
Pois bem: O Que Você Quer Saber... é a continuação de Memórias. Todas as faixas poderiam estar naquele disco: "Descalço no Parque", "Amar Alguém", "Verdade, Uma Ilusão" e "Bem Aqui" são irmãs mais novas de "Abololô", "Gotas de Luar" e "Sou Seu Sabiá". Se ainda estivéssemos na época dos compactos, a melancólica "Depois" seria o lado B perfeito para "O Que Me Importa". Há uma diferença, e ela já se nota na faixa de abertura, que dá nome ao álbum: os arranjos estão bem mais sofisticados, o que só realça as qualidades vocais de Marisa. "Era Óbvio" é uma das faixas mais bonitas da carreira dela, sem dúvida.
Para tudo ficar ainda mais gostoso, ela deixou de lado aqueles sambinhas insossos e focou no que sabe fazer de melhor: baladinhas com um pé na MPB e outro no pop. "Ainda Bem", "Aquela Velha Canção" e "Era Óbvio" grudam rápido no ouvido. "O Que Se Quer", minha favorita do disco, tem uma segunda voz idêntica a Tom Jobim (é Rodrigo Amarante). As letras mantêm a qualidade habitual, com destaque para "Depois", que retrata o fim de um relacionamento com uma sensibilidade arrepiante, e para o quase-forró "Hoje Eu Não Saio Não".
O disco é apaixonante e ganha mais corpo e unidade a cada nova audição. Não tem uma única faixa piorzinha que mereça um skip para a seguinte. OK, sou obrigado a reconhecer que, do ponto de vista artístico, não houve um pingo de ousadia: Marisa se manteve em território seguro, fez mais do mesmo, repetiu uma receita testada e aprovada, palatável para as rádios e trilhas de novela. Mas ela está cada vez melhor naquilo a que se propõe. Talvez eu me enjoe se ela lançar um terceiro disco igual aos anteriores. Desta vez, porém, ela soube entregar tudo o que eu queria ouvir de verdade.