terça-feira, 6 de novembro de 2007

Guia de Buenos Aires, parte 2: onde comer


Com um povo que descende de várias nacionalidades e leva o prazer de comer a sério, Buenos Aires só poderia ter uma cena gastronômica riquísima. Dá para passar meses conhecendo e testando lugares novos, que vão das tradicionais carnes e massas até pratos da cozinha contemporânea, passando por ótimos frutos do mar - isso sem falar dos inesquecíveis sorvetes e do famoso dulce de leche.

É importante explicar aos marinheiros de primeira viagem o que significa o cubierto que virá cobrado na conta. Não tem nada a ver com o nosso couvert (portanto, nem adianta dispensar o pão). É uma taxa fixa, que os restaurantes cobram de todos, pelo uso dos talheres ("cubierto" em espanhol = garfo + faca + colher). Também não se trata de gorjeta (propina, em espanhol), que é dada à parte pelo freguês ao seu gosto (muitos restaurantes não aceitam incluí-la no cartão de crédito).

Em relação aos horários, algumas particularidades. Durante o dia, alguns restaurantes fecham após as 15h ou 16h e só reabrem à noite. E se você chegar para jantar antes das 21h, provavelmente só verá os garçons e o cozinheiro - como bom boêmio que é, o portenho janta tarde. Obviamente, se você resolver chegar às 23h00 num restaurante concorrido como o Green Bamboo, vai esperar em pé até que a primeira leva que lotou as mesas comece a ir embora.

Aqui vão minhas 10 dicas de comida:

1 - Entra ano e sai ano, e meu predileto continua sendo o bom e velho BROCCOLINO (Esmeralda, 776), um restaurante simples e honesto que tem um quê das cantinas italianas de NY e vive cheio. Meu prato do coração são os sorrentinos Tony (de presunto, ricota e queijo, com um saboroso molho de tomates frescos, mussarela e manjericão), mas tudo que eles fazem é maravilhoso, não dá para errar. Tente as cintitas nero di seppia profumo di mare - um macarrão linguini negro, feito com tinta de lula, com molho de salmão, creme de leite e frutos do mar. Ou divida com alguém o enorme linguado com um molho cremoso de vinho branco e camarões, mais purê de batata. Nham-nham.

2 - Também não falta nas minhas viagens a boa pizza do FILO (San Martín, 975). O restaurante segue a mesma linha colorida-moderninha do PIOLA (que fica na Libertad, 1078), mas a comida é mais caprichada e o staff, mais atencioso - eles sempre sabem qual é a boa da noite e, se não souberem, os muitos flyers do balcão do bar podem ajudar. As pizzas são finas e leves, mas sem a miséria de recheio do Piola. Peço sempre a Al Prosciutto, com cogumelos como ingrediente extra. Eles também fazem metade de cada sabor, como no Brasil. Vale lembrar que a pizza pequena tem 6 pedaços - pode ser uma boa para um casal sem muita fome.

3 - Que tal andar por um grande salão com várias pequenas cozinhas, onde simpáticos chefs preparam na sua frente pequenas porções de massas, carnes, pescados, comida internacional e doces, tudo gostoso e sofisticado, para você ir provando e repetindo como quiser? E mais, pagando algo como R$26 por pessoa? Esse verdadeiro achado, quase bom demais para ser verdade, atende pelo nome de MARINI GOURMET (Avda. Santa Fe, 3666) Abre para almoço e jantar, sendo que no jantar e nos almoços de fim-de-semana a comida tende a ser mais diferenciada do que nos almoços comuns.

4 - Naturalmente, você vai querer provar uma boa carne argentina. Qualquer lugar decente sabe fazer um bom bife de chorizo - o famoso contra-filé argentino, que é uma espécie de "pretinho básico" que nunca falha quando não se sabe o que pedir. Mas há outros cortes que merecem ser provados, como o bife de tira (meu preferido), o asado de tira e o vacío. Quem está acostumado a abrir a carteira no Rubaiyat paulistano pode conhecer o braço argentino da rede, o CABAÑA LAS LILAS, em Puerto Madero. Agora, se quiser comer uma carne do mesmo nível sem gastar tanto, vá ao LA CABALLERIZA (tem em Puerto Madero e no Village Recoleta).

5 - Gosta de comida asiática? Buenos Aires tem boas opções que vão muito além do sushi e do frango xadrez. No Centro, prove a comida tailandesa do EMPIRE (Tres Sargentos, 427) que é totalmente gay friendly. Recomendo os langostinos (camarões) empanados com molho de shoyu e tamarindo e a sopa de cubos de frango, leite de coco, gengibre, capim-limão e cogumelos. E em Palermo, não perca o GREEN BAMBOO (Costa Rica, 5802), um bar-restaurante vietnamita descolado, escurinho e aconchegante (a comida vietnamita não destoa muito da tailandesa; para ter uma idéia, veja o cardápio deles aqui). Convém reservar, já que é pequeno e lota cedo.

6 - O bairro de Las Cañitas também tem ótimas opções de gastronomia. Minha favorita lá é o EH! SANTINO (Baez, 194), um desses lugares que deixam você naquelas "sinucas de bico" entre 4 ou 5 pratos do menu. Felizmente, eles tem uma opção que se chama trio de pastas: você combina 3 massas com 3 molhos, num pratão retangular para duas pessoas. Eu, por exemplo, gosto de pedir assim: (a) gnocchi de espinafre com uma espécie de ragu de tomate e vinho e mais cogumelos frescos e secos; (b) sorrentinos negros (feitos com tinta de lula), recheados com lagostins, camarões e kani kama moídos, com molho rosado e pesto; e (c) agnolottis de presunto, mussarela e ricota, com creme, tomate concassé e manjericão. De lamber o prato.

7 - Vai garimpar as lojas descoladas de Palermo Viejo? Um ótimo lugar para sentar com as sacolas e fazer um lanche é o MARK'S (El Salvador, 4701), um café com comidinhas simpático e bem freqüentado, que faz sanduíches incrementados no pão ciabatta e bolos caseiros bem com cara de vovó. Outra opção bacaninha é o versátil BAR 6 (Armenia, 1676): dá pra tomar café da manhã, almoçar, beliscar algo à tarde e até jantar - mas, para jantar por ali, prefiro comer um risoto de vitela, cogumelos e parmesão no CLUNY (El Salvador, 4618), ou um crepe de caranguejo gratinado do LA BAITA (Thames, 1603).

8 - Sua ida a Buenos Aires não será completa se você não cair de boca nos melhores sorvetes do mundo. O título sempre foi da FREDDO. Mas a família que criou a rede recebeu uma boa proposta de um grupo estrangeiro e passou a marca adiante. O Freddo continua igualzinho e delicioso, mas seus fundadores conseguiram criar uma sorveteria ainda melhor: a PERSICCO. É de comer de joelhos. Na Freddo (que tem na Santa Fe, em Puerto Madero, na Recoleta e nos shoppings), prove os sorvetes feitos com pelotas de dulce de leche mole dentro, como chocolate suizo, crema tramontana e banana split. Na Persicco (Jerónimo Salguero, esquina com Cabello), você também pode pedir todos esses, mas não deixe de provar mousse de chocolate, tarta de limón e crema mascarpone, com gosto de cheesecake e frutas vermelhas.

9 - Se, já que você está gastando dinheiro para jantar, você quer ver e ser visto, arrisque o pretensioso CASA CRUZ (Uriarte, 1658), se você for hétero, ou o bar-restaurante-cabaré CHUECA (Honduras, 5255), se for gay. Ou então vá tomar um drink no bar do FAENA (atrás de Puerto Madero), design hotel de cair o queixo projetado por Phillippe Starck. Em Palermo, outros lugares para um bom drink são o gay ANDY (Jorge Luís Borges, 1975) e o alternativo KIM Y NOVAK (Güemes, 4900).

10 - Por fim, se você não tem nada para fazer no almoço de domingo (um after no Caix, uma festinha particular, uma excursão ao Uruguai), considere seriamente a idéia de tomar um champagne brunch nos hotéis ALVEAR (o mais caro da cidade) ou FOUR SEASONS. Nos dois casos, a comida é farta e sofisticadíssima, e os garçons não deixarão sua taça de champagne ficar abaixo da metade. O preço gira em torno de 130 pesos por pessoa (algo como R$90), o que é muito barato para um banquete de luxo em que você é tratado como um rei. Os brunches só são servidos aos domingos e é preciso reservar com uma certa antecedência.

[Foto: sorrentinos Tony @ Broccolino]

2 comentários:

Vítor disse...

O Broccolino é bem gostoso e, melhor, muuuuito em conta. Lembra um pouco o Pasta & Vino de SP, que eu adoro.

Quanto às sorveterias, são ótimas, sim, mas recomendo passar depois no Mil Frutas, o melhor sorvete do mundo. Sabor "Romeu e Julieta", por favor.:P

E da série "peço ajuda aos universitários": você sabe qual é o nome dum restaurante de comida escandinava que tem em Palermo Viejo? É bem bacana...

Bjs!

PS: Quando eu descobrir o nome da outra galeria da Sta Fé, coloco aqui, para o deleite dos seus leitores.

PS2: O Filo é ótimo pra tomar uns drinks e ser abordado, se é que me entende.

Thiago Lasco disse...

Vitor: o escandinavo que vc cita é o Olsen (Gorriti, 5870). Até pensei em colocar aqui, porque eles também fazem um brunch aos domingos (mais moderno e informal). Mas o post já estava grande demais e tive que selecionar um pouco.

O Filo é meu xodó, então sou suspeito para falar. Mas ele já foi bem mais gay do que é hoje (apesar da montanha de flyers do Amerika e do Glam no bar).