sábado, 21 de outubro de 2017

Instituto Moreira Salles (o do Rio) e um rolê pela Gávea


Paulistano que se preza vai para o Rio e não larga o osso: vive a praia ao máximo e sofre um bocado quando o tempo amanhece fechado e frustra seus planos. Na minha última visita [a de número 99 na minha vida! preciso pensar em algo grandioso para a próxima, a centésima!], no feriado de 12 de outubro, diante de um domingo chuvoso, apostei na Gávea para passar um dia diferente. E foi um tiro certeiro!


Primeiro, aproveitei para visitar a sede do Instituto Moreira Salles. O IMS carioca não podia ser mais diferente da unidade inaugurada no mês passado em São Paulo: enquanto o daqui é um prédio de arquitetura arrojada, com escadas rolantes que conduzem o visitante diretamente para a recepção no quinto andar e um vão livre que se debruça para a avenida Paulista, o do Rio é a espetacular casa que um dia foi a residência da própria família Moreira Salles.


Uma joia da arquitetura modernista, com direito a belos jardins, parede de cobogós, piscina e um diálogo com a natureza exuberante ao redor que lembra um pouco o Inhotim de Minas Gerais.


Só o passeio pela casa já valeria o rolê, mas as salas de exposições também têm uma programação cultural bem interessante (e toda grátis). Peguei uma mostra do Chichico Alkmim, um fotógrafo autodidata que fez uns registros muito interessantes da vida cotidiana de Minas Gerais nas primeiras décadas do século passado (as fotos dos velórios infantis são preciosas), e uma exposição sen-sa-cio-nal de cartuns do J. Carlos.


Além do traço inconfundível, que foi muito usado por periódicos e revistas em um tempo em que as ilustrações cumpriam o papel de fotografias, o trabalho dele também vale como uma crônica dos costumes da época. A relação com as mulheres, imortalizada em suas clássicas matronas, soa mais divertida do que a forma sempre inferiorizada como os negros eram retratados.


O programa fica ainda mais redondo com uma visita à filial que o Empório Jardim acaba de abrir dentro do próprio IMS. A casa, com matriz no Jardim Botânico, serve um dos brunches mais espertos da cidade, em esquema à la carte.


Itens como ovos Benedict com salmão, tapiocas, iogurtes e bolos caseiros, além de pratos quentes, drinks e aquela tacinha de espumante, podem ser pedidos a qualquer hora do dia - perfeito para quem acorda tardão e, mesmo com o horário desregrado, não abre mão de um bom café da manhã. Torça para encontrar o bolo de mirtilo (também conhecida como blueberry) com limão-siciliano, que uma das sócias inventou há três meses e só serve de vez em quando!


Além do IMS, a Gávea ainda guarda outras surpresas. Escondidinho num canto tranquilo nos fundos da zona sul carioca, entre a Rocinha, a Floresta da Tijuca e o Jardim Botânico, o bairro tem muito verde, uma pegada meio desacelerada e um clima mais fresquinho, mesmo se no vizinho Leblon estiver aquele calorão.


Dá para esticar o passeio até o Parque da Cidade, que é incrivelmente sossegado. Ali fica o Museu Histórico da Cidade (fechado, mas com um pequeno anexo em funcionamento, com registros do Rio de dois séculos atrás) e também acessos a trilhas que levam a vários pontos turísticos da Floresta da Tijuca, como a Vista Chinesa.


O trajeto até o parque passa por uma das entradas da Rocinha, no início da Estrada da Gávea, mas é seguro e policiado. (Infelizmente não posso recomendar com a mesma segurança essas trilhas que levam até a Vista Chinesa; o lugar é de uma beleza estonteante, mas do ano passado para cá os assaltos a turistas voltaram a crescer).


