Na noite de ontem foi inaugurado no centro de São Paulo o Chilli Pepper, que se vendia como o "primeiro hotel para gays solteiros da cidade". O negócio anterior do proprietário, a extinta sauna 269, tinha sido um grande sucesso de crítica e público; quando fechou as portas para dar lugar a um empreendimento imobiliário, deixou uma legião de fãs saudosos e uma lacuna no mercado que ninguém mais soube preencher. A notícia da casa nova gerou frisson no mundinho, que entrou em clima de contagem regressiva. Os detalhes anunciados para a imprensa só aguçavam a curiosidade: três andares, 2300m² de área construída e requintes como aquecimento elétrico nos pisos, ofurôs e piscinas de verão e inverno davam a impressão de uma casa suntuosa.
Até certo ponto, eu sabia que era preciso filtrar essas informações. O rótulo de "hotel" mais parecia um truque para afastar o estigma de sauna e proteger a casa contra uma provável hostilidade da vizinhança, como acontecera com a 269 na rua Bela Cintra. Como bom conhecedor do Centro, eu sabia que o entorno do empreendimento era bastante degradado e achei graça quando o empresário disse que se tratava de "uma área privilegiada do Arouche, nosso Village/Soho" [sic]. Pode até ser uma região com expressiva presença gay (a preços bem mais viáveis do que os do eixo Paulista-Jardins, néam?), mas essa comparação é, no mínimo, exagerada. Assim, o que eu esperava era encontrar o mesmo conceito de complexo de pegação da 269 - mas elevado a um patamar muito superior de conforto e sofisticação.
E o que vi foi uma casa ainda em obras, que não estava pronta para ser aberta. A fachada estava coberta pelo que pareciam ser grandes sacos de lixo. Não havia vestiários ou armários: os clientes tinham que se despir em um espaço improvisado e colocar sua roupa em sacolas plásticas, que um funcionário guardava em prateleiras do outro lado do balcão. As saunas propriamente ditas não funcionavam; a jacuzzi estava cheia, mas de água fria. O que havia para ser "desfrutado" era um bar (onde a pouquíssima luz tentava disfarçar a falta de acabamento) e um segundo piso com corredores e cabines - esse completamente no escuro, obrigando as pessoas a tatear e adivinhar a disposição de um espaço que elas desconheciam. Não dava pra ser claro demais, é verdade, mas pequenas luzes vermelhas sinalizando o chão teriam sido suficientes para dar alguma segurança aos frequentadores.
O imóvel, que abrigava uma agência bancária, é gigante e tem todas as condições de virar uma supersauna para ninguém botar defeito, sem deixar saudades da 269. Empregar transexuais na equipe foi um gesto de inclusão social simples e simpático, que outras empresas deveriam seguir. Também gostei da originalidade da trilha sonora, que ousou fugir do surrado bate-cabelo gay (nunca pensei que ouviria Talking Heads num espaço como aquele!). Mas, depois de ter prometido um luxo nababesco, a casa jamais poderia ter sido aberta ao público naquele estado - e, pior, cobrando dos clientes o preço normal de entrada. Entendo que obras são demoradas e caras, e talvez o dono já estivesse com a corda no pescoço, precisando colocar algum dinheiro em caixa. Mas teria sido melhor segurar a inauguração por mais duas semanas e entregar o lugar em condições adequadas, evitando a má impressão de que foi aberto às pressas, sem o menor cuidado com o consumidor.
10 comentários:
Essa história de "hotel gay" me lembra o Gay Hostel e todos os albergues gays de Schöneberg. são realmente hospedarias, mas com um empurrãozinho para forçar a "sociabilização" entre os hóspedes. Uma espécie de YMCA. Talvez algo forçando mais esse carater de hospedagem, mas sem perder os espaços para pegação, ficasse mais bacana.
Não custa lembrar que o preço da diária na 269 era mais barata que a do Formule 1. Na parada gay, a sauna era usada mais como ponto de apoio para dormir (com o plus do sexo) do que só para o sexo em si. Esse enfoque seria superlegal e novo por aqui.
Jornalista que acredita em release... Francamente.
Thiago,
Obrigado pelo post, daqui a um mês(ou dois) eu passo lá. Por enquanto vou continuar no C.D.P.
Quanto ao comentário acima, o dificil era conseguir um quarto na 269 (certo dia, não tinha nem chinelo!).
Grinder bee... vai na frente da sauna e arruma um boy com cafofo das redondezas... ou pega um que esta a caminho. Com a entrada dos dois ainda compra uma chandão gringa.
Oi Thiago!! Sou vizinho do local. Acompanhei as obras do janelão da minha lavanderia.Já sabia que ia ser inaugurado inacabado mas não imaginava que fosse tanto.Amigos meus me disseram que está sendo cobrado meia entrada até o dia 20. Não procede este negócio de preço integral. O mais bacana é que a presença da sauna com sua segurança particular e mais uma que já atuava na região mas não atravessava a Jaguaribe trouxe mais tranquilidade para o pedaço. O paisagismo nem se fala. Eu convivi com a pacinha gradeada e deteriorada por 12 anos.Agora temos um belo jardim e tb teremos uma escultura.Ontém já havia "esquenta" no boteco do lado,o Freitas&Marcolan com direito a churrasquinho e funk em alto volume.kkkk Eu quero é mais. Torço muito para o sucesso do Chilli Pepper.Vai ser bom para o Arouche/Vila Buarque e Santa Cecilia.
Daniel: Tanto não é verdade que o foco do "hotel" é hospedagem, que pela diária de 24 horas nos finais de semana eles cobram escorchantes R$860, valor que paga uma diária em um hotel de verdade e dos bons. A ideia é outra, e nós sabemos bem qual :-)
Anônimo 1: Eu não acredito em nada até ver com os próprios olhos, e foi isso mesmo que fiz ;-)
Cássio: Acho uma boa ideia. Daqui a um mês, com a Parada Gay, o lugar já deve estar tinindo e nos trinques. Tem que estar, não é?
Anônimo 2: Pior que você está certo. O Grindr desmantelou e levou à ruína bares, saunas e pontos de encontro gays, e não só no Brasil. No mundo inteiro, muita gente transpôs os seus hábitos de caça (e mesmo socialização) para esse aplicativo. Infelizmente.
deco: Posso te garantir que a informação do preço integral não foi inventada, pois o dinheiro saiu do meu bolso. Se o estado inacabado da obra repercutiu mal e eles resolveram dar desconto, é outra história. Mas fico feliz com os efeitos positivos para o bairro, e também torço para que o lugar se aprume e entregue para todos nós aquilo que prometeu! ;-)
Thiago: achava que todos tinham sido VIP neste dia.Não tive a menor intenção de duvidar da sua palavra.Foi um erro feio cobrar por algo inacabado.Abrs
Nêgo vai no lugar de pegação e não fala da única coisa que REALMENTE interessa ali. "Jornalismo" coxinha.
Só um adendo:continua tudo igual. Ainda em obras. Não para de chegar material. Por outro lado o entorno está cada vez melhor ( ou menos pior?) e mais seguro.Um amigo nosso foi por estes dias e ficou muito irritado. Disse que não volta nunquinha mais.
Olá Thiago! Não sou de São Paulo e estive aí em sua cidade uma semana antes da Parada 2012 especialmente pra conhecer o tão falado Chilli, já que eu achava a 269 sensacional! E, pra minha supresa, achei tuuuudo de bom! Bofes lindos passeando de toalha azul pelos corredores e, é claro, muuuuita pegação! O frêvo!!! Em minha opinião, melhor que a 269!
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