Como se não bastasse tudo o que eu já estou tendo que conciliar e encaixar nesses loucos dias de equilibrista na corda bamba, agora começou mais um Festival Mix Brasil, e eu vou ter que dar um jeito de escapar das incansáveis obrigações para assistir a alguma coisa. Tenho um carinho enorme pelo Mix, que há muitos anos é uma das datas fixas mais esperadas do meu calendário pessoal. É uma chance única de ver longas e curtas sensacionais (e alguns bem ruinzinhos também), que jamais teriam espaço no circuito oficial, mesmo em se tratando de uma cidade tão ávida por bens culturais ligados à diversidade sexual como São Paulo.
Todo ano, faço minha listinha e vou encaixando na minha rotina como dá. Gosto especialmente das comédias gays, que costumam ser leves, bem-resolvidas e inteligentes (embora algumas ainda resvalem em clichês bastante surrados), mas também me interesso por alguns títulos mais melancólicos (um traço que eu sempre carreguei em mim) e pelos documentários - de questões familiares da vidinha gay urbana até realidades absolutamente distantes de nós, o festival é uma janela aberta para o mundo, e abre a cabeça de quem embarca nele.
E tem todo o fervo em volta, claro. Sempre digo pros amigos não-iniciados que o Mix é um dos eventos onde mais se conhece gente bacana. Carinhas com quem você esbarraria na noite e também pessoas muito interessantes que você simplesmente não vê por aí e te fazem perguntar: "mas onde será que eles se escondem?". Nascem ótimos papos, amizades renovadoras e, às vezes, outros teretetês. Sou contra a idéia de sair de casa com a idéia fixa de "arranjar alguém", mas, que o Mix é um celeiro cheio de bons partidos, disso não tenho dúvida.
Comecei a vasculhar a programação agora e já vi que terei muito trabalho. Aqui vão os links de alguns filmes deste fim-de-semana que chamaram minha atenção: Fuera de Carta (que já passou na Mostra), 30 é o novo 20, Devotee, Good Boys, Xaviera Hollander, Roxxxane, Sexo dos Anormais, Another Gay Sequel II e Too Hot in Tel-Aviv. Entre os curtas, os da mostra Competitiva parecem promissores (um deles parte dos contos do Caio Fernando Abreu, outro é protagonizado por Ney Matogrosso e um terceiro promete aquela dose de pastelão que eu sempre achei bem-vinda) e os da Sexy Boys, sempre divertidinhos, desta vez têm argumentos menos bobos do que os das últimas edições do festival.
Tem gente que questiona se ainda existe um motivo para termos uma mostra de cinema gay, a começar pela própria diretora do Mix, Suzy Capó (que eu não conheço pessoalmente, mas com quem sempre simpatizei). Isso foi, inclusive, o objeto de um debate no MIS anteontem. Da minha parte, acho que os propósitos do festival continuam válidos. Iniciativas interessadas no tal pink money pipocam aqui e ali, mas os grandes investidores, los dueños de la bufunfa, ainda são bastante resistentes a aplicar seus tostões e ter sua imagem associada à cultura "GLS". Prova disso são as próprias dificuldades financeiras que o festival ainda enfrenta, aos dezesseis anos de idade. E outra: se existe sentido em uma mostra de cinema brasileiro, italiano, francês ou judaico, por que não um festival que agregue obras do mundo todo que tenham como denominador comum a expressão livre e plural das sexualidades?
4 comentários:
Prova de que ainda há dificuldades financeiras é que, após anos sem falhar, o Mix não deve vir a Brasília neste ano (pelo menos não encontrei menção em nenhum lugar da programação). Só posso acreditar que seja falta de patrocínio, porque o público aqui sempre foi fiel.
POXA, TEM SENTIDO HAVER UM FESTIVAL DE CINEMA GAY, SIM. COMO VC MESMO ESCREVEU, MUITO DO QUE PASSA NO FESTIVAL JAMAIS SERIA EXIBIDO EM CINEMAS COMERCIAIS. HÁ MUITA RESISTÊNCIA AINDA, APESAR DE TUDO QUE JÁ MELHOROU. O MIX É MUITO BACANA, JÁ FUI ALGUMAS VEZES, MAS TÔ MEIO COM PREGUIÇA DE IR... ESTOU MESMO QUERENDO VER "MILK".
ACHO BASTANTE VÁLIDO
E IMPORTANTE
HAIRYBEARS
http://hairybears.blogspot.com/
Acho que ainda há necessidade de existir um Festival como este e acho que é uma grande conquista conseguir tantas salas boas em SP para sua realização, mas desisti de freqüentar depois de problemas que, acredito, não deveriam mais ocorrer - como o filme que chegou sem o final em 2006 e a bomba que abriu o Festival em 2007.
Tenho vontade de dar mais uma chance, mas ando com preguiça... rs Até da Mostra Internacional passei longe!
Postar um comentário