A festa acabou, o circo passou. O som foi desligado. As passistas tiraram os saltos. O gelo no isopor derreteu. Os garotões sumiram na dispersão. A bebida, mesmo quente, acabou. A maquiagem escorreu. O cabelo desmanchou. As lantejoulas ficaram pelo caminho. O plantonista tomou um café com leite e foi para o jornal redigir a notícia. Os seguranças afrouxaram as gravatas e foram tomar sua cachaça (com exceção de um, que foi para um puxadinho próximo com uma rapariga).
A festa acabou, o circo passou. A luz se apagou. O canto se calou. A onda baixou. A chapa esfriou. Quem tinha para onde ir, foi. Quem não tinha, saiu vagando feito vira-lata. Até o bêbado interrompeu seu sono profundo, levantou-se e tomou seu rumo. Um papel de Eskibon se arrastou solitário, em círculos, pelo chão. As glórias, as pétalas de rosa e as lembranças do que foi vivido ali foram sendo varridas pelos garis, em direção ao esquecimento eterno do bueiro. A festa acabou, o circo passou. A nuvem desceu. Não é um bom dia para comprar flores, nem chocolates.
Debruçada no parapeito de sua janela, enquanto a tenda é desmontada na praça, lá embaixo, Glorinha apenas observa, com os olhos dispersos no horizonte. Resignada, ela assiste calada ao desmanche do que poderia ter sido, mas não foi. Mais uma vez, aquele não era para ter sido o seu Carnaval. Procurava nas estrelas a resposta que não tinha dentro de si. Quando terá chegado a sua hora, afinal? Quando enfim chegará o dia e a vez de Glorinha?
3 comentários:
dá para fazer uma boa imersão nessa história. Quantas Glorinhas ainda não foram? Quantas estão por aparecer e simplesmente por ser?
Interessante... em tempos em que ter ou não ter isso ou aquilo é sinônimo do que você é, foi ou pode ser.
Beijo, Thi
Senti uma inspiração "o tempo passou na janela e só Carolina não viu".
Carlos Drummond de Andrade mandou lembranças. ;)
adoro essas referências.
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