com a matriz. A configuração física da nova casa é diferente: enquanto a outra é quase um complexo de entretenimento, com duas pistas de dança e uma grande área externa com
lounge e piscina, essa é um galpão, menor e 100% fechado, com uma única grande pista (quadrada, não retangular), dois "queijos" no meio, dois bares nos cantos e os banheiros no fundo, atrás do palco onde fica o DJ. Apesar da diferença de formato, existe um denominador comum: os longos balcões dos bares nas laterais da pista, a organização das cabines dos banheiros e a disposição da sala VIP atrás do DJ deixam claro que existe ali um "estilo The Week" de ser.
As demais diferenças entre as duas casas decorrem justamente do fato de que a TWRJ, hoje, é apenas um galpão. A pista é a única opção que a casa oferece: claro que você não é obrigado a dançar, mas não terá como escapar do ambiente escuro e fechado, onde o pancadão dos falantes eleva espíritos, mas obriga quem quer conversar a gritar. A casa de Sampa é mais versátil: quem não quiser a fritação da pista principal pode ir lá fora e dar um tempo para as pernas e os ouvidos, tomar um ar, bater papo com os amigos ou mesmo paquerar fora do clima de loucura que reina lá dentro.
Não por acaso, isso também interfere na própria freqüência da casa. As diversas possibilidades que o espaço da TWSP oferece atraem, além das barbies, mauricinhos e "pólo boys", meninas,
teens que preferem dublar na pista 2 e gente que usa a casa como um
lounge onde possa ver gente. Na TWRJ, passadas as primeiras semanas em que o Rio inteiro foi conhecer a novidade (incluindo héteros, globais e curiosos), o foco cada vez mais se especializa nas barbies, cuja única concepção de diversão possível é tirar a camisa, exibir os músculos e esperar o colocón bater. Para quem curte essa proposta, a TWRJ não poderia ser melhor: o
sound system é potentíssimo e bem equalizado, a iluminação é escura na medida certa (a superparede de leds luminosos foi montada apenas para aquela noite especial) e os corpos não poderiam ser mais bonitos (Rio é Rio). Já quem não gosta da sensação de se estar numa X-Demente sem fim pode acabar achando a casa pouco atraente. Pelo menos por enquanto.
E eu digo isso porque o que se vê hoje ainda não é a configuração final da TWRJ. Os imóveis vizinhos também foram comprados e darão lugar à expansão da casa que, como na TWSP, promete uma área externa, com direito a
lounge, piscina e tudo o mais que avalancou o sucesso da matriz. Se a própria TWSP também começou sendo um simples galpão, e foi crescendo por etapas, nada mais compreensível que nessa nova empreitada a equipe TW também fosse devagar, ao invés de gastar logo uma fortuna com um superclube que eventualmente poderia não vingar.
Na pistona carioca, o time de DJs fixos vai, aos poucos, criando uma identidade sonora para a casa, como Pacheco, João e Cecin fizeram na casa-mãe. Felipe Lira faz um som mais alegre e rebolativo, perfeito para ser o primeiro ou segundo da noite. Já Robix tem a mão bem pesada, e seus sets são mais adequados para pegar uma pista já devidamente aditivada e levá-la até o final da festa. Ao lado deles, a terceira vaga na cabine é alternada entre os paulistanos Morais e Patricinha Tribal, DJs de pegada enérgica e que vêm crescendo na cena, ou ocupada por alguma atração especial convidada - nessa noite, foi Peter Rauhofer; no próximo feriado (2/11) será o nova-iorquino Dave Morales.
Em sua terceira apresentação no Brasil em pouco mais de seis meses, Peter ainda atrai multidões, mas já não surpreende. Na TWRJ, ele tocou por pouco mais de quatro horas. O set começou muito duro e gritado e só ficou gostoso na segunda metade, com mais levada e um pouco de tech house e progressive (e minha faixa predileta dele, uma que fala "release... release...", alguém sabe o nome?). Seu som foi melhor do que o de junho/2007 (TWSP/Parada), mas pior do que o de fevereiro/2007 (E.njoy/Carnaval) e infinitamente inferior ao histórico
super long set de junho/2006 na TWSP (um momento mágico de inspiração que, pelo visto, nunca mais se repetirá). Dessa vez, pelo menos ele pareceu mais humano na cabine, chegando a sorrir (!) no final do set, e mostrando que sua cara fechada é mais de timidez e concentração do que por antipatia gratuita.
A TWRJ, hoje, não tem mais o aspecto provisório de obra inacabada apontado por muitos que estiveram em sua inauguração; é uma casa bem amarrada e sem falhas aparentes de acabamento. O staff já aprendeu a tratar os gays com a devida naturalidade, mas ainda precisa ser melhor treinado para situações-limite, especialmente no que diz respeito à organização da entrada. O sábado com Peter foi a primeira grande prova de fogo da TWRJ, e a casa não soube segurar a onda. Todo mundo chegou ao mesmo tempo e os seguranças foram incapazes de separar a enorme multidão em portadores de ingresso, membros da lista vip e pagantes de bilheteria (que tal afixar cartazes BEM GRANDES separando as filas?). O empurra-empurra foi terrível (uma falta de civilidade que infelizmente é parte da cultura carioca, que acha que "pegar fila é coisa de otário") e teve um momento em que a bela
hostess não deu conta e se descontrolou (ela ainda vai enfrentar barras muito maiores à frente da TW, então é melhor aprender rápido como a banda toca).
Pelo menos, a casa teve a sensatez de fechar as portas quando atingiu a lotação máxima (2600 pessoas), ao invés de continuar espremendo gente indefinidamente e ameaçar o conforto e a segurança do público. Claro que isso não agradou a todos: muita gente que chegou na hora errada acabou ficando para fora, incluindo alguns vips que tinham nome na lista. Outro ponto para a casa: se a entrada foi encerrada porque a casa está lotada, isso tem que valer para os demais mortais e também para os vips. É assim mesmo que tem que ser - e não deixando claro que algumas pessoas são mais bem-vindas do que outras. A TWRJ foi supercorreta (ainda que isso tenha significado barrar meu querido amigo Tony, que é vip mas sabe que não é melhor do que ninguém).
De qualquer maneira, não dá para esquecer que tudo isso que vimos ainda vai mudar bastante, e em pouco tempo - fontes me revelaram que a área externa está sendo feita a toque de caixa já para o verão. Aí sim poderemos começar a fazer comparações justas entre a TWRJ e a TWSP (inclusive sobre qual casa é mais bonita; na data de hoje, é óbvio que o galpão do RJ não consegue competir em beleza com o complexo de entretenimento de SP). No estado em que se encontra hoje, a TWRJ não deixa de ser um clube gostoso de dançar. E, mesmo sem a área externa, já significa uma baita revolução para a cena carioca, que até então ainda vivia a era do improviso (tipo colocar a pia no meio da pista, por falta de espaço no banheiro, sabe?) e ganhou um banho de profissionalismo, especialmente no jeito de tratar o consumidor. E tudo isso só tende a ficar melhor.
Por fim, em relação ao duelo com outras festas, não creio que, a partir de agora, a TWRJ vá esmagar toda e qualquer festa paralela e monopolizar a cena. A casa de André Almada elevou padrões, mas nada impede que a concorrência aprenda com isso e passe a brigar de igual para igual (é o que se espera, aliás). Assim, cada noite de confronto será decidida pelo público, conforme os atrativos (locação, DJs) que forem oferecidos aqui e ali. No sábado retrasado, sem novidades em relação a suas noites comuns, a TW foi massacrada pela BITCH; já no sábado do Peter, a casa bombou, mas isso não impediu a E.njoy de fazer uma festa bonita e movimentada (embora não tão lotada), e que agradou bastante aos que a prestigiaram. Isso mostra que existe espaço na cena para todos - pelo menos nos feriados, em que o contingente de baladeiros é bastante engrossado por paulistas, mineiros, sulistas e brasilienses.
[
Foto: os "queijos", instituições cariocas, não poderiam ficar de fora da pista da TWRJ]