Em um trecho do post anterior, escrevi que Confessions of a Dancefloor, da Madonna, é um disco bom do começo ao fim, coisa rara no mercado - o mais comum é encontrar álbuns irregulares, que se apóiam em um, dois ou no máximo três singles bons, mas não conseguem manter o nível de inspiração nas outras faixas.
Claro que isso não inclui as coletâneas, que reúnem o crème de la crême do repertório de um artista (ou pelo menos as músicas mais conhecidas): qualquer grupinho razoável, depois de alguns anos de carreira, consegue encher um "greatest hits". Difícil mesmo é produzir um álbum de estúdio inteirinho bom, que não dê vontade de dar skip em nenhuma faixa (pior era quando tínhamos que dar fast forward na fita e calcular no olhômetro se a música fraquinha já tinha passado...)
É difícil, mas não impossível. Fiz uma lista de discos que considero bacanas do início ao fim. Em alguns deles, as faixas mais legais nem são as que fizeram sucesso. Outros (Pet Shop Boys, Madonna, Zero 7) não contêm as minhas faixas preferidas, mas são os álbuns mais uniformes, coesos e bem-resolvidos. Foi apenas esse o critério para o álbum entrar nessa lista. Uma porção de grupos que eu adoro, como Queen, Depeche Mode e Beatles, não aparecem aqui, porque, mesmo tendo criado grandes canções, não chegaram a gravar um álbum que fosse 100% incrível.
1) R.E.M., Automatic For The People, 1992
Depois de ganharem projeção mundial com Out of Time, que continha os hits "Losing My Religion" e "Shiny Happy People", Michael Stipe e seus colegas gravaram um álbum mais intimista, com belos arranjos de cordas. Sem hits grudentos, esta obra-prima é perfeita para uma tarde de inverno. ADORO: "Find The River", "Nightswimming", "Drive" e "Everybody Hurts".
2) Air, Moon Safari, 1998 [foto]
Primeiro álbum dessa dupla francesa que eu amo (antes, eles gravaram um EP), Moon Safari é um clássico da eletrônica, misturando batidas calminhas, vocoders a rodo e um irresistível ar retrô. O maior hit deles, "Sexy Boy", está aqui. Seis anos depois, eles lançaram outro disco que também considero muito bom, Talkie Walkie. ADORO: "Ce Matin Là", "Talisman", "Remember" e "Kelly, Watch The Stars".
3) UB40, Rat in The Kitchen, 1986
Conhecidos nas cervejadas universitárias do planeta por "Red Red Wine", os ingleses do UB40 incorporaram sofisticação instrumental a um gênero pobre e rudimentar como o reggae. Rat In The Kitchen é uma festa com muitos saxofones, backing vocals teatrais e bom humor, mesmo quando as letras têm um tom de crítica social. ADORO: "Don't Blame Me", "The Elevator" e "Sing Our Own Song".
4) Marisa Monte, Memórias, Crônicas e Declarações de Amor, 2000
Ela passa a impressão de ser um tanto presunçosa, como Gal. E vamos combinar que os Tribalistas eram um pé no saco. Mas este disco tem letras lindas, arranjos delicados e fala de amor sem ser meloso. Evoca um fim de tarde bem gostoso no Rio de Janeiro. Nem precisava ter "Amor I Love You". ADORO: "Sou Seu Sabiá", "Gotas de Luar", "Gentileza" e "O Que Me Importa".
5) Paralamas do Sucesso, Nove Luas, 1996
Depois de uma fase experimental e chata, foi com esse álbum que os simpáticos Paralamas fizeram as pazes com o sucesso. As músicas são alegres e mantém o padrão de letras inteligentes e instrumental requintado do trio. Mas Nove Luas é o trabalho mais uniforme da discografia deles. As faixas que eu destaquei são lindas. ADORO: "Sempre Te Quis", "Um Pequeno Imprevisto" e "Busca Vida".
6) Amy Winehouse, Back To Black, 2006
Não deixa de ser uma surpresa que uma garota que foi beber na fonte das divas soul dos anos 60 tenha se tornado o maior fenômeno fonográfico do mundo em 2007. Mas Amy tem uma voz pungente, fala sobre amor e perdas com toda a propriedade do mundo, e os desatinos de sua vida pessoal só ajudam a reforçar o mito. Torcemos para que ela segure a onda e dure. ADORO: "Back to Black", "Tears Dry On Their Own", "Love is a Losing Game" e "He Can Only Hold Her".
7) Pet Shop Boys, Behaviour, 1990
Enquanto o álbum anterior, Introspective, dialogava diretamente com as pistas, este veio numa direção bem mais melancólica, trazendo algumas das faixas mais bonitas da carreira da dupla. "So Hard" e "Being Boring" foram hits, mas as faixas de que mais gosto em Behaviour são justamente as que não se tornaram conhecidas. Um belo disco, de cabo a rabo. ADORO: "My October Symphony" e "Jealousy".
8) Madonna, Confessions on The Dancefloor, 2005
Depois dos onze parágrafos do post anterior, não vou mais me alongar nesse assunto. Madonna vem intercalando discos bons e uós: Music (bem bom), American Life (uó!), Confessions (tudo!) e Hard Candy (parem de babar ovo, o disco é fraquinho, vai). Mesmo que sua próxima cria seja inspirada (nunca se sabe qual direção ela seguirá), não consigo imaginar que venha outro álbum tão coeso quanto este. ADORO: "Get Together", "Future Lovers", "Sorry", "Forbidden Love" e "Jump".
9) Nirvana, Nevermind, 1991
Com o célebre disco do bebê nadando pelado, o perturbado Kurt Cobain liderou o estouro do "grunge" de Seattle. Músicas cruas, que vão direto ao ponto, sem grandes virtuosismos instrumentais, e algum nonsense nas letras fizeram de Nevermind um clássico. Que fica ainda melhor quando vemos o lixo repetitivo que o rock americano se tornou. ADORO: "Come As You Are", "Stay Away" e, especialmente, "On A Plain".
10) Zero 7, When It Falls, 2004
Calminhos e melódicos, misturam downtempo, trip hop, folk e acid jazz. O resultado é difícil de qualificar ("chillout erudito"?), mas melhor do que encontrar um rótulo é simplesmente curtir. Os hits do Zero 7 ("Destiny" e "Give It Away") estão no disco anterior, Simple Things. Mas este aqui tem um resultado mais homogêneo, especialmente se for ouvido de trás pra frente, ou seja, invertendo a ordem das faixas. ADORO: "Passing By" e "When It Falls".
ALGUNS OUTROS DISCOS QUE EU CURTO... Foo Fighters, There is Nothing Left To Lose, 2000; Ana Carolina, Ana Carolina, 1999; Cranberries, To The Faithful Departed, 1996; Pearl Jam, Pearl Jam, 1992; Cássia Eller, Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo, 1999; Barão Vermelho, Puro Êxtase, 1998; Blur, Parklife, 1994; Jewel, Spirit, 1999; INXS, Kick, 1987; The Breeders, Last Splash, 1994; Legião Urbana, As Quatro Estações, 1989; Oasis, (What's The Story) Morning Glory, 1995; No Doubt, Tragic Kingdom, 1997; Aerosmith, Nine Lives, 1997; Van Halen, Balance, 1995; Extreme, III Sides to Every Story, 1992. E muitos outros, mas aí eu sempre pulo algumas músicas.
14 comentários:
Queen não gravou nenhum álbum incrível do começo ao fim?? Você já se deu ao trabalho de ouvir "Queen II", lançado antes deles virarem sucesso mundial?
O disco saiu no começo de 74, ainda em formato LP. O que permitiu que a banda brincasse um pouco: ao invés de lado A e lado B, havia um lado "negro" e outro lado "branco", numa dicotomia meio "mal x bem". Pretensioso, claro, mas lembre-se que estávamos em 1974.
É bem mais pesado que o Queen que veio depois, e as letras são quase todas pessimistas. Mas as músicas são todas em "segue" - sem pausa entre uma e outra, como no "Confessions" da Madonna. Experimente ouvir em fone de ouvido, de uma só vez. É de tirar o fôlego.
Vou te passar o disco todo em mp4 pra você por no iPod.
bjs
Eu acho mega difícil gostar de um album inteiro, pelo menos uma ou duas eu faço cara de uééé. Amo os Greatest Hits, se pudesse colecionava todos.
No iPod só entra álbuns inteiros para degustação, pq eu filtro depois e deixo só o que eu realmente gosto. E claro, os greatest hits.
Eu adicionaria "Tah Dah!" do Scissor Sisters. :)
OPA! CONCORDO TOTAL COM "CONFESSIONS...", "AS 4 ESTAÇÕES", "NEVERMIND". E POSSO DIZER QUE ADORO "EROTICA", AO LADO DE "CONFESSIONS...", O MEU PREFERIDO DE MADONNA. TAMBÉM ME ENCANTA "EQUILIBRIO DISTANTE", DE RENATO RUSSO. E COISAS DE HARDFLOOR, JAM&SPOON,KRAFTWERK E DAFT PUNK, MAS AÍ JÁ É OUTRA PRAIA...
Hum... legal, já tô baixando alguns pra ouvir, especialmente os de música eletronica!
Confesso que não gostei de vários post que você colocou aqui, mas agora tenho que admitir: Você arrasou apenas citando o disco Moon Safari do Air, que para mim, é a tradução de modernidade, elegância e refinamento em música.
UB40 !!!!
Sensacional!
é difícil eu nao ouvir um album todo, acho necessário pra captar o trabalho como um todo.
Lógico que isso funciona para artistas bons, com trabalhos sólidos...
denunciou que vc eh uma cacurinhaaa
Piece of Mind do Maiden!
Xandon
Olá, tudo bem?
Interessante esse post. Há algum tempo tenho procurado ouvir os álbuns por completo e tive o mesmo pensamento que você. Não sei se o meu ouvido (ou gosto musical) está mais apurado mas em alguns casos percebo essa "uniformidade" que mencionou, como o Black to Black e no Confessions.
E por mais que me doa dizer, até alguns artistas de quem sou fã (como Legião) não conseguiram obter a coesão e coerencia entre as faixas.
Um grande abraço e bom natal!!!
Eu acho que qualquer CD dos Beatles é melhor que qualquer um dessa lista, juro. Até o "For Sale".
Bjs!
Também adoro o Confessions e o Nevermind.
Adorei o tópico.
Beijos
òtima seleção. Alguns concordo com vocÊ outros nem tanto. Concordo que existem albuns que em seu todo nã osão um obra prima e algumas músicas boas se perdem no meio disso. Abs e parabéns.
vertigop.blogspot.com
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