O bairro tem outras opções gastronômicas para abrir ou fechar o passeio. A rede Delírio Tropical tem ali um de seus pontos mais agradáveis, com o mesmo bufê informal e descomplicado de sempre (pena que a qualidade da comida não seja a mesma de dez anos atrás). Para algo mais elaborado, o Shopping da Gávea se sai surpreendentemente bem, com vários restaurantes charmosos e acolhedores. Mesmo se o jantar estiver programado para outro lugar, vale percorrer os corredores de pedras portuguesas, sentir o nostálgico ar de anos 80 que toma conta do lugar, e tomar um copinho do melhor sorvete da cidade na Momo.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O adeus do pai dos quilos chiques do Rio

Crédito: Paulo Nicolella/Agência O Globo

Quando comecei a desbravar o Rio de Janeiro, há quase 18 anos, a peculiaridade da cena gastronômica local que primeiro me fascinou não foram os botequins (sou ruim de copo), nem as casas de suco (nem sempre quero ter que ficar em pé o tempo todo). Foi o que chamei de "quilos premium" (numa época pré-gourmetização em que esse termo não havia se tornado um palavrão impublicável).

Eram restaurantes de comida a peso que não se encontrava com tanta facilidade em São Paulo, com receitas requintadas que fugiam do trivial. Saladas de uma criatividade que só o carioca tem, carnes com molhos depurados que poderiam estar na mesa de uma ceia natalina, bons risotos, sobremesas que zombavam do eterno imperativo de se manter seco & sarado o tempo todo.

O Couve-Flor sempre foi um bom representante dessa linhagem de quilos chiques, ao lado de algumas casas que já fecharam e outras que ainda sobrevivem, mesmo que sem o brilho de outros tempos - Fellini, Ataulfo, Papa Fina, Nanquim, Da Silva. Era fora de mão para um pós-praia, e as filas enormes desanimavam quando você já estava faminto. Mas era um programão para quando se estava pelo Jardim Botânico e tinha uma mesa de sushis que figurava entre as melhores da cidade.

Por isso, foi com pesar que recebi a notícia, publicada n'O Globo, de que a casa fechou as portas definitivamente nesta semana, depois de 31 anos de bons serviços prestados aos cariocas e a inúmeros visitantes e frequentadores da cidade, como eu. A casa foi uma das primeiras a trazer o sistema de cobrança a quilo para a Zona Sul.

Os motivos para o fim, conforme contou o proprietário do estabelecimento, foram a crise econômica, que cortou o movimento da casa pela metade no último ano, e a onda de violência que está varrendo a cidade. Não porque os comensais estivessem evitando o lugar com medo de assaltos, mas porque muitos dos funcionários do restaurante, moradores da Rocinha, vinham precisando faltar ao trabalho ou voltar mais cedo para casa, já que a favela vive um toque de recolher por causa da guerra entre traficantes.

Mais uma grande referência na paisagem urbana carioca que vai deixar saudades. Mais uma notícia triste que nos brinda essa má fase pela qual nosso querido Rio está passando.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Velhos e novos espaços do sexo


Durante os quase cinco anos em que este blog esteve em hibernação, um dos poucos posts que continuaram repercutindo e gerando comentários, para minha surpresa, foi este aqui, sobre minha visita a uma sauna em Recife. Naquela ocasião, fiquei admirado não só com o porte e a estrutura do lugar, superiores a tudo o que eu já havia visto no País, mas também como aquele era um local de socialização da comunidade. Ali, além de buscar sexo, os frequentadores encontravam os amigos, bebiam, comiam, assistiam a shows, como se estivessem em um clube. Acabei me divertindo em um sentido muito mais amplo do que eu havia imaginado.

No último verão, voltei à capital pernambucana e fiz uma nova visita ao lugar. Quase dez anos depois, as instalações já não impressionavam: pareciam abandonadas, paradas no tempo. Mas parado mesmo era o clima do pedaço. A debandada foi geral, e a faixa etária dos clientes remanescentes subiu um bocado - contrastando com a idade dos garotos que não estavam ali a passeio, e cuja presença me pareceu mais ostensiva. Um desavisado que for até lá atraído pelo meu relato de 2007 irá se decepcionar.

Mesmo sem ser frequentador assíduo da cena recifense, posso afirmar sem medo de errar que os culpados pela decadência da sauna são os mesmos que vitimaram muitos estabelecimentos gays nas grandes capitais do mundo: aplicativos como Grindr, Tinder, Scruff e Hornet. Eles permitem que homens interajam e marquem encontros de forma prática e objetiva, sem ter que percorrer a via-crúcis da noite: enfeitar-se, sair de casa, fazer a dança do acasalamento. O cardápio de carnes está na tela do smartphone, e dá para aceitar um convite ou descartá-lo para sempre com a mesma facilidade. Com isso, não só saunas, mas também bares e boates viram o público minguar - em Londres, a quantidade de lugares gays caiu praticamente à metade de dez anos para cá.

Enquanto isso, aqui em São Paulo, uma rápida incursão ao mundo do sexo mostra que a dinâmica dos espaços tradicionais não mudou. Pouca roupa, pouca conversa e pouquíssima luz - os ambientes são carregados de uma tensão que passa a anos-luz de distância daquela atmosfera festiva que um dia vi em Recife. Tudo frio, apressado, sem a possibilidade de um contato mais pessoal (ainda que passageiro), em uma penumbra que remete aos tempos em que os homossexuais se esgueiravam nas sombras do anonimato e da clandestinidade. E aqui, mais uma vez, a faixa etária vai dos 30 e poucos aos 50 e tantos.

Já as gerações seguintes, que hoje vivem seus primeiros anos de noite pós-maioridade, passam longe desse cenário. E estão se jogando em novos formatos que têm pipocado pela cidade de 2016 para cá. São festas que propõem uma expressão mais livre da sexualidade, em que socialização, sensualidade e sacanagem não precisam estar separados em compartimentos estanques. Dá para sair de casa para dançar com os amigos, conhecer gente nova e fazer sexo ali mesmo - e não estamos falando de se confinar em um dark room saído dos anos 90, mas sim em fazer isso em qualquer lugar da festa, com uma saudável naturalidade. Vestido, pelado ou no meio do caminho: pode ter montação, pode ter fetiche, pode ter fantasia, pode usar a roupa para seduzir e expressar o que der na telha.

Há pelo menos três projetos regulares nessa linha de balada com pegação aberta. As festas Kevin e Dando (nome sugestivo!) têm proposta musical voltada à house, electro e tech house, com público predominantemente gay masculino, que também bate cartão em outras festas da cena underground paulistana. Já a Pop Porn é mais eclética, com frequência LGBTT mesmo (travestis e transgêneros sentem-se à vontade ali, com a acolhida que raramente recebem em outros lugares) e uma sequência de DJs que mistura estilos sem a menor preocupação de construir um fio condutor: rola pop, funk, house, brasilidades, reggaetón... Tudo muito livre e muito solto, bem ao gosto de uma geração que se permite experimentar e escolher sem se prender tanto a rótulos.

sábado, 15 de julho de 2017

Vinte anos num piscar de olhos


Hoje um amigo querido celebrou aniversário em um espaço fofissimo aberto no terraço da Galeria Ouro Fino (que recebeu o exagerado nome de Rooftop Augusta). Quem é de São Paulo ou frequentou a cidade nos últimos vinte e poucos anos lembra que existiu um tempo em que os Jardins eram o epicentro da vida gay, e a Ouro Fino, um misto de ponto de encontro e celeiro de tendências. Um lugar que transbordava a cultura clubber da época, em roupas, óculos escuros, vinis, acessórios, flyers. Nem preciso dizer que aos sábados à tarde aquilo pegava fogo.

Subir novamente aquelas escadas foi como rever um filme do meu início de juventude, quando eu ainda formava minha identidade e tudo era descoberta e excitação. Ver que as lojas do passado deram lugar a espaços mortos, esvaziados pelo aluguel caro, pela crise econômica e, especialmente, pela mudança dos costumes, foi melancólico. Enxerguei naquelas vitrines ociosas as incríveis calças de nylon da finada Slam e senti de novo na boca o gosto do ponche que eu tomava perto dali, nas edições mensais do Mambo Bazar, que rolava no casarão da Paulista, antes de ir a clubes e festas que também não existem mais.

Fui subindo a Augusta e, quando cheguei à Franca, dobrei a esquina para ver o movimento do restaurante Ritz, outro lugar que foi muito marcante na minha vida. Nós áureos tempos, era ali que se fazia o esquenta com drinks até a hora de ferver nas boates que se espalhavam pelas alamedas do bairro, antes da higienização feita pela vizinhança.

Eu empurrava​ aquela pesada porta giratória vermelha e tinha a sensação de que uma chuva de flashes pipocava sobre mim ao entrar naquele lugar. Os garçons gatíssimos, a música eletrônica do momento nos falantes, os flertes que cruzavam o pequeno salão com ares de pub, tudo exalava uma eletricidade que também se perdeu.

Em pleno sábado à noite, hoje já não há muvuca na porta, nem casais de todos os gêneros espremidos nos bancos da calçada, distraindo-se da espera com porções de bolinho de arroz. Lá dentro, é fácil conseguir mesa, o balcão do bar está vazio e o público envelheceu com o lugar. Certamente há alguns egressos dos anos dourados, mas muitos casais e grupos de héteros mais maduros e comportados, num contraste que deixa a brigada que serve as mesas com uma cara ainda mais jovem e imberbe.

A comida estava correta, embora não mais justifique os preços altos que sempre foram a tônica do lugar. Mas não importa: dá um certo conforto poder voltar a essa casa que, aos 35 anos de idade, é um dos poucos vestígios de uma época que ficou para trás. Pelo menos o Ritz ainda não foi varrido do mapa como tantas outras referências que marcaram a minha vida.

Fiquei nostálgico, mas não triste: entendo que a vida é feita de ciclos, e tanto na cidade de São Paulo como na minha vida privada rolaram muitas outras coisas especiais, marcantes. E tenho certeza de que muito mais ainda está por vir. Mas levei um certo susto quando caí na real e vi que os vinte anos que separam os tempos de encantamento dos Jardins de outrora do dia de hoje passaram muito, muito rápido.

(É... deve ser um sintoma dos meus 40 anos batendo à porta no ano que vem.)

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Um latte de responsa em Amsterdam


Eu devo ter tomado mais café nos últimos 12 meses que nos 38 anos anteriores. Na verdade, eu nunca liguei muito para café. Mas percebi que uma xícara de café com leite e adoçante reduzia minha vontade de comer doce, e usei isso como truque para controlar o peso (deu certo!).

O que eu não esperava era me encantar pela cremosidade de um bom latte de tal forma que passei a caçar bons cafés em São Paulo e também nas cidades estrangeiras que visito - e nesses lugares, acabo me deparando com outras comidinhas incríveis!


Aqui estou eu me despedindo de Amsterdã e das minhas férias, comendo um estupendo French Toast, que aqui significa um misto quente feito em pão de brioche alto e fofo, com queijo gruyère, presunto e uma cebola roxa doce curtida para dar um chica-chica-bum - e, claro, um latte de responsa no arremate. Tem um balcão de bolos incrível para eu escolher algo para comer no aeroporto mais tarde.


Para quem se interessou, estou no Bakers & Roasters, que tem um dono neozelandês e outro brasileiro, o que significa açaí e refrigerante de guaraná no cardápio para quem quiser matar as saudades do Brasil (não é meu caso... saudade por enquanto só tive da minha mãe e dos meus amigos! Risos). Fica perto dos museus, da Leidseplein e do bairro De Pijp.

domingo, 25 de junho de 2017

A Tailândia respira fundo e desacelera em Koh Phangan

Sai o baldinho de vodca com energético, entra o cappuccino vegano. Koh Phangan não poderia ser mais diferente de Koh Phi Phi. Enquanto na outra ilha a missão geral é ter férias mutcho lôcas (e correr para chegar ao recanto escondido antes dos barcos cheios de turistas), aqui a dinâmica é desacelerada, quase zen: muito verde, boas doses de contemplação e uma quantidade enorme de estúdios de ioga, spas e clínicas de massagem. Bem-estar é a palavra de ordem.

Na costa, enseadas e baías desenham praias aconchegantes, de mar muito raso e morninho, perfeitas para famílias com crianças pequenas. Elas são circundadas por charmosos hotéis, pousadas e restaurantes pé na areia, além de alguns chalés particulares com arquitetura de bom gosto, cravejados nas encostas cobertas de vegetação tropical.



Para se deslocar em Koh Phangan e visitar suas diversas praias, o modus operandi é parecido com o de Florianópolis: alugar um carro (ou scooter) e percorrer estradinhas sinuosas de pista simples que, entre uma serra e outra, são pontuadas por pequenos comércios e lojas de conveniência. Até nisso a ilha é o contrário de Koh Phi Phi, onde carros sequer circulam e tudo se faz a pé.

Aliás, perder-se em comparações com Koh Phi Phi pode acabar sendo uma armadilha. Num primeiro momento, é fácil ceder ao impulso de procurar outro mar tão turquesa ou a próxima beleza arrebatadora da viagem e se frustrar, concluindo apressadamente que esta ilha "nem é tudo isso". Talvez não seja mesmo: há praias mais bonitas em vários outros lugares, sobretudo no Brasil. Mas é só questão de achar os lugares certos e se apaixonar.


Pode ser aquele almoço despretensioso, e por isso mesmo surpreendente, num deque de madeira à beira-mar, ou a massagem mais intensa e revigorante que você já experimentou. Ou um copo de lassi indiano para refrescar depois da meditação. Cada um tem sua receita para gostar daqui - até mesmo a galera do baldinho, que desembarca uma vez por mês para se acabar na Full Moon Party, espécie de rave adolescente que ocupa uma praia isolada e não chega a perturbar a calmaria que impera no resto da ilha.


Depois de três semanas girando pela Ásia, Koh Phangan foi a etapa derradeira, de descanso e tranquilidade, que me colocou nos eixos para voltar com tudo ao batente no segundo semestre.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Koh Phi Phi: o "paraíso" do filme tem suas pegadinhas


Koh Phi Phi entrou no mapa do turismo mundial depois que Maya Bay, uma baía de água verdinha cercada por três enormes falésias de rocha, foi usada como locação no filme A Praia, de 1999, estrelado por Leonardo DiCaprio. E o principal destaque desse destino tailandês é mesmo o mar em tons de esmeralda e turquesa, que enche as fotos daquela beleza que faz qualquer um sonhar com as próximas férias.


As praias da ilha rendem um banho de mar supergostoso, mas o que realmente vale a viagem são visitas a localidades acessíveis apenas por passeios de barco, das quais Maya Bay está longe de ser a mais bonita - Losamah Bay e Pi Leh Lagoon, que fazem parte do mesmo circuito, colocam Maya Bay no bolso, fácil. Assim, se você fica desconfortável com a ideia de subir em um barquinho de robustez incerta que balança um bocado com as ondas, talvez Koh Phi Phi não seja sua melhor escolha.


Além disso, verdade seja dita: a expansão do turismo desenvolveu bem a estrutura de serviços do local, mas sem um pingo de charme. O centrinho da ilha é um amontoado de ruelas estreitas e feiosas, poluídas por placas e cartazes oferecendo refeições baratas, camisetas, cursos de mergulho e massagens.

O foco parece ser principalmente no público de 18 a 25 anos, que ali desembarca aos montes, com mochila nas costas e a vontade de viver tudo ao mesmo tempo, emendando a praia com o passeio de barco open-bar, seguido de uma tatuagem nova, um bar com mesas de sinuca e drinks servidos em baldes. Aventuras de um destino onde os poucos dólares e libras ganhos no começo da vida adulta já bancam férias inesquecíveis.


Não vejo problema nenhum nisso tudo; é só não fazer comparações com outros destinos e buscar em Phi Phi qualidades que você viu e apreciou no seu balneário preferido do Mediterrâneo, ou em alguma vila de praia de pegada rústico-chique do Nordeste brasileiro. Sem falar que esse jeitinho desencanado de Phi Phi tem um lado bom: além de poder ficar de Havaianas 24 horas por dia, você come por preços menores que os de Bangkok, e usa o dinheiro economizado para pagar os tais passeios de barco.


Quem estiver indo pra lá numa vibe casal/família/sossego será mais feliz escolhendo um hotel afastado da bagunça - percorrendo a baía de Tonsai na direção oeste, dá para encontrar tranquilidade e ângulos mais bonitos, e quinze minutos de caminhada já são suficientes para garantir seu jantar (mas não perca a hora, pois às 22h as cozinhas já fecharam).

Vale avisar, ainda, que os tesouros que se revelam nos passeios são prainhas e baías muito pequenas, que simplesmente não dão conta da multidão de visitantes despejada pelos barcos nos meses e horários de pico. Indo na baixa estação, tive que encarar algumas oscilações de sol e chuva, mas consegui aproveitar e curtir bem o visual de cada lugar (mas para tirar a foto em Maya Bay sem ninguém no fundo, tive que acordar às 5 da manhã e zarpar às 6...). Na alta temporada (dezembro a março), provavelmente eu teria tido mais estresse e menos diversão.


Foi ótimo conhecer (e desmistificar) Phi Phi - pular do barco nas águas incríveis de Losamah e Pi Leh foi um dos pontos altos da viagem até agora. Mas eu não teria esticado a estadia ali se pudesse. Ao final de três noites, eu já havia feito os passeios que importam, curtido bem a piscina do hotel (um excelente plano B quando o tempo fechava) e comido em todos os lugares do centrinho dos quais eu fui com a cara. Numa segunda visita à Tailândia, certamente serão outras as ilhas para eu explorar.

terça-feira, 20 de junho de 2017

O quebra-cabeça metereológico do Sudeste Asiático


Na hora de planejar um giro pelo Sudeste Asiático, um fator determinante na montagem do roteiro é o mês escolhido para a viagem. A região é afetada pelo fenômeno climático das chuvas de monções, que caem sobre cada país em uma época diferente do ano. Não é só questão de dar ou não dar praia: em dias intensos, pense em São Pedro trabalhando no modo "tiro, porrada e bomba", com tempestades, alagamentos, estradas e aeroportos fechados e localidades isoladas por vários dias. Não é o que você vai querer para as suas férias, certo?

Definido o mês de junho, passei a traçar um itinerário que mesclasse nossos interesses (metrópoles e cidades menores, gastronomia, praia, história e arquitetura) e fugisse o tanto quanto fosse possível da chuva. Bangkok e o Camboja já estavam no início da fase úmida, mas a chuvinha foi pontual e não atrapalhou (até refrescou).

Hoi An estava com tempo bastante firme (e quente), ideal para passear e fotografar; ali, a temporada molhada vai de novembro a abril. Nesses meses, quem quiser encaixar um destino na categoria "cidade pequena e fofa" faz melhor negócio escolhendo Luang Prabang, no Laos (que agora em junho está em chuvas). E se quiser conhecer o Vietnã, melhor trocar Hoi An por Hanói e fazer um passeio a Halong Bay.


No caso das ilhas da Tailândia, a jóia da Ásia para quem é fã de praia, as duas costas têm monções em meses diferentes. Agora é época seca no lado leste e molhada no oeste. Meu amigo queria muito conhecer a famosa Koh Phi Phi, que fica no oeste; como sabíamos que haveria risco de chuvas, para garantir sol e diversão achei melhor dividir nosso tempo entre os dois litorais, e daqui seguimos para Koh Phangan, no lado oposto, que está em época seca.

Bem, chegamos ontem a Koh Phi Phi e demos sorte: céu azul e mar em tons de esmeralda e turquesa. Aproveitamos o tempo bom e fizemos logo um passeio de barco a Bamboo Island e Mosquito Island. Hoje, amanheceu nublado e a chuva vai e vem.

Felizmente, meu amigo teve o cuidado de escolher um hotel com uma piscina de borda infinita que dá de cara para a bela baía de Tonsai; então, mesmo se o tempo não abrir à tarde (com este mormaço indefinido, tudo é possível), acho que não terei do que reclamar da vida...

domingo, 18 de junho de 2017

A magia do riozinho de Hoi An



Um rio que corta o centro da cidade deixa qualquer lugar mais interessante, e com Hoi An, no Vietnã, não é diferente. O rio Thu Bon é uma vista agradável para se contemplar a partir dos terraços dos restaurantes do entorno, ou em passeios a pé, de bicicleta ou barco. Mas é no finzinho da tarde que a mágica de Hoi An acontece.


Pouco depois das 18h, quando o céu já está quase na penumbra da noite, surgem pessoas oferecendo velas dispostas em barquinhas de papel coloridas. Você então contrata um barco e, de dentro dele, deposita essas barquinhas no leito do rio, formulando um pedido para cada vela acesa.


Aos poucos, o rio vai sendo tomado por barcos indo em todas as direções, espalhando barquinhas acesas em suas águas, em que os últimos raios do dia ainda se refletem. Casais de noivos aproveitam o cenário deslumbrante para registrar vídeos e imagens para seus álbuns de casamento e, claro, lançar velas ao rio, pedindo muitas bençãos para a nova etapa de suas vidas.


Dentro e fora do rio, Hoi An fica toda acesa, iluminada, em polvorosa, com famílias inteiras nas ruas, ocupando mesas nos bares e restaurantes e enchendo de movimento as barracas que vendem as lanternas típicas.


Esse foi o "fator uau" que me conquistou nesta cidade tão especial, da qual me despeço agora.

sábado, 17 de junho de 2017

Comidinhas vietnamitas de lamber os beiços!

Quando vou para Berlim, se me deixarem eu almoço e janto em restaurantes vietnamitas todos os dias. Chegar ao Monsieur Vuong ou ao Good Morning Vietnam, ambos no Mitte, e pedir crispy rolls de entrada antes de devorar algum prato do dia é um dos meus pequenos rituais de viagem. Claro que eu ia me refestelar no Vietnã em si, ainda mais em uma cidade com gastronomia tão rica como Hoi An.

Este lugarzinho de paredes amarelas puídas é fofo até no nome - chama-se The Little Menu! - e faz os melhores crispy rolls de pato da cidade. A textura dessa massinha, formada por vários pequenos filetes crocantes fritos, é algo inacreditável. Dá vontade de pedir uma porção atrás da outra.

Mas resisti à tentação de repetir os rolinhos. Em vez disso, pedi um bun chã, porção daquele mesmo macarrão vermicelli de arroz que se usa no phô que conhecemos do Bom Retiro, mas aqui fresco e à temperatura natural, para se comer com pedaços de frango e pato, salada e aquele molhinho mágico, feito de fish sauce e nuóc cham, que ilumina tudo (acho que não dá pra traduzir, nem encontrar esses temperos no Brasl; corrijam-me se eu estiver errado).

Outro lugar que vai deixar saudades nesta pequena potência gastronômica é o Cargo Club. Estas entradinhas... a da esquerda são crocantes won ton de carne de caranguejo desfiada com ervas e temperinhos; à direita, White Rose dumplings de camarões e vegetais, com raspas de alho crocantes; as duas levam aquela "xuxada" generosa no tal molhinho mágico, ao mesmo tempo picante e levemente adocicado, antes de se desmancharem em sabores na boca. Ai ai ai!

Depois ainda teve espaço para esta estupenda pork belly (barriga de porco) em caramelo de cinco especiarias, que estava desmanchando ao toque do garfo. Uma coisa! Aliás, sempre gostei de aproveitar minhas viagens para comer muito camarão e frutos do mar, mas fiquei surpreso com a quantidade de pratos marcantes que comi na Ásia com porco.

Um dos quitutes icônicos do Vietnã, o bánh mí é um sanduíche de baguete (trazida pelos franceses) recheado de carne de porco ou frango, mais pepino, cenoura, coentro e algumas pimentas. É lanche rápido para se fazer a qualquer hora.

Este bánh mí em particular virou figurinha carimbada em vários roteiros de viagem depois que o chef-celebridade Anthony Bourdain o classificou como o melhor do mundo. Custa 20 mil dongs (menos de um dólar) e leva um monte de molhinhos, ervas e patês que valorizam ainda mais o gosto do pernil e dão liga ao sanduíche. É picante, mas não incendiário, e bem saboroso. (Por via das dúvidas, mantive a garrafinha de bebida à base de leite de coco ao alcance da minha mão, para qualquer eventualidade!)

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Praia no Vietnã?!



Praia no Vietnã?! Ué, e por que não? Ainda mais quando é do jeito que eu gosto: com aquele mar piscininha, nem quente e nem frio, bom para ficar boiando e se esquecer da vida. Só não dá para esquecer o filtro solar: temos 36 graus hoje e zero nuvens no céu - e a simpática ambulante disse que quando o verão chegar, daqui a cerca de um mês, serão 10 graus a mais no termômetro. Ui!


An Bang fica a cerca de 4 km do centro de Hoi An e tem um costão reto, pontuado por beach bars que cedem sua estrutura de choupanas de palha e espreguiçadeiras de madeira a quem nelas consumir. Os drinks têm precinho amigo: VND 85 mil, cerca de US$ 4, metade do que custariam no Brasil e sem o risco de ter de ouvir à força um estilo musical que não é do seu agrado.


A única preocupação aqui é não esquecer os chinelos antes de atravessar as areias ardendo em brasa até o mar - no qual os asiáticos, descomplicados, entram de roupa e tudo, com direito a óculos de sol, chapéu e até tiara.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Eles perdem o amigo... mas não perdem o negócio!


Mistura de feira de rua e mercadão, o Central Market de Hoi An tem de um tudo: frutas e legumes, peixes frescos, noodles (fios de macarrão) feitos ali mesmo, temperos de todos os tipos. Com tanto estímulo gritando aos olhos ao mesmo tempo, o cenário é uma delícia de fotografar. Mas não se pode passar incólume aos vendedores.

"Hello, what you looking for?"
"Nada não, estou só passeando."
"Compre estes temperos, coisa boa, muito bons."
"Parecem ótimos, mas eu não sei cozinhar nada!"
"Então leva o pó de café. Sente esse cheiro, café bom!"
(Cheirando) "Hum, bom mesmo. Mas eu sou do Brasil, nosso café também é bom. Além disso, agora a classe média só quer saber de Nespresso."
"Leva então um Tiger Balm!" (espécie de pasta de cânfora usada para aliviar dores; nas festas eletrônicas da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, a galera sem camisa adorava passar um pouco dessa pomada na nuca e jogar água em cima, para refrescar. Isso em 2001! Bons tempos...)
"Não, moça, obrigado."
"Então vamos comigo ali na loja do meu cunhado. Alfaiate bom, terno bom, o senhor vai gostar."
"Ih moça, mas meu país é quente como o Vietnã. Não quero comprar terno!"
"Tecido leve, roupa de algodão! Não esquenta nada... Vamos, por favor!"

Os comerciantes asiáticos são mesmo implacáveis.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Vietnã: batendo perna na Cidade Antiga de Hoi An

 


O centro antigo deste bijuzinho de cidade que é Hoi An é dominado por casinhas amarelas, com varandas cheias de plantas e flores, que inspiram paz e aconchego. As típicas luminárias de papel coloridas que são a marca do lugar enfeitam até o interior de algumas butiques.


Há algumas construções históricas dos séculos 18 e 19, fruto da imigração japonesa e chinesa à região, que podem ser visitadas com uma cartela de cupons que custa 120 mil dongs (cerca de US$ 7). As mais impressionantes são os assembly halls que os chineses ergueram ali como lugares de oração e convivência. Neles, visitantes do mundo todo pedem uma forcinha para alcançar o que lhes falta, em um belo ritual.


Funcionários do templo escrevem em cartolinas os nomes dos familiares, sua cidade e o que pedem; essas cartelas são presas a enormes incensos em forma de espiral, que são pendurados no teto do templo e acesos, consumindo-se lentamente, para que os desejos sejam realizados